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Educação Física e Epistemologia uma relação necessária

Educación Física y Epistemología una relación necesaria

Physical Education and Epistemology necessary relationship

 

Mestre em Educação pela Universidade do Vale do Itajaí

(Brasil)

Heitor Luiz Furtado

heitorluizfurtado@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O presente artigo tem como objetivo apresentar alguns questionamentos que permeiam a educação física como área de conhecimento, discutir sobre a importância da epistemologia na construção do conhecimento científico e expor o que tem se discutido acerca da epistemologia da educação física. Na área da Educação Física o uso do termo epistemologia vem se referindo aos “pressupostos teórico-filosóficos” que definem e diferenciam as diversas abordagens teórico-metodológicas utilizadas na pesquisa científica. A pesquisa epistemológica procura a investigação científica de um determinado campo do conhecimento e pretende estimular no meio acadêmico um processo de auto-reflexao e auto-crítica sobre seus resultados e sobre os processos e condições de sua produção.

          Unitermos: Epistemologia. Educação Física. Formação.

 

Resumen

          Este trabajo tiene como objetivo presentar algunas de las preguntas que impregnan la educación física como un campo de conocimiento, discutir la importancia de la epistemología en la construcción del conocimiento científico y exponer lo que se ha discutido acerca de la epistemología de la educación física. En el área de Educación Física en utilizar el término epistemología viene refiriéndose a la "teórico-filosófico" que definen y diferencian los distintos enfoques teóricos y metodológicos utilizados en la investigación científica. La investigación epistemológica busca la investigación científica de un determinado campo del conocimiento y estimular el proceso académico de autorreflexión y autocrítica acerca de sus resultados y de los procesos y las condiciones de su producción.

          Unitermos: Epistemología. Educación Física. Formación.

 

Abstract

          This paper aims to present some questions that permeate physical education as a field of knowledge, discussing the importance of epistemology in the construction of scientific knowledge and expose what has been discussed about the epistemology of physical education. In the area of ​​Physical Education to use the term epistemology comes referring to the "theoretical-philosophical" that define and differentiate the various theoretical and methodological approaches used in scientific research. The epistemological research seeks scientific research of a particular field of knowledge and to stimulate the academic process of self-reflection and self-criticism about their results and the processes and conditions of its production.

          Keywords: Epistemology. Physical Education. Training.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 193 - Junio de 2014. http://www.efdeportes.com/

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    O presente artigo tem como objetivo apresentar alguns questionamentos que permeiam a educação física como área de conhecimento, discutir sobre a importância da epistemologia na construção do conhecimento científico e expor o que tem se discutido acerca da epistemologia da educação física.

    Etimologicamente a epistemologia tem na composição grega sua origem, episteme (conhecimento) e logos (razão/explicação) e significa o estudo da natureza do conhecimento. O termo só apareceu no século XIX no dicionário filosófico, devido à grande evolução no conhecimento que obrigou a filosofia a um estudo crítico, de teor epistemológico. A epistemologia em um sentido mais preciso indica para uma filosofia das ciências, com o estudo crítico da ciência enfatizando o prático. Trazendo para o campo da educação física a utilização do conceito de epistemologia refere-se aos “pressupostos teórico-filosóficos” na pesquisa científica que definem e diferenciam as diversas abordagens teórico-metodológicas.1-3 A pesquisa epistemológica em educação física parece ser interessante justamente por considerar que em sua essência estão dois tipos de racionalidade, a das ciências naturais, e a das ciências humanas.4

    A pesquisa epistemológica procura a investigação científica de um determinado campo do conhecimento e pretende estimular no meio acadêmico um processo de auto-reflexao e auto-crítica sobre seus resultados e sobre os processos e condições de sua produção. A epistemologia amplia a possibilidade de identificação de problemas, tendências, perspectivas de um determinado campo cientifico. A atividade epistemologia seria uma reflexão sobre a ciência, isto é, conhecer a ciência em seus processos de gênese, de formação e de estruturação.4

    Em recente carta aos pesquisadores o CBCE - Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte5 enfatiza a dificuldade na constituição como área e em sua legitimação no campo cientifico, tendo em vista que a característica principal de seu objeto de estudo é a multi/interdisciplinariedade (reconhecida no comunicado 002/2012 pela Área 21: Educação Física – CAPES) principalmente com raízes biológicas e humanas. Certa disputa e polarização entre essas áreas podem fazer com que as discussões ora estão de um lado, ora estão de outro o que na compreensão do CBCE, não traz benefícios à Educação Física como campo cientifico unitário.

    Ocupar um lugar de espaço com destaque seja nas escolas, nos clubes, nas associações, ou em qualquer outro lugar passa necessariamente por uma construção de identidade científica. Em uma área tão extensa, complexa e heterogênea os pesquisadores se encontram em um terreno perigoso cujo sucesso e fracassos de suas produções caminham quase que paralelamente.

    Certas dicotomias existentes na educação física como bacharel versus licenciatura; ciências naturais versus ciências humanas; corpo versus mente são problemas que permeiam a educação física e precisam ser discutidos nos processos de formação profissional e principalmente no lócus privilegiado da produção do conhecimento em educação física, isto é, nos programas de pós-graduação em educação física. Tais dicotomias existentes, não trazem benefícios concretos para a educação física se fazendo necessário um questionamento pelo campo acadêmico sobre se as produções têm contribuído para tal separação ou se tem construído uma tentativa de superação do paradigma atual.

    O processo de reflexão, de autocrítica se faz necessário justamente em um momento cuja discussão sobre educação física tem sido cada vez mais freqüentes. Ao nos depararmos com o mundo contemporâneo, a presença da educação física (principalmente o esporte) tem ocupado um lugar de destaque nas civilizações atuais.

    É possível concluir que a epistemologia da educação física tem desenvolvido um papel de grande valia para o surgimento de um campo intelectual de respeito e de um futuro promissor. Porém alguns questionamentos inquietam a todos os pesquisadores interessados por essa temática. O que tem se discutido em Epistemologia da Educação Física? Quais as vertentes de análise? Para qual direção e quais as vertentes dessas produções? É a partir dessas questões que se oferece um breve levantamento desse percurso.

    Ao olharmos para a área da educação física no Brasil revelaremos que há uma discussão em torno de sua identidade epistemológica, especialmente na década de 1980, quando da chamada crise da educação física. Como cita Mota de Souza4 existem diferentes concepções de educação física, sobre qual é seu objeto, se ela é ou não é ciência, e sua própria nomenclatura é alvo de discussões, alguns autores elaboraram propostas como Ciências do Esporte, Ciência da Motricidade Humana, Cultura Corporal de Movimento, Cinesiologia, Ciência do Movimento Humano.

    Iniciando a discussão sobre a epistemologia da educação física Bracht6 realiza uma serie de questões relativas à área. Tais como: a educação física é uma ciência ou uma disciplina cientifica? Deve a educação física almejar ser uma ciência? Qual a episteme predominante na educação física? Ciências naturais, ou ciências humanas? O autor identifica em sua obra a disputa entre as duas grandes áreas: as ciências humanas e as ciências naturais e o problema que isso vem causando na educação física. Na produção do conhecimento em educação física predomina o enfoque disciplinar das disciplinas-mãe. Para o autor a educação física é colonizada epistemologicamente por outras disciplinas e ainda que o movimento humano por si só não é um objeto cientifico e que a educação física não é uma ciência, mas está interessada na ciência, ou nas explicações cientificas.

    No decorrer de sua constituição como campo científico a educação física foi colonizada por discussões advindas de outras disciplinas. A educação física torna-se um campo colonizado de métodos e teorias dessas “disciplinas mães” o que ocasiona que as problemáticas da educação física são apenas pontos de passagens dessas disciplinas. A educação física não deve consistir em aplicar instrumentos de outras disciplinas, pois estariam respondendo a questões de sua disciplina de origem.4

    Chaves Gamboa e Sánchez Gamboa1 apresentam um breve histórico do movimento de investigação envolvendo estudos epistemológicos na Educação Física. Segundo os autores destacam-se nesta perspectiva os trabalhos de Silva7,8 que realiza uma análise da produção da Educação Física nos mestrados e doutorados do país; os de Faria Jr9 que analisa a produção do conhecimento na Educação Física brasileira e ainda os de Carlan10 com objetivo de analisar as dissertações sobre o tema Educação Física Escolar no Brasil, especialmente as produzidas na UFSM, UFRGS, UFSC e Unicamp, entre os anos de 1980 e 1993.

    Da Costa e Duarte11 compreendem as questões relativas à epistemologia da educação física classificadas em tendências cientificista; Manuel Sergio e Go Tani e de alguns outros autores inclinados para o exercício profissional (Hugo Lovisolo) e profissional pedagógico (Mauro Betti).

    Na tendência cientificista desenvolvida por Sérgio12 a educação física é um conteúdo da Ciência da Motricidade Humana, ciência da compreensão e da explicação de condutas motoras, visando ao desenvolvimento global do individuo e da sociedade na relação entre o físico-biológico e o antropológico. Na concepção de Sérgio12 o progresso da ciência é sempre conseqüência de um corte epistemológico. Nessa concepção a educação física deve ser compreendida como pré-ciência ou rama pedagógico da Ciência da Motricidade Humana.11

    Contribuindo para melhor compreensão das características da Ciência da Motricidade Humana Sergio12 apresenta a proposta de uma nova ciência, a criação da Ciência da Motricidade Humana com objetivo de superação de uma cultura dualista que vê o corpo como inferior e separado da alma, para uma cultura não dualista, na qual corpo-sujeito é o todo, e que a verdade consiste no todo e não na somatória das partes.4

    O trabalho de Tojal13 também defende a proposta da Ciência da Motricidade Humana alicerçado nas discussões de Manuel Sérgio. O autor discute a crise da educação física mundial e brasileira apresentando a teoria de alguns autores no sentido de levar a educação física a adotar conceitos, tais como de: Parlebas, Cagigal, Le Boulch, Manuel Sérgio.

    É no meio dessas discussões e tensões que a epistemologia da educação física tem contribuído principalmente na tentativa de uma autorreflexão exercida pelos pesquisadores.

    O estudo da epistemologia possibilita ao meio acadêmico ter maiores indícios, possibilidades para refletir sobre que conhecimentos tem se produzido, quais os aportes teóricos e metodológicos inerentes à formação profissional e de pesquisadores e se o campo intelectual tem auxiliado para o aumento ao a diminuição da polarização entre questões de ordem biológica ou de ordem humanas e sociais.

    A pesquisa epistemológica em educação física parece ser interessante justamente por considerar que em sua essência estão dois tipos de racionalidade, a das ciências naturais, e a das ciências humanas e como citado anteriormente estimula no meio acadêmico um processo de auto-reflexao e auto-crítica sobre seus resultados e sobre os processos e condições de sua produção. A epistemologia amplia a possibilidade de identificação de problemas, tendências, perspectivas de um determinado campo cientifico. A atividade epistemologia seria uma reflexão sobre a ciência, isto é, conhecer a ciência em seus processos de gênese, de formação, e de estruturação.4

    São esses fatores que sustentam a necessidade da disciplina epistemologia ser ofertada em todas as modalidades de ensino que envolva a educação física. É preciso que a formação dos alunos contemplem tais estudos priorizando a formação de um professor, ou pesquisador responsável com sua área de atuação que questione suas produções e suas ações.

    Enquanto campo cientifico detentor de saberes, métodos e técnicas se faz necessário que o campo acadêmico supere tal concepção de entender a educação física com disciplina vontade apenas para o cuidado do físico. Tal superação passa necessariamente por questionamentos do que tem se produzido, como tem se pensada a formação e para qual caminho queremos seguir.

Referências

  1. CHAVES-GAMBOA, M. C.; SANCHEZ-GAMBOA, S. Pesquisa na educação física: epistemologias, escola e formação profissional. Maceio: Edufal, 2009.

  2. SÁNCHEZ GAMBOA, S. A. Pesquisa em Educação: métodos e epistemologias. Chapecó: Argos, 2 ed., 2012.

  3. SÉRGIO, M. Um corte Epistemológico da Educação Física à Motricidade Humana, Lisboa: Instituto Piaget, 2003.

  4. MOTTA DE SOUZA, J.P. Epistemologia da Educação Física: análise da produção científica do Programa de Pós-graduação da Faculdade de Educação Física da UNICAMP (1991-2008). Campinas, SP, 2011.

  5. CBCE. Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. Carta do CBCE aos pesquisadores do campo da educação física brasileira. Disponível em http://www.cbce.org.br. Acesso em: 06 setembro 2012.

  6. BRACHT, V. Educação Física & Ciência, Cenas de um casamento (in)feliz. Ijuí; Ed. Unijuí, 1999.

  7. SILVA, R. V. S. Mestrados em educação física no Brasil: pesquisando as suas pesquisas. Dissertação (mestrado). Educação Física. Universidade de Santa Maria. Santa Maria, RS, 1990.

  8. SILVA, R. V. S. Pesquisa em Educação Física: determinações históricas e implicações metodológicas. Tese (doutorado). Faculdade de Educação. Unicamp. Campinas, SP, 1997.

  9. FARIA Jr. A. G. Produção do conhecimento na educação física brasileira: dos cursos de pós-graduação à escola de 1 e 2. Graus. In: Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 13, n. 1, p. 45-53, 1991.

  10. CARLAN, P. A produção do conhecimento em educação física brasileira e sua proposta de intervenção na educação física escolar. Dissertação (Mestrado em Educação) – Centro em educação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1996.

  11. DA COSTA, L.; DUARTE, C. P. O debate epistemológico da educação física no âmbito dos cursos de Pós-Graduação Stricto Sensu reinterpretado por contribuições da teoria da complexidade de Edgar Morin. Revista Brasileira de Ciências do Esporte. v.24, n.02, p.147-159, Campinas, 2003.

  12. SÉRGIO, M. Para uma epistemologia da motricidade humana: prolegômenos a uma ciência do homem. Lisboa: Compendium, 1987.

  13. TOJAL, J.B.A.G. Motricidade humana: o paradigma emergente. Campinas: Editora da Unicamp, 1994.

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