A propriocepção dos atletas da equipe profissional de futebol do Clube Náutico Marcílio Dias La propiocepción de los jugadores del equipo profesional de fútbol del Clube Náutico Marcilio Dias |
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Graduado em Educação Física. Licenciatura pela Universidade da Região da Campanha, URCAMP, Bagé, RS. Graduado em Educação Física. Bacharelado pela Universidade de Santa Cruz do Sul, UNISC. Santa Cruz do Sul |
Tiago Martins Coelho (Brasil) |
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Resumo A propriocepção é a relação entre o os receptores sensoriais que detectam a informação e a resposta desencadeada pelo Sistema Nervoso Central (SNC). Ela é de suma importância para atletas, contribuindo para o desempenho desportivo e para a prevenção de lesões. O estudo teve como objetivo verificar o grau de propriocepção e o membro dominante dos jogadores da equipe profissional de futebol do Clube Náutico Marcílio Dias. A pesquisa foi feita com 25 atletas da equipe profissional de futebol do Clube Náutico Marcílio Dias em Itajaí – SC – BR. Foi utilizado o Teste de Equilíbrio de Freeman-Romberg para verificar o grau de propriocepção dos atletas e um questionário simples para identificar o membro dominante à nível cerebral dos mesmos. Os resultados mostraram que 76% da amostra é destra e 24% canhota. Também mostrou que para o membro direito, 84% da amostra possui classificação Ruim ou Regular e para membro esquerdo, 64% dos atletas possuem classificação Ruim ou Regular. Ainda sobre os resultados quando relacionado o membro dominante a nível cerebral com o em termos biomecânicos, 78,9% dos atletas destros possuem um grau proprioceptivo maior ou igual no membro esquerdo em relação ao direito, já nos canhotos apenas 33,3% tem vantagem proprioceptiva no membro de apoio. Enfim concluímos que a maioria da amostra encontra-se em condições delicadas no quesito de estabilidade e que estão sujeitos a lesões. Unitermos: Propriocepção. Membro dominante. Futebol.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 193 - Junio de 2014. http://www.efdeportes.com/ |
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1. Introdução
A importância das informações proprioceptivas é conhecida há mais de um século para a elaboração do ato motor coordenado (MISAILIDIS, 2002).
Essas informações estão presentes em nosso dia-a-dia, nas atividades físicas, no lazer e até mesmo em nossas atividades da vida diária (AVDs). Uma modelo, uma executiva ou até mesmo uma mulher comum, por exemplo, andam sempre, ou normalmente, em sapatos altos e de saltos compridos e finos. O que ajuda a garantir que esta mulher caminhe com normalidade, naturalidade e segurança são os receptores sensoriais, mais especificamente os proprioceptores dos membros inferiores, os mesmos que protegem as articulações do tornozelo e joelho de um atleta em eventuais desequilíbrios. E quando se trata de esporte de alto rendimento essa variável é essencial para uma ótima performance e segurança do atleta.
A propriocepção é uma variável muito importante na performance, na prevenção de lesões e na reabilitação das mesmas. Está presente nos movimentos e deve ter espaço dentro do treinamento sistematizado, pois com um programa bem estruturado os benefícios são consideráveis. Nos esportes com bola, a fadiga piora a capacidade proprioceptiva, o que aumenta os erros técnicos e a probabilidade de lesões. Motivo pelo qual o maior entendimento e conhecimento sobre esse tema se torna imprescindível, possibilitando mais intervenções nesse sentido.
De acordo com Powers e Howley (2009), por intermédio do sistema nervoso central (SNC), o corpo tem um meio rápido de comunicação interna, que nos permite a movimentação, a fala e a coordenação de bilhões de células. Através do SNC, o corpo percebe e responde aos mais diversos fatos intrínsecos e extrínsecos, sendo capaz de memorizar experiências e aprender a lidar da melhor maneira com elas. Receptores específicos são capazes de detectar o toque, a dor, as alterações da temperatura e os estímulos químicos e enviar informações via aferente para o SNC.
O presente estudo teve como objetivo verificar o grau de propriocepção e o membro dominante dos jogadores da equipe profissional de futebol do Clube Náutico Marcílio Dias. Na metodologia, foi utilizado um teste de equilíbrio a fim de estabelecer o grau de propriocepção dos atletas, denominado Teste de Freeman-Romberg (SALGADO, 1995).
2. Propriocepção
As informações sinestésicas chegam ao SNC através de receptores espalhados no corpo, chamados de proprioceptores (HAYWOOD e GETCHELL, 2010). Os proprioceptores estão localizados nos músculos, tendões, ligamentos e cápsulas, especializados em detectar a distensão, a tensão e a pressão, esses receptores sensoriais transmitem as informações da biomecânica dos movimentos inconscientes e conscientes dos membros ao SNC (MACARDLE, 2008)
O principal objetivo do treinamento proprioceptivo é a diminuição do tempo da estimulação neural e da ação muscular (PAFIS et al., 2007 apud LOPES 2008). O treino de equilíbrio é a maior modalidade dos exercícios proprioceptivos, mais especificamente nas atividades estáticas, que melhoram esta variável (BALTACI & KOHL, 2003 apud LOPES, 2008).
A propriocepção está inserida em todo tipo de treinamento ou sobrecarga do aparelho locomotor, mas é capaz de influenciar diretamente na melhora do desempenho. Entretanto uma errônea periodização do treinamento proprioceptivo ou insuficiente podem proporcionar problemas neuromusculares e o aparecimento de lesões (WEINECK, 2005).
Nos esportes que utilizam saltos, lançamentos e finalização, o membro dominante em termos biomecânico não é o mesmo dominante a nível cerebral. Um jogador de futebol destro, por exemplo, tem o membro direito com maior domínio e habilidade do jogo, no caso dominante a nível cerebral e o membro esquerdo, que é o de apoio, dominante em termos biomecânicos. Desse modo as lesões são mais freqüentes no membro dominante a nível cerebral, pois o dominante em termos biomecânicos possui uma melhor destreza motora e estabilização (MASSADA, 2006 apud LOPES, 2008).
A capacidade proprioceptiva decai em razão da fadiga. O que explica o fenômeno de jogadores de desportos com bola cometerem um maior número de erros técnicos no jogo, devido a problemas na relação espaço-temporal fina dos proprioceptores (WEINECK, 2005).
Em síntese, para que um indivíduo possa manter-se em equilíbrio estático ou dinâmico deve estar com as articulações dos joelhos e dos tornozelos resistentes e flexíveis (COSTA, 2007).
A propriocepção é essencial para os atletas, assegurando-lhes qualidade dos gestos desportivos, prevenção e reabilitação de lesões e aperfeiçoamento de desempenho. Fatores que fazem necessário a incorporação dessa valência no futebol.
Vários pesquisadores referem-se ao tornozelo sendo a articulação mais lesada na vida diária e na desportiva, atingindo pessoas sedentárias ou atletas, podendo estes últimos sejam profissionais ou amadores, independentemente do sexo. (LOPES, 2008.)
Em suma a propriocepção é a percepção dos proprioceptores aos estímulos exógenos e endógenos e a rápida comunicação entre eles e o SNC a fim de desencadear uma ação.
3. Metodologia
Trata-se de uma pesquisa de campo na qual foram utilizados os dados de 25 atletas da equipe profissional de futebol do Clube Náutico Marcílio Dias da cidade de Itajaí-SC-BR, sendo todos do sexo masculino e com idades entre 18 e 35 anos.
Os critérios para a inclusão no trabalho foram: estar treinando de forma normal e não apresentar nenhuma lesão no momento do teste. Todos os 25 atletas foram incluídos livremente no trabalho, não havendo em nenhum momento obrigatoriedade em participar do mesmo, surgindo desta forma a amostra.
Foi utilizado, para identificar o membro dominante a nível cerebral, um questionário simples e para verificar o grau de propriocepção de ambos os membros, foi utilizado o Teste de Equilíbrio de Freeman-Romberg (SALGADO, 1995).
Ilustração da posição do Teste de Freeman-Romberg
O Teste de Freeman-Romberg foi aplicado com o objetivo de identificar o grau de propriocepção dos atletas. O teste consiste em cronometrar quanto tempo o indivíduo permanece sem oscilar na posição em apoio unipodal, olhos fechados e as mãos para baixo, permitindo assim classificar o grau de propriocepção, quando comparado ao quadro 1 (SALGADO, 1995).
Quadro 1. Análise qualitativa do grau de propriocepção
Acima de 60 segundos |
Excelente – E |
Entre 46 – 60 segundos |
Bom – B |
Entre 21 – 45 segundos |
Regular – RE |
Entre 0 – 20 segundos |
Ruim – R |
Fonte: SALGADO, 1995.
4. Resultados e discussão
Nesta sessão serão apresentados os resultados do questionário e do teste proprioceptivo de ambos os membros.
Gráfico 1. Dominância
Fonte: Desenvolvido pelo autor (2014)
De acordo com o gráfico 1 é possível identificar que a amostra tinha em sua maioria, 76% ou 19 atletas, o membro direito como membro dominante a nível cerebral e 24%, o que equivale a 6 atletas, da amostra tinha uma maior comando cerebral para com o membro esquerdo. A amostra é em sua maioria destra, ou seja, possui dominância cerebral sobre o membro direito e dominância biomecânica sobre o membro esquerdo, o qual permanece em contato com o solo por mais tempo. A dominância cerebral destra resulta numa maior coordenação e qualidade com o membro inferior direito em movimentos voluntários que exijam precisão e habilidade.
Gráfico 2. Membro Dominante
Fonte: Desenvolvido pelo autor (2014)
O gráfico 2 nos possibilita, através do quadro 1, classificar os graus de propriocepção do membro direito dos atletas. Dessa forma foi verificado que 52% dos atletas possuem um grau de propriocepçao R (Ruim), 32% RE (Regular) e 16% E (Excelente), o que corresponde a 13, 8 e 4 atletas respectivamente.
Dessa forma verificamos que grande parte dos atletas possui um grau de propriocepção R ou RE. Mas especificamente 21 atletas não possuem um bom equilíbrio e estabilidade no membro direito quando em contato com o solo.
Gráfico 3. Membro Esquerdo
Fonte: Desenvolvido pelo autor (2014)
O gráfico 3 evidencia as classificações do membro esquerdo, e a partir dele, vemos que 52% dos atletas classificam-se com propriocepção R, 12% RE, 16% B e 20% E, correspondente a 13, 3, 4 e 5 atletas respectivamente.
Gráfico 4. Relação Membro Dominante
Fonte: Desenvolvido pelo autor (2014)
Consoante ao gráfico 4, ao analisarmos apenas os atletas destros, verificamos que 78,9% deles possuem um grau de propriocepção maior ou igual no membro esquerdo em relação ao direito, ou seja, no membro dominante em termos biomecânicos. Essa porcentagem equivale a 15 atletas que quando apoiado no solo, o membro esquerdo é mais firme e seguro. Mostrando que em atletas destros o membro de apoio tem um grau de propriocepção maior, respondendo de forma mais eficiente aos desequilíbrios.
Agora, também conforme o gráfico 4, observando os valores do teste nos atletas de membro esquerdo dominante a nível cerebral, notamos que apenas 33,3% apresentaram um grau de propriocepção maior ou igual no membro direito em relação ao esquerdo. Notamos que a relação membro dominante a nível cerebral e em termos biomecânico não é clara nesse caso. Mesmo os atletas canhotos estarem na maior parte do tempo com o membro direito no solo, este não é o que possui em sua maioria o melhor grau de propriocepção, pois apenas 2 atletas tem vantagem proprioceptiva do pé de apoio em relação ao com mais habilidade e comando.
Poucos estudos buscam estudar o membro de suporte, também chamado de pé de apoio, mesmo este tendo grande importância no desempenho do chute, além de função de equilíbrio e auxilio da trajetória da bola. (BARBIERI, 2005).
Teixeira (2001 apud BARBIERI), em um estudo com jogadores de futebol, buscou analisar os chutes de potência, os chutes de precisão e a velocidade de condução de bola. Os atletas foram avaliados antes e depois da intervenção e foi detectado assimetria favorecendo o membro dominante (preferido) em todas as tarefas.
Em estudos levando em consideração o membro dominante e o chute, foram encontradas diferenças relevantes a favor do membro dominante nas variáveis cinemáticas, na qual a velocidade de execução do movimento foi a variável verificada em todos e favorecerão o membro dominante à nível cerebral. (MCLEAN & TUMILTY, 1993; MOGNONI et al. 1994; BARFIELD, 1995; PATRITTI, 1997 apud BARBIERI, 2005).
O treinamento insuficiente, mas também unilateral ou mal dimensionado, pode acarretar uma disfunção da propriocepção e, com isso, distúrbios funcionais, como o surgimento de lesão (WEINECK, 2005).
Raymundo et al. (2005 apud GUGLIELMIN, 2008) verificaram uma alta incidência de lesões em atletas de futsal, com predominância de lesões nos membros inferiores (88,1%). Inúmeros investigadores referem-se à lesão do tornozelo, e em particular à entorse, como a lesão mais comum em sedentários ou atletas, profissionais ou amadores, masculinos ou femininos (LOPES, 2008).
5. Considerações finais
Ao fim da pesquisa foi detectado que os graus de propriocepção dos atletas da equipe profissional de futebol do Clube Náutico Marcílio Dias é em sua maioria ruim ou regular, o que deixa os jogadores em vulnerabilidade no que se refere à lesões nos seguimentos tornozelo e joelho.
A relação entre membro dominante à nível cerebral e em termos biomecânicos é evidente nos atletas destros, mostrando que estes possuem boa estabilização no membro de apoio. Entretanto nos atletas com dominância cerebral no membro esquerdo, essa relação não procede, sendo necessárias mais averiguações nesse sentido com uma amostra maior.
O diagnóstico do grau de propriocepção dos atletas de futebol torna-se de suma importância para a aplicação de um programa de treinamento proprioceptivo a fim de evitar futuras lesões e/ou restauras a informações proprioceptivas perdidas com lesões anteriores. Todavia, como visto anteriormente, é necessária uma correta periodização do treinamento proprioceptivo para que o mesmo surta um efeito positivo e não seja ineficaz nem prejudicial à saúde e ao desempenho desportivo dos atletas.
Devido ao pouco tempo para a execução deste trabalho, não foi possível aplicar um programa de treinamento proprioceptivo para intervir nesse diagnóstico. Porém testes como o aplicado aqui, deveriam compor a bateria de testes de todas as equipes profissionais de futebol, por serem rápidos, fácies, sem custo algum e rico em informações.
Referências
BARBIERI, Fábio Augusto. Biomecânica do chute: diferenças do membro dominante e não dominante. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, ano 10, n. 84, p.1, maio de 2005. http://www.efdeportes.com/efd84/chute.htm
COSTA, Claiton Frazzon. Futsal: Aprenda a ensinar. 2ª ed. Florianópolis: Visual Books, 2007.
GUGLIELMIN, Júlio Zago. A aplicação de um protocolo de exercícios proprioceptivos na melhora da propriocepção e na prevenção de lesões de joelho e tornozelo em jogadores de futsal. Bagé, URCAMP, Trabalho de Conclusão de Curso de Educação Física, 1ª Edição, 2009.
HAYWOOD, Kathleen M.; GETCHELL, Naney. Desenvolvimento motor ao longo da vida. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.
LOPES, Bruno M. da Silva. A importância do treino proprioceptivo na prevenção da entorse do tornozelo em futebolistas. Porto, Universidade do Porto, Trabalho de Conclusão de Curso de Educação Física, 1ª Edição, 2008.
MCARDLE, William; KATCH, Frank; KATCH, Victor. Fisiologia do Exercício: Energia, nutrição e desempenho humano. 6ª Edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.
MISAILIDIS, Mário Adrian Lerena. Fisioterapia Brasil – Rio de Janeiro: Ed. Atlântica, Volume 3, número 6, novembro/dezembro de 2002.
POWERS, Scott K.; HOWLEY, Edward T. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao condicionamento e ao desempenho. 6ª ed. Barueri: Manole, 2009.
SALGADO, Afonso Shiguemi Inoue. Fisioterapia: Reeducação Funcional Proprioceptiva do Joelho e Tornozelo. São Paulo, SP: Editora Lovise Ltda, 1995.
WEINECK, Jürgen. Biologia do esporte. Barueri, SP: Manole, 2005.
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