efdeportes.com

A prática pedagógica das lutas: observações sobre

o processo de ensino e aprendizagem da capoeira

La práctica pedagógica de las luchas: observaciones sobre el proceso de enseñanza y aprendizaje de la capoeira

 

Universidade Cidade de São Paulo – UNICID

(Brasil)

Fabio Rocha de Lima

Fernanda Cristina da Silva Pereira

Maria Eliege de Araújo Vale

Verginia Rodrigues Martins

Maurício Teodoro de Souza

mauricio.teodoro@terra.com.br

 

 

 

 

Resumo

          A capoeira atualmente é reconhecida por seu caráter multifacetado que aborda desde sua raiz cultural, até sua importância em termos de aspectos biopsicossociais que esta prática pode promover aos seus adeptos, sendo então uma relevante manifestação a ser investigada sob uma perspectiva holística, ou seja, em sua totalidade. Sendo assim, o objetivo desse estudo foi identificar os elementos da Metodologia do Ensino em Educação Física presentes na regência da Capoeira. Os aspectos mencionados foram analisados a partir de pesquisa bibliográfica e empírica feitas pelos autores. Ao final deste estudo consideramos que a Capoeira possui um potencial educacional importante para ser explorado, porém demonstra necessidade de uma melhor fundamentação por parte dos profissionais, especialmente daqueles que pretendem atuar no campo escolar.

          Unitermos: Capoeira. Aspectos histórico-culturais e pedagógicos. Educação Física escolar.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 193 - Junio de 2014. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    A discussão sobre a Luta tem sido realizada em diversos aspectos e dentre estes a caracterização do que ela é se faz relevante. Neste estudo adotaremos o conceito apresentado por Gomes (2008, p. 49), no qual Luta é uma: “Prática corporal imprevisível, caracterizada por determinado estado de contato, que possibilita a duas ou mais pessoas se enfrentarem numa constante troca de ações ofensivas e/ou defensivas, regida por regras, com o objetivo mútuo sobre um alvo móvel personificado no oponente” (grifo do autor).

    Sobre o tipo de movimentos realizados durante a execução Oliveira (apud Darido & Rufino 2012) afirma que as lutas possuem golpes: traumatizantes (chutes, joelhadas, socos etc.); fintas (ludibriar/enganar o oponente); bloqueios (defesas feitas com mão, braços e/ou pernas); esquivas (mudanças de direção); desequilibrantes (perda de apoio dos membros corporais por parte do oponente); projeções (levar o oponente ao chão, ou seja, levá-lo a queda); imobilizações (chaves nas articulações); estrangulamentos (golpes aplicados na região do pescoço do oponente); acrobáticos (movimentos plásticos).

    Verificamos que na prática da capoeira estão presentes praticamente todos os aspectos mencionados, com exceção a imobilização e estrangulamento, visto que a capoeira não se caracteriza como uma luta de agarre, o que vai ao encontro do que Soares (2010) propõe, na capoeira não se deve agarrar o adversário, já que não há movimentos desta ordem.

    A Capoeira representa uma das mais relevantes manifestações da cultura afro-brasileira englobando aspectos múltiplos e plurais como ritmo e musicalidade; ludicidade; habilidades motoras, cultura, folclore e história; valores como respeito à diversidade e às pessoas etc. Pode-se perceber que a Capoeira é uma manifestação rica em possibilidades (ABIB, 2008; SILVA apud NASCIMENTO et al., 2012).

    Portanto, compreendemos a Capoeira como uma luta que se organiza por meio de relações do tipo “pergunta-resposta”, nas quais podemos compreender a pergunta como sendo o(s) golpe(s) desferido(s) e a resposta como sendo a fuga, a esquiva, ou mesmo o contra-ataque. Nas palavras de Mestre Moraes “A capoeira é um diálogo de corpos, eu venço quando o meu parceiro não tem mais respostas para as minhas perguntas” (VIEIRA apud MELLO, 2002).

    Desde o surgimento o caráter histórico-cultural da capoeira frequentemente foi atrelado às pessoas que viviam à margem da sociedade, mas que lutaram por seus valores culturais e direitos, ou seja, há uma pluralidade no que diz respeito às dimensões da luta, pois ela foi tanto uma “luta social” quanto uma “luta física”. Sendo assim, a Capoeira edificou sua identidade por meio da resistência social e da luta contra as injustiças e desigualdades, isto é, nasceu da luta de um povo que fora oprimido e que buscou sua liberdade (SILVA e HEINE, 2008).

    A prática da capoeira pelos escravos ocorria de forma “irregular”, visto que ela representava risco aos senhores de engenho, que passaram a proibi-la, sendo que aqueles que desrespeitassem esta ordem eram submetidos a sérias torturas. Sendo assim, os escravos capoeiristas disfarçavam a luta em forma de jogo e/ou brincadeira, mas na verdade estavam treinando e utilizavam o berimbau não apenas para dar ritmo à prática, mas, também, para avisar sobre a chegada de um feitor, fato que contribuiu para transformar a luta em dança. De acordo com Fontoura e Guimarães (2002), sabe-se que a capoeira é a única luta brasileira que usa instrumentos musicais, sendo que as rodas são ritmadas pelo toque destes instrumentos bem como pelas palmas dos capoeiristas.

    Fontoura e Guimarães (2002) afirmam que fatores, sobretudo políticos, omitiram a maior parte do que se conhecia sobre a cultura da capoeira, sendo a mesma transmitida aos mais jovens utilizando a oralidade entre as gerações de praticantes. De acordo com Mestre Pastinha (apud Fontoura e Guimarães, 2002), não era permitido aos escravos o manuseio de quaisquer implementos ou mesmo práticas de defesa pessoal que pudessem representar algum tipo de risco a integridade de seus senhores.

    Dessa maneira, considerando a visão dos autores, podemos dizer que a Capoeira surgiu no Brasil como uma maneira dos escravos se defenderem frente aos opressores do engenho podendo se caracterizar como um processo de aculturação que tinha como objetivo a liberdade da etnia negra, então escravizada pelos colonizadores. Eles dizem que “A capoeira é uma manifestação cultural brasileira nascida em circunstâncias de luta por liberdade, nos tempos da escravidão”.

    Em sua trajetória histórica a capoeira passou por várias transformações até que em 1932 foi implantada a primeira academia formal, fundada por Manoel dos Reis Machado, vulgo Mestre Bimba. Mestre Bimba, podemos dizer, foi o criador do Estilo Regional da capoeira apresentando um maior acervo de golpes em comparação ao Estilo Angola de Mestre Pastinha (DOSSAR, 1991; ALMEIDA, 1994 apud FONTOURA e GUIMARÃES, 2002).

    De acordo com a literatura pudemos verificar que a principal característica do processo de ensino e aprendizagem da Capoeira tem sido a utilização da experiência dos mestres de capoeira, os quais lançam mão da oralidade para transmitir os ensinamentos aos seus alunos. Entretanto, Rufino e Darido (2012) entendem que a Educação Física, por meio dos estudos de Lutas, deve fazer um movimento no sentido de aproximar a teoria da Pedagogia do Esporte do ensino das lutas corporais visando proporcionar uma vivência capaz de refletir sobre os significados da luta e projetar uma vivência capaz de proporcionar autonomia e emancipação aos praticantes.

    Tenroller e Merino (2006), citando Ferreira (1986), entendem pedagogia como um conjunto de doutrinas, princípios e métodos de educação e instrução que visam um objetivo prático de execução de determinado aprendizado. Neste sentido, a metodologia de ensino trata do estudo dos caminhos, meios ou fins que propiciam a facilitação do entendimento e/ou o desenvolvimento de habilidades mentais do aprendiz.

    Portanto, considerando a presença das lutas nas propostas de conteúdos para a Educação Física escolar, a sugestão de aproximação da Pedagogia do Esporte do ensino das lutas corporais realizada por Rufino e Darido (2012) e a carência de estudos discutindo aspectos pedagógicos da Capoeira na escola, o objetivo desse estudo foi identificar os elementos da Metodologia do Ensino em Educação Física presentes na regência da Capoeira.

Metodologia

    Os procedimentos desta pesquisa caracterizaram-se, quanto ao tipo, como uma combinação de pesquisa bibliográfica e exploratória, supondo o estabelecimento do referencial teórico e a observação do pesquisador em instituição de prática de capoeira (LAKATOS, 1987). Dessa maneira, para todo o modo de investigação, também caracterizados como modos de observação que "constituem os meios de abordagem do real", fixando "o quadro instrumental de apreensão dos dados" (BRUYNE, 1977, SEVERINO, 2000 e MORESI, 2003), foi utilizado o "método descritivo", para melhor compreender as semelhanças e diferenças das situações-problema, desse modo possibilitando uma melhor interpretação. As observações foram feitas por meio de registro videográfico da “prática docente” de 01 mestre de capoeira e seus auxiliares durante 05 (cinco) encontros em uma academia, espaço caracterizado por RUFINO e DARIDO (2012) como contexto não formal de aprendizagem, da Zona Leste de São Paulo. Durante as observações buscamos verificar o modelo de aula adotado pelos profissionais envolvidos adotando os critérios dos “Estilos de Ensino” apresentados por GOZZI e RUETE (2006), com base nos estudos de Muska Mosston.

    Para a análise das observações estabelecemos os seguintes indicadores: principais métodos de ensino adotados, estilos de ensino predominante, bem como os principais recursos metodológicos utilizadas na transmissão dos conteúdos durante os encontros.

Descrição e análise das tendências pedagógicas da capoeira

    A partir da observação in loco verificamos o ensino da Capoeira como sendo tradicionalmente analítico, ou parcial, no qual o mestre apresentava oralmente uma sequência de movimentos (Ginga, Bênção, Negativa, Rolê, Rabo-de-Arraia, Cocorinha) e logo após os demonstrava de maneira isolada, repetindo algumas vezes, enquanto os alunos reproduziam os gestos. Em seguida a prática de repetição dos gestos o aluno era convocado para demonstrar o aprendizado, porém verificamos que muitas execuções se mostraram desconexas, pois era necessário dar conta de um grande acervo de movimentos que ainda não eram dominados pelos aprendizes e, portanto, não atendiam a precisão dos gestos técnicos solicitados.

    Predominantemente, os estilos de ensino usados foram comando, tarefa e recíproco. De acordo com Gozzi e Ruete (2006), o estilo comando tem como uma de suas principais características a reprodução, sendo que quem determina o conteúdo, o início e o fim, quem descreve o exercício é o professor, no caso o mestre de capoeira. Já o estilo tarefa, apesar de parecido com o estilo comando, se diferencia no que concerne a possibilidade de o aprendiz tomar algumas decisões no que se refere ao ritmo e velocidade de execução do movimento, intervalo, tipos de vestimentas etc. No estilo recíproco evidencia a parceria entre os praticantes, porém o observado foi que nele a interação social se deu de maneira semelhante ao comando do mestre, as duplas ou pequenos grupos instrui o outro por meio de dicas verbais e demonstração dos movimentos.

    Compreendemos a instrução verbal como àquelas informações que transmitem a sequencia a ser realizada para que se chegue à meta da tarefa estabelecida; a utilização deste tipo de ferramenta objetiva auxiliar os sujeitos tanto na identificação do que deve ser executado (a meta da tarefa), quanto à trajetória que deve ser feita para conseguir alcançar tal meta (DARIDO apud ENNES et al., 2008).

    Verificamos que em geral a instrução verbal foi acompanhada da demonstração confirmando o que Magill (2000) afirmou como sendo a demonstração indubitavelmente à forma de comunicação mais utilizada entre os instrutores. Ela é definida como o ato de fornecer informação a respeito da natureza da habilidade a ser executada, que pode ser uma via de informação sobre o como fazer (RICHARDSON e LEE apud FONSECA et al., 2008). Embora esta metodologia seja reconhecidamente importante fonte de informação no processo de aprendizagem de habilidades motoras e consista em fornecer uma imagem representativa da tarefa a ser executada também é um modelo que limita a autonomia do aprendiz.

    Segundo Gentile (apud Ennes et al., 2008), o aprendiz ao observar um movimento é capaz de retirar relevantes informações que o auxiliam na execução e organização da ação motora analisada. Entretanto, quando se utiliza demasiadamente de ferramentas como a demonstração visual, esse “se-movimentar” não trata da unidade primordial de homem e mundo se manifestando, ou seja, da relação de experimentação que enriquece o desenvolvimento do ser humano, algo que vai muito além do movimento pelo movimento, e que traz consigo uma perspectiva mais centrada no sujeito que se movimenta, e não necessariamente no movimento deste a. Se assim praticado, ocorrerá a significação deste gesto pela própria pessoa dando sentido ao movimento executado pela pessoa (Kunz apud Rufino e Darido 2012).

    O único momento observado que demonstrou um caráter de transmissão dos significados dos gestos realizados foi quando o mestre abordou as características histórico-culturais após a roda declarando o significado contido em cada movimento possibilitando uma autorreflexão, e até mesmo, de certa forma, a questão da alteridade (Conforme Daolio [1995] refere-se a capacidade que o sujeito tem de se colocar no lugar do outro), que no caso, foi estimulada por meio da compreensão do contexto que a capoeira era praticada pelos escravos daquele período.

    Outro fator importantíssimo no que concerne aos aspectos pedagógicos foram as dimensões dos conteúdos atitudinal, conceitual e procedimental. Conforme Coll, Pozo, Sarabia e Valls (apud Rufino e Darido, 2012) as dimensões devem responder a perguntas, a saber: a atitudinal se refere ao “como se deve ser?”; a conceitual remete-se ao questionamento “o que se deve saber?”; e por fim a procedimental diz respeito ao “o que se deve fazer?”. Segundo Zabala (apud Rufino e Darido, 2012) a dimensão atitudinal diz respeito às normas, atitudes e valores, sendo que esta deve conter simultaneamente os aspectos comportamentais, cognitivos e sociais, fatores como disciplina e respeito podem ser exemplos desta dimensão, o que indica o praticante ter plena consciência dos gestos que executa, porém esse fato não foi observado nas observações realizadas.

    Ainda na perspectiva de Zabala (apud Rufino e Darido. 2012), na dimensão conceitual podem exemplificar-se fatores como a transmissão de aspectos históricos da luta, explicações sobre as maneiras de se treinar (podendo inclusive buscar subsídios na fisiologia e biomecânica), explicação dos rituais, etc. Em se tratando desta dimensão, pode-se dizer que esta talvez tenha sido a mais bem observada, visto que houve toda uma contextualização acerca da capoeira tratando de sua história e a relação com a cultura afro-brasileira. Percebemos uma perspectiva crítica, já que tratava-se, sobretudo, do período de escravidão que ocorreu no Brasil, que não deixa de ser um marco, e ao mesmo tempo que nos permitiu analisar criticamente este regime obscuro e transcender para os dias atuais, além de poder compreender como era a vida deste povo neste sombrio período da história do país.

    Já a dimensão procedimental é vista por Zabala (apud Rufino e Darido, 2012) como o conjugado de ações ordenadas designadas a alcançar um fim; nas quais a aprendizagem de procedimentos implica, então, na aprendizagem de ações. No caso da capoeira, é a parte do ensino centrada no “saber fazer”, em outras palavras, a execução das atividades práticas, que podem ser exemplificadas com os próprios exercícios de alongamento e /ou aquecimento, treinos físicos, repetição de técnicas, etc. As análises das observações declararam que apesar de o método não atender às expectativas de uma prática fundamentada visando transcender a tradição de demonstração gestual reconhecemos uma preocupação em realizar orientações/instruções acerca dos movimentos e contínuas correções dos aprendizes por parte do mestre e auxiliares, o que tem sua relevância no processo de aprendizagem.

    Apesar da característica fragmentada e tradicional no modo de transmitir os conhecimentos, pudemos perceber que a capoeira traz consigo uma relação de “pergunta e resposta” interessante, ou seja, o lutador “faz uma pergunta” (movimento ofensivo) e o outro “dá uma resposta” (movimento defensivo e/ou contra-ataque), onde toda a relação ocorre no campo da imprevisibilidade. Mencionamos, porém, que mesmo enxergando esta relação entre pergunta e resposta não conseguimos identificar nas práticas observadas uma tendência para educar nessa direção, pois os movimentos são falados, “combinados”, e esta relação com a imprevisibilidade não fica evidenciada.

    Portanto, corroboramos Heine, Carbinatto e Nunomora (2009) em relação aos critérios adotados: “Cada Mestre possui uma filosofia, um critério, uma metodologia e um tempo mínimo para formar seus instrutores e professores. Assim, as estratégias de ensino, os conteúdos, o processo de avaliação, a filosofia, o trato com relação à violência, a postura e a ética profissional, o respeito às tradições, entre outros temas essenciais na formação dos profissionais, são tratados de maneira bastante diferenciada em cada Associação e/ou Grupo de Capoeira” (HEINE, CARBINATTO e NUNOMORA, 2009).

    Estes mesmos autores discutem sobre a formação e qualificação profissional, as quais consideram deficientes, sobretudo no contexto pedagógico. Em sua maioria, são práticos que dominam os conteúdos técnicos da luta, que sabem o como fazer que ocupam os espaços destinados a aprendizagem da Capoeira. Entretanto, sabe-se que o processo de ensino exige muito mais do que conhecimentos sobre a técnica (HEINE, CARBINATTO e NUNOMORA, 2009).

Considerações finais

    De acordo com o que foi observado ao longo do estudo, observamos que as práticas profissionais da Capoeira apresentaram uma abordagem de conhecimento predominantemente baseada na tradição e fragmentação dos gestos a serem aprendidos, sendo que a demonstração foi a via de transmissão de ensinamentos mais utilizada e os estilos comando e tarefa predominaram durante os encontros.

    Tendo em vista as sugestões da literatura para uma aproximação desta prática dos conhecimentos desenvolvidos pela Pedagogia dos Esportes transformando-se em uma Pedagogia das Lutas percebemos a necessidade de uma formação profissional mais bem fundamentada em geral e, de maneira contextual específica para a escola, pois a devida a predominância das orientações ocorrerem no campo da demonstração, evidenciando a limitação na utilização de metodologias de ensino e estilos de ensino, sem esta mudança profissional a vivência da Capoeira poderá contribuir para uma prática alienada.

    Entretanto, podemos considerar que a Capoeira possui um potencial educacional a ser explorado a partir de uma atuação pedagógica mais bem orientada, pois se trata de uma luta que tem a utilização de instrumentos sonoros e uma relação de imprevisibilidade bastante presente, além de apresentar uma história repleta de significações.

Referências bibliográficas

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 19 · N° 193 | Buenos Aires, Junio de 2014  
© 1997-2014 Derechos reservados