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O estágio de docência: roupa adequada nas aulas de Educação Física

Las pasantías en la docencia: la ropa adecuada en las clases de Educación Física

 

*Professora da Escola de Educação Física da Universidade Federal

do Rio Grande do Sul. ESEF, UFRGS. Supervisora de Estágio

**Professora de Educação Física da Escola Estadual Padre Rambo

***Acadêmicos. Estagiários do Curso de Licenciatura

em Educação Física da ESEF-UFRGS

(Brasil)

Dra. Denise Grosso da Fonseca*

Esp. Walkíria Grehs**

Carlos Alberto Perdomo Fazenda Junior***

Daniel Radaelli***

Eduardo Boaz***

Maria Isabel Bueno da Rosa***

Maurício Posser***

Paula Soares Francisco***

Pedro Germano Hoffmann de Sousa***

Vanessa Schwingel***

dgf.ez@terra.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo foi desenvolvido a partir das vivências ocorridas durante o Estágio Supervisionado de Ensino Médio no segundo semestre de 2013 em uma escola pública estadual da cidade de Porto Alegre, onde se evidenciaram situações que indicavam desencontros entre as orientações/percepções da professora de Educação Física e dos estagiários de um Curso de Licenciatura em Educação Física, acerca do uso da “roupa adequada” nas aulas dessa disciplina. Tal tensionamento nos instigou a refletir sobre dois focos: a busca de alternativas que viabilizassem o cumprimento da norma estabelecida e a melhor compreensão das divergências que se evidenciavam. Neste trabalho nos propusemos a refletir sobre o segundo foco mencionado - melhor compreensão das divergências que se evidenciavam - buscando discuti-lo a partir das narrativas da professora da escola e dos estagiários sobre o uso da roupa adequada, tendo como marco teórico os Estudos Culturais. Esta discussão também serviu de mote para empreendermos um outro movimento: refletir sobre as relações estabelecidas entre a professora orientadora do estágio, seus estagiários e a professora da escola buscando colocar em prática uma experiência reflexiva e mediadora, diante de uma situação problema.

          Unitermos: Estágio de docência. Aula de Educação Física. Roupa adequada.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 192 - Mayo de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introduzindo a questão

    Durante a realização do Estágio Supervisionado de Ensino Médio no segundo semestre de 2013 em uma escola pública estadual, evidenciaram-se situações que indicavam desencontros entre as orientações/percepções da professora de Educação Física e dos estagiários de um Curso de Licenciatura em Educação Física, acerca do uso da “roupa adequada” nas aulas dessa disciplina. Tal fato nos levou a promover um encontro entre o grupo de estagiários e a professora da escola buscando dialogar e explicitar melhor o que estava interferindo no melhor entendimento/encaminhamento sobre a gestão do uso da roupa adequada nas atividades de prática corporal. Essa reunião oportunizou que professora e estagiários manifestassem seus entendimentos/posições sobre a questão, evidenciando que o cumprimento da obrigatoriedade proposta pela escola não era consenso entre os acadêmicos. É o que expressa uma dupla de estagiários:

    Devido a divergências na forma de compreender esta questão, acabaram surgindo alguns pontos de atrito entre o grupo de estagiários e a professora responsável pela aula de Educação Física para estas turmas, uma vez que os estagiários não percebiam, em maior ou menor grau, a mesma importância que a professora dava em relação aos alunos usarem uma “roupa adequada” nas aulas. (Dupla MV)

    Na verdade, desde a primeira reunião realizada na escola, onde foram feitos os contatos iniciais para uma aproximação com o campo de estágio, foi enfatizada essa norma. No entanto, no transcurso das atividades ocorriam situações em que alunos participavam das aulas sem estarem cumprindo o estabelecido, gerando desconforto para a professora que em alguns momentos nos interrogava sobre a flexibilização praticada por parte de alguns estagiários.

    No relato de outra dupla:

    Muitos dos estagiários permitiram que alguns alunos usassem calça jeans nas aulas, o que levou a professora a ter um desabafo e pedir novamente que levássemos a dita regra adiante, pois ela que lidaria com os alunos após a nossa saída. (Dupla PB)

    Tínhamos, portanto, um tensionamento importante que nos instigou a promover uma reflexão mais ampla e profunda com a referida professora e os estagiários, buscando atuar sobre dois focos: a busca de alternativas que viabilizassem o cumprimento da norma estabelecida e a melhor compreensão das divergências que se evidenciavam.

    Desta situação iniciou-se um diálogo com a professora responsável, a professora orientadora do estágio e os estagiários na busca de alternativas que atendessem a todos, professoras, estagiários e alunos, o que acabou sendo objeto de discussão e motivação central deste trabalho. (Dupla MV)

    Nessa perspectiva foi combinado que cada dupla de acadêmicos, em relação ao primeiro aspecto focado - a busca de alternativas que viabilizassem o cumprimento da norma estabelecida - procuraria colocar em prática estratégias ao encontro do cumprimento do uso da roupa adequada nas suas aulas, como destaca uma dupla:

    A partir dessa problemática do uso das calças jeans, trazida à tona nas reuniões do estágio, tivemos como um grande desafio criar alguma estratégia para que todos os alunos pudessem participar das nossas aulas. (Dupla DE)

    Em relação ao segundo aspecto - a melhor compreensão das divergências que se evidenciavam - foi proposto que o trabalho final do estágio versaria sobre essa temática e assim cada dupla deveria dar destaque, nos relatos das aulas, aos movimentos/situações vivenciadas que tivessem relação com o fato, e, posteriormente, escrever um texto refletindo sobre tais questões.

    Para mobilizar as ações que ajudariam todos a buscar caminhos que melhor respondessem aos propósitos do trabalho e orientar/contribuir com a análise a ser desenvolvida, algumas perguntas foram disparadas: Qual a importância da roupa adequada na aula de Educação Física? Seria esta nossa questão de fundo? Qual a nossa posição pessoal sobre tal questão? Qual a visão da professora da escola sobre o assunto? Qual a visão dos alunos sobre o uso de roupa adequada para a prática? Quais as alternativas usadas para buscar a adesão dos alunos? Qual a resposta dos alunos diante das alternativas utilizadas?

    Neste trabalho nos propusemos a refletir sobre o segundo foco mencionado - “melhor compreensão das divergências que se evidenciavam” - buscando discuti-lo a partir das narrativas da professora da escola e dos estagiários sobre o uso da roupa adequada, tendo como marco teórico os Estudos Culturais. Esta discussão também serviu de mote para empreendermos um outro movimento: refletir sobre as relações estabelecidas entre a professora orientadora do estágio, seus estagiários e a professora da escola buscando colocar em prática uma experiência reflexiva e mediadora, diante de uma situação problema.

A roupa adequada seus sentidos e significados

    Para refletir sobre roupa adequada nas aulas de educação física pensamos que entender primeiramente como o uso do uniforme se localiza na cultura educacional brasileira se constitui em ponto de partida da discussão que pretendemos empreender. De acordo com Neira e Nunes (2006, p. 42), “a cultura é um campo onde se define não apenas a forma que o mundo deve ter, mas também a forma como as pessoas e os grupos devem ser. A cultura é um jogo de poder.” Nessa perspectiva, indagamos: Como a Educação Física tem jogado esse jogo, quando se trata de abordar sua prática em relação ao modo como os alunos devem se vestir para se fazerem presentes nas aulas?

    A experiência agora vivenciada e tantas outras já experimentadas que também expõe essa questão, nos levam a refletir sobre as idéias de Hall (1997, apud NEIRA e NUNES 2006), sobre cultura como construção social, onde segundo os autores referidos, o mundo cultural e social é naturalizado na interação social e a tarefa da análise cultural é expor esse processo de naturalização, buscando desconstruí-lo. Então caberia interrogar: O uso do uniforme ou o uso de uma roupa adequada nos dias de hoje, como uma condição para a prática da Educação Física faz parte de uma cultura naturalizada, precisando ser melhor analisada e quem sabe desconstruída? Que valores a sustentam?

    Ao longo da história, a Educação Física enquanto componente curricular, assumiu diferentes identidades em consonância com momentos políticos, econômicos e socioculturais que marcaram a trajetória educacional no Brasil e no mundo. Para Nunes e Rúbio (2008, p.57): “Historicamente definida como área que trata pedagogicamente do corpo, este componente curricular constitui-se por diversas abordagens de ensino em meio a variadas tendência curriculares que expressam visões diferenciadas de homem e sociedade.” Tais identidades conformaram/conformam os currículos, objetivos, funções, metodologias, conteúdos que compunham/compõe os diferentes projetos que orientam a prática pedagógica, marcada por distintos pressupostos que implícita ou explicitamente, determinam o rumo a ser seguido. E os uniformes/roupas adequadas, como entram nessa roda?

    De acordo com Lyra (2013, p.180), relato de alunas que fizeram parte das primeiras turmas da Escola Superior de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ESEF- UFRGS, destaca o que representava o uso do uniforme na década de 1940:

    [....] o uniforme representou um elemento educativo muito utilizado nas rotinas da ESEF, a ponto de marcar significativamente a memória dos sujeitos. O uso, sobretudo, nas aulas práticas, além de ser defendido pela adequação do corpo às movimentações propostas, parecem ter operado como comandos de controle e autoridade, dos quais fizeram uso professores e diretores. Assim, se vestir os uniformes representava uma regra da Escola, imposta e sustentada por sua estrutura regimental; não usá-lo significava, a um só tempo, transgredir e desrespeitar o funcionamento de todo um pensamento que encontrava justamente na obediência, os pilares de sua sustentação. Desse modo, não são raras as memórias de ex-alunas(os) da ESEF, que hoje retratam punições e exclusões das aulas, causadas pela falta do uniforme.

    Para a autora, numa lógica disciplinar bastante rígida, os uniformes faziam parte da cultura escolar e, nessa perspectiva, explica a cultura escolar com suas permanências e transformações: “se de um lado a cultura escolar é composta por elementos que permanecem ao longo do tempo, como as tradições e as idéias; de outro, ela congrega elementos mais transitórios e em movimento e, por isso mesmo, é passível de transformar-se historicamente.” (LYRA, 2013, p.185)

    Ao trazermos estas lembranças que revelam os modos como o uniforme demarcou a identidade da formação dos professores de Educação Física, temos presente que hoje tal questão não se apresenta com essa configuração.

    Ao aceitar nosso convite para refletir sobre a questão do uso da roupa adequada, a professora da escola (PE), faz sua narrativa resgatando a trajetória docente trilhada em três diferentes escolas estaduais, destacando as dificuldades encontradas nesta última, palco do estágio, em relação à construção da identidade da Educação Física.

    Olhando o pátio da escola, todas as vezes em que fui lá, antes de assumir, vi que existia bola de futebol e de vôlei durante toda a tarde no pátio, os alunos estando ou não em aula. [....] Então eu assumi essa escola e essas turmas de Educação Física que há não sei quanto tempo não tinham mais professor dessa matéria. Quando eu assumi, eu era uma estrangeira, uma figura não grata pois tive que me posicionar perante todos aqueles alunos da escola, naquele pátio e naquela quadra, e construir a minha sala de Educação Física. Para começo de conversa só por isso já foi um grande trabalho, para que eles reconhecessem aquele espaço como uma sala de aula, de aprendizado. (PE)

    O cenário de uma escola pública de ensino médio na capital do Rio Grande do Sul, se apresenta heterogêneo, plural, diverso, com algumas marcas que identificam sua multiculturalidade. E ainda as diferentes formas de gestão, mais autoritárias ou permissivas, emolduram os bastidores que dão movimento às cenas do cotidiano. Alunos de diferentes bairros, alguns já ingressando no mercado de trabalho, adolescentes de diferentes tribos, compartilhando espaços, enfrentando desafios, onde se colocam em confronto valores, culturas, experiências e posturas. Acrescente-se a isso as especificidades da Educação Física!

    Como lidar com uma configuração plural, quando temos nos constituído a partir de modelos pedagógicos que nos ensinaram a agir com a homogeneização? É necessário refletir sobre novas formas de abordagem na escola que contemplem a multiculturalidade desenhada, tomando como referência o entendimento de multiculturalismo como “as estratégias e políticas assumidas para abordar e gerenciar os problemas ocasionados pela diversidade.” (NEIRA E NUNES,2006, p. 85)

    Nesse contexto a professora buscou construir elementos que possibilitassem (re)orientar a prática pedagógica da disciplina, onde o uso da roupa adequada assume uma certa centralidade.

    Então tive que construir junto com eles toda essa sala de aula no pátio e toda essa postura dessa sala, mostrando o foco deste debate – a importância da roupa adequada para a prática de Educação Física, mostrando através dos movimentos o que pode acontecer com a pessoa, os riscos a que as pessoas estão sujeitas a partir do momento em que querem fazer a prática de pés descalços ou com tamancos, ou com uma calça muito justa. (PE)

    Assim, sob a justificativa das razões declaradas, não era permitido aos alunos participarem das atividades de movimento sem a roupa determinada, e, em decorrência dessa determinação, algumas alternativas eram apresentadas envolvendo outros modos de participação, como caminhadas em volta da quadra e inclusão desse item nos critérios de avaliação. A par da proposta desenvolvida pela professora, relato dos estagiários, por ocasião das observações realizadas no início da prática, desvelam a reação de alunos que ficavam fora da aula por não estarem vestindo a roupa exigida, tentando desconsiderar a alegação da professora sobre as dificuldades/limitações para o se movimentar.

    Um dos argumentos mais enfatizado pela professora responsável pelas turmas em relação à “roupa adequada” estava fundamentado no conforto e liberdade para realização dos movimentos. [...] Este fato pode ter sido a causa de situações observadas, onde alguns dos alunos que ficaram de fora da parte prática, repetiam a mesma movimentação que a professora executava na aula com os demais alunos [...]. (Dupla MV)

    Parece evidente que a postura dos alunos pretendia relativizar o discurso hegemônico sobre o uso necessário da roupa adequada, que pela forma como vem sendo operado na escola, remete a um “multiculturalismo conservador, pois suas determinações – impostas por diretores, professores, funcionários e até pela família – visam garantir que os educandos possam seguir por caminhos ‘seguros’, para o alcance de um futuro promissor.” (NEIRA e NUNES, 2006, p. 90)

    Outra situação relatada pelos estagiários também parece indicar que o tema em foco merece ser olhado por outros ângulos. Se no exemplo anterior, há uma deliberada exposição por parte dos estudantes para mostrar as possibilidades de movimento “apesar da roupa”, no relato a seguir se evidencia uma prática espontânea que parece sugerir uma relativização dos argumentos repetidamente enunciados.

    [...] em nossas observações tanto durante as aulas, quanto durante o recreio, constatamos que o conceito de roupa apropriada para a prática de atividade física é um tanto relativo. Nestes espaços, principalmente no futebol que acontecia no tempo destinado ao recreio, era constante a participação de alunos com calças e bermudas “jeans”. Todos participando efetivamente da atividade auto-organizada por eles sem nenhuma restrição em relação ao objetivo desta prática. (Dupla FP)

    O uniforme, durante um longo tempo foi referência de uma identidade única em conformidade com funções higiênicas e disciplinadoras da Educação Física. Vivemos outros tempos em que a educação e a escola se pautam e se organizam a partir de outros paradigmas, determinados por outros valores. Para Neira e Nunes (2006) “a cultura escolar não se dá de maneira única e predeterminada; ela é constituída por diversos saberes, valores e ações cotidianas que estruturam seu caráter de modo mais abrangente na instituição escolar e de modo restrito em cada escola.” (p. 67) A roupa adequada como é percebida nas narrativas dos estagiários tem sua importância relativizada incorporando outros valores, como comprometimento e efetiva participação nas aulas, que se sobreporiam à garantia da integridade física e aos cumprimento da norma, subjacentes à exigência da obrigatoriedade.

    Parece-nos claro que a questão fundamental aqui é o comprometimento assumido pelo aluno para com a aula de Educação Física, e não a “roupa adequada” em si. [...] (Dupla MV)

    O professor precisa questionar o que mais importa se é proporcionar ao aluno a prática da educação física afim de que o aluno usufrua dessa prática corporal ou deixar esse aluno fora da aula pelo fato desse não estar usando a roupa adequada [...] (Dupla PB)

    Outros colocam em discussão em sua narrativa, a exigência do uso da roupa em confronto com o processo de aprendizagem.

    Os estagiários, na maioria, entendiam que ao não participar da aula prática ou teórica de educação física, por estarem com roupas e calçados inadequados, os alunos eram privados do processo de aprendizagem. [....] O que era válido na realidade nesse processo de ensino aprendizagem, a aprendizagem ou a presença? (Dupla FP)

    Portanto, as falas trazidas para o debate, problematizam o discurso da roupa a partir da lógica do conforto ou da melhor adequação e também colocam em questão a relação entre cumprimento da norma e direito ao conhecimento e não cumprimento e exclusão. As diversas falas manifestadas, mesmo as que não estão explicitadas neste texto parecem nos dizer que não há como simplificar com formas polarizadas, como certo X errado ou pode X não pode o tratamento dado ao problema em estudo, diante da complexidade do tema. Na perspectiva que nos propusemos pautar esta reflexão, não se trata de desconsiderar ou hierarquizar as diferentes culturas presentes nos discursos produzidos. Buscamos promover o diálogo, dinamizando as experiências vividas ao encontro da construção de novos significados para a compreensão das lutas de poder subjacentes ao embate que ocorre nas aulas de Educação Física quando se coloca em questão o uso de uma roupa adequada. E é a partir desse olhar que queremos concluir nossas reflexões. Concluir, não no sentido de encerrar a discussão, mas no sentido de darmos um fechamento a um debate que não se esgota no término deste texto.

Considerações tangenciais

    Ao mesmo tempo em que discutíamos a questão da obrigatoriedade do uso de uma roupa apropriada para as aulas de Educação Física, aspecto que atravessava as relações estabelecidas entre professoras, estagiários e alunos, num contexto em que já havia uma norma fixada, passamos a questionar, paralelamente, as relações que estariam subjacentes às trocas entre professora da escola, estagiários e professora orientadora do estágio nas ações implicadas. Na medida em que não havia por parte dos estagiários a mesma convicção sobre a exigência proposta ou sobre as formas como tal exigência deveria ser cumprida, e, considerando a possibilidade de novos olhares sobre um velho e desgastado problema, não nos pareceu formativo, exigirmos dos acadêmicos, o simples cumprimento da regra previamente estabelecida pela escola. Entendíamos que os estagiários precisariam usufruir de um espaço e tempo para vivenciar, para serem protagonistas da gestão do uso da roupa. Não pretendíamos colocar em xeque a posição da professora, ao não adotarmos uma posição diretiva no tratamento do conflito, através de um “cumpra-se”! Tínhamos a intenção de oportunizar o alargamento da discussão a partir de situações vividas, garantindo ao estágio o espaço/tempo de autoria/autonomia no exercício da docência. Acima de tudo percebíamos que de alguma forma se confrontavam diferentes culturas presentes no contexto escolar, algumas já naturalizadas que talvez pudessem ser (re)tomadas e analisadas a partir dos diferentes olhares que emergiam da realidade objetiva e outras que se apresentavam ainda em processo de construção e necessitavam de um “corpo a corpo” para melhor aclarar seus contornos.

    Nesse processo, procuramos muito mais perguntar do que responder, discutir do que afirmar, por que não se tratava de encontrar certezas, mas de desocultar valores que a priori poderiam parecer estranhos e/ou equivocados. No multiculturalismo crítico, segundo Neira e Nunes (2006, p.91), “a interferência do professor realiza-se por meio do processo de mediação.” Nessa perspectiva tentamos substantivar a mediação através de ações conjugadas na primeira pessoa do plural, exercitando uma forma democrática de construção de docência.

Referências

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 19 · N° 192 | Buenos Aires, Mayo de 2014  
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