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A capoeira como conteúdo escolar: uma 

proposta didática para as aulas de Educação Física

La capoeira como contenido escolar: una propuesta didáctica para las clases de Educación Física escolar

 

Professor dos cursos de Educação Física das Faculdades Avantis (Balneário Camboriú)

e Porto das Águas (Fapag). Professor de Educação Física da Educação infantil da Secretaria

Municipal de Educação de Itajaí-SC. Mestre em Educação pela Universidade Federal

de Santa Catarina (UFSC). Licenciado em Educação Física (Univali)

Eliton Clayton Rufino Seara

elitonseara@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Este escrito, que mais pode ser chamado de um diálogo com o leitor, tem o objetivo de desenvolver considerações acerca de um trabalho realizado com a capoeira nas aulas de educação física, em que se buscou o aprendizado desta manifestação a partir de um olhar crítico-reflexivo e emancipatório. Serão apresentadas descrições de seis intervenções realizadas em uma escola de ensino fundamental localizada na cidade de Itajaí (SC)- Brasil. Ao embasar-se na concepção crítico-emancipatória buscar-se-á evidenciar os principais elementos que esta concepção remete e, por fim possibilitar uma contribuição acerca do conteúdo Capoeira nas aulas de Educação Física, mostrando que é possível abordá-lo sem uma ótica tecnicista.

          Unitermos: Capoeira. Educação Física. Conteúdo escolar.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 193 - Junio de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Nos diferentes níveis de ensino que tangem a Educação Física que os parâmetros curriculares nacionais (PCNs) apresentam que para o ensino fundamental, deve-se direcionar o trabalho em um âmbito social, ou seja, na construção social do individuo, também englobando questões políticas e de pluralidade social, onde os escolares devem compreender e respeitar as diferentes culturas, etnias, entre outras características particulares.

    No que diz respeito a esta ótica de uma Educação Fisica escolar que propicie o pensar na diversidade, ainda é comum notar que esta área de saber tenha como aporte maior de pensamento em tempos hodiernos, as práticas do BOL: Futebol, basquetebol, handebol e vôleibol. É claro que não esta-se aqui de forma alguma negligenciando estas práticas como conhecimento produzido culturalmente pela sociedade. No entanto, é necessário esboçar e ampliar o vacabulário corporal valorizando as questões conginitivo-motor e afetiva através de outras práticas.

    Acompanhando este raciocínio busquei introduzir a capoeira através de uma concepção crítico-emacipatória com a intenção de promover tanto através do diálogo, como corporalmente, discussões e vivências sobre esta manifestação corporal, ao qual menciono este processo como um diálogo em movimento.

    O interesse pelo tema nas aulas, não é apenas uma forma de corroborar com os preceitos da lei 10.639 de 2003, que obriga a tematização de conteúdos que vinculem-se as questões afrodescendentes, mas também vem da busca de novas possibilidades de mudança, e de um olhar crítico sobre a realidade, com uma nova forma de intervenção que busca resgatar a diversidade de cultura brasileira em seus movimentos, que deram origem à Capoeira.

    A Capoeira se expressa em uma manifestação de grande representação da cultura brasileira, imprimi relações histórico-culturais, estas por sua vez tratam de ações que se direcionam na busca de valores da construção do cidadão, juntamente buscando o poder de reflexão e criticidade da realidade que se habita.

    Acredito que através da Capoeira, pode-se despertar o interesse dos alunos e fazer com que os mesmos tivessem um olhar crítico e reflexivo sobre a própria prática

    Ao todo foram seis intervenções em que desenvolvi os conteúdos, objetivos e estratégias referentes ao plano de ensino. Os conteúdos que foram desenvolvidos foram: História da capoeira, movimentos básicos, golpes, seqüência de movimentos, formação de roda, iniciação ao jogo e ritmo e musicalização.

Objetivos

  • Objetivo geral: Desenvolver a capoeira nas aulas de educação física propiciando o aprendizado desta manifestação a partir de um olhar crítico-reflexivo e emancipatório.

  • Objetivos específicos

    • Contextualizar a história da capoeira através de vivências corporais;

    • Vivenciar a ginga e os golpes de defesa e ataque a partir de dinâmicas em grupo;

    • Conhecer, utilizar e aprender os toques básicos da capoeira a partir da utilização de instrumentos;

    • Realizar rodas de capoeira com luta, dança jogo e música.

Conteúdos curriculares e eixos teóricos

    Os objetivos mencionados acima estão articulados com uma prática pedagógica acompanhada de uma abordagem de ensino. Não tendo a pretensão de elaborar um modelo, uma receita ou uma forma certa de lidar com os saberes visa-se esta abordagem como uma possibilidade de didática da ação docente. A abordagem em questão é a crítico-emancipatória, esta se expressa como um processo de libertação do aluno de condições que possam limitá-lo ao uso da razão crítica.

    Para que o aluno deixe o estado de menor idade inicial, Kunz (1994) alerta, que é preciso que o aluno sofra um tipo de intervenção do professor, ou seja, em certos momentos dificultar as ações do aluno, para que o mesmo sinta-se não esclarecido e com isso se desperte do estado de menoridade inicial, e assim busque uma condição emancipada.

    Na abordagem crítico-emancipatória são vistas três competências nas quais se deve trabalhar com o aluno: a objetiva, social e comunicativa. A competência objetiva diz respeito ao que o aluno deverá construir entre conhecimentos, habilidades e, também esta competência mostra que o aluno precisa lidar com diferentes destrezas e diferentes técnicas1 que sejam racionais e eficientes.

    Já na competência social o aluno deverá compreender as diferentes relações que o homem tem em uma sociedade, como relações histórias, culturais, sociais, também deve entender os problemas que o norteiam e as contradições das relações que habitam ao seu redor. Por fim esta competência trata de estabelecer conhecimentos que o aluno ira utilizar em sua vida em comunidade.

    Enquanto a competência comunicativa é importante salientar que o ser humano utiliza a linguagem verbal, porém ela é apenas umas das linguagens que podem ser usadas. O movimento se exprime em forma de linguagem, a criança, por exemplo, se manifesta e se comunica através de seus movimentos, pois sabemos que sua capacidade de se expressar corporalmente é indiscutível.

    A competência comunicativa na abordagem crítico-emancipatória se faz importantíssima, pois para esta abordagem saber se comunicar e entender o que o outro quer dizer é um processo de reflexão que desencadeia ação de um pensamento critico.

    Para a competência comunicativa a linguagem verbal é muito importante, assim como a linguagem corporal, no entanto nesta abordagem a verbal é vista como um processo que ira auxiliar o aluno a sair apenas da fala dos problemas, fatos que o rodeiam e ira tornar em nível de discurso, ou seja, o aluno saber refletir e discutir as questões sobre o que se esta trabalhando.

    Esta abordagem é completamente visada em uma ótica crítica, Kunz (1994), defende o ensino crítico, pois é a partir dele que os alunos passam a compreender a estrutura autoritária dos processos institucionalizados da sociedade e que formam as falsas con­vicções, interesses e desejos. Desta forma, a missão da Educação crítica é promover condições para que estas estruturas autoritárias sejam suspensas, e o ensino encaminha no sentido de uma emancipação, possibilitado pelo uso da linguagem.

    Quando falamos em visão crítica de ensino podemos introduzir a Capoeira como conteúdo desta magnitude A capoeira no contexto escolar, vista como cultura de movimento deve ter um olhar de movimento critico social, na idéia de Falcão (2003).

    A capoeira é uma manifestação da cultura afro-brasileira, a mesma constitui-se numa atividade em que o jogo, a luta e a dança2 se interpenetram (Falcão, 2003, p.16). Mesmo sendo ao mesmo tempo luta, dança e jogo, o seu praticante é visto como jogador e não lutador ou dançarino com·isso fica evidenciado que a capoeira se diferencia de outros tipos de lutas, visto que o elemento jogo redimensiona o conceito dessa cultura de movimento. Segundo a ótica de Huizinga (1990), o jogo é uma atividade em que predomina a alegria, não precisa ser justificado e nem precisa de um objetivo para ocorrer. Sendo analisado pela visão·de jogo, ela consegue atender a necessidade de fantasia, utopia, justiça e estética e, ainda, desperta o gosto pelo inesperado, pelo imprevisível.

    A dança na capoeira se expressa no gingado centrado nos quadris. No embalo do toque do berimbau, os capoeiras descrevem círculos no espaço da roda, fazendo com que '' o corpo lute dançando e dance lutando'', remetendo a capoeira '' a uma zona imaginaria e ambígua, situada entre o lúdico e o combativo'', conforme Letícia Reis (1977, p. 215).

    Já enquanto luta a capoeira restaura suas origens. É importante observar que o jogo e a dança contribuem para a dissimulação do componente luta na pratica da capoeira. ''Através do jogo de capoeira, os corpos negociam, e a ginga significa a possibilidade de barganha (troca), atuando no sentido de impedir o conflito'' (Reis, 1977, p. 225).

    No que se refere ao nome capoeira, sabe-se que escravos oriundos de quilombos (geralmente situados em florestas), preferiam lutar, quando necessário, em locais onde as condições ambientais pudessem lhes ser favoráveis; essa região escolhida costumava ser a "capoeira", denominação dada a terra recentemente queimada, quando começam a brotar as primeiras Poaceae (atual denominação das gramíneas).

    Com o passar dos tempos foram ocorrendo diversas transformações nesta manifestação cultural, segundo NORONHA e NUNES PINTO (2004), a Capoeira como manifestação cultural, ao longo da história do nosso país, sofreu modificações na sua constituição, na maneira de se interpretá-la, praticá-la e difundi-la, acompanhando mudanças políticas, econômicas e sociais. Foi considerada de contravenção penal a símbolo da identidade nacional. Devido suas origens africanas e por sua maioria ser praticada pela raça negra.

    A capoeira na escola além de trabalhar questões culturais, também engloba diferentes componentes curriculares como história, geografia, arte, música e principalmente a Educação Física, que pode unir os conhecimentos destas disciplinas a própria prática. Nesta ótica inseri-la no contexto escolar, mais especificamente na Educação Física se faz necessário, já que esta manifestação cultural faz parte dos conteúdos propostos no próprio (PCN) e pelas diretrizes curriculares do município de Itajaí3.

    Com relação à temática Capoeira (SEÁRA, 2009) retrata a importância da mesma no que diz respeito aos valores que podem ser construídos:

    A Capoeira se expressa em uma manifestação de grande representação da cultura brasileira, imprimi relações histórico-culturais, estas por sua vez tratam de ações que se direcionam na busca de valores da construção do cidadão, juntamente buscando o poder de reflexão e criticidade da realidade que se habita (SEÁRA, 2009, p. 4).

    Neste sentido, em que se evidenciam as dimensões reflexivas n trato deste conteúdo, observam-se neste contexto de trabalho com a capoeira os campo conceituais, procedimentais e atitudinais, sendo assim visa-se com os alunos desenvolver os conceitos, porém é necessário que estes observem suas práticas, entendendo os procedimentos, bem como participando colaborativamente e ainda ressaltando as questões atitudinais, no qual englobam os valores sociais, éticos e morais a serem pensados.

Procedimentos metodológicos/Contextualização das práticas

    A própria opção pela concepção crítico emancipatória evidencia a proposta metodológica, em que o docente não é visto como centro, mas sim como aquele que propicia debates, diálogos e direcionamentos.

    As aulas foram realizadas utilizando como recurso o plano de ensino e conseqüentemente os planos de intervenção/planos de aula. Realizei as intervenções no espaço da quadra do pátio, este espaço é coberto, porem bem menor que a quadra e também no espaço da sala de vídeo.

    As turmas que trabalhei eram bem distintas, foram três turmas, 3º, 4º e 5 º ano.

    Trabalhei com a música da capoeira, ou melhor, os cânticos. Os cânticos podem ser produzidos individual e coletivamente Falcão (2003, pag. 83), normalmente as letras são feitas com acontecimentos diários ou de históricos passados. O movimento da capoeira articulado a musica possibilita o trabalho de questões como: a coordenação motora, a flexibilidade, reflexo, agilidade, equilíbrio, entre outros.

    Também através da ginga na capoeira que se faz essencial, os movimentos ganham mais significados. A roda de capoeira é um circulo onde os capoeiras ficam em pé para jogar. Mas a roda da capoeira não é apenas espaço físico. Segundo Falcão (2003, pag. 86) Trata-se de um pequeno universo que reflete a diversidade das relações de poder vigentes na sociedade. Desta maneira trabalhei com os alunos a vivencia da roda, e sua importância, trabalhando o respeito com o colega, o comportamento entre outros. Vale ressaltar que evidenciarei nos relatos em uma âmbito mais geral, das três turmas trabalhadas, já que dentro de um número limitado de páginas não será possível expor todas as especificidades.

    Para o inicio do trabalho, na 1ª intervenção, utilizei alguns artifícios os quais são de suma importância para esta discussão, um deles foi o no livro de aula, utilizado como forma de avaliação, uma folha onde os alunos anotavam o que haviam achado da aula e o que poderia melhorar. Este artifício inicialmente foi mal visto pelos alunos, pois muitos achavam entediante, no entanto após alguns dias de anotações, muitos alunos já se prontificavam a fazer sem que ao menos se pedisse. E, ainda nesse contexto solicitei aos mesmo que esta forma de diário de campo poderia ser realizado a partir de outras linguagens, como por exemplo, desenhos.

    Já na 2ª intervenção pude notar uma pequena falta de interesse de boa parte dos alunos diante desta nossa proposta (a Capoeira), já que mencionei que trabalharia questões históricas da mesma. No entanto, ao saberem que não seria uma aula ‘’teórica’’e, sim uma dinâmica fora de sala, os alunos demonstraram curiosidade. Realizei então o que chamo de História em Movimento4, essa perspectiva abordou questões históricas como a escravatura, os senhores do café, os capitães do mato, a construção de músicas relativas a este contexto pelos escravos e todos os percalços enfrentados pelos escravos. Os alunos puderam experênciar como viviam os escravos, seu trabalho, e as ordens que deveriam seguir. Alguns eram escravos, outros ficavam na chibata (local onde eram chicoteados os escravos), outros eram os capitães do mato e outros senhores do café. Dentro desta dinâmica foi elaborada a brincadeira a fuga dos escravos. Dentro desta atividade um aluno era o senhor do café (hierarquia maior dos cafezais) outros eram os capitães do mato (que pegavam os escravos) e os demais escravos. Nessa atividade, os escravos iriam fugir ao verem os capitães do mato e estes eram mandados pelos senhores do café.

    A ginga foi elaborada com os alunos na 3ª intervenção, não foi abordada de forma metódica e linear. Construí uma atividade no qual dei o nome de Andando, Dançado, Correndo e Parrando. Ao fazerem que os alunos andassem ao bater no atabaque de maneira mais cadenciada e que corressem de maneira mais acelerada e dançassem quando a música mudasse de ritmo e conseqüentemente parassem quando a secasse o som, pode-se fazer uma reflexão que ginga5 nada mais é que a maneira de andar dentro de uma roda, no entanto com outras características, inclusive acompanhando a música.

    Na 4ª intervenção foram trabalhados alguns dos golpes básicos6 da capoeira. Estes golpes foram trabalhados com uma brincadeira que chamo de Anjo Capoeirista. Nesta atividade existe um pegador, e todos os outros serão anjos e que para salvarem outros anjos pegos usaram seus saberes de capoeira, ou seja, os golpes mencionados em nota de rodapé. Dessa forma, há uma de trabalhar os golpes e defesas, bem como um jogo cooperativo, no qual todos necessitam de todos para participarem. Posteriormente, foi realizada uma atividade em grupo, com a vivência dos instrumentos e o conhecimento por todos os alunos dos seguintes instrumentos: pandeiro, afoxé, atabaque, agogô, baqueta de makulele, e caxixi (utilizado no acompanhamento do berimbau) com apresentação da atividade por partes dos alunos, alguns grupos das salas conseguiram demonstrar os golpes, porém outros preferiram ficar com o toque dos instrumentos.

    Na 5ª intervenção solicitei para aqueles que quisessem expor algumas de suas anotações dos livros que ficassem a vontade. Com isso, apareceram alguns comentários:

    “Eu achava que era só luta mais agora a capoeira também é muito boa pra saúde” (aluno 1).

    “A capoeira trabalha o corpo e também ajuda a ter amizade com os colegas” (aluno 2).

    “Foi muito divertida esta aula, porque eu e meus amigos fizemos musica juntos e batemos nos instrumentos” (aluno 3).

    “A capoeira trabalha o corpo e também ajuda a ter amizade com os colegas” (aluno 4).

    A partir destes comentários foram tecidas outras considerações com base nas discussões trazidas pelos alunos, o que para a abordagem crítico-emancipatória está atrelada a questão social e comunicativa.

    Outro fato a ser discutido, diz respeito às atividades propriamente ditas, muitas vezes as atividades elaboradas com a primeira turma eram modificadas em seguida com as outras turmas, já que o planejamento é flexível, faziam-se necessárias estas mudanças para um melhor aproveitamento das aulas.

    Na última aula, a 6ª intervenção, realizamos todos juntos uma construção coletiva de uma música/cântico de capoeira e, ao realizarem essas cantigas de capoeira em roda pude notar que isto era novo e instigava muitos deles. Segundo Falcão a sensação resultante da cantiga construída, ao vivo, pelas vozes dos capoeiras (alunos) presentes numa roda é bem diferente de uma música que se ouve através de um aparelho estereofônico. Relato de aluno: fazer nossa própria música é muito legal! Agora temos uma música só nossa! (aluno 5.

    A Música composta ficou da seguinte maneira: Oiaia, oiaia, capoeira eu vou joga 2x Oiaia, oiaia, capoeira eu vou luta 2x Oiaia, oiaia, capoeira eu vou dança 2x.

    Pode-se analisar que a sonoridade na capoeira faz-se fundamental, pois ao cantar o sujeito esta também praticando uma ação comunicativa interativa que, certamente, é responsável pelo frenesi que, freqüentemente, toma conta dos capoeiras na roda, independente de seu estilo, vertente ou “linguagem” (Falcão 2005).

    Por fim, após serem trabalhados essas três semanas praticamente, na semana final do mês de agosto foi realizada uma apresentação pela sala do 4º ano para mais de 300 pessoas no evento realizado pelas escolas para tratar do meio ambiente. Foi feita após o término das atividades a problematização do que havia sido feito, tendo discutido com os alunos a transcendência da capoeira de sua origem, até os dias em que ela é abordada na escola. Esta atividade novamente veio a ressaltar a questão de comunicação e interação entre os alunos. E, neste sentido, fazendo valer a reflexão de Assim Kunz (2003) ao dizer que, descontando algumas necessidades básicas como a fome e a sede, as outras necessidades e os outros interesses são adquiridos comunicativamente e dependem da cultura na qual o individuo vive e que ele aprende.

Considerações finais

    As intervenções realizadas procuraram a implantação de uma proposta inovadora de conteúdo, ainda pouco vinculada no contexto escolar. Alguns obstáculos foram encontrados decorrentes da opção que foi escolhida, devido à cultura dos alunos em suas aulas de Educação Física já impregnadas em seus contextos (culturas do BOL). Posso relatar com destaque o desfio que aceitei ao escolher este tema.

    As vivencias dos alunos nos trabalhos em grupo, o conhecimento dos escolares de uma manifestação de grande amplitude cultural e, é claro, a apropriação de muitos alunos de uma nova pratica corporal, através do trabalho envolvendo relações sócio-culturais.

    Observando as intervenções e analisando as mesmas, posso compreender que a utilização de uma abordagem, e especificamente a que utilizei é muito interessante, já que podemos abrir um leque maior em nossas ações, logo que a abordagem em questão se resume em três competências para os alunos: objetiva, social e comunicativa. Estas por sua vez têm por finalidade a articulação da cultura do movimento com os pontos que envolvem a comunicação e interação com os demais.

    As avaliações funcionaram ao analisar a participação dos alunos e, neste ponto efetivamente foi praticamente total, com as três turmas em grande maioria participando das aulas. Também na utilização dos livros de aula e das rodas de diálogo que foram o tempo todo importante ferramenta avaliativa. Os aluno também expuseram sobre as propostas trabalhadas e os mesmo que organizaram a apresentação, no caso a turma do 4º ano.

    Dentre as inúmeras possibilidades, o trabalho apontou para um olhar diferenciado para com a EFE e, acima de tudo ressaltou o corpo como produtor de cultura através da cultura de movimento e não somente a partir de uma visão biológica.

Notas

  1. A técnica neste sentido não está evidenciando uma forma correta e modelar de se realizar alguma prática, mas sim, um conhecimento mais denso e profundo sobre alguma prática vivenciada.

  2. Esses elementos estão em constante diálogo e não são fragmentados por si só,mas se aglutinam e relacionam-se, sendo estes os principais conteúdos a serem ressaltadas nas aulas de EFE (Educação Física Escolar).

  3. Referencia-se a rede municipal de Itajaí, haja vista que o autor deste trabalho lecionava Educação Física em uma escola desse mesmo município.

  4. Utilizo-me de tal dinâmica num entendimento de que existe uma memória corporal, na qual envolve a auditiva, olfativa, visual e que uma vivência corpórea pode atrelar muitos significados que não poderiam ser construídos a partir de uma lição no quadro.

  5. Além desta atividade também foi trabalhada com a utilização da forma geométrica do Triângulo, esta forma que representa a movimentação das pernas. Dessa forma os alunos faziam seus próprios triângulos e se movimentavam nas suas extremidades

  6. Meia lua de frente, meia lua pra fora, esquiva, esquiva lateral, cocórinha.

Referências bibliográficas

  • BRASIL. PARÂMETROS CURRÍCULARES NACIONAL: introdução aos parâmetros curriculares nacionais, Secretária de Educação Fundamental, Brasília, 1998.

  • FALCÃO. L. CAPOEIRA NA ESCOLA: HISTÓRIA DA CAPOEIRA. Disponível em: http://www.iesambi.org.br/capoeira_arquivos/projetodelei.html.

  • KUNZ, Elenor. Didática da Educação Física 1/Org.. 3.ed. Ijuí: Ed. Unijuí, 2003, 160 p. Il. (coleção educação física).

  • KUNZ, Elenor. Transformação didático-pedagógica do esporte. 5.ed. Ijuí: Ed. Unijuí, 2003.

  • NORONHA, F. D. A. NUNES Pinto, R. Capoeira nas aulas de Educação Física: Uma proposta de Intervenção. Pensar a prática: 123-138 jul./Dez.2004.

  • RESUMO PARAMETROS CURRICULARRES NACIONAIS. Disponível em http://www.adeandradina.edunet.sp.gov.br.html.

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