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Avanços no registro das ações finais no

 voleibol: para utilização nas categorias de base

Los avances en el registro de las acciones finales en el voleibol: su uso en los juveniles

 

Docente da disciplina Voleibol, UNIVATES – Centro Universitário

Técnico Seleção Gaúcha de Voleibol Infanto-juvenil feminino

(Brasil)

Rodrigo Lara Rother

rodrigorother@univates.br

 

 

 

 

Resumo

          A Ficha de Registro das Ações Finais do voleibol é um ótimo instrumento para utilização em equipes iniciantes. Para equipes mais avançadas, ainda dentro das categorias de base, necessita de ajustes e acréscimo de dados para tornar-se útil. Mesmo com muitos fatores influenciando o resultado da partida e a estatística não sendo determinante para a vitória em muitos casos, a utilização da nova versão da Ficha de Registro de Ações Finais pode trazer inúmeros benefícios para o controle da partida e para obter dados que sirvam de parâmetros de treinamento para o planejamento do técnico, bem como para identificação dos erros de seus atletas.

          Unitermos: Equipes de base. Voleibol competitivo. Estatística.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 192 - Mayo de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O voleibol é um esporte em ascensão. Como se não bastasse já ter conquistado sua popularidade, as mudanças nas regras e os avanços das tecnologias empregadas, sejam para utilização na preparação das equipes como para aplicação durante as partidas, alavancam a modalidade para uma ainda maior quantidade de pessoas praticando e qualidade na performance do jogo.

    Para que a performance continue crescendo, é necessário lançar mão de ferramentas que impliquem aprofundamento no conhecimento de todas as questões relacionadas ao jogo, e uma delas é a estatística. De acordo com Coleman (2005), além do controle das ações do jogo e da performance da equipe, os dados coletados durante a partida tem um papel importantíssimo também para definição dos conteúdos dos treinamentos subseqüentes e controle da evolução da equipe no decorrer da temporada.

    Entretanto, Lopez (2001) alerta que no voleibol de base, onde os atletas estão no meio do seu processo de desenvolvimento, a tática coletiva, lugar comum á aplicação de estatísticas, não é o ponto mais relevante para definir o resultado de uma partida. Aspectos como a pressão sentida nas partidas decisivas, a inexperiência dos atletas iniciantes com a dinâmica do jogo, o desenvolvimento maturacional distinto do cronológico e o pouco domínio dos gestos técnicos que estão em situação de aprendizado ou aperfeiçoamento influem no resultado da partida ainda mais do que as vantagens do controle estatístico (WEINBERG e GOULD, 2001; DANTAS, 1995; CORDEIRO, 2001).

    Considerando estes aspectos, surgiu a Ficha de Registro das Ações Finais, que é um instrumento de registro simples e que serve para ser utilizado nos níveis mais básicos do aprendizado do voleibol, para que posterior á realização da partida, o técnico tenha alguns parâmetros para planejar seu treinamento (ROTHER, 2008). Já para níveis competitivos mais altos, onde já existe uma adaptação melhor dos atletas aos aspectos que interferem no resultado da partida, devem ser utilizadas outras técnicas de coletas de dados mais complexas.

    O objetivo deste artigo é apresentar um avanço no registro das ações finais em uma partida de voleibol, que possa ser útil também para equipes mais avançadas dentro das categorias de base.

Procedimentos metodológicos

    Baseado na Ficha de Registro de Ações Finais, apresentada por Rother (2008), serão feitas adaptações e acrescentadas informações que possam servir para equipes em estágio mais avançado dentro das categorias de base do voleibol tanto fazerem registros para organização e planejamento dos treinamentos subseqüentes como também utilizar par controle das ações durante as partidas.

Resultados

    Como pode ser visto no Quadro 1, a nova versão da Ficha de Registro das Ações Finais faz um mapeamento dos pontos a favor e contra de cada atleta em uma partida. Um importante avanço nesta nova versão é o registro de todas as ações do fundamento recepção, identificando a qualidade mesmo daquelas que não gerarem uma ação final. Esse registro será importante para cálculo do side-out 1 da equipe, o qual será explicado mais adiante. A ficha apresentada no Quadro 1 representa um set de uma partida e é meramente ilustrativa, sendo que os nomes e valores apresentados são fictícios.

Quadro 1. Nova versão da Ficha de Registro das Ações Finais

    Para compreensão das legendas do Quadro 1, entende-se na parte superior, ao lado esquerdo dos nomes dos atletas da equipe A, o registro dos pontos que esta equipe realizou com o seu saque (S), bloqueio (B), ataque (A), contra-ataque (CA) e o total de pontos realizados por cada jogador (Tot.). Já ao lado direito do nomes dos atletas, estão o registro dos erros cometidos em cada uma das ações do jogo, iniciando pelas ações de recepção2 com qualidade “a” e “b”, recepções com qualidade “c” e “d” e erros de recepção; em seguida erros de saque (S), levantamento (L), ataque (A), contra-ataque (CA), bloqueio (B), defesa (D) e o total de erros de cada atleta (Tot.).

    Os registros das ações de recepção, como dão continuidade ao jogo, são feitos imediatamente após as suas ocorrências, já as outras ações, que põem fim ao rally, são marcadas após a efetivação do ponto por parte do árbitro e sua sinalética. São marcadas na ficha todas as ações finais, mais as de recepção, de todos os atletas, das duas equipes envolvidas na disputa.

    Com os valores totais individuais de cada atleta em todos os fundamentos, pode-se avaliar a sua eficácia e a sua eficiência. Adaptando os conceitos estatísticos de Colemann (2005) para as ações finais, podemos definir a eficácia como os pontos realizados pelo atleta e a eficiência a produção dele para a equipe. Para exemplificar, observe no Quadro 1, na Equipe A, o atleta n°4 Diego. Ele foi o principal pontuador da sua equipe no set, com 4 pontos, sendo essa sua eficácia. Mas observa-se também que este atleta errou 3 ações que ocasionaram ponto para seus adversários, ou seja, Diego ficou somente com 1 ponto na sua produção, sendo essa sua eficiência. Seu colega de equipe, n°2 Paulo, pontuou somente 3 vezes, sendo menos eficaz que Diego, mas como não cometeu nenhum erro, pode-se dizer que foi mais eficiente em relação ao seu colega.

    Para atletas em formação, possibilitá-los a observar sua produção, acertos e erros, tem significativa importância para evolução da sua performance. Rico et al. (2000) realizaram um estudo sobre estratégias de correção de erros técnicos de jogadores iniciantes e concluíram que os técnicos tem muita dificuldade em identificá-los. Por apresentar os erros individuais em cada fundamento, esta ficha é um importante auxílio nesta identificação.

    Além dos valores individuais, a ficha apresenta também os valores da equipe, como pode ser observado na última linha de cada equipe no Quadro 1. Tomando como exemplo a Equipe B, percebe-se que ocorreram uma quantidade demasiada de erros no fundamento saque, com 5 erros contra somente 2 do seu adversário. Como o set terminou com derrota por 23x25 e as pontuações foram muito semelhantes em todos os fundamentos, essa quantidade parece ter sido determinante para o revés da equipe.

    Um último aspecto que é considerado avanço em relação a versão inicial da Ficha de Registro das Ações Finais é a análise da recepção e, conseqüentemente, do side out. Afonso (2004) postula que uma recepção de qualidade possibilita um maior número de possibilidades válidas para a construção do ataque, decorrendo daí inúmeras implicações para a seqüência do jogo como, maior facilidade para atacar, mais imprevisibilidade para ludibriar o adversário entre outras. Embora o autor afirme também que a eficiência e a eficácia da recepção não seja necessariamente linear á eficiência e a eficácia do ataque, por isso a importância de uma análise conjunta do side out.

    Para avaliar o side out da equipe, que é um conjunto da recepção, levantamento e ataque, faz-se o seguinte cálculo com os registros da ficha:

pontos de ataque da equipe A x 100 ÷ (pontos de saque da equipe B + total de recepções da equipe A).

    Utilizando o Quadro 1 para exemplificar, calcula-se o side out da Equipe A da seguinte forma:

5 pontos ataque x 100 ÷ (0 pontos de saque equipe B + 19 recepções equipe A) = 26,3% de aproveitamento no side out.

    Para calcular o aproveitamento do side out da equipe B:

7 pontos ataque x 100 ÷ (2 pontos de saque equipe A + 19 recepções equipe B) = 33,3% de aproveitamento no side out.

    De posse destes dados, o técnico da Equipe B pode perceber que sua equipe foi superior ao adversário nesta fase do jogo (K1 - recepção, levantamento e ataque) e, mesmo assim, saiu derrotada do set. Esses dados indicariam para que este técnico intensificasse os treinamentos da sua equipe na outra fase (K2 - saque, bloqueio, defesa e contra-ataque). Isso se confirma se compararmos o somatório dos pontos das duas equipes nos fundamentos que fazem parte do K2, onde a Equipe A fez 10 pontos enquanto a Equipe B fez somente 7 pontos.

Considerações finais

    Com os ajustes e atualizações realizadas, a Ficha de Registro das Ações Finais é um ótimo instrumento para ser aplicado em partidas de voleibol de equipes iniciantes e de nível mais avançado dentro das categorias de base. Este ficha proporciona as seguintes vantagens da sua utilização:

  • é um instrumento muito simples e de fácil utilização;

  • facilidade na coleta e visualização;

  • pode ser aplicado com uma planilha manual ou mesmo em um computador portátil;

  • uma só pessoa consegue coletar todos os dados;

  • apresenta os acertos e erros ocorridos em cada fundamento, tanto pela equipe como individualmente de cada atleta;

  • apresenta a eficácia e eficiência de cada fundamento, individualmente de cada atleta;

  • visualiza as ações de recepção, quantificando e qualificando de acordo com o seu aproveitamento;

  • possibilita o cálculo do aproveitamento do side out;

  • os dados coletados podem servir de parâmetros de desempenho para uma equipe durante a temporada e também para o planejamento dos treinamentos;

  • os dados podem ser usados durante a partida para condução da equipe;

  • as informações coletadas podem ser utilizadas para que os próprios atletas avaliem sua performance na partida;

    É importante lembrar que este é um instrumento com o propósito de ser utilizado nas categorias de base, onde vários outros fatores influenciam o resultado final de uma partida e, desta forma, elegem-se alguns aspectos para serem observados. Nos níveis competitivos mais altos devem ser utilizadas outras técnicas de coletas de dados mais complexas, haja visto que muitas outras ações técnicas e táticas necessitam de atenção e controle estatístico. Respeitando esta idéia, a Ficha de Registro de Ações Finais pode ser muito útil ás equipes que á empregarem.

Notas

  1. Side out, também chamado de K1 ou Complexo 1, é o ataque proveniente da recepção do saque, diferente da Transição, K2 ou Complexo 2, que é o ataque proveniente da ação do bloqueio e/ou da defesa (CÉSAR e MESQUITA, 2006, p. 60).

  2. A recepção pode ser classificada de acordo com a qualidade da sua execução, sendo “A” para perfeita, “B” quando elimina uma possibilidade de ataque, “C” quando elimina mais que uma possibilidade, “D” quando obriga a equipe a devolver a bola para o adversário sem agressividade e “E” para erro que causa ponto para o adversário.

Referências

  • AFONSO, José. Concepção e aplicação do treino da recepção ao serviço em voleibol. Lecturas: Educación Física y Deportes. Buenos Aires, Año 10. N° 78, Noviembre de 2004. http://www.efdeportes.com/efd78/volei.htm

  • CÉSAR, Bruno; MESQUITA, Isabel. Caracterização do ataque do jogador oposto em função do complexo do jogo, do tempo e do efeito do ataque: estudo aplicado no voleibol feminino de elite. Rev. bras. Educ. Fís. Esp., São Paulo, v.20, n.1, p.59-69, jan./mar. 2006.

  • COLEMAN, Jim. Analisando adversários e avaliando o desempenho da equipe. In: SHONDELL, Donald; REYNAUD, Cecile (orgs.). A bíblia do treinador de voleibol. Porto Alegre, Artmed Editora, 2005.

  • CORDEIRO, Célio. Fundamentos: Técnica e Tática Individual. In: Apostila do Curso de Treinadores de Voleibol Nível II. Confederação Brasileira de Voleibol, 2001.

  • DANTAS, Estélio. A Prática da Preparação Física. 3ª ed. Shape, 1995.

  • LOPEZ, José A. V. Importancia de la preparación táctica para la mejora del rendimiento en voleibol. In: VIII Congresso Internacional sobre Entrenamiento Deportivo. Real Federación Española de Voleibol, León, diciembre 2001.

  • RICO, Pedro Q. Morell; LÓPEZ, Jorge Castañeda; RICO, Gerardo Q. Morell; AGUILAR, Osvaldo Mora; SIERRA, Antonio Jesús Pérez. Estrategia para mejorar el proceso de corrección de errores técnicos en el entrenamiento de los voleibolistas de la EIDE provincial de Ciego de Avila. Lecturas: Educación Física y Deportes. Buenos Aires, Año 5. N° 24. Agosto de 2000. http://www.efdeportes.com/efd24/volei.htm

  • ROTHER, Rodrigo Lara. Registro das ações finais em uma partida de voleibol de base. Lecturas: Educación Física y Deportes. Buenos Aires. Año 13. N° 121. Junio de 2008. http://www.efdeportes.com/efd121/registro-das-acoes-finais-em-uma-partida-de-voleibol-de-base.htm

  • WEINBERG, Robert S. e GOULD, Daniel. Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício - 2 Ed – Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.

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