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O invólucro feminino na contemporaneidade

La apariencia femenina en la contemporaneidad

 

Licenciado e Bacharel em Educação Física – Escola Superior de Cruzeiro – ESC 2013

Especialista em Metodologia do Treinamento Personalizado Instituto – AVM 2014

(Brasil)

Benedito Augusto Ferreira Ribeiro

meinodach@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O corpo feminino na contemporaneidade é investido de homogeneização estética. Parte desse processo é disseminado pelas diversas mídias, mas principalmente veiculado pela televisão. Muitas mulheres têm seus corpos manipulados por padrões midiáticos de beleza. Visualizam a participação em uma sociedade onde a virtude reside somente em pretensos dogmas corporais. Assim, o presente estudo utiliza literatura específica para discorrer sobre as influencias na aparência da mulher contemporânea.

          Unitermos: Corpo. Homogeneização corporal. Contemporaneidade.

 

Resumen

          El cuerpo femenino se inviste en la homogenización estética contemporánea. Parte de este proceso es difundido por diversos medios de comunicación, pero sobre todo se transmite por la televisión. Muchas mujeres tienen sus cuerpos manipulados por estándares mediáticos de la belleza. Visualizan su participación en una sociedad donde la virtud reside sólo en dogmas corporales supuestos. En este sentido, este estudio utiliza la literatura para analizar los factores que influyen en la apariencia de la mujer contemporánea.

          Palabras clave: Cuerpo. Homogeneización corporal. Contemporaneidad.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 192 - Mayo de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O corpo feminino ao longo da história humana foi alvo da admiração de artistas de vários segmentos. Pintores, escultores, poetas, o homem comum, buscavam retratar ou mesmo atribuir significado ao que veneravam. Foram épocas em que a estética não estava vinculada a alguma marca, ou mesmo por assim dizer a alguma grife ou padrão estético midiático. “Em todas as culturas a mulher é objeto de desejo” (DEL PRIORE, 2009, p 14).

    Época em que a obesidade não era considerada doença, nem tão pouco tratada como questão de saúde pública. Mulheres obesas eram respeitadas como sinônimo de fecundidade, saúde e perpetuação da família. Nesse momento específico da história humana, o corpo feminino com quadris largos não atraia olhares discriminatórios, antes disso, os olhares eram de admiração. “Uma breve passagem pela história da arte revela que a Renascença valorizava mulheres de corpo farto, quadris grandes e abdomens avantajados”. (FERNANDES, 2006).

    A estética feminina em outrora era investida de sentimento ligado à constituição da família. O zelo familiar enaltecia o corpo feminino naqueles tempos. Mulheres desde muito novas eram ensinadas a ser submissas a seu pai e ao esposo, mesmo que para isso tivessem seus objetivos colocados em segundo plano. A celula mater, por assim dizer era efetivada no corpo feminino, em sentido amplo e inexorável.

    Diante de afazeres domésticos e dos apelos da procriação da espécie, o corpo feminino foi sendo moldado/ manipulado, um corpo neutralizado pelas imposições da sociedade, o que efetivou – se em submissão. Esse corpo exibia o retrato social da discriminação e preconceito entre gêneros durante aquele momento. A história desse fenômeno possui um revés no que concerne ao novo paradigma do corpo feminino. “O corpo está em alta cotação, alta frustração”, Fernandes (2011).

    Na era atual, grandes investimentos industriais são realizados para tornar o corpo da mulher um verdadeiro objeto de desejo. Freqüentemente é observado o interesse de indústrias especializadas em explorar as diversas possibilidades no concorrido mercado da beleza e cuidados estéticos. “O que a publicidade divulga é essa jovialidade que todos querem acompanhar, mas nem sempre conseguem” (GARCIA, 2005, p. 45).

1.     Transformação: O Antes

    Na contemporaneidade, sucesso e fracasso femininos passam pela possível obtenção de um corpo investido de beleza. Neste quesito, o mercado produtor possui a capacidade de disseminar o que atualmente se convencionou a chamar de transformação. A mulher comum ao visualizar as possibilidades estéticas de melhora de sua aparência, engendra como conseguir acompanhar as novas tendências corporais. Assim, o universo feminino é movimentado pelas indústrias de cosméticos, da alimentação, das cirurgias estéticas, da moda, do fitness e, para tal sensibilização desse público, o mercado se – utiliza do aparato midiático, a fim de introduzir e consolidar novos hábitos de consumo para este segmento. Garcia (2005) fala: “as armadilhas midiáticas são organizadas para capturar os consumidores desavisados, cujos simbolismos seduzem apelando ao superficial”.

    A mulher atualmente possui grande parte de seus anseios voltados aos cuidados corporais. Ciente de seu importante papel na sociedade, muitas buscam incessantemente integrar o rol do sucesso profissional e doméstico, ao possuírem corpos dignos de veneração por onde quer que transitem. Dentro desse duplo imperativo, acabam exibindo uma inevitável homogeneização corporal, onde ser bela pode ser encarado atualmente, em sempre estar magra, sempre de dieta e sem curvas.

    No início do século XXI, somos todas obrigadas a nos colocar a serviço de nossos próprios corpos. Isso é, sem dúvida, uma outra forma de subordinação. Subordinação, diga – se, pior do a que se sofria antes, pois diferentemente do passado, quando quem mandava era o marido, hoje o algoz não tem rosto. É a mídia. (DEL PRIORE 2009, p. 15)

    O corpo feminino sofre intensa manipulação da indústria da beleza, uma vez que para vender seus produtos acabam utilizando como argumento de venda o feio e o fracasso. Nesse contexto, o jogo midiático explora o sentimento de sucesso em consumir determinado produto ou serviço. Sucesso e fracasso, facetas habilmente reforçadas pelas indústrias voltadas ao publico feminino. Para tanto, o corpo feminino comum deve estar constantemente se readequando aos novos padrões de aceitabilidade social. “Não é o caso de se contentar com o corpo que se tem, mas de fazer o que se bem entende dele” (Le Breton, 2003).

    Observa-se que muitas modelos possuem seus corpos esculpidos para vender determinados produtos, mesmo que a aparência veiculada seja habilmente tratada por modernas técnicas de computação gráfica. “E as pobres mulheres incautas, do outro lado do anúncio, acreditam piamente nessa beleza, incorporam – na como desejável, natural e possível, querem – na para si” (MORENO, 2008, p. 12).

    Dentro desse ciclo de consumo e frustração, de imagens fantasiosas e reais, surgem grandes secreções de modelos corporais a serem absorvidos pelo publico feminino. Como diz Garcia (2005), “acreditamos estar diante de uma deusa da beleza, quando, de fato, ela é o resultado de excelentes efeitos tecnológicos, de maquiagens, vestuário, iluminação, onde cada vez mais é tudo falso”.

    A indústria da beleza obrigatoriamente não possui apenas a pretensão de elevar os lucros, mas de fidelizar suas potencias clientes, o que pode ser avaliado ao visualizar principalmente as campanhas publicitárias na televisão, trata – se do amplo reforço que é atribuído ao construir ou comprar o corpo belo atualmente.

    A mudança e inserção de hábitos, quase sempre esta amparada nos temores de seus potenciais consumidores. O medo de envelhecer, a crescente preocupação com a obesidade, infelicidade nas relações sociais, pobreza material, insucesso profissional, doenças. O terreno é fértil e lucrativo quando o assunto é o corpo desse consumidor. Neste quesito, as alterações corporais encontram feedback nos temores psicológicos, descritos acima, são habilmente explorados nos diversos tipos de mídia visualizadas atualmente. (RIBEIRO, 2013, p 9, grifo do autor).

    A efetivação da ligação entre o corpo da mulher comum e o objeto de consumo, se da através da mídia. Por sua vez, esta se utiliza de celebridades, esportistas, artistas famosas, todas eleitas com indiscutível perfeição corporal, alimentando assim, o ciclo consumista. “Consumidores” e “objetos de consumo” são polos conceituais de um continuum ao longo do qual todos os membros da sociedade de consumidores se situam e se movem de um lado para o outro diariamente (BAUMAN, 2009, p. 18).

    O corpo feminino é investido de desejo, que traduz e reforça a inserção progressiva e inevitável de produtos e hábitos de consumo. Embora a satisfação esteja e seja o caminho a alcançar, a frustração também é utilizada para manter o vínculo entre o consumidor e o objeto de consumo. “Ferramenta eficaz, capaz de provocar inesperadas ações de consumo, o corpo do consumidor também passa a ser contornado, controlado como estratégia parta atingir o “outro”“. (GARCIA, 2005, p 51).

    A diversidade corporal que havia sido retratada em outrora, cede espaço aos padrões de cabelos loiros e lisos, aos seios siliconados, de corpos habilmente esculpidos cirurgicamente. Parece que grande parte delas está disposta a realizar ilimitadas intervenções corpóreas e, cada vez mais o corpo feminino torna – se homogêneo, a mulher vai perdendo os traços que a individualizam. (DEL PRIORE, 2009).

    O que importa para uma grande parte das mulheres é ostentar a beleza. Então, a indústria explora este filão ao desenvolver diversos aparatos tecnológicos para intermediar a relação entre o corpo possível e o corpo idealizado como perfeito. No meio deste complexo sistema de frustração e sucesso corporal, as técnicas evoluem para abarcar a maior parcela feminina inconformada com a aparência. Repetir fórmulas, pedir opiniões e estar constantemente preocupada em exibir a beleza, são alguns imperativos tradutores das mulheres na contemporaneidade e, ao perceber e reforçar estas preocupações, a indústria da modificação corporal aproveita-se deste mercado consumidor.

    A cirurgia estética passa por um desenvolvimento considerável, aumentado por esse sentimento de maleabilidade do corpo. Sua transformação em objeto a ser modelado [...] Neles se vêem o rosto, ou o fragmento de corpo a ser modificado, e o resultado depois de efetuado a operação. Transmutação alquímica do objeto errado. Na gama das intervenções, o cliente escolhe a que proporcionará ao seu rosto ou ao seu corpo a forma que lhe convém. Seios cheios de silicone, modificados por prótese ou remodelados, vários tipos de liftings do rosto, lábios constituídos por injeções, lipoaspirações ou retalhamento da barriga ou das coxas, cabelos repicados, implantes subcutâneos para induzir as medidas físicas desejadas etc. (LE BRETON, 2003, p. 29, 30).

2.     Corpo Transformado: O Depois

    De acordo com Moreno (2008), a mulher brasileira em meio às muitas dificuldades, cada vez mais chefiam as famílias, sendo responsáveis por seu sustento. Estão presentes: no trabalho, nos esportes, na política, nos espetáculos, acumulando funções e tarefas domésticas (pois junta-se o trabalho doméstico com o trabalho de carteira assinada), estudam quatro anos a mais do que a média da população.

    Não bastasse a dádiva de gerar filhos e possuir a função de perpetuar a espécie humana, a mulher moderna tem de tornar a mulher perfeita. Deve ser a amante perfeita para seu parceiro, mãe devotada à educação dos filhos, preocupada com a arrumação da casa. Todos estes imperativos fazem parte do cotidiano de milhões de mulheres. Entretanto, na contemporaneidade há a preocupação indubitável com a beleza.

    Esticadas entre uma identificação passiva e materna e outra ativa e fálica, as mulheres vão tentando lidar com o excesso que caracteriza as demandas do seu cotidiano. Resulta daí um verdadeiro acúmulo que exige uma elasticidade nunca antes sequer possível de ser imaginada. Se a necessidade de perseguir ideais constrói a trajetória cultural do ser humano ao longo do tempo, a trajetória das mulheres nos permite constatar que, ao ideal de santidade e beleza, veio juntar-se também o ideal de sucesso, tão caro a nossa cultura pós-moderna. (FERNANDES, 2006, grifo do autor).

    É inegável a influência da mídia na formação da opinião dos consumidores, e freqüentemente ouve – se termos: “tal pessoa passou por uma transformação, nossa ela deu uma repaginada, tomou um banho de loja”. Todas estas expressões expõem o quanto à preocupação com a aparência toma o centro das atenções no cotidiano de quase todas as mulheres. Além disso, observa – se a preocupação quase neurótica com a gordura corporal.

    Nesse quesito, estar magra é associado a ser feliz e ter sucesso. O corpo feminino na contemporaneidade encontra – se em processo de reestruturação e, para tal tem a sua disposição uma infinidade de processos que vão desde cremes faciais até as cirurgias estéticas, não basta consumir e sim chegar ao ponto chave entre a aquisição do produto e a internalização do hábito o que é freqüentemente utilizado pela mídia.

    O invólucro feminino transformado é o resultado de incessantes bombardeios de novas concepções de beleza corporal, de novas expressões estéticas, elevando seu apelo coercivo. Se por um lado estar magra é sinal de sucesso, possuir uma bunda grande, coxas grossas e seios grandes também denotam uma espécie de sucesso. De um extremo ao outro, existem farturas de modelos corporais a seguir, o que de certa forma exibe os padrões sociais de belezas pré – configuradas a seguir. “O corpo toma a frente na cena social. Sua forma ou seu funcionamento é assunto freqüente nas conversas entre amigos, nas piadas contadas nas mesas de bar, nas novelas, no cinema, etc.”. (FERNANDES, 2011, p 17).

    De acordo com Del Priore (2011) “Antes, as mulheres queriam ser perfeitas donas de casa, hoje são escravas do corpo, a fonte de satisfação continua a mesma: ser um objeto de desejo masculino”. Embora a maioria não concorde com Del Priore (2011), mas não há total liberdade em relação a seus corpos, uma verdade inconveniente vem à tona, muitas são orientadas por padrões pré-estabelecidos, o que de certa forma é contraditório á suposta autonomia tão propagada pela mídia feminina.

Considerações finais

    O corpo da mulher assim como qualquer outro gênero, sofre massiva influência dos meios midiáticos. E esses fatores influenciadores geram desconforto e principalmente alteram a identidade feminina. Mulheres na contemporaneidade se vêem julgadas por supostos padrões corporais de aceitabilidade social. Deste modo, urge tentar compreender este fenômeno que ora ocorre na sociedade.

    As influências que possuem maior poder de absorção são as que são veiculadas principalmente pela mídia televisiva, aja vista seu poder de abrangência. É notório o quão distante estão as mulheres e seus corpos frente aos novos modismos corporais. Esforços são realizados para estarem dentro do que a mídia espera, ou seja, sempre magras, ou sempre com os glúteos empinados, seios siliconados, ao mesmo tempo disponíveis no universo de afazeres e preocupações da humanidade. “A vida numa sociedade líquido-moderna não pode ficar parada. Deve modernizar-se (leia-se: ir em frente despindo-se a cada dia dos atributos a data de vencimento [...]” (BAUMAN, 2011, p 9).

    A rotina de milhões de mulheres está atrelada ao que se convencionou a chamar de imperativos modernos, aliado às pressões por exibir-se sempre bela e jovem. O corpo feminino esforça-se por acompanhar os mais novos modelos corporais, mesmo que isso cause inevitáveis frustrações nessa busca. O desejo em obter outro status corpóreo exibe uma inversão de valores segundo Meucci (2012).

    Meucci (2012) complementa ao dizer que atualmente as pessoas são julgadas não por valores morais, mas pelo tipo de corpo que possuem. Nesse contexto contemporâneo é evidente que o corpo belo poderá ser usado como atributo ou critério de desempate, por exemplo, na busca por uma vaga de emprego.

    Portanto, permitam-me indagar: somos realmente capazes de controlar nossos corpos com mais rigor do que nunca? Ou será que, antes imposto como um dever obrigatório, inflexível e inalienável, esse controle sobre nossos corpos agora ocupa um lugar mais amplo do que nunca em nossas preocupações e consome mais energia do que nunca?

    A perplexidade exposta acima por Baumann (2011, p 117) nos dá idéia do clima vivido na sociedade líquida, assim, espera – se com os argumentos aqui elencados tentar compreender o complexo estado atual de coisas que ora operam no invólucro feminino na contemporaneidade. O corpo feminino, como dito pelos autores utilizados no presente artigo, deixa antever os processos desenvolvidos pelos meios produtores de sentido e, fica evidente que o corpo da mulher está em constante readequação aos ditos padrões de beleza.

    Mas como definir beleza? Ou como quantifica - lá? Como buscar meios que possam apontar ou mesmo dizer se uma pessoa é bela, e outra pessoa não?

    O que é a beleza é uma questão a ser analisada com calma, leva – se tempo para responder questões que permeiam a vida dos sujeitos e pode ser que ao final de uma grande tentativa de chegar a alguma conclusão, não encontremos nada, somente inquietações, nem mesmo arranhar a superfície do que seja a beleza. Assim, o presente artigo utiliza a pesquisa bibliográfica como fonte dos argumentos expostos e lança uma pequena luz na questão do invólucro feminino na contemporaneidade.

Referencias

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