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A configuração da epidemia da AIDS na juventude masculina

La configuración de la epidemia de SIDA en la juventud masculina

 

*Coordenador do Laboratório do Programa UNIVERSIDAIDS - FAMED/UFAL

***Docente Pesquisadora do Instituto Fernandes Figueira Fundação Oswaldo Cruz

***Professor Titular do Instituto Fernandes Figueira da Fundação Oswaldo Cruz

(Brasil)

Jorge Luís de Souza Riscado*

Elaine Ferreira do Nascimento**

Romeu Gomes***

danielmestradounincor@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          A Aids vem ainda se mantendo em patamares elevados, particularmente entre homens jovens negros. Objetivou-se um levantamento, a partir do DATASUS, na série histórica 2000-2012, nas categorias de exposição sexual, na relação população negra e branca. Conclui-se que a epidemia continua ativa e prevalente entre a população negra no Nordeste do Brasil.

          Unitermos: AIDS. Epidemia. Juventude. Brasil.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 193 - Junio de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A Aids ao longo das últimas décadas deixou de ser uma sentença de morte, mesmo nos grupos sociais mais vulneráveis, como os homens gays.

    No Brasil, estima-se que cerca de 630 mil indivíduos de 15 a 49 estão infectados pelo HIV/Aids. Segundo parâmetros estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) a epidemia de Aids é concentrada, ou seja, apresenta taxa de prevalência da infecção pelo HIV menor que 1% na população em geral e maior que 5% em subgrupos populacionais de risco acrescido para infecção pelo HIV – Homens que fazem sexo com homens (HSH), usuários de drogas e profissionais do sexo feminino.

    A taxa de prevalência da infecção pelo HIV, na população de 15 a 49 anos mantém-se estável em aproximadamente 0,61% desde 2004, sendo 0,41% entre as mulheres e 0,82% entre os homens. Entre os jovens do sexo masculino de 17 a 20 anos, a taxa de prevalência do HIV foi estimada, em 2007, em 0,12%, apresentando ligeiro aumento quando comparado com a estimativa de 2002 (0,09%), embora não estatisticamente significativo1,2.

    No entanto, os cuidados com a prevenção diminuiu e os resultados estão a mostrar que o Brasil vem registrando trinta e oito mil novos casos de Aids por ano, com aproximadamente mil óbitos por mês3.

Revisão de literatura

    Examinando o Boletim de Aids do Ministério da Saúde3, verificamos que os índices de infecção continuam crescendo nas regiões Nordeste, Norte e Sul, do nosso País. Vale salientar que a última região citada goza de um alto IDH, pautado pela educação, saúde, trabalho e geração de renda.

    Estudos anteriores4-9 demonstram que os sujeitos pesquisados revelaram que após um período de “conhecimento” da outra pessoa, nas relações sexuais era dispensada a camisinha, partindo da premissa de que havia um grau de confiabilidade no outro.

    Passados 30 anos de epidemia, o Brasil vive uma epidemia de Aids com os seguintes contornos, isto é, a infecção pelo HIV e a Aids estão estáveis, mas com índices muitos elevados3.

    O Boletim1 nos informa que entre os jovens homossexuais, por exposição sexual, na faixa etária de 15 a 24 anos, o número de infectados passou de 25% em 1990, para 46% em 2010. Isto significa que entre os homens que fazem sexo com homens (HSH) esse índice basicamente quase que dobrou.

    O jovem tem muitas relações sexuais. As visões distorcidas sobre a possível cura através dos antirretrovirais, a banalização sobre riscos, acabam provocando um desuso do preservativo nas relações sexuais.

    A notificação compulsória remete uma legislação, desde o passado, em que só se fizesse a notificação quando o indivíduo se mostrava com quadro de Aids. Na atualidade, com a oferta do teste rápido, por campanhas, o resultado deve ser comunicado com certa rapidez e ser informado ao Sistema de Informação dos Centros de Testagem e Aconselhamento em Aids (SI-CTA) para expressar a realidade.

    De 2001 a 2010 a taxa de incidência na região Sudeste caiu de 23 casos para 21 casos por 100.000 habitantes.

    No resto do País podemos observar que esse fenômeno se deu inversamente, ou seja, no Nordeste passou-se de 8 casos para 14 casos por 100.000 habitantes, portanto quase que dobrando; no Norte mais que dobrou, de 9 casos para 21 casos por 100.000 habitantes; já na região Sul os casos aconteceram de 27 para 31 por 100.000 habitantes3.

    Frente a esse cenário podemos afirmar que a Aids continua sendo um caso de saúde pública e, que portanto, não pode haver esmorecimento.

    O perfil epidemiológico dos casos notificados de Aids, masculinos, por exposição sexual, na faixa etária de 15 a 26 anos, segundo raça/cor, por local de residência, período 2000 e 2012, no Brasil apontam para 22361 casos, dos quais 10.413 caso na população negra – pardos e pretos e, 11948 brancos; em Alagoas, os resultados consultados10 via SINAN, apontaram para um registro de 279 casos, sendo que 227 se encontram entre pardos e pretos e, 52 casos na população branca.

    No período de 2000 a 2012, foram notificados no Brasil 33.234 casos de Aids em homens na faixa etária de 18 a 29 anos. Desses, 5.930 homens jovens são residentes na região Nordeste. A análise da série histórica considerando os atributos raça/cor e a categoria de exposição sexual mostrada na Figura 1 evidencia que, de modo geral, a distribuição percentual é semelhante entre os dois grupos.

    No entanto, quando se analisa a evolução dos casos observa-se que há uma redução dos percentuais em todas as categorias de exposição nos homens de cor branca, enquanto que entre os negros há um aumento em todas as categorias, com maior variação percentual (2000/2012) entre os heterossexuais (25,2%) e bissexuais (19,5%).

    Outro ponto importante a ser destacado é que, em todo o período, o percentual de casos de Aids da população de cor branca demonstra maior exposição dos homossexuais, todavia, entre os negros há predominância dos héteros e bissexuais e, a partir de 2005, a categoria heterossexual passa a ser a mais atingida.

Figura 1. Distribuição de casos de Aids em homens na faixa etária de 18 a 29 anos, segundo raça/cor e categoria de exposição. Brasil: 2000 a 2012

Fonte: www.datasus.gov.br. no Menu Informações em saúde > Epidemiológicas e Morbidade

Origem dos dados: SINAN, SIM e SISCEL

    A região Nordeste apresenta um padrão bastante diferenciado em relação ao Brasil, no qual o percentual de casos entre homens de cor negra são bem mais elevados, chegando a ser superior em três vezes ou mais.

    Conforme ocorre no País, há tendência de queda entre os percentuais de casos de homens de cor branca, em todas as categorias de exposição, com predomínio da categoria homossexual, seguida pela heterossexual. Já entre os negros há tendência de aumento em todas as categorias com a maior variação percentual (2000/2012) observada entre os bissexuais (16,7%) e homossexuais (15,5%) (Figura 2).

Figura 2. Distribuição de casos de Aids em homens na faixa etária de 18 a 29 anos, segundo raça/cor e categoria de exposição. Nordeste: 2000 a 2012

Fonte: www.datasus.gov.br. no Menu Informações em saúde > Epidemiológicas e Morbidade

Origem dos dados: SINAN, SIM e SISCEL

    A predominância de percentuais de casos nos homens heterossexuais e bissexuais entre os negros também se assemelha ao perfil observado para a Região.

Figura 3. Distribuição de casos de Aids em homens na faixa etária de 18 a 29 anos, segundo local de residência, raça/cor e categoria de exposição. Alagoas e Maceió: 2000 a 2012

Fonte: www.datasus.gov.br. no Menu Informações em saúde > Epidemiológicas e Morbidade. 

Origem dos dados: SINAN, SIM e SISCEL

    O crescimento entre a população negra pode estar atrelada aos determinantes sociais de saúde como racismo, racismo institucional11 ao fato de que é mais pobre, morre mais cedo, apresenta níveis mais baixos de escolaridade e menos acesso a serviços de saúde do que a população branca12 apontando para a priorização de ações de saúde nesse grupo visando conter o avanço da doença.

    Análise da epidemia segundo as características de raça/cor evidenciam desigualdades entre a população que se declara de cor branca e entre preta e parda que merecem mais atenção dos gestores da saúde.

    Observa-se no Brasil tendência inversa entre a notificação de casos de Aids. Enquanto no período de 2000 a 2011 a população branca era a mais atingida e apresentava queda nos percentuais, a partir de 2012 houve uma inversão, e o percentual, entre as pessoas pretas e pardas, que se encontrava crescente a cada ano, chegou a superar os da população branca.

    Entre 2000 e 2012 foram notificados na região Nordeste 44.128 casos de Aids no sexo masculino, dos quais 5.156 (11,6%) foram entre a população que se declarou branca e 16.973 (38,5%) em preta e parda. No período analisado observou-se que o percentual da população preta e parda atingida pela Aids foi sempre superior, chegando a partir de 2008, a ser de quase seis vezes maior que população declarada branca. Outro ponto importante observado é que os percentuais de casos notificados decresceram entre as pessoas de cor branca, enquanto que no outro grupo a tendência foi de aumento.

    Convém destacar que a variável raça/cor foi introduzida no SINAN no ano 2000 e embora apresente melhoria no preenchimento o percentual de campos incompletos ainda é um fator limitante para uso desses dados na epidemiologia13.

    Outro ponto que deve ser destacado é o aumento da proporção da população que se declara preta e parda nos últimos 10 anos, atribuída a uma recuperação da identidade racial14 possa influenciar na análise epidemiológica descritiva da epidemia segundo esse quesito.

    O levantamento15 que buscava primeiramente observar a tendência da disseminação da epidemia do HIV/Aids no Nordeste brasileiro, detectou que segundo os dados, à época, do Ministério da Saúde, no período de 1980 a 2003, dos cerca dos 26 mil casos notificados nessa região nacional, a faixa etária mais acometida pela epidemia estava no entorno entre 20 e 39 anos e que, majoritariamente, a infecção se dava por transmissão sexual. Esse último aspecto foi tomado em consideração quando observado a série histórica de 1988 (60,7%) – que aumenta gradativamente – a 1998 (77%).

    No tocante à variável raça/cor, na faixa etária de 18 a 29 anos, há um aumento considerável na população negra frente às demais cor de pele quando localizamos Maceió, Alagoas e Brasil.

Conclusão

    Frente a esse cenário podemos afirmar que a Aids continua sendo um caso de saúde pública, que se fazem necessárias mais pesquisas para embasarem políticas governamentais no que se alude, principalmente, à prevenção.

Referências

  1. BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Boletim Epidemiológico – Aids e DST Ano VI, n. 1, 27ª a 52ª semanas epidemiológicas – julho a dezembro de 2008 e 01ª a 26ª semanas epidemiológicas – janeiro a junho de 2009, 2010.

  2. UNAIDS. Epidemia de VIH nos países de língua oficial portuguesa: situação atual e perspectivas futuras rumo ao acesso universal à prevenção, tratamento e cuidados. Dezembro 2010. Disponível em: http://www.unaids.org/br Acesso em 14 de março de 2013.

  3. BRASIL, Ministério da Saúde. Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Boletim Epidemiológico Aids e DST. Brasília. Ano IX, nº 01, 26º Semana Epidemiológica, junho, 2012. 24 p.

  4. RISCADO, J. L. S. Sexualidade e Aids: um olhar arqueológico sobre o homoerotismo masculino. Maceió: EDUFAL/ Série Apontamento 36,1999. 33 p.

  5. RISCADO, J. L. S. PREFÁCIO. In: FARIAS, J. D. (Org.). Além do arco-íris: perfil, diversidade sexual e mobilização social em Alagoas. 1ed. Maceió: Sesau, 2005, v. único, p. 13-15.

  6. RISCADO, J. L. S.; ALBUQUERQUE, G. O. ; FERREIRA, K. M. S. ; ARAUJO, L. F. L. ; GOTO, N. C. S. . Gravidez, conhecimento, atitudes de adolescentes diante da prevenção e transmissão das DST/Aids e drogas: um estudo com alunos de ensino médico e fundamental das escolas públicas do campus vicinal da UFAL. In: I Jornada Multidisciplinar do Hospital Universitário e 1ª Mostra de Pesquisa e Extensão do HU/CSAU, 1998, Maceió - AL. Revista do Hospital Universitário da UFAL - Suplemento Especial - I Jornada Multidisciplinar do Hospital Universitário Prof. Alberto Antunes, 2000.

  7. RISCADO, J. L. S.; OLIVEIRA, M. A. B. Quilombolas guerreiros alagoanos: Aids, prevenção e vulnerabilidades. 1. ed. Maceió: EDUFAL, 2011. v. 1. 200 p .

  8. RISCADO, J. L. S.; OLIVEIRA, M. A. B.; BRITO, A. M. B. B. Vivenciando o racismo e a violência: um estudo sobre as vulnerabilidades da mulher negra e a busca de prevenção do HIV/Aids em comunidades remanescentes de Quilombos, em Alagoas. Saúde e Sociedade (USP. Impresso), v. 19, p. 96-108, 2010.

  9. RISCADO, J. L. S.; ARAUJO, C. M. Prevalence of the Abusive Drugs Uses and Knowledge about Aids among health area students of Federal University of the Alagoas. Medimond S.R.L. Tailândia/Itália, v. E710, p. 107-111, 2004.

  10. BRASIL, Ministério da Saúde. SINAN. Dados epidemiológicos on-line, acesso aberto. Disponível em http://www.datasus.gov.br. Acesso em 01/04/2013.

  11. BATISTA, L. E. Masculinidade, raça/cor e saúde. Revista Ciência e Saúde Coletiva, v. 10. nº 1. 71-80. 2005.

  12. PNUD. Atlas Racial Brasileiro. Disponível em: http://www.pnud.org.br/Atlas.aspx?view=atlasracial. Acesso em 28 ago 2013.

  13. GLATT, R. Análise da qualidade da base de dados de Aids do sistema de informação de agravos de notificação (SINAN) [Dissertação]. [Rio de Janeiro]: Escola Nacional de Saúde Pública: Fundação Oswaldo Cruz; 2005.

  14. BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Contagem Populacional. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/populacao_jovem_brasil/comentario1.pdf. Acesso em: mar. 2013.

  15. BARBOSA, L. M. A disseminação recente do HIV/Aids no Nordeste: uma análise espacial. Anais do Seminário Quanto Somos e Quem Somos no Nordeste. Recife, 2004. P. 171 – 181.

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