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Treino mental e suas aplicações em diferentes contextos

El entrenamiento mental y sus aplicaciones en diferentes contextos

 

*Dra em Educação Especial UFScar, Docente do Programa de Mestrado

e Doutorado em Promoção de Saúde - Universidade de Franca – UNIFRAN

** Mestre em Educação Especial pela UFSCar. Doutorando em Educação Especial pela UFSCar. Membro

do LAHMIEI: Laboratório de Aprendizagem Humana, Multimídia Interativa e Ensino Informatizado

***Mestre em Educação Física pela UFTM. Doutoranda em Promoção de Saúde – UNIFRAN

****Docente da Universidade Federal de São Carlos, UFSCar. Coordenador do LAHMIEI: Laboratório

de Aprendizagem Humana, Multimídia Interativa e Ensino Informatizado

Maria Georgina Marques Tonello*

Paulo Augusto Chereguni**

Lilian Cristina Gomes do Nascimento***

Antonio Celso Goyos****

gina@ginatonello.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O treino mental é bastante conhecido em meio esportivo e, é comumente entendido como imaginar aspectos da habilidade que se aprende sem envolvimento do movimento real. Os objetivos deste estudo foram identificar e analisar aplicações deste treino nos contextos da aprendizagem e do alto rendimento. Quanto à aprendizagem, os estudos enfocaram em sua maioria os tipos de treinos, as características das habilidades e o nível de aprendizagem dos praticantes. Os principais esportes de rendimento analisados foram: o voleibol, futebol, judô, ginástica olímpica. Ao final, foram apontadas considerações quanto ao uso do treino mental e conclui-se que sua investigação constante contribui não somente para a educação física e esportes, mas também para outras áreas de estudo, como a psicologia, pedagogia e gerontologia.

          Unitermos: Treino mental. Aprendizagem. Rendimento. Esporte.

 

Abstract

          The mental training is well known in the sports field and is commonly understood to imagine aspects of skill that is learned without involvement of the real movement. The objectives of this study were to identify and analyze applications of this practice in the contexts of learning and high performance. As for learning, studies focused mostly types of training, the characteristics of skills and the learning level of practitioners. Sports yield that were analyzed: volleyball, football, judo, gymnastics. Finally, considerations were identified regarding the use of mental training and concludes that his constant research not only contributes to physical education and sports, but also for other areas of study such as psychology, pedagogy and gerontology.

          keywords: Mental training. Learning. Performance. Sport.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 192 - Mayo de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O treino mental é uma técnica bastante conhecida em meio aos profissionais que atuam na área da Psicologia esportiva, o qual pode ser utilizado para efetuar mudanças no comportamento e auxiliar o processo de aprendizagem. Ele corresponde à recapitulação cognitiva de uma habilidade física na ausência de movimentos físicos explícitos (Magill, 2000).

    Outros termos que aparecem na literatura referentes ao treino mental são: prática mental, imagem mental, treinamento mental, ensaio mental, visualização e ensaio visual de comportamento motor. Todos os termos referem-se a técnicas semelhantes e, o adotado neste estudo é treino mental.

    Segundo a Psicologia aplicada ao esporte, a prática mental torna-se ainda mais eficiente quando associada à prática física (Lomônaco; Marques, 1993). Alguns autores (Alves, Lúcia, Passarinho, 1999; Alves, Belga, Brito, 1999) afirmam que a prática mental pode por si só produzir melhorias significativas na aprendizagem das habilidades motoras, no entanto, a utilização combinada com o treino tático, técnico e físico poderá traduzir-se numa aprendizagem ainda superior.

    Acredita-se que o relaxamento precedente a prática mental, aumenta as chances dos praticantes responderem aos estímulos apresentados durante o mesmo, ajudando-os a melhorar seu desempenho (GOYOS, 2001).

    A seguir serão discutidos diversos estudos que analisam o treino mental nos contextos da aprendizagem motora, desempenho e reabilitação no âmbito da psicologia esportiva.

Treino mental e aprendizagem de habilidades motoras

    Alguns estudos na área de comportamento motor investigaram como o treino mental afeta a aquisição de habilidades motoras. Esses estudos enfocaram, em sua maioria, os tipos de treinos empregados, as características das habilidades ensinadas, o nível de aprendizagem dos praticantes, entre outros aspectos.

    Um sistema que distingue as habilidades baseando-se nas dimensões dos grupos de músculos envolvidos na realização de uma ação classifica-as em duas categorias, conhecidas como motoras grossas, em que os praticantes utilizam uma musculatura grande para produzir ações e requerem de movimentos, e, habilidades motoras finas, requerem maior controle de músculos pequenos (MAGILL, 2000).

    No que diz respeito a habilidades motoras grossas, o estudo de Marques (1989) teve como objetivo avaliar a influência do treino mental na aprendizagem de uma habilidade da ginástica artística: o kippe de corrida na barra-fixa. Participaram 16 estudantes de Educação Física, do sexo masculino, entre 19 e 27 anos. Eles foram divididos em dois grupos: 1. treino físico e; 2. treino combinado. Os participantes (Ps) do segundo grupo treinaram nos mesmos moldes do grupo de primeiro, todavia, os três minutos iniciais e os três finais foram dedicados ao treino mental. Dois tipos de avaliação foram efetuados: o analítico, que constou da observação de dez itens correspondentes as fases habilidade; e o global, em que os juízes julgaram o desempenho por meio de uma escala de cinco pontos. Dois tipos de comparação foram feitos: intra e intergrupos.

    Os resultados das comparações intragrupos indicaram que o desempenho dos Ps do primeiro grupo se manteve inalterado em ambas as avaliações: analítica e global. O desempenho dos Ps do segundo grupo melhorou acentuadamente, embora a diferença tenha atingido o nível de significância somente na avaliação global. No tocante às comparações intergrupos, o autor observou que os dois grupos, no início do trabalho, eram equivalentes no que se refere ao desempenho na habilidade kippe. Após a intervenção experimental, verificou-se que o desempenho dos Ps do segundo grupo foi superior ao do primeiro grupo em todas as análises feitas. Todavia, estatisticamente essas diferenças não se revelaram significantes.

    Em outro estudo, a influência do treino mental na aprendizagem do arremesso de lance livre no basquetebol foi investigada por Albertini e Lomonaco (1986). Os Ps foram divididos em três grupos: 1. treino físico; 2. treino físico associado ao mental e; 3. controle. O desempenho dos Ps foi analisado estatisticamente com relação à técnica do movimento. Os autores verificaram que o grupo de treino associado apresentou escores mais altos, embora não significantemente, que o grupo de treino físico.

    Com relação ao desempenho em habilidades motoras finas, Hirai e Baccon (1991) tiveram como objetivo analisar os efeitos dos tipos de treino em universitários de ambos os sexos. Semelhante aos em estudos anteriores os Ps foram divididos, neste caso aleatoriamente, pelos grupos: 1. treino mental; 2. treino físico; 3. treino mental aliado ao treino físico e; 4. controle. Os dados foram coletados através de duas medidas quanto à realização da tarefa: tempo gasto e número de erros cometidos. Os resultados indicaram que os tratamentos treino mental aliado ao treino físico e, treino físico, obtiveram os melhores escores, tanto em relação ao erro cometido quanto ao tempo gasto na tarefa.

    O estudo de Melo (1993) teve como objetivo investigar os efeitos do treino mental na aquisição de uma habilidade motora fina com diferentes níveis de envolvimento cognitivo. Participaram do estudo 60 alunas do curso de graduação da Escola de Educação Física, na faixa etária de 18 a 30 anos, divididas aleatoriamente em: grupo de prática física, de prática mental e controle. Um aparelho de coordenação bimanual foi utilizado e duas tarefas foram empregadas: tarefa A, de baixo envolvimento cognitivo, durante a qual não foi necessário utilizar as duas mãos simultânea e coordenadamente, e tarefa B, com o gráfico modificado de sua posição na tarefa A para um ângulo de 45%, exigindo a utilização simultânea e coordenada de ambas as mãos, ou seja, de alto envolvimento cognitivo. Utilizaram-se duas medidas de desempenho: tempo de execução e erro. Os resultados do tempo de execução mostraram diferença significante (p< 0,05) evidenciando efeito maior do treino mental em tarefa de alto envolvimento cognitivo. Não houve diferença significativa quanto ao erro.

    Bohan, Pharmer e Stokes (1999) indicaram que, de acordo com seus estudos, o treino mental é muito benéfico nas fases iniciais de aprendizagem e, além disso, mostraram uma relação inversa entre experiência e eficácia de treino mental. Os autores sugeriram que fossem feitos estudos para esclarecer melhor o momento em que tal treino poderia ser mais eficientemente aplicado durante o desenvolvimento de uma habilidade motora mais complexa.

    Comparando os efeitos do treino mental quanto à organização da tarefa (Schmidt; Wrisberg, 2001), observou-se que ele é mais efetivo no ensino de habilidades discretas (MAGILL, 2000), que possuem início e fim definidos, do que em habilidades contínuas, que não possuem início e fim definidos. O treino mental, segundo Feltz (1983), é mais eficiente para o ensino de habilidades fechadas, que são realizadas em ambiente estável. Isso porque, em habilidades fechadas, o movimento é repetido pretendendo-se atingir um determinado padrão de movimento estabelecido e esse aspecto facilitaria o processo de imaginação, pois o aluno poderia prever antecipadamente, passo a passo, qual a execução pretendida do movimento. O rolamento para a frente constitui-se em uma habilidade discreta e fechada e possui, segundo as considerações colocadas, características favoráveis para o seu ensino pela utilização do treino mental.

    Ainda em relação a organização da tarefa, mas analisando a influência do treino mental na aquisição de uma habilidade motora seriada, Moreira, Vieira e Benda (2005), separou-as 20 crianças, com faixa etária de 10 a 12 anos, entre quatro grupos experimentais (controle, treino mental, treino físico e treino físico mais treino mental). A tarefa constituía em transpor bolas de recipientes marcados numa ordem estipulada. Os resultados mostraram que o grupo controle foi inferior aos grupos de treino físico, treino mental e treino físico mais mental. Entretanto, o grupo de treino mental foi inferior ao grupo de treino físico mais mental. Esses resultados já eram esperados, uma vez que a literatura mostra que os benefícios do treino mental associado ao treino físico são superiores à utilização do treino mental apenas.

    Pela diversidade das possibilidades da utilização do treino mental, é importante que, em cada investigação, o seu uso seja descrito pormenorizadamente para aplicação concreta em cada contexto de intervenção (CABETE; CAVALEIRO; PINTEUS, 2003). Na medida em que se tem uma ampliação no referencial teórico e no metodológico, cada vez mais o treino mental é utilizado no meio esportivo, pois ele visa minimizar os problemas referentes à melhora de desempenho conforme aponta Machado (1997). Estudos realizados dentro do contexto esportivo podem servir como fundamentação teórica e prática de situações de aprendizagem.

Treino mental e alto rendimento esportivo

    Pesquisas em psicologia do esporte têm se concentrado principalmente na descrição de características de atletas e do ambiente esportivo de uma forma geral, no entanto, existe também o objetivo de desvendar os mecanismos pelos quais comportamentos encobertos, chamados de psicológicos, influenciam comportamentos públicos, geralmente associados ao desempenho motor.

    Há diversos estudos que utilizaram treinos mentais em muitos esportes, tais como no basquetebol (Clark, 1960; Alves, Lúcia, Passarinho, 1999; Kendall, Hrycaiko, Martin; Kendall, 1990); no judô (Beaton, 1998), no tênis (Coelho et al., 2005), na luta olímpica (Gould, Eklund, Jackson, 1992), no cricket (Thelwell, Maynard, 2003) e no lançamento de dardos (Mendoza, Wickman, 1978). A seguir serão citados alguns estudos que se destacam por serem mais recentes.

    Com o objetivo de verificar a melhora do rendimento de um grupo de patinagem artística e melhora da auto-eficácia, que é entendida como o julgamento que as pessoas fazem das suas capacidades para organizar e executar os comportamentos necessários para alcançar determinado tipo de desempenho, Ramires et al. (2001) utilizaram o treino de modelagem, que consiste na exibição de um comportamento por meio de um modelo, e o treino mental nas seguintes condições experimentais: grupo controle, grupo com treino de modelagem e grupo com treino de modelagem associado ao treino mental. Os resultados encontrados demonstraram que todos os programas experimentais permitiram incrementar a percepção dos atletas em relação aos seus possíveis níveis de desempenho.

    Castellani e Machado (2004) abordaram o treino mental no auxilio ao jogador de futebol no desenvolvimento e no aperfeiçoamento de sua técnica no momento pré-competitivo. Os autores apontaram uma melhora no desempenho desses atletas, demonstrando que o treino mental, quando combinado com o treino físico, apresenta bons resultados. Ainda no âmbito esportivo utilizando o futebol, os autores Loureiro; Silva e Santos (s/d) testaram uma metodologia de intervenção em treinamento mental para a melhoria de rendimento na habilidade de chute ao gol. Para a análise dos efeitos do procedimento, foi utilizada a linha de base múltipla entre Ps. Foi encontrada uma melhora de desempenho em função do procedimento em alguns Ps, e os outros apresentaram estabilidade no período da utilização do procedimento. Verifica-se que a estabilidade é também um comportamento desejável na medida em que ela é um dos passos necessários para o conseqüente aumento do desempenho.

    O estudo de Oleskovicz e Takase (2007) também teve como objetivo realizar um trabalho de treino mental com três atletas de futebol da categoria juvenil visando uma melhora na execução dos fundamentos desse esporte. Os treinos foram realizados individualmente sempre um dia antes de uma partida válida pelo Campeonato Estadual de Futebol Juvenil. O conteúdo dos treinos foi passado pelos atletas e pelo treinador da equipe, a partir de um scout feito desses atletas, o qual continha a freqüência dos fundamentos executados correta e incorretamente. A evolução no desempenho de acertos dos fundamentos foi de 73% para 86,25% para o zagueiro; 67,25% para 84,4% para o volante e, de 67,25% para 75,2% para o lateral. Os resultados indicaram que o treino mental foi eficiente para a melhora dos fundamentos do futebol.

    Em relação ao voleibol, mais especificamente quanto ao desempenho da habilidade de saque, Santos (1993) realizou um estudo que comparou os tipos de treino mental: 1. sob a perspectiva interna ou externa e; 2. uso de verbalização ou não. Foram selecionados para o experimento 100 Ps do sexo masculino, com idades que variavam de 14 a 18 anos e, pelo menos, com 12 meses de experiência no esporte. A tarefa consistiu em executar três séries de 10 saques tipo tênis na área de jogo do esporte voleibol com o objetivo de acertar um alvo disposto no centro médio do campo adversário. Os resultados revelaram haver efeito significativo do pré-teste para o pós-teste após o período dos treinos mentais realizados.

    Os estudos demonstram os benefícios do treino mental para o esporte, os quais, no entanto, podem ser diferentes quando pensados em outros contextos. Agrupar os resultados de pesquisa debaixo do único rótulo de treino mental pode obscurecer uma necessidade por modelos separados, que têm usos diferentes no domínio da atividade física. Dessa forma, apesar de, na área de treinamento esportivo, o treino mental ter uma considerável utilização, este continua pouco utilizado e difundido no âmbito educacional, no qual os profissionais se limitam, em sua maioria, ao treino físico. No entanto, o treinamento mental é uma variável importante a ser considerada tanto para a aquisição de habilidades motoras quanto para a melhoria do desempenho.

Considerações finais

    Através dos estudos citados anteriormente foi possível observar que, em uma situação de aprendizagem utilizando-se diferentes tipos de estratégias, é possível facilitar a aquisição de uma habilidade motora. De forma semelhante em situação de jogo, alto rendimento, o treino mental pode aumentar o nível e a consistência do desempenho.

    Ao tratarmos de populações com limitações físicas, neurológicas e mentais, os estudos mostraram que o treino mental também pode apresentar resultados satisfatórios. No entanto, apesar do uso do mesmo rótulo para o treino mental em todas as situações colocadas anteriormente, não há nenhuma garantia de que os mesmos processos estão acontecendo ou de que os procedimentos têm as mesmas bases conceituais.

    O treino mental, assim como qualquer outro treinamento, deve ser planejado considerando, além das peculiaridades próprias para a sua eficiência, a individualidade biológica e a especificidade do desporto ou da habilidade motora objetivada. Dessa forma, a constante e mais profunda investigação das utilizações do treino mental em diferentes contextos e, para diferentes populações, pode trazer contribuições importantes não só para a área da educação física e esportes, mas também para outras áreas de estudo, tais como a psicologia, pedagogia, gerontologia, entre outras.

Referências

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