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O impacto do transtorno depressivo nas 

funções cognitivas e na qualidade de vida do idoso

The impact of disorder in depressive cognitive functions and quality of life in the elderly

 

*Psicóloga, aluna de Especialização no Programa de pós-graduação de Neuropsicologia

no Projecto-Centro Cultural e de Formação, Porto Alegre, RS

**Neuropsicóloga, Mestre e Doutoranda em Medicina e Ciências da Saúde- Neurociências

pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul- PUCRS. Docente no Programa

de pós-graduação de Neuropsicologia na Projecto-Centro Cultural

e de Formação, Porto Alegre/RS. Professora Orientadora

***Neuropsicóloga, Mestre em Ciências da Saúde- Neurociências e Doutoranda

em Geriatria e Gerontologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande

do Sul-PUCRS. Membro da equipe de Neuropsicologia do Hospital São Lucas-PUCRS

Kidia Suzana Leite da Rosa*

Roberta de Figueiredo Gomes**

Adriana Machado Vasques***

kidarosa@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A depressão é um transtorno que frequentemente acomete os idosos e traz limitações e prejuízos significativos. As funções cognitivas são alteradas, causando grande sofrimento psíquico e prejudicando sua qualidade de vida. Muitas vezes é mascarada por outras enfermidades e não é tratada de forma adequada devido às queixas cognitivas. Maior atenção a este diagnóstico deve ser dada para proporcionar um tratamento adequado e possibilitar uma melhor qualidade de vida ao idoso. O objetivo deste artigo é expor algumas alterações cognitivas que refletem na qualidade de vida do idoso com transtorno depressivo.

          Unitermos: Depressão. Idoso. Qualidade de vida. Funções cognitivas.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 192 - Mayo de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O envelhecimento populacional é considerado como um fenômeno mundial. De acordo com o IBGE, entre 2010 e 2020 estima-se um aumento em até 10 milhões da população idosa no Brasil, podendo representar em torno de 13% da população e até 30,5% em 2050 (IBGE, 2011). Esse aumento da população idosa está associado à prevalência de doenças crônicas, neurodegenerativas e neuropsiquiátricas, principalmente a depressão (STELLA et al., 2002). É uma doença crônica muito frequente entre os idosos e eleva a probabilidade do desenvolvimento de incapacidade funcional (PENNINX et al., 2000).

    A depressão é uma enfermidade que se apresenta com frequência no idoso, causando um elevado grau de sofrimento psíquico. Por razões sociais e culturais, muitas vezes os idosos negam os sintomas ou os omitem, sendo as queixas mais frequentes as de natureza somática (STELLA et al., 2002). Está associada a prejuízos funcionais, aumentando o estresse familiar, o risco de novas doenças, a piora na recuperação de doenças preexistentes, além de causar prejuízo cognitivo e aumentar os custos para a família e para a sociedade (SHERINA et al., 2005).

    Em idosos, a depressão costuma ser acompanhada por queixas somáticas, hipocondria, baixa autoestima, sentimentos de inutilidade, humor disfórico, tendência autodepreciativa, alteração do sono e do apetite, ideação paranóide e pensamento recorrente de suicídio (PEARSON; BROWN, 2000).

    A prevalência desse transtorno em idosos que vivem em comunidade situa-se entre 2-14% e em torno de 30% em idosos institucionalizados (PAMERLEE; KATZ; LAWTON, 1989; EDWARDS, 2003).

    Apesar de ser uma das condições que nas últimas décadas tem sido reconhecida mundialmente como importante e a mais comum entre as doenças psiquiátricas, a depressão é frequentemente subdiagnosticada em nosso meio, especialmente na população de idosos (THAPAR, 2004; LIMA; SOUZA E SILVA; RAMOS, 2009).

Depressão e qualidade de vida no idoso

    Como já é sabido, o processo de envelhecimento ocorre como consequência do acúmulo dos efeitos ambientais que interagem com o organismo e se relaciona com os processos geneticamente programados das mudanças produzidas pelo efeito do tempo (SCHERER et al., 2012). Porém, essas mudanças não ocorrem para todas as pessoas do mesmo modo e no mesmo momento, isto é, não existe uniformidade em relação a elas. Ainda, fatores como aspectos culturais, escolaridade, hábitos diários, convivência social, entre outros, influenciam o modo como o indivíduo chega nessa fase da vida. De acordo com Hoffmann (2002), as mudanças funcionais que ocorrem com o avanço da idade são atribuídas a vários fatores e cita-os como sendo genéticos, surgimento de doenças e fatores ambientais.

    A diminuição do suporte sócio familiar, a perda do status ocupacional e econômico, o declínio físico continuado, a maior frequência de doenças físicas e a incapacidade pragmática crescente compõem o elenco de perdas suficientes para um expressivo rebaixamento do humor. Também, do ponto de vista biológico, na idade avançada é mais frequente o aparecimento de fenômenos degenerativos ou doenças físicas capazes de produzir sintomatologia depressiva (BRASIL, 2006).

    A depressão causa prejuízos funcionais que afetam diretamente a qualidade de vida (QV). Frequentemente, o idoso deprimido passa por uma piora importante de seu estado geral e por um decréscimo significativo da sua QV (SHMUELY et al., 2001). Para Minayo, Hartz e Buss (2000), o conceito de QV concebe-se como uma representação social com parâmetros objetivos, ou seja, abrange a satisfação de necessidades básicas que são criadas pelo grau de desenvolvimento econômico e social da sociedade; e subjetivos, que são o bem-estar, a felicidade, o amor, o prazer e a realização pessoal. Desse modo, mudanças no modo de vida do idoso podem gerar situações de estresse, que podem desencadear a depressão (FORLENZA, 1997).

    A QV no idoso tornou-se de grande importância científica e social, relacionando-se com a capacidade funcional, o estado emocional, a interação social, a atividade intelectual e a autoproteção de saúde (SANTOS et al., 2002; FLECK; CHACHAMOVICH; TRENTINI, 2003). Para Gomes et al. (2013), viver mais pode perder o sentido se não for para usufruir da vida com qualidade, apenas prolongando uma vida repleta de dor e sofrimento.

    A associação de depressão com outros indicadores de capacidade funcional vem sendo bastante estudada atualmente (LENZE et al., 2005). Observou-se, por exemplo, que a sintomatologia depressiva está relacionada a prejuízo cognitivo, medido pelo Mini-Exame do Estado Mental (MEEM), bem como com uma maior dependência nas atividades de vida diária- AVDs (FUH et al., 1997; ORMEL et al., 2002; STEK et al., 2004).

    Para Stella et al. (2002), com frequencia a depressão no idoso surge em um contexto de perda da QV, associada ao isolamento social e ao surgimento de doenças clínicas graves. No entanto, observa-se que esse diagnóstico demanda maior cautela, uma vez que as queixas somáticas são frequentes no próprio processo de envelhecimento normal, sendo que nos idosos deprimidos estas queixas são exacerbadas e associadas a alto índice de ansiedade (TRENTINI, 2004; GARCIA et al., 2006).

Impacto nas funções cognitivas

    O desempenho e o funcionamento cognitivo dos idosos têm recebido bastante atenção dos profissionais da área da saúde. Esse interesse se justifica pelo fato de que alterações nas funções cognitivas podem comprometer o bem-estar biopsicossocial do idoso e o dia a dia de seus familiares, ou seja, a QV de ambos. Além disso, é comum a queixa de idosos diante de seu desempenho cognitivo, especialmente a memória (SOUZA; CHAVES, 2005). De acordo com Rapp et al. (2005), alterações cognitivas são frequentemente secundárias a alteração do humor, em quadros depressivos de inicio tardio e em transtorno depressivo maior, recorrente em idosos. O diagnóstico diferencial entre demência e depressão é difícil e nem sempre excludente (REYS et al., 2006).

    Frente à frequente disfunção cognitiva entre os idosos, algumas hipóteses têm sido propostas para explicar a associação entre depressão e prejuízo cognitivo. Primeira, a depressão poderia ser uma reação emocional do idoso ao perceber um quadro de demência inicial. Assim, a depressão seria apenas uma situação pré-demência (um pródromo). Uma segunda hipótese explicativa sugere a existência de uma causa comum subjacente no sistema nervoso central, que poderia levar tanto à depressão como também ao declínio cognitivo em idosos (STEIBEL; ALMEIDA, 2010). Para Paterniti et al. (2002), parece que há associação entre sintomas depressivos e demência ou declínio cognitivo. Porém, a natureza desta relação ainda permanece por ser determinada (STEIBEL; ALMEIDA, 2010).

    Quanto ao prejuízo nas funções cognitivas, estudos apontam para a hipótese de que quanto mais grave a depressão, maior o prejuízo cognitivo e funcional dos pacientes (ALEXOPOULOS et al., 2005). Também indicam que o agravamento das dificuldades executivas, talvez seja o grande responsável pela piora das outras funções cognitivas, principalmente da memória (ÁVILA; BOTTINO, 2006). Ainda, observaram que pacientes com depressão de início tardio mostraram uma redução em seu desempenho nas tarefas que envolvem a velocidade de processamento de informações e nas funções executivas (STEIBEL; ALMEIDA, 2010).

    O prejuízo de memória é o evento clínico de maior magnitude. Nos estágios iniciais de demências e de depressão, geralmente é encontrado perda de memória episódica e dificuldades na aquisição de novas habilidades, evoluindo gradualmente com prejuízos em outras funções cognitivas, tais como julgamento, cálculo, raciocínio abstrato e habilidades visuo-espaciais. (NETO; TAMELINI; FORLENZA, 2005). Ainda, a presença de déficits cognitivos pode acarretar dificuldades nas AVDs dos idosos, além de alterar a autoestima e a QV (ARGIMON et al., 2006).

    Como se pode perceber, ainda existem importantes questões envolvendo o diagnóstico de depressão em idosos e os prejuízos cognitivos/funcionais que o transtorno acarreta: se a depressão causa declínio cognitivo ou vice-versa; se a idade de início da depressão tem relação com pior prognóstico e risco aumentado para a ocorrência de demência; se a presença de prejuízos cognitivos em idosos deprimidos seria um primeiro sintoma de demência; e se a remissão da depressão ocasionaria também a remissão dos prejuízos cognitivos (ÁVILA; BOTTINO, 2006).

Considerações Finais

    Devido à diminuição do suporte social, a perda de status ocupacional e econômico, bem como o rebaixamento de humor, os idosos podem apresentar sintomatologia depressiva, redução da QV e declínio das funções cognitivas. Estas podem estar ligadas a depressão, que por sua vez é uma alteração recorrente que muitas vezes mascara outros sintomas que, quando não tratada corretamente, pode potencializar sintomas de déficit cognitivo.

    Um aspecto importante a ser considerado é que a sintomatologia depressiva está relacionada a prejuízo cognitivo e que, quanto mais grave o quadro depressivo no idoso, maior o déficit das habilidades cognitivas. No entanto, visto que a depressão também pode ser um sintoma que vem acompanhado de um quadro inicial de demência, o diagnóstico deve ser mais bem elaborado para que o transtorno seja tratado com eficácia.

    Com isto, é de suma importância mais estudos para correlacionar a depressão e suas consequências nas funções cognitivas e na QV dos idosos, assim como mais trabalhos de capacitação a profissionais que atendam esta demanda para garantir-lhes apoio, um tratamento adequado e uma melhor QV.

Referências

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