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O desenho na Educação Infantil. Linguagem
e expressão da subjetividade

El dibujo en la Educación Inicial. Lenguaje y expresión de la subjetividad

 

*Graduada em Pedagogia - LP (UPF)

Especialista em Educação Infantil: Currículo e Infância (UPF)

**Graduada em Educação Física (ULBRA)

Mestre em Envelhecimento Humano (UPF)

Karine Possa*

karinepossa@hotmail.com

Alessandra Cardoso Vargas**

alessandracvargas@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O presente artigo aborda aspectos relacionados ao desenho na Educação Infantil como forma de linguagem e expressão da subjetividade da criança, passando por processos de maturação ao longo do desenvolvimento das produções gráficas. A forma como a criança é desafiada e estimulada a se expressar nos primeiros anos é fundamental para o seu desenvolvimento físico, cognitivo e emocional. Portanto, a representação gráfica na forma de desenhos desafia e estimula a imaginação e a inteligência da criança que pode ocorrer com os mais diferentes materiais disponíveis, possibilitando aprendizagens diversificadas.

          Unitermos: Educação Infantil. Subjetividade. Linguagem.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 193 - Junio de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Como sabemos, para as crianças que estão no estágio da Educação Infantil, muitas vezes o desenho pode servir como uma linguagem da expressão dos sentimentos, os quais ela ainda não consegue expor por meio da fala, ou mesmo pela linguagem escrita.

    Neste sentido, reportamos que o ambiente escolar, no geral, é para a criança um espaço de muitas novidades, descobertas, aprendizagens e conhecimentos novos. O desenho como forma de expressão subjetiva, e o grafismo faz parte do crescimento físico e, principalmente, do desenvolvimento cognitivo e emocional da criança.

    De acordo com Perondi (2001), os desenhos podem ser inspirados por circunstâncias não previsíveis, porém, frequentemente eles se relacionam por acontecimentos próximos ou por circunstâncias similares às experiências já vividas. Reforçando o autor acima, muitas crianças desenham no dia-a-dia o que lhes chama a atenção por apresentar aspectos relevantes na sua vivência familiar, escolar ou social.

    Portanto, o estudo objetivou-se analisar os aspectos relacionados ao desenho na Educação Infantil como forma de linguagem e expressão da subjetividade da criança, passando por processos de maturação ao longo do desenvolvimento das produções gráficas.

Importância do desenho para o desenvolvimento psicofísico de uma criança

    O desenho faz parte do desenvolvimento de qualquer ser humano, independentemente de sua idade e, portanto, não deixa de ser mais ou menos importante no desenvolvimento psicofísico de uma criança. Toda criança passa por um longo processo de evolução em todos os aspectos, mas para isso necessita passar por uma diversidade de estímulos.

    Os desafios e as propostas inteligentes são fundamentais no desenvolvimento adequado e saudável das crianças dentro da sua cultura. Segundo o PCN (2000), a arte de cada cultura revela o modo de perceber, sentir e articular significado e valores que governam os diferentes tipos de revelação entre os indivíduos na sociedade. A arte solicita a visão, a escuta e os demais sentidos como portas de entrada para uma compreensão mais significativa das questões sociais.

    O desenho é uma dessas formas incitadoras para a construção de olhares estéticos e artísticos da criança social. Além disso, o desenho ainda permite à criança desenvolver o senso de observação, os mínimos detalhes, a diversidade de cores, formas, texturas, e, também, entrar em contato com grande variedade de materiais, muitas vezes utilizados para realização de atividades artísticas, seja no ambiente da escola, ou fora dela.

    Outro fator importante é fazer com que as crianças explorem a variedade de materiais, que esteja ao seu alcance e entorno, incluindo materiais da natureza, simples, porém que propõem resultados exuberantes, como os materiais industrializados. Também as crianças podem ser desafiadas em diferentes ambientes (familiar, escolar, social).

    Segundo Porcher (1982), aqui como nos outros campos o objetivo não deve ser a formação de desenhistas profissionais e de especialistas, trata-se de dar a cada um os meios de expressar-se e, através disso, de dotá-lo dos instrumentos sensoriais e mentais necessários para as suas relações com o mundo. Por isso, a necessidade de um profissional qualificado na área das artes.

Desenho: linguagem que possibilita novas aprendizagens

    As crianças, desde pequenas iniciam o processo de produção gráfica. São riscos simples que começam a despertar o interesse da criança quando esta passa a identificar as diferentes formas produzidas com materiais plásticos como papel, canetas, lápis de cera ou tinta, entretanto, muitas vezes produz grafismos a partir de materiais inusitados como alimentos, pedrinhas, brinquedos quebrados e objetos de cozinha, enquanto brinca.

    Também ao brincar é que as crianças dão início ao desenho do seu próprio entorno. No geral, esse processo ocorre de forma prazerosa, proporcionando aprendizagens em cada traço elaborado. Sendo assim, desenhar é uma necessidade, tanto pelo aspecto da comunicação como pelo prazer que esta atividade proporciona.

    Para Moreira (2008), toda a criança desenha tendo um instrumento que deixa uma marca: a varinha na areia, a pedra na terra, o caco de tijolo no cimento, o carvão nos muros e nas calçadas, o lápis, o pincel com tinta no papel, a criança brincando vai deixando a sua marca, criando jogos, contando histórias. Desenhando, cria em torno de si um espaço de jogo, silencioso e concentrado ou ruidoso seguido de comentários e canções, mas sempre um espaço de criação.

    O desenho desperta a criança para a aprendizagem, a descoberta, o prazer, o novo, o diferente. Segundo os estudos da autora citada abaixo, não é possível uma educação intelectual, formal ou informal, de elite ou popular, sem arte, pois para ela, é impossível o desenvolvimento integral da inteligência sem o desenvolvimento do pensamento divergente, do pensamento visual e do conhecimento presentacional (BARBOSA, 1991).

    O desenho, como linguagem artística, proporciona à criança oportunidades que possibilitam com que ela expresse aqui e agora seus sentimentos a respeito de algo. E em alguns casos, até mesmo mostrar suas angústias e seus medos.

O desenho como forma de expressão pessoal enquanto ainda não há o domínio da linguagem escrita e oral

    Pode-se dizer que o desenho é uma das maneiras mais eficientes de comunicação. Desde os nossos ancestrais essa técnica já era utilizada com eficácia, fosse para se comunicar com seus pares, ou expressar e registrar fatos ocorridos ou ainda exercer alguma influência sobre os inimigos. Muitos são os estudos apontando que, antes mesmo do surgimento da escrita e da oralidade, o esboço gráfico já era desenvolvido como uma importante forma de comunicação.

    De acordo com o autor abaixo, a arte é entendida como um terreno permissivo ante um currículo repleto de números e de palavras. É a arte que encoraja a criança a colocar sua visão pessoal e sua assinatura em seus trabalhos. As escolas são dominadas por tarefas curriculares voltadas ao professor e que, frequentemente, oferecem apenas uma solução para os problemas, uma resposta certa para as perguntas. A arte não pode tornar-se algo sem vida, mecânico, como tem ocorrido com o que ensinamos em todos os níveis da educação (EISNER, 1999).

    Muitas vezes nas escolas é esquecido que nossos ancestrais podiam nem mesmo saber o significado real do desenho e a importância que o mesmo representava como forma de registro, mas já o utilizavam como um poderoso meio de expressão. Entretanto, Derdick (1989), relata que o desenho assumiu para o homem das cavernas, seja no desenvolvimento para a construção de maquinários no início da era industrial, seja na sua aplicação mais elaborada para o desenho industrial e a arquitetura, seja na função de comunicação que o desenho exerce na ilustração, na história em quadrinhos, o desenho reclama a sua autonomia e sua capacidade de abrangência como um meio de comunicação, expressão e conhecimento.

    Pode-se dizer que o grafismo é uma linguagem capaz de possibilitar a representação da realidade e do imaginário de uma pessoa. Ou ainda, o esboço gráfico pode desenvolver a criatividade, proporcionar autoconfiança, ampliar a bagagem cultural e facilitar o processo de sociabilidade.

    Desse modo, a produção gráfica de uma criança pode ser a única maneira que ela encontra para se comunicar, ou seja, pode ser o momento dela deixar o seu inconsciente falar e através dele poder desvendar aspectos da sua personalidade, da sua vida social e familiar. Segundo Morgenstern (1977) nos momentos difíceis da sua vida, a criança evade-se num mundo imaginário onde nada a impede de realizar os seus desejos. As manifestações visíveis desta fuga são os jogos, os contos e os desenhos. Assim, considera-se que o grafismo é, na maioria das vezes, um esboço livre onde crianças podem expressar o que estão sentindo naquele momento.

O que se pode “ler” no desenho da criança, que muitas vezes pode ser um sinal de alerta para educadores?

    O desenho, por fazer parte do desenvolvimento físico, cognitivo e emocional do ser humano pode apresentar em qualquer esboço, tanto os aspectos positivos, quanto as dificuldades enfrentadas naquele momento. Na perspectiva de Moreira (2008), o que é preciso considerar diante de uma criança que desenha é aquilo que ela pretende fazer: contar-nos uma história e nada menos que uma história, mas devemos também reconhecer, nesta intenção, os múltiplos caminhos de que ela se serve para exprimir aos outros a marcha de seus desejos, de seus conflitos e receios.

    Por isso, o profissional precisa ter olhos cuidadosos para perceber detalhes que a criança busca representar de um determinado momento, porque o modo como são feitas certas interpretações podem ser equivocadas, já que nem sempre o que é “entendido” pode ser o que os pequenos buscaram representar. Nicolau (1995), completa que os desenhos, as pinturas e as realizações expressivas das crianças não apenas representam seus conceitos, percepções e sentimentos em relação ao meio, como também possibilitam ao adulto sensível e consciente uma melhor compreensão da criança.

    Em muitos casos é com o educador que a criança de educação infantil passa a maior parte do seu tempo. Para Horn (2004), o olhar de um educador atento é sensível a todos os elementos. Por isso, há necessidade de um profissional da educação qualificado e eficaz dentro de uma sala de aula, ou seja, que tenha conhecimento sobre o assunto. Pois, é a formação e também sua capacidade de ser amável, flexível, generoso e compreensivo que faz a grande diferença de um profissional que atua como educador de crianças.

    Entretanto, quando a criança está inserida num meio em que lhe é permitida ter acesso aos instrumentos de experimentos gráficos, não é só o educador e a escola que precisam fazer seu papel, mas também os pais precisam ter a responsabilidade de observar a construção do processo de ensino-aprendizagem que faz parte do desenvolvimento de seu filho, tanto ao apresentar aspectos positivos, quanto ao apresentar aspectos que demonstrem dificuldade. Por meio do desenho podem-se identificar possíveis problemas, relacionados às deficiências, ou até, situações que a criança vem sofrendo em casa, ou em outros lugares que frequenta.

    Nesse contexto de cuidados e atenções feitas em parceria entre a escola e a família é que o desenvolvimento da criança germina, uma vez que escola e família produzem processos concomitantes e necessários para um bom desempenho do método de ensino-aprendizagem de uma criança. Seguindo os estudos de Lowenfeld (1977) através da compreensão da forma como o jovem desenha, e dos métodos que usa para retratar seu meio, podemos penetrar em seu comportamento e desenvolver a apreciação dos vários complexos modos como ele cresce e se desenvolve. Considerando o que já foi apontado, pode-se analisar que desenhar, seja com que material for, faz parte do desenvolvimento físico, cognitivo e emocional das crianças.

Em que contexto é adequado fazer a interpretação do desenho infantil

    Muitos pesquisadores apontam o desenho como algo importante ao longo da existência dos seres humanos. Foi possível compreender que, assim como a criança passa por um processo de desenvolvimento e amdurecimento cognitivo, afetivo, social e emocional, o grafismo também passa por um processo de crescimento e aperfeiçoamento. Assim, por meio do desenho, é possível identificar os estágios de desenvolvimento em que a criança se encontra. Segundo Lowenfeld (1970) em sua clássica obra: o desenvolvimento da Capacidade Criadora, estabelece quatro fases evolutivas para o desenho infantil:

    A primeira é a fase das garatujas de dois a quatro anos, que se divide em três etapas: Garatuja desordenada, ordenada e nomeada. Na fase da garatuja desordenada, a criança não tem consciência da relação traço-gesto, muitas vezes, nem olha para o que faz. Seu maior prazer é explorar o material, riscando em tudo o que vê pela frente. Utiliza o lápis de qualquer forma e com as duas mãos. Os movimentos são de vaivém, vertical ou horizontal e, em muitos casos, o corpo acompanha o movimento.

    Na fase da garatuja ordenada, a criança descobre que há uma relação do seu gesto com os traços que faz no papel. Assim, passa a olhar o que faz, controlando o tamanho, a forma e a localização do desenho no papel. Descobre que pode mudar de cores. Começa a fechar suas figuras em forma de círculos ou espiral. Perto dos três anos, começa a segurar o lápis como o adulto e é capaz de copiar de forma intencional um círculo, mas não um quadrado.

    Na etapa da garatuja nomeada, a criança representa o objeto concreto por meio de uma imagem gráfica. Distribui melhor os traços no papel. Anuncia o que vai fazer, descreve o que fez, relaciona o desenho com o que vê ou viu, sendo que o significado do seu desenho só é inteligível para ela mesma. Começa a dar forma à figura do ser humano.

    A segunda fase, pré-esquemática de quatro a sete anos, ou seja, os movimentos circulares e longitudinais da etapa anterior evoluem para formas reconhecíveis, passando de um conjunto indefinido de linhas para uma configuração representativa definida. A criança desenha o que sabe do objeto e não uma representação visual absoluta. Os seus desenhos apresentam formas mais elaboradas. Por volta dos seis anos pode chegar até a desenhar uma figura humana bem formada.

    A terceira fase é a esquemática de sete a nove anos. Nesse momento a representação gráfica é muito mais tardia que a lúdica verbal, porque somente quando a brincadeira simbólica e a linguagem já estão bem formadas é que a criança começa a organizar seus desenhos. A representação das figuras humanas evolui em complexibilidade e organização. Ainda, nessa fase ela já possui um linha de base e, portanto, é capaz de fazer uma linha de terra e colocar o que é da terra na terra como as árvores e as casas, e o que é do céu no céu como as nuvens e o sol.

    A quarta fase é a do realismo, que ocorre dos nove ao 12 anos, ou seja, é o momento em que a criança descobre que ela faz parte de uma sociedade. Desenvolve maior conscientização e interesse pelos detalhes, podendo até desenhar uma mão diferente da outra. Também desenvolve maior consciência visual e, portanto, não produz mais exageros, nem faz omissões para expressar suas próprias emoções. Porém, torna-se crítica dos seus desenhos e também dos desenhos dos colegas e, muitas vezes, por já possuir o domínio da escrita e boa argumentação verbal, abandona o desenho como forma de expressão subjetiva.

    Fica evidente que o desenho passa por um processo de evolução, necessário para que a criança consiga, nesse tempo, adquirir maior amadurecimento e confiança em suas ações e representações. Tudo acontece de forma consecutiva e possibilita o crescimento da sua produção gráfica.

    No entanto, como ressalta Ferreira (2001), que a interpretação do desenho da criança depende do olhar do intérprete. Afirma a autora que o desenho da criança é o lugar do provável, do indeterminado, das significações. Daí emerge a importância de se considerar o primeiro desses intérpretes a própria criança, ou seja, nada melhor do que a mesma para falar sobre a sua produção para que se possa ter uma melhor compreensão do seu significado.

    Assim, como é importante ouvir a criança sobre a sua produção, também se deve considerar a forma como a mesma desenha os tipos de riscos, as cores usadas para desenhar, a força que ela expressa ao produzir, a repetição intensiva por aquele tipo de produção, entre outros aspectos. Também pesquisando o papel do desenho na construção de conhecimento, Pillar (1996) afirma que ao desenhar, a criança está inter-relacionando seu conhecimento objetivo e seu conhecimento imaginativo. E, simultaneamente, está aprimorando esse sistema de representação gráfica.

    A interpretação do desenho ocorre de forma consecutiva, a partir de várias análises e observações. Pois, o ato de desenhar envolve a atividade criadora; é através de atividades criadoras que a criança desenvolve sua própria liberdade e iniciativa.

Estereótipo do desenho

    Muitas vezes, o desenho não é visto como atividade importante na escola, o que acaba desvalorizando e limitando o seu espaço como atividade fundamental para o desenvolvimento cognitivo e também emocional da criança.

    Aqui, mais precisamente na educação infantil, espaço onde o desenho deve estar presente a todo instante, muitas crianças, por não terem a linguagem oral e escrita ainda como forma de expressão, utilizam o desenho para representar o que estão sentindo. Por isso, a importância do mesmo para o desenvolvimento das crianças em todos seus aspectos.

    A forma como é desenvolvida a arte na educação infantil deveria ser muito bem repensada e valorizada por todos os governantes, sejam eles Federal, Estadual, Municipal ou, ainda, das Escolas Particulares. Muitas instituições ainda trabalham com um ensino tradicional da arte, disponibilizando cópias de imagens xerocadas para as crianças pintarem, ou incentivando retratos estereotipados.

    Portanto, a forma como é criado o estereótipo de qualquer objeto, imagem, ser humano, animal que seja, em uma criança faz a grande diferença no seu desenvolvimento de assimilação dos modelos e papéis sociais. Como já foi apontando, não necessariamente para fazer um desenho, tem que ser da mesma forma como aprendeu, ou seja, seguir um modelo único.

    No entanto, apresentar fotografias e imagens desenhadas e pintadas por outras crianças e também por adultos não deixa também de ser importante no desenvolvimento da criança. Elas precisam criar conceitos, compreender e assimilar esses conceitos sobre as imagens para ter ideia do que aquilo significa, porque enquanto, muito pequenas, ainda não tem noção de que a imagem de um caderno é um objeto, denominado caderno, ela precisa aprender isso.

    Mas o que vem dificultando é a forma como as instituições de educação infantil e também as instituições posteriores vem desenvolvendo esse processo de ensino-aprendizagem. Deve-se ter em mente que o ensino da arte é muito mais do que produzir apenas trabalhos artísticos como afirmam os PCN (2000) aprender arte envolve, basicamente, fazer trabalhos artísticos, apreciar e refletir sobre eles. Envolve também conhecer, apreciar e refletir sobre as formas da natureza e sobre as produções artística e individuais e coletivas de distintas culturas e épocas.

    Desenhos estereotipados é um entrave no desenvolvimento da criatividade de crianças de educação infantil. Inibem a possibilidade de expressão subjetiva; tiram, muitas vezes, a única oportunidade que a criança tem de expressar o que sente e percebe de si e do seu entorno. E estes desenhos existem aos milhares na internet, ou seja, uma situação cada vez mais difícil de “fugir”. Se não é a escola quem oferece estas imagens estereotipadas, é a família que nem percebe que isso é desaconselhável.

Análise e interpretação de desenhos

    Durante a elaboração do presente artigo, houve a necessidade de trazer o objeto de estudo, ou seja, o desenho infantil, visto que, nem sempre, o estudo bibliográfico é suficiente para que possamos compreender e sanar dúvidas. A atividade foi realizada com 20 alunos da Educação Infantil de uma Escola Municipal do município de Marau/RS, com idade entre cinco a seis anos. O encontro foi realizado no turno da manhã, na própria instituição e os desenhos foram escolhidos de forma aleatória, uma vez que as crianças possuem qualidades parecidas nas produções.

    A intervenção com os alunos aconteceu em uma quinta feira do mês de setembro durante o período de aula, no momento em que as crianças estavam no pátio participando de brincadeiras com a professora titular. As crianças foram convidadas a desenhar como estavam se sentindo naquele momento, após uma breve conversa. Foram feitos registros escritos das falas das crianças autoras dos desenhos enquanto as mesmas desenhavam.

    Após, foram selecionados quatro desenhos de forma aleatória para fazer a análise. Reportando Cellard (2008), a análise documental favorece a observação do processo de maturação ou de evolução de indivíduos, grupos, conceitos, conhecimentos, comportamentos, mentalidades, práticas, entre outros.

    Desenho feito pela criança Margarida. Relatou estar feliz nesse momento e por isso desenhou flores, o sol, um arco-íris, a professora e ela mesma. Margarida tem seis anos e apresenta uma mistura de características da fase pré-esquemática e do esquema, demonstrando que está numa fase de evolução e transição de um estágio para outro. Apresenta em sua produção uma base com pequenas elevações, destacando um terreno com inclinações. A imaginação infantil está presente na produção gráfica do sol com olhos e boca. Portanto, percebe-se que realiza a produção do desenho de acordo com o que sabe do objeto. Confirmando, Lowenfeld (1970) diz que a criança desenha o que sabe do objeto e não uma representação visual absoluta.

    Desenho feito pelo Cravo. Relatou estar meio triste, então produziu ele surfando num mar com os amigos. Cravo tem cinco anos e 10 meses está na fase pré-esquemática e nota-se que os sentimentos de como ele está se sentindo estão expressos na produção, por meio dos riscos desordenados e de algumas figuras sem colorir. Também aparece a representatividade de como é pegar ondas no mar, as elevações das ondas e o equilíbrio necessário para ficar em pé numa prancha. Afirma Lowenfeld (1970) que os objetos aparecerem acima, abaixo, ou ao lado uns dos outros, da forma como os compreende e que os comentários das crianças tendem a ser desconexos e esparsos, porque estão mais ligados à sua significação emocional do que à disposição ordenada dos acontecimentos.

Considerações finais

    Por meio dos estudos obtidos durante o curso e da realização do presente artigo, buscou-se analisar e compreender a importância do desenho no desenvolvimento de uma criança, como forma de expressão enquanto o domínio da linguagem oral e escrita ainda não predomina. As formas de interpretação do mesmo, dos estereótipos utilizados para a realização das produções gráficas e de outras formas desenhadas pela criança que muitas vezes podem servir como um sinal de alerta para os educadores.

    O grafismo é parte integrante do desenvolvimento de um ser humano, principalmente de crianças que, na maioria das vezes, utilizam o desenho como forma de expressão dos seus sentimentos. Nessa perspectiva evidencia-se que a interpretação do desenho da criança depende do olhar do intérprete.

    O estudo contemplou que a interpretação do desenho ocorre de forma consecutiva, a partir de várias análises e observações. Sendo essas, necessárias para um bom desempenho do profissional, pois o ato de desenhar envolve a atividade criadora, e é através destas atividades que a criança desenvolve sua própria liberdade e iniciativa, podendo expressar-se como indivíduo.

    A pesquisa possibilitou compreender o quanto o desenho liberta a imaginação, a inovação e a produção espontânea, podendo despertar a criatividade na criança. E ser criativo é conseguir associar ideias, produzindo uma diversidade de respostas a tudo aquilo que é estimulado. Além disso, o estímulo é essencial para o desenvolvimento de qualquer pessoa, principalmente de um ser tão pequeno, que terá muitas etapas para superar e progredir.

    Para finalizar, há de se dizer que o desenho, como linguagem artística, proporciona para a criança oportunidades que possibilitam com que ela expresse no aqui e agora seus sentimentos a respeito de algo, podendo inclusive, em alguns casos, mostrar suas angústias, ou até mesmo os seus medos. Considera-se, então, que o grafismo é extremamente importante no desenvolvimento de uma criança, uma vez que contribui para inúmeras aprendizagens e experiências que auxiliam no seu crescimento físico e emocional.

Referências bibliográficas

  • BARBOSA, A.M. A imagem no ensino da arte: anos oitenta e novos tempos. São Paulo: Perspectiva; Porto Alegre: Fundação IOCHPE, 1991.

  • CELLARD, A. A análise documental. In: POUPART, J. et al. A pesquisa qualitativa: enfoques epistemológicos e metodológicos. Petrópolis, Vozes, 2008.

  • DERDYK, E. Formas de pensar o desenho: desenvolvimento do grafismo infantil. São Paulo: Scipione, 1989.

  • EISNER, E. Estrutura e Mágica no Ensino da Arte. In: Barbosa, A. M. (org.). Arte Educação: Leitura no subsolo. São Paulo: Cortez, 1997.

  • FERREIRA, S. Imaginação e linguagem no desenho da criança. Campinas: Papirus, 2001.

  • HORN, M. G. S. Sabores, cores, sons, aromas: a organização dos espaços na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2004.

  • LOWENFELD, V. Desenvolvimento da capacidade criadora. São Paulo, Mestre Jou, 1970.

  • LOWENFELD, V. A criança e sua arte. 2 ed. São Paulo: Mestre Jou, 1977.

  • MOREIRA, A. A. A. O espaço do desenho: a educação do educador. 12. Ed. São Paulo: Loyola, 2008.

  • NICOLAU, M. L. M. A educação artística da criança. 4ª Ed. São Paulo: Ática, 1995.

  • PERONDI, D. Processo de alfabetização e desenvolvimento do grafismo infantil. Caxias do Sul: EDUCS, 2001.

  • PILLAR, A. D. P. Desenho e construção de conhecimento na criança. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.

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