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Psicomotricidade e desenvolvimento humano

Psicomotricidad y desarrollo humano

Psychomotor and human development

 

* Profissional de Educação Física e docente

da Secretaria Municipal de Educação de Sertãozinho, SP

** Profissional de Educação Física e docente

da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo

*** Profissional de Educação Física, pesquisador e membro da equipe

da USP, do Núcleo de Estudos, Ensino e Pesquisa do Programa

de Assistência Primária de Saúde Escolar – PROASE

Profa. Caroline Barreto Brunelli Barbosa*

Profa. Ms. Silvia Helena Piantino Silveira**

Prof. Dr. José Eduardo Costa de Oliveira***

prof.zedu@usp.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Desde o nascimento, o que salta aos olhos no desenvolvimento humano é o corpo e seus movimentos que, inicialmente, não apresentam significados ainda inscritos. Aos poucos, este mesmo corpo em movimento transforma-se em expressão de desejo e, posteriormente, em linguagem. A partir daí, a criança é capaz de reproduzir situações reais, fazendo imitações que se transformam em faz-de-conta (GORETTI, 2012). A psicomotricidade abrange os conhecimentos básicos do movimento, do intelecto e do afeto, ou seja, contempla o corpo humano em toda a sua integridade e totalidade em três campos de atuação: educação, reeducação e terapia (GORETTI, 2012). Portanto, este artigo tenta discutir e analisar quais são as principais interfaces de psicomotoras trabalhar com o processo de desenvolvimento humano do sujeito em movimento. Por fim, na perspectiva de uma análise conclusiva, o meio humano deve permitir experiências estimulantes de um corpo eficaz, com condições afetivas e ambientais, onde se possa realizar movimentos livres, se divertir, criar, brincar, compartilhar emoções e participar de jogos sociais. No que tange às intervenções do profissional de Educação Física, o mesmo fará com que o sujeito não se fragmente, pois ele se oferece como elo de todos os aspectos que constituem um indivíduo: os aspectos psicomotores, cognitivos e sócio afetivos, uma vez que por Educação Física não se deve entender apenas o exercício muscular do corpo, mas também e principalmente o treinamento dos centros psicomotores pelas associações múltiplas e repetidas entre movimento e pensamento e entre pensamento e movimento.

          Unitermos: Psicomotricidade. Desenvolvimento humano. Efeitos.

 

Resumen

          Desde el nacimiento, lo que salta a la vista en el desarrollo humano es el cuerpo y sus movimientos que inicialmente no tienen un significado predeterminado. Poco a poco, este mismo cuerpo en movimiento se convierte en una expresión de deseo y, posteriormente, en el lenguaje. A partir de ahí, el niño es capaz de reproducir situaciones reales, haciendo imitaciones que se convierten en como sí (GORETTI 2012). La psicomotricidad cubre los conceptos básicos de movimiento, el intelecto y los afectos, es decir, incluye el cuerpo humano en toda su integridad y plenitud en tres campos: la educación, la rehabilitación y la terapia (GORETTI 2012). Por lo tanto, el presente artículo intenta discutir y analizar cuáles son las principales relaciones del trabajo psicomotriz, con el proceso de desarrollo humano del sujeto que se mueve. Por último, en la perspectiva de un análisis definitivo, el entorno humano debería permitir experiencias estimulantes un de un cuerpo eficaz, con condiciones emocionales y ambientales, que permitan la libertad de movimientos, divertirse, crear, jugar, compartir emociones y participar en juegos sociales. Con respecto a las intervenciones del profesional de la educación física, hará que el sujeto no se fragmente aportando un vínculo de todos los aspectos que conforman a la persona: lo motriz, los aspectos sociales, los cognitivos y los afectivos, ya que la Educación Física no sólo debe comprender el entrenamiento de cuerpo muscular, sino también, y principalmente, los centros de formación psicomotriz en sus múltiples y repetidas asociaciones entre el movimiento y el pensamiento, así como entre el pensamiento y el movimiento.

          Palabras clave: Psicomotricidad. Desarrollo humano. Fines.

 

Abstract

          From birth, what strikes the eye in human development is the body and its movements that initially did not have even entered meanings. Gradually, this same moving body becomes an expression of desire and subsequently in language. From there, the child is able to reproduce real situations, doing imitations that turn into make- account (GORETTI 2012). The psychomotor covers the basics of movement, intellect and affection, and, includes the human body in all its integrity and wholeness in three fields: education, rehabilitation and therapy (GORETTI 2012). Thus, the present text of the intention to discuss and analyze what are the main interfaces psychomotor work, to the process of human development of the subject that moves. Finally, the prospect of a definitive analysis, the human environment should allow stimulating experiences an effective body, emotional and environmental conditions, which can be made free movements, have fun, create, play, share emotions and participate in social games. Regarding the operations of the physical education professional, it will cause the subject not fragment because he offers as a link of all the aspects that make up an individual: the psychomotor, cognitive and affective social aspects, since by Physical Education should not only understand the muscle body workout, but also and mainly the psychomotor training centers by multiple and repeated associations between movement and thought and between thought and movement.

          Keywords: Psychomotor. Human development. Purposes.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 192 - Mayo de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Desde o nascimento, o que salta aos olhos no desenvolvimento humano é o corpo e seus movimentos que, inicialmente, não apresentam significados ainda inscritos. Aos poucos, este mesmo corpo em movimento transforma-se em expressão de desejo e, posteriormente, em linguagem. A partir daí, a criança é capaz de reproduzir situações reais, fazendo imitações que se transformam em faz-de-conta (GORETTI, 2012).

    Deste modo, a criança consegue separar o objeto de seu significado, falar daquilo que está ausente e representar corporalmente. Este processo nada mais é do que a vivência dos elementos psicomotores, dentro de contextos histórico-culturais e afetivos significativos. E isso é que garantirá a aprendizagem de conceitos formais aliados à aprendizagem de conceitos do cotidiano (OLIVEIRA, 2012).

    A psicomotricidade abrange os conhecimentos básicos do movimento, do intelecto e do afeto, ou seja, contempla o corpo humano em toda a sua integridade e totalidade em três campos de atuação: educação, reeducação e terapia (GORETTI, 2012).

    Neste sentido, a psicomotricidade pode ser definida como o campo transdisciplinar que estuda e investiga as relações e as influências recíprocas e sistêmicas entre o psiquismo e a motricidade (FONSECA, 2008, p. 9).

    (...) a Psicomotricidade envolve toda a ação realizada pelo indivíduo, que represente suas necessidades e permitem sua relação com os demais. É a integração psiquismo-motricidade. De uma maneira estática, a motricidade pode ser definida como o resultado da ação do sistema nervoso sobre a musculatura, como resposta à estimulação sensorial. Enquanto que o psiquismo poderia ser considerado como o conjunto de sensações, percepções, imagens, pensamentos, afeto, etc. (FONSECA, 2008, p. 15-16).

    Assim, o presente texto parte da intencionalidade de discutir e analisar quais são as principais interfaces do trabalho psicomotor, para com o processo de desenvolvimento humano do sujeito que se movimenta.

A Psicomotricidade

    A psicomotricidade, como ciência multidisciplinar, que estuda o movimento humano na sua ação relacional, ocupa-se com o sujeito, levando em conta os aspectos motores, cognitivos e sócio-afetivos (emocionais) que compõem o seu desenvolvimento físico e psíquico e que impulsionam a realização deste movimento, não fragmentando o indivíduo na sua intenção de desenvolver-se (GONÇALVES, 2010).

    Para a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (SBP), ela é uma ciência que tem por objeto o estudo do Homem através do seu corpo em movimento, nas relações com seu mundo interno e externo. A psicomotricidade é, portanto, uma ciência que estuda a relação entre o movimento humano e a intenção de realizá-lo, que ocorre reciprocamente associando a ação do sistema nervoso sobre a musculatura com as sensações e emoções do indivíduo (LE BOULCH, 1982).

    Ainda para o mesmo autor, a educação psicomotora concerne uma formação de base indispensável a toda criança que seja normal ou com problemas; respondendo a uma dupla finalidade: assegurar o desenvolvimento funcional tendo em conta possibilidades da criança e ajudar sua afetividade a expandir-se e a equilibrar-se através do intercâmbio com o ambiente humano (p. 13).

    Dentro desse desenvolvimento funcional encontram-se os elementos psicomotores que caracterizam basicamente a psicomotricidade, e que de acordo com Goretti (2012), os mais utilizados no Brasil são:

  1. Esquema corporal: é o saber pré-consciente a respeito do seu próprio corpo e de suas partes, permitindo que o sujeito se relacione com espaços, objetos e pessoas ao seu entorno. As informações proprioceptivas ou cinestésicas é que constroem este saber acerca do corpo e à medida que o corpo cresce, acontecem modificações e ajustes no esquema corporal.

  2. Imagem corporal: é a representação mental inconsciente que fazemos do nosso próprio corpo, formada a partir do momento em que ele começa a ser desejado e, consequentemente a desejar e a ser marcado por uma história singular e pelas inscrições materna e paterna. A imagem vem antes do esquema, e sem imagem, não há esquema corporal.

  3. Tônus: é a tensão fisiológica dos músculos que garante equilíbrio estático e dinâmico, coordenação e postura em qualquer posição adotada pelo corpo, esteja ele parado ou em movimento.

  4. Coordenação global ou motricidade ampla: é a ação simultânea de diferentes grupos musculares na execução de movimentos voluntários, amplos e relativamente complexos.

  5. Motricidade fina: é a capacidade de realizar movimentos coordenados, utilizando pequenos grupos musculares das extremidades.

  6. Organização espaço-temporal: é a capacidade de orientar-se adequadamente no espaço e no tempo. Para isso, é preciso ter a noção de perto, longe, em cima, embaixo, dentro, fora, ao lado de, antes, depois.

  7. Ritmo: é a ordenação constante e periódica de um ato motor. Para ter ritmo é preciso ter organização espacial.

  8. Lateralidade: é a capacidade de vivenciar os movimentos utilizando-se, para isso, os dois lados do corpo. É diferente da dominância lateral que é a maior habilidade desenvolvida num dos lados do corpo, devido à dominância cerebral, ou seja, pessoas com dominância cerebral esquerda tem maior probabilidade de desenvolverem mais habilidades do lado direito do corpo e, por isso, são destros. Com os sinistros acontece o inverso, já que sua dominância cerebral é do lado direito.

  9. Equilíbrio: é a capacidade de manter-se sobre uma base reduzida de sustentação do corpo, utilizando uma combinação adequada de ações musculares, parado ou em movimento.

  10. O esquema e a imagem corporal são, então, um todo global dentro da perspectiva social. As percepções e impressões dos sentidos e do movimento ditam a forma como se percebe o meio, e esta construção é pessoal e se dá na dialógica dos mundos externo e interno, resultando num corpo dinâmico e infinito (SILVA, 2006).

    Não obstante, transtornos psicomotores podem comprometer o esquema e a imagem corporal e o tônus muscular, impedindo o domínio do próprio corpo, ainda Segundo Goretti (2012), onde os principais são:

    Primeiro, a instabilidade psicomotora, onde o indivíduo não consegue começar e terminar uma atividade, e, é assim com todas as suas produções corporais. Há uma dificuldade em inibir seus movimentos, provocando ações explosivas e agressivas. Costumam serem sujeitos agitados, ansiosos e inquietos, pois, possuem uma grande necessidade em movimentar-se, apresentando, em alguns casos, perturbações severas no sono e na atenção, necessitando de medicamentos, como anfetaminas e psicotônicos. Pessoas com este transtorno podem ter uma grande tensão muscular e paratonias severas caracterizando uma instabilidade tensional, ou serem hipotônicas, elásticas e bastante flexíveis. Em ambos os casos, a causa do transtorno é a falta de limite, a ausência de corte simbólico.

    Segundo, a inibição psicomotora, onde o indivíduo não usa seu corpo para relacionar-se com o mundo ou com os outros. É o oposto da instabilidade, pois também há uma falta de limite, mas esta falta barra a ação. Ele mostra-se sempre cansado, demonstrando pouca expressão facial e corporal. Seu aspecto é de extrema fragilidade e debilidade e é nele que se reconhece e é reconhecida. São quietos demais. O sujeito inibido, diferentemente do instável, possui outra estratégia para não se separar do Outro: ser o ‘objeto bom’ de seus pares.

    Terceiro, a debilidade, que é caracterizada pela presença de paratonias e sincinesias. A paratonia é a persistência de uma rigidez muscular caracterizada por uma inadequada incontinência das reações tônicas. Pode aparecer nos quatro membros ou apenas em dois. Há uma instabilidade na posição estática ou quando se caminha ou corre devido à rigidez. A sincinesia é caracterizada pela ação de músculos que não atuam em determinado movimento, impedindo a realização de atos coordenados e com ritmo devido a sua descontinuidade nos gestos e imprecisão dos movimentos. Podem aparecer ainda outros sintomas, como tremores na língua, lábios, pálpebras e dedos quando estes são solicitados para a execução de um determinado movimento. A afetividade e a intelectualidade também podem estar comprometidas. O sujeito geralmente demonstra certa apatia e tem sonolência maior que as outras pessoas. A atenção é prejudicada.

    Quarto, a dispraxia, que se caracteriza na dificuldade de associar movimentos para realizar uma tarefa, há, concomitantemente, um transtorno espacial (dificuldade de lateralizar, de nomear objetos, espelhamento de letras, assimetria nos movimentos – todos estes persistentes), assim como, um fracasso nos jogos.

    Não obstante, é comum apresentar, também, um desvio no desenvolvimento cognitivo no que diz respeito à distinção de aspectos figurativos, o que dificulta que se atinja a fase de operações concretas. Há, também, uma perturbação do esquema corporal. Quando a dispraxia é no olhar, além das perturbações perceptivas, há dificuldades posturais e de equilíbrio.

    A psicomotricidade, então, tem sua identidade inscrita nas práticas corporais de impressão que solicitam as capacidades de captação, recepção, distribuição, tratamento e estocagem das informações oriundas do próprio corpo ou do meio-ambiente, e nas práticas corporais de expressão que solicitam as capacidades de liberação emocional, de comunicação com os demais e também de criação, pela entrada em jogo do corpo real (LE CAMUS, 1986).

    As dimensões do corpo dentro da psicomotricidade dividem-se em dois polos relacionados à psicanálise de Freud, segundo Cabral (2000) apud Silva (2006, p. 55): consciente, estruturado, racional versus inconsciente, fantasmático, projetivo, relacional. No primeiro polo encontram-se as dimensões 1 e 2 do corpo e no segundo as dimensões 3 e 4, citadas a seguir:

  1. Corpo como instrumento funcional: corpo do tônus; das atitudes e posturas; da motricidade, das sensações, das percepções, da lateralidade; e das emoções primárias. 

  2. Corpo como instrumento de conhecimento: corpo do conhecimento sobre si mesmo, do esquema corporal; que conhece o objeto e o outro; que conhece o mundo: o espaço, o tempo, e a causalidade; que vai permitir o percurso da ação ao pensamento; base primária da possibilidade de abstração, da operatividade e do raciocínio lógico. 

  3. Corpo fantasmático e relacional: corpo da imagem corporal e dos fantasmas primitivos; do contato afetivo nas relações objetais; da comunicação com o outro. 

  4. Corpo social: corpo marcado pela lei na situação edipiana; diferenciado sexualmente de acordo com papéis sociais; influenciado por papéis culturalmente definidos; manipulado, reprimido, ou valorizado, de acordo com a ideologia da sociedade.

    Por meio dessas definições, percebe-se a importância da psicomotricidade, em razão desta ciência abranger o funcionamento do sistema nervoso do indivíduo em seu contexto relacional, compreendendo suas capacidades motoras, psicológicas e emocionais que permeiam todo seu desenvolvimento e que marcarão sua vida adulta.

O desenvolvimento motor

    O desenvolvimento motor é, portanto, um processo influenciado por experiências intrínsecas e extrínsecas e ocorre por toda a vida, da concepção à morte. É um fenômeno que permeia a vida de todas as pessoas; ele possibilita a realização de atos motores essenciais à lida diária não só por sua excepcionalidade, mas também por sua ubiquidade (CONNOLLY, 2000, p. 6), ou seja, o desenvolvimento motor é único, individual, e ocorre em qualquer fase da vida e a todo o momento.

    O desenvolvimento motor é considerado como um processo sequencial, contínuo e relacionado à idade cronológica, pelo qual o ser humano adquire uma enorme quantidade de habilidades motoras, as quais progridem de movimentos simples e desorganizados para a execução de habilidades motoras altamente organizadas e complexas (HAYWOOD; GETCHELL, 2004 apud WILLRICH, AZEVEDO, FERNANDES, 2009).

    Para Fonseca (2009), a evolução da motricidade (essencialmente a evolução nervosa) é profundamente complexa. Funciona desde o feto, em uma estreita relação com o sistema de necessidades, e está ligada a certos reflexos primitivos e arcaicos. O enriquecimento das possibilidades é elaborado pela motricidade, que sucessivamente estrutura intimamente o sistema integrativo, sendo pelo movimento que a vida mental se organiza em função do passado e projeta-se para frente, em função do futuro. A integração mental do movimento, como forma de expressão de uma individualização em face da realidade, está em dependência recíproca com a gênese do comportamento humano; daí se traduzir em aquisições motoras integradas, em estreita relação com o desenvolvimento psicofisiológico.

    Ainda segundo o mesmo autor, as percepções e os movimentos, ao estabelecerem relação com o meio exterior, elaboram a função simbólica, que dará origem à representação e ao pensamento, uma vez que o movimento tem sempre uma orientação significativa, em função da satisfação das necessidades que provoca com o meio.

    O movimento e o seu fim são uma unidade, e desde a motricidade fetal até a maturidade plena, passando pelo momento do parto e pelas sucessivas evoluções, o movimento é sempre projetado em face de uma satisfação de uma necessidade relacional. A relação entre movimento e o fim aperfeiçoa-se cada vez mais, como resultado de uma diferenciação progressiva das estruturas integrativas do ser humano (FONSECA, 2008).

    O desenvolvimento humano recapitula, acelerada e qualitativamente, o desenvolvimento da espécie humana. Ele é um processo contínuo, iniciado na concepção e seguido por metamorfoses até a morte. São fases e sequências que apresentam em cada estágio um nível de maturidade, culminando em uma desmaturidade declinativa na terceira idade (FONSECA, 2009).

    Assim, considerando o desenvolvimento humano e motor como sócio-histórico-cultural, conclui-se que o trabalho psicomotor durante a infância; respeitadas as diferenças individuais, pode influenciar positivamente nas ações do indivíduo sobre si próprio e sobre seu grupo social, dominando suas capacidades físicas e psicológicas para agir de forma consciente, crítica e planejada, conforme seus anseios e desejos.

Considerações finais

    Por fim, na perspectiva de uma análise conclusiva, o meio humano deve permitir experiências estimulantes de um corpo eficaz, com condições afetivas e ambientais, onde se possam realizar movimentos livres, divertidos, criando, brincando, compartilhando emoções e participando de jogos sociais. No entanto, por razões de segurança, certos limites, como não machucar a si e aos outros e preservar o ambiente e os objetos são impostos às crianças com autoridade e sempre considerando a afetividade nas relações corporais, por meio de ações de pertencimento, acolhimento e aceitação, evitando, assim, sobrecargas emocionais.

    Deve-se construir um referencial de segurança e permissividade (sem juízos de valor) dentro de limites, pois movimento é, acima de tudo, uma manifestação típica do psiquismo e, portanto da inteligência. O corpo é o instrumento pelo qual a inteligência é construída, bem como o corpo é a sede das reações emocionais que unem o sujeito ao seu grupo.

    Dessa forma, o sujeito desenvolve seus elementos psicomotores – esquema e imagem corporal, tônus, coordenação global, motricidade fina, organização espaço-temporal, ritmo, lateralidade e equilíbrio –afastando-se do possível desenvolvimento dos transtornos – instabilidade e inibição psicomotoras, debilidade e dispraxia – e desenvolve habilidades funcionais para a vida diária.

    As formas simbólicas de manifestação e expressão corporais devem ampliar-se quantitativa e qualitativamente ao longo da vida, devendo-se impedir um desenvolvimento de corpos apenas com características normativas, mecanicistas, alienados, objetais, disciplinarizados, banalizados, moralizados, reduzidos ou submissos, sob ações de coação e coerção.

    É necessário que se tenha a oportunidade de envelhecer como seres socialmente ativos, exibindo a motricidade espontânea, disponível, autônoma e harmoniosa. Para tanto, deve-se desenvolver todas as dimensões do corpo dividas em dois polos: um consciente, estruturado e racional (do corpo como instrumento funcional e de conhecimento), e outro, inconsciente, fantasmático, projetivo e relacional (do corpo fantasmático e relacional, e social).

    É preciso, também, manter a espontaneidade e naturalidade dos movimentos a fim de evitar síndromes de debilidade motora, inibição, rigidez, tensões desnecessárias, desordem e instabilidade psicomotora, incoordenação, arritmia, desorganização práxica, sincinesias (incapacidade de individualização motora) e paratonias (incapacidade de descontração voluntária), pois uma debilidade motora pode estar associada a uma debilidade mental.

    O Educador Físico fará com que o sujeito não se fragmente, pois ele se oferece como elo de todos os aspectos que constituem um indivíduo: os aspectos psicomotores, cognitivos e sócio afetivos, uma vez que por Educação Física não se deve entender apenas o exercício muscular do corpo, mas também e principalmente o treinamento dos centros psicomotores pelas associações múltiplas e repetidas entre movimento e pensamento e entre pensamento e movimento (OLIVEIRA, 2012).

    Ele deve adotar uma postura de observação, respeito, aceitação e intervenção, que leve à emancipação do sujeito por meio de atitudes revolucionárias e transformadoras num ambiente socioafetivo, solidário, participativo e colaborativo, que propicie o desenvolvimento da autonomia social e intelectual, da ética, da justiça e dos direitos humanos. A motricidade deve estar integrada ao conhecimento. Nesse ambiente o educador físico é a referência.

    Esse corpo desenvolvido globalmente desde sua concepção propicia maior autonomia ao sujeito em suas atividades diárias como trabalhos, estudos, esportes e lazeres. O sujeito, com suas capacidades corporais potencialmente desenvolvidas, têm também maiores possibilidades de afastar-se de situações de estresse e depressão.

    Por meio de um trabalho psicomotor de qualidade na infância, pode-se, então, proporcionar melhor qualidade de vida com um desenvolvimento corporal que possibilite a otimização e coordenação tempo-espaço-movimento e, consequentemente, maior exploração do mundo pelo sujeito quando adulto, visto que desenvolverá uma atividade motora mais racional e projetiva.

    Portanto, observa-se que o corpo é um esquema de representação incumbido de estruturar a experiência do mundo nos níveis consciente, pré-consciente e inconsciente, e, por isso maior atenção foi dada a um bom desenvolvimento psicomotor na infância. Mas, embora esta seja a melhor fase, a psicomotricidade pode ser desenvolvida da concepção à morte, sempre que se apresentar necessária à qualidade de vida do ser humano em toda excepcionalidade de seu ser.

Bibliografia

  • CONNOLLY, Kevin. Desenvolvimento motor: passado, presente e futuro. Revista Paulista de Educação Física, supl.3, p. 6-15, 2000.

  • FONSECA, Vitor da. Desenvolvimento Psicomotor e Aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2008.

  • __________. Psicomotricidade: filogênese, ontogênese e retrogênese. Rio de Janeiro: Wak, 2009.

  • GONÇALVES, Fátima. Psicomotricidade & Educação Física: quem quer brincar põe o dedo aqui – A utilização das linguagens do movimento como suporte na formação psicomotora de crianças da Educação Infantil e Fundamental I. São Paulo: Cultural RBL, 2010.

  • GORETTI, Amanda Cabral. A Psicomotricidade. Centro de Estudo, Pesquisa e Atendimento Global da Infância e Adolescência. Disponível em: http://scholar.googleusercontent.com/scholar?q=cache:Xi0oaridfAQJ:scholar.google.com/+%22A+Psicomotricidade%22+Goretti&hl=pt-BR&as_sdt=1,5&as_vis=1. Acesso em: 3 Abr. 2012.

  • LE CAMUS, Jean. O corpo em discussão: da reeducação psicomotora às terapias de mediação corporal. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.

  • OLIVEIRA, José Eduardo Costa de. Atividade física e sociedade contemporânea. Lecturas: Educación Física y Deportes (Buenos Aires). Año 17. v. 168, p. 1-15, 2012. http://www.efdeportes.com/efd168/atividade-fisica-e-sociedade-contemporanea.htm

  • SILVA, Daniel Vieira da. Psicomotricidade. Curitiba: IESDE, 2006.

  • WILLRICH, Aline; AZEVEDO, Camila Fatturi de Azevedo; FERNANDES, Juliana Oppitz Fernandes. Desenvolvimento motor na infância: influência dos fatores de risco e programas de intervenção. Revista de Neurociência, v. 7, p. 51-56, 2009.

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