O momento ‘transição defensiva’ no futsal. Uma abordagem através da periodização tática El momento ‘transición defensiva’ en el futsal. Un abordaje desde la periodización táctica |
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Treinador da ADESP FUTSAL de Santa Catarina Especialista em Atividade Física, Desempenho Motor e Saúde pela UFSM (Brasil) |
Lewis Maté Heineck |
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Resumo Sendo o futsal uma modalidade já afirmada no cenário mundial enquanto desporto de rendimento, apresentando elevada evolução técnica e tática ao longo dos últimos anos, necessita-se cada vez mais de discussões envolvendo a modalidade, que engrandeçam e produzam conhecimento para a mesma. O presente estudo discute acerca de um momento do jogo extremamente importante em qualquer desporto coletivo de rendimento, a transição defensiva (TD), seus princípios e sub-princípios. A análise desse momento é realizada utilizando os princípios metodológicos de um modelo de jogo alicerçado de acordo com a Periodização Tática (PT), que consiste em uma nova metodologia do treinar/periodizar, intimamente ligada e contextualizada de acordo com a modelação do jogar da equipe, e não pautada somente em valências físicas. Através dessa análise, espera-se que a discussão do referido estudo possa subsidiar e instigar profissionais sobre essa nova metodologia de periodização, que apesar de mais difundida no campo, pode perfeitamente ser aplicada ao futsal. Unitermos: Periodização. Futsal. Metodologia. Transições.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 192 - Mayo de 2014. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Partindo da premissa de que toda equipe de desporto coletivo deve manter um equilíbrio ótimo entre seus momentos de jogo – organização ofensiva e defensiva / transições ofensiva e defensiva – confronta-se isso com a complexidade de levar esse referido equilíbrio para um modelo de jogo e a posterior ao treinar/jogar, para que se possa otimizar o rendimento das equipes nessas situações.
Fracionar o treinar de forma que não haja conexão entre esses momentos é um erro comum e que afeta o rendimento final quando trata-se de uma postura ótima e sistêmica de uma equipe. Não estamos aqui a defender a eficácia maior de determinado método, pois como citado por Oliveira e Casarin (2010) – “O treinar do futsal torna-se um processo muito complexo na medida em que permite que as mais variadas concepções conduzam de forma igualmente favorável ao sucesso desportivo”.
O periodizar é aspecto essencial para que uma comissão técnica consiga colocar em prática seus objetivos enquanto equipe, e para que a equipe molde seus comportamentos em função do que é determinado previamente.
Existem na literatura diversas formas que balizam o treinamento ao longo dos anos, iniciando na forma clássica ou analítica, em que toda a temporada competitiva é organizado em cima de funções físicas, como cargas, volume, intensidade, isolando completamente a parte física do jogar e suas demais nuances (Oliveira e Casarin, 2010).
Na seqüência desse método, surgiu o que hoje chama-se de treinamento integrado, um termo que segundo Losa et al (2006) já está quase desgastado de tanto uso, ainda que quase sempre, escassa, ambígua e superfluamente abordado. Escasso porque a questão não é que tenha que incluir percepção, decisão, etc., mas sim que os estímulos, podendo ser maiores ou menores, devem ser sempre específicos do jogo. Ambíguo porque uma coisa é treinar com bola e outra absolutamente distinta é treinar futebol. Por último, supérfluo porque a prática sempre surgiu e surgirá da teoria prévia e profundamente organizada, e neste caso quase sempre a proposta foi directamente prática. Para Oliveira et al (2006) tal como é normalmente utilizado o treino integrado não rompe verdadeiramente com a lógica da “norma de treinar”. O “treinar com bola” serve apenas como um meio de simular o treino físico, e não como um imperativo para operacionalizar o modelo e os princípios de jogo que se querem para a equipa.
Dessa forma, o fracionar do treinar acaba parcelando em demasia as ações do jogo, visto que o desporto coletivo verte através de sua “Natureza inquebrantável do jogar”, ou seja, não há como separar de forma efetiva as dimensões físicas, mentais ou técnicas durante uma partida, não havendo necessidade de aplicar isso na construção de uma temporada.
Em decorrência desses processos e de uma visão diferente com relação ao treinar e jogar, uma idéia mais global, ampla, alargada parece demonstrar realmente as verdadeiras características desse desporto. Precisamente em Portugal ao longo dos últimos anos surgiu uma metodologia que ultrapassou essas tendências citadas acima e começou a intrigar, confundir e apaixonar o ambiente futebolístico, e posteriormente todos os Jogos Esportivos Coletivos. Apelidada como “Periodização Táctica” (PT) a abordagem é preconizada e defendida por treinadores de atual renome internacional, e cresce em diferentes modalidades como o Futsal (Oliveira e Casarin, 2011).
A Periodização Tática determina quatro momentos básicos para o jogo, sendo eles as Organizações: Ofensiva e Defensiva e as Transições: Ofensiva e Defensiva. Entende-se por Organização Ofensiva e Defensiva as ações comportamentais realizadas quando em posse de bola visando chegar ao gol adversário, e quando em ausência de posse, evitando que o adversário chegue gol defendido. Por transições, entende-se as ações realizadas quando em perda de posse de bola no ataque e a forma como procede para a recuperação da mesma, e quando em recuperação de posse, a forma como procede para chegar ao gol contrário (SILVA, 2008).
Acerca dessa afirmação, a literatura apresenta diversos estudos fundamentando o contra-ataque, ou, a transição ofensiva como fator determinante em incidência no jogo e no número de gols marcados no futsal em alto nível (Marchi et al 2010; Santana e Garcia, 2007; Fukuda e Santana, 2012; Istchuk e Santana, 2012).
Se uma equipe bem organizada em sua transição ofensiva constrói diversas chances de marcar gols, conclui-se que uma equipe bem estruturada e organizada em suas transições defensivas pode neutralizar ou diminuir drasticamente a chance de sucesso da equipe adversária.
Dessa forma, o presente artigo tem como finalidade abordar essa diferente metodologia do treinar, relacionando-a com a modalidade futsal, algo escasso em nossa literatura, além de analisar um dos momentos cruciais do jogo do futsal, a transição defensiva (TD), sua possível relação com os demais momentos do jogo e apresentar opções de discussão em seus princípios e sub-princípios, que podem prejudicar ou otimizar o treinar desse momento. Espera-se com isso instigar os profissionais da modalidade a pesquisarem esse novo método do treinar, visualizando seus respectivos modelos de jogo dentro desse âmbito estrutural.
Desenvolvimento
Quando aborda-se o tema princípios, sub-princípios e sub-princípios dos sub-princípios, estamos falando sobre a base sustentadora do modelo de jogo adotado pela comissão técnica. Dentro dessas classificações, o objetivo é de que através desse “fracionar integrado” consiga-se inserir a mentalidade da comissão técnica em todo atleta da equipe que os mesmos comandam. Esse é um dos fatores que a distingue das demais metodologias, sendo que sem sua correta compreensão e seu correto domínio durante a operacionalização não existe periodização tática (TAMARIT, 2007).
Os princípios são “contornos gerais da identidade de jogo própria (macro)”, os sub-princípios são “as partes intermédias que suportam e dão corpo a essa identidade (meso)”, os sub-princípios do sub-princípio são “aspectos referentes aos pormenores a priori desconhecidos, pois surgem pela dinâmica do processo e emergem sobredeterminados pelos níveis de maior complexidade, ainda que sem perda de identidade (micro)”. É por meio desses princípios de jogo que o treinador vai modelar o jeito de jogar da sua equipe, através da organização dos comportamentos dos jogadores e da equipe, com o objetivo de interação entre eles nos vários momentos do jogo, a fim de condicionar a forma de jogar e resolver problemas (GOMES, 2008).
No presente estudo, serão trabalhados alguns princípios e sub-princípios elencados acerca do momento “transição-defensiva”, visando esclarecer um pouco mais essa nova metodologia do treinar/jogar e sua utilização.
Princípios e sub-princípios metodológicos para uma boa transição defensiva
Uma boa transição defensiva é a melhor arma para um possível erro no ataque, visto que o objetivo principal é marcar mais gols que o adversário, porém, não tomá-los também possibilita evitar um resultado negativo.
O jogo de transição ocorre quando as equipes se encontram em mudança de atitude, isto é, migram da função ofensiva para a defensiva por um lado e da defensiva para a ofensiva por outro (Chaves Chaves e Ramírez Amor, 1998). Isso nos permite afirmar, que uma TD bem executada dentro de seus princípios e sub-princípios auxiliará a equipe n tentativa de evitar o gol adversário, pois exigirá que o ataque contrário esteja também organizado de forma a penetrar na formação defensiva proposta.
Abordaremos assim alguns princípios e sub-princípios que exemplificam a utilização da PT como forma de treinar e analisar os momentos do jogo.
Ataque como primeiro momento da transição defensiva
Um ataque agressivo onde todos os jogadores objetivam marcar o gol nem sempre é um ataque com garantias fiéis de sucesso, visto que pela elevada dinâmica que o jogar do futsal apresenta, torna-se muito complexo dissociar os momentos do jogo e fracioná-los para operacionalização durante a partida. Isso impede de que somente uma organização ofensiva isolada de outros momentos do jogo seja decisiva.
Sendo assim, é necessário pensar em uma eventual preparação defensiva já ao treinarmos manobras dentro da organização ofensiva de uma equipe. Deve-se encarar a transição defensiva como um momento chave do jogo, e estruturá-la tendo sua origem ainda em nosso ataque (GARGANTA, 2007).
Através da análise do jogar de uma equipe, encontram-se diversas variáveis que se não controladas, podem vir a comprometer o desenvolvimento de uma boa execução de movimentos relacionados à atitude defensiva na perda de posse de bola. Ao discorrer sobre o princípio de o ataque ser o primeiro momento da transição defensiva, tem-se por objetivo organizar a equipe ofensivamente de forma que sempre haja um equilíbrio defensivo em caso de insucesso na manobra determinada.
Do ponto de vista da complexidade do jogo, não é possível abordar as nuances da transição defensiva sem levar em conta o ato de transicionar ofensivamente do adversário. Nesse caso, serão abordadas as situações de transição ofensiva em superioridade numérica.
Em uma transição ofensiva (TO) equilibrada e acelerada dificilmente permitirá que a equipe avance seus 4 jogadores de linha na busca do gol. Uma superioridade de 4x3, por exemplo, não permite uma aceleração elevada desse momento, pois a defesa consegue através da ocupação de espaços, retardar a velocidade do ataque. Uma manobra de 4x2 já permite uma superioridade maior, porém ambas, sem nenhum equilíbrio defensivo em caso de perda de posse na transição.
As situações de T.O mais encontradas no futsal são as de 3x2 + G e 2x1 + G, quando a defesa equilibrada, e situações de 3x1+G ou 2xG em uma abordagem mais desequilibrada da defesa (Andrade Junior, 1999).
Em cima da T.O do adversário é que se pode prever ou treinar uma equipe para neutralizar ou, em caso de superioridade, proporcionar ao goleiro o melhor ângulo de defesa, objetivando que o atleta adversário finalize de uma área teoricamente menos perigosa da quadra.
Partindo da análise de que as situações de 3x2 + G e 2x1 + G são as que permitem a uma equipe que igualem através do goleiro o número de atletas envolvidos na ação, trataremos o primeiro princípio da TD (ataque como primeiro momento) como uma ação onde deve-se privilegiar o sub-princípio da “manutenção de dois jogadores em posição de cobertura defensiva”.
Isso não significa que as manobras de ataque das equipes necessitam ser estáticas e objetivando somente a preocupação em manter 2 jogadores atrás da linha da bola. Esse sub-princípio tem por objetivo garantir que em caso de insucesso em marcar o gol, a equipe esteja pronta para repelir e neutralizar qualquer ação contrária ao seu gol.
Pode ser realizado com 2 atletas recuados em relação à linha da bola, ou 1 recuado e outro na zona intermediária da linha ofensiva, para que a equipe possa sempre impor mais dificuldades à transição ofensiva adversária e tentar igualar numericamente através do goleiro, diminuindo a chance de sucesso do adversário.
Retorno defensivo imediato à perda de posse
Nessa mesma linha de raciocínio, discorrendo sobre uma organização ofensiva com manobras que privilegiem uma cobertura defensiva para auxílio transicional, aborda-se o próximo princípio e sub-princípios da TD: O retorno defensivo imediato a perda de posse, e a rápida troca de comportamento / tomada de decisão.
Lozano Cid e colaboradores (2002), Santana (2004), Silva e Calado Filho (2005) apud Istchuk e Santana (2002) explicam que os principais fundamentos táticos desse momento do jogo (TD) são o retorno defensivo e a temporização. O retorno defensivo acontece quando os jogadores à frente da linha da bola correm em direção à sua meta ou campo defensivo. A temporização é a atitude defensiva de quem está atrás da linha da bola de não se decidir nem por atacá-la, nem por retornar velozmente. Isso tem o objetivo de retardar o ataque adversário e permitir que os jogadores atrás da linha da bola retornem a tempo para participar da defesa.
Encontramos ainda outras abordagens na literatura como a perseguição e a pressão na bola. No primeiro caso, se trata da atitude de quem está à frente da linha da bola de perseguir o atacante que a tem. No segundo, trata-se da atitude imediata de quem está atrás da linha da bola de ir ao seu encontro pressionando-a a fim de provocar um erro, atrapalhar o contra-ataque e, até mesmo, recuperar a bola (Santana, 2008) (Fonseca e Silva, 2002; Istchuk e Santana, 2012).
Ao se comparar as atitudes de quem está atrás da linha da bola na transição defensiva, é plausível afirmar que a temporização seja menos complexa e segura do que a pressão na bola, pois enquanto a primeira exige do jogador posicionar-se entre a sua meta e o atacante simulando atacar a bola ao mesmo tempo em que recua, a segunda exige mais variáveis: pressionar (a) o atacante que tem posse de bola a fim de impedir que este desenvolva suas ações livremente, (b) o atacante sem posse de bola, para dissuadi-lo a não receber a bola e (c) as linhas de passe para, efetivamente, interceptar a bola (Chaves Chaves e Ramírez Amor, 1998; Santana e Istchuk, 2012).
Analisando o princípio do retorno defensivo como aspecto isolado, o mesmo caracteriza-se por um sprint na maior velocidade possível tentando ultrapassar a linha da bola e auxiliar a defesa (Lozano Cid e colaboradores, 2002). Essa abordagem analítica pode ser interpretada de que o retorno é o simples ato de correr para sua quadra de defesa.
Sendo assim, o que diferencia uma equipe de outra em relação à TD é a rápida troca de comportamento, passando de um ataque mal-sucedido para uma tentativa de evitar o gol adversário. Essa troca de comportamento veloz, é um sub-princípio do retorno defensivo, e consiste não somente o jogador envolvido na ação de perda de posse de bola retornar rapidamente para sua quadra defensiva, mas sim, a criação de um hábito comportamental de toda a equipe, executando de forma rápida e clara as ações que visam interceptar o ataque adversário.
Após essa troca de comportamento para um retorno defensivo eficaz, entra a ação dos jogadores posicionados como cobertura defensiva, que serão os responsáveis por retardar o máximo a T.O adversária de forma que possibilite a chegada dos jogadores envolvidos na perda de posse de bola. Esse sub-princípio é conhecido como “temporização”.
A temporização é a atitude defensiva de quem está atrás da linha da bola de não se decidir nem por atacá-la, nem por retornar velozmente. Isso tem o objetivo de retardar o ataque adversário e permitir que os colegas que retornam cheguem a tempo para participar da defesa (Lozano Cid e colaboradores, 2002; ISCHUK e SANTANA, 2012).
Um treinar/jogar que contemple esses aspectos, a rápida troca de comportamento, seguida de uma temporização previamente determinada, auxilia em grande parcela a ação transicional defensiva de uma equipe. A partir disso, elaboram-se estratégias e manobras com o intuito de neutralizar os principais pontos fortes do adversário nesse momento do jogo.
Percebe-se que todas as situações, mesmo como fractais, participam ativamente entre si, reforçando a idéia que a PT defende, a sistematização de ações em diferentes momentos do jogo sempre respeitando a natureza inquebrantável do jogar (OLIVEIRA e CASARIN, 2011).
Ações em inferioridade numérica
Complementando os dois primeiros princípios e sub-princípios da T.D, percebe-se uma derradeira ação que complementa e caracteriza esse momento, que são as ações em inferioridade numérica. Em ações de TO adversária com mesmo número de jogadores (1x1,2x2,3x3) acontece o confronto individual, sem desvantagem numérica da equipe defensora e com a presença do goleiro em caso de situação de desequilíbrio possivelmente gerada pelo ataque. Já nas ações de desvantagem numérica acontece o momento mais importante da TD, ou seja, de que forma ocupar os espaços para que o adversário mesmo em superioridade tenha bastante dificuldade em marcar o gol.
Segundo Castelo (1994) o processo ofensivo começa mesmo antes da recuperação da posse de bola devendo os jogadores estarem mentalmente preparados para a ação ofensiva, o que significa que uma equipe deve comportar-se de forma exata, treinada, mesmo desequilibrada defensivamente.
No princípio da TD: “ações em inferioridade numérica” pode-se elencar como sub-princípios para uma melhor análise os comportamentos de “isolar o pé-dominante do adversário em posse de bola”, movimento no qual busca-se que a ação ofensiva seja tomada pelo mesmo porém através de seu lado não dominante. Além desse, pode-se utilizar o sub-princípio do ”goleiro como igualador numérico”, ação que privilegia um comportamento previamente definido, em que induz-se o atleta adversário através do fechamento de determinada linha de passe para uma área da quadra de ataque que dificulte em parte a situação de 1xG para a equipe atacante.
Em ambos os sub-princípios ocorre uma ação preventiva, ou seja, a equipe sempre estará em desvantagem numérica, o que pressupõe uma chance maior de sucesso para o adversário. Nesse caso, atletas ambidestros e equipes com ótimos finalizadores em situações de 1xG terão vantagem sobre a equipe defensora. Porém, na ausência dessas qualidades coletiva ou individual, a defesa terá grandes chances de sucesso na em sua T.D.
Parafraseando Garganta (2007), não trata-se aqui de segmentar ou fragmentar o jogo em elementos, fazendo com que a divisão empobreça o contexto geral do jogar, mas de entretecer os elementos principais desse momento do jogo, a TD, de modo a criar cenários de organização de treinamentos que contenham o gérmen do jogo e que reproduzam as restrições particulares de uma equipe, nas mais diferentes situações.
Conclusão
Através desse estudo, procurou-se relacionar a modalidade de futsal com uma nova metodologia do treinar chamada de Periodização Tática. Por ser muito mais utilizada no Futebol, ainda caminha-se a passos pequenos para que a mesma seja incorporada no dia a dia de nossa modalidade.
Em momento nenhum o presente trabalho teve por objetivo afirmar que essa metodologia é a melhor, mais correta e que apresenta melhores resultados, porém, acredita-se que através dessa forma de organização do treinar/jogar, podemos construir “fractais” do jogo que se complementam a todo momento, permitindo uma análise muito mais detalhada do treinar, para consequentemente operacionalizarmos otimamente o nosso jogar. Sendo assim, a PT torna-se uma alternativa de periodização, respeitando as demais formas de trabalho, porém inserindo-se no meio esportivo através de argumentos convincentes da maneira de estruturar uma temporada valorizando o jogar, e não valências secundárias.
Também foi possível através do presente estudo abordar um momento crucial dos esportes de rendimento, e não diferente no futsal: A transição defensiva, através de alguns de seus princípios e sub-princípios. Nesse ponto, uma importante ressalva é de que os princípios e sub-princípios decorrem sempre do modelo de jogo adotado pela comissão técnica, e nesse caso, foram elencados alguns como forma de exemplificação estrutural, ficando a cargo de cada comissão técnica definir os seus princípios e sub-princípios de acordo com o modelo de jogo de sua equipe.
Esse ponto é de suma importância pois não há como, na natureza inquebrantável do jogar, dividir de forma analítica os momentos do jogo, visto que o futsal é uma modalidade extremamente dinâmica com constante interação entre ataque e defesa. Isso aplica-se também ao treinar, onde não há como dividir treinamentos para cada princípio e sub-princípio isolado, devendo assim a comissão técnica ter uma clareza e um domínio extremo do modelo de jogo da equipe, para posteriormente, montar treinamentos que contemplem essas ações fracionadas que ao mesmo tempo se complementam.
Essa pequena abordagem de um momento do jogo, demonstra como, através da PT, pode-se fracionalizar os momentos do jogo de uma forma que ao unir todos os fractais, temos o momento completo, estudado e sem perder a essência.
Para os profissionais da área, espera-se através desse, que as discussões e estudos dêem uma credibilidade cada vez maior ao nosso esporte, pois o mesmo possui particularidades exclusivamente próprias (momentos do jogo), assim como os demais jogos desportivos coletivos. Essas características e momentos que nos diferenciam de qualquer outra modalidade, merecem ser estudados com minúcia.
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TAMARIT, X. ¿Qué és La Periodización Táctica? Vivenciar el juego para condicionar el juego. MC Sports. Espanha, 2007.
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