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Introdução

    O treinamento de força é uma das modalidades de atividade física mais praticadas pela população em geral^4,7. Indivíduos de todas as faixas etárias fazem uso dessa modalidade para finalidades estéticas, preventivas e de condicionamento físico⁹. Dentre os objetivos do treinamento de força se destacam a hipertrofia muscular, a resistência muscular, a potência e força máxima⁷.

    A hipertrofia muscular e o aumento da força máxima são os resultados mais comuns relacionados ao treinamento de força^3,7,9, resultado obtido pela correta manipulação das variáveis do treinamento de força, como exercícios, volume, intensidade e métodos de treinamento. A vasta utilização de combinações de variáveis nos treinamentos tem sido muito utilizada por praticantes que adaptam tipos de sistema ou técnica⁴ e, então, fazem a aplicação de forma única e contínua durante longos períodos de treinamento.

    Os métodos de treinamento de força compõem uma categoria fundamental na modalidade, pois é através dele que será planejado a forma de execução dos exercícios e o desencadeamento das demais variáveis do treinamento ao longo da sessão de treino, em direção ao objetivo proposto pelo praticante.

    A manipulação adequada do treinamento pode garantir aumentos significativos nos componentes de força e hipertrofia muscular, enquanto o sistema continuar a apresentar estímulos de adaptação para o organismo¹⁰. Porém, a execução de treinamentos que não contam com a variabilidade podem vir a causar estagnação ou queda no desempenho dos componentes físicos estimulados¹².

    Por esse motivo é de fundamental importância que o Profissional de Educação Física tenha embasamento cientifico-teórico suficiente para adequação e ajustes no treinamento de força, respeitando objetivos e condições de cada praticante. Dessa forma cabe se atentar para os métodos de treinamento de força empregados, afim de obter uma variabilidade no treinamento que evite a estagnação, mas que ofereça estímulos em direção ao objetivo proposto pelo praticante.

    Dessa forma, o objetivo deste estudo foi identificar quais são os métodos de treinamento de força mais empregados por Profissionais de Educação Física nas academias da cidade de Campo Grande (Mato Grosso do Sul), e avaliar sua relação com o objetivo esperado como resultado do treinamento.

Materiais e métodos

    Participaram do estudo 11 academias da cidade de Campo Grande - MS com amostragem randômica por meio do registro no Conselho Regional de Educação Física da região, sendo ao menos uma academia de cada região urbana da cidade. Desta forma os Profissionais de Educação Física dessas academias foram convidados a participar da pesquisa. Os participantes assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, em conformidade com a resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde, e com aprovação do comitê de ética em pesquisa da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

    Os dados foram coletados por meio de um formulário aplicado em entrevista no qual o participante indicou quais os três objetivos mais procurados pelos praticantes para os quais prescreveram o treinamento de força nos últimos dois meses. Em cada um dos três objetivos foi solicitado que os participantes indicassem qual o principal método de treinamento de força que foi utilizado sob sua orientação.

Resultados

    Participaram do estudo 26 Profissionais de Educação Física (28,3±5,2 anos, 17 homens), sendo que cada um indicou quais foram os três objetivos mais solicitados nos últimos dois meses em seu local de trabalho, gerando assim 78 respostas ao todo. O objetivo de emagrecimento foi indicado como o principal objetivo por 14 Profissionais (54%), a hipertrofia muscular por 8 (31%), a saúde e qualidade de vida e o fortalecimento e reabilitação por dois profissionais cada (7,5%). A Tabela 1 indica a distribuição dos objetivos entre os participantes.

Tabela 1. Distribuição das respostas sobre os objetivos mais procurados.

	Emagrecimento N (%)	Hipertrofia muscular N (%)	Saúde e qualidade de vida N (%)	Fortalecimento e reabilitação N (%)	Total de respostas N (%)
1º*	14 (54%)	8 (31%)	2 (7,5%)	2 (7,5%)	26 (100%)
2º*	6 (23%)	14 (54%)	6 (23%)	0 (0%)
3º*	3 (11,5%)	5 (19%)	15 (58%)	3 (11,5%)

*Ordem e frequência de indicação dos objetivos

    A hipertrofia muscular foi o objetivo mais indicado de forma global nas 78 respostas, sendo que foi indicado como um dos três principais objetivos em 27 repostas (34,5%), seguido pelo emagrecimento e saúde e qualidade de vida, com 23 indicações cada (29,5%), e o fortalecimento e reabilitação com 5 indicações (6,5%).

    Cada objetivo indicado pelos participantes também acompanhou o principal método usado em sua prescrição de treinamento. Para o objetivo de emagrecimento o método mais utilizado foi o circuito (56,5%), para a hipertrofia muscular foi o método piramidal (82,5%), para o objetivo de saúde e qualidade de vida foi o método alternado por segmento corporal (39%), assim como o fortalecimento e reabilitação (60%). Esses resultados estão indicados da tabela 2 a 5.

Tabela 2. Métodos utilizados para o objetivo de emagrecimento.

Circuito N (%)	Alternado por segmento corporal N (%)	Piramidal N (%)	Supersérie N (%)	Total de respostas N (%)
13 (56,5%)	5 (21,5%)	3 (13%)	2 (9%)	23 (100%)

 

Tabela 3. Métodos utilizados para o objetivo de hipertrofia muscular

Piramidal N (%)	Drop set N (%)	Supersérie N (%)	Total de respostas N (%)
19 (70,5%)	5 (18,5%)	3 (11%)	27 (100%)

 

Tabela 4. Métodos utilizados para o objetivo de saúde e qualidade de vida.

Alternado por segmento corporal N (%)	Circuito N (%)	Série simples N (%)	Piramidal N (%)	Total de respostas N (%)
9 (39%)	8 (34,5%)	4 (17%)	2 (9,5%)	23 (100%)

 

Tabela 5. Métodos utilizados para o objetivo de fortalecimento e reabilitação.

Alternado por segmento corporal N (%)	Circuito N (%)	Total de respostas N (%)
3 (60%)	2 (40%)	5 (100%)

Discussão

    O objetivo de emagrecimento foi o mais atendido pelos participantes, o que se relaciona com buscas estéticas^1,7, mas também atende as necessidades de controle de peso corporal relacionadas com a saúde e longevidade^2,4. Normalmente os exercícios aeróbios são os mais indicados para o emagrecimento² enquanto estratégia isolada, mas atualmente o treinamento de força tem sido entendido como importante componente para esse fim^3,5. Dessa forma se tem o emagrecimento com redução significativa da massa gorda e conservação da massa magra, diferindo da estratégia com exercícios de manifestação predominantemente aeróbia.

    Para alcançar o emagrecimento, que nas academias atendem o modelo de redução da gordura corporal e conservação ou aumento da massa magra⁴, foi indicado o método de treinamento baseado em circuito. O método consiste na alternância de atividades de força⁴, podendo contar com estações baseadas em estímulo aeróbio¹². A característica desse método é a ausência de intervalos passivos⁸, dessa forma a intensidade geral da sessão de treino é menor. O segundo método mais utilizado foi o alternado por segmento corporal, no qual se realiza sequências de exercícios mudando o segmento corporal (membros inferiores, membros superiores e tronco). Nesse método o intervalo é curto, sendo realizado de forma passiva ao final de cada sequência de exercícios. Esses dois métodos contam com bibliografia para essa aplicação^6,10. O método piramidal e supersérie também foram indicados para essa finalidade pelos participantes, mas os autores apontam que sua utilização se associa com treinamentos para a hipertrofia muscular e aumento da força máxima^1,4,7,9.

    A hipertrofia muscular foi o segundo objetivo mais indicado pelos Profissionais de Educação Física. A bibliografia também aponta essa finalidade como estética, e altamente dependente de estímulos do treinamento de força^4,11.

    O principal método para a hipertrofia muscular foi o piramidal, que consiste na relação inversa de volume com intensidade, representados por repetições e carga. No método cada série conta com alteração, na pirâmide crescente existe o aumento da carga, relacionada com o percentual da uma repetição máxima, e diminuição das repetições realizadas; e na decrescente é realizada diminuição da carga e aumento das repetições em cada série⁴. O drop set¹⁴, segundo método mais utilizado para esse fim, acontece por redução da carga a cada série buscando o maior número de repetições máximas. Já a supersérie é a realização de dois exercícios de forma sequencial, sem intervalo entre eles. Pode ser feita em três modelos: exercícios para agonista e antagonista, para o mesmo grupo muscular, e para segmentos corporais, sendo nesse caso similar ao método alternado por segmento corporal.

    A busca por saúde e qualidade de vida, e por fortalecimento e reabilitação foram os objetivos menos atendidos, de acordo com a demanda nas academias estudadas. A busca por saúde e qualidade de vida é indicada como emergente para fitness, relacionada com a longevidade e sensação de bem-estar. Já o fortalecimento e reabilitação envolvem situações de traumas.

    Os três métodos mais utilizados para a saúde e qualidade de vida foram o alternado por segmento corporal (39%), circuito (34,5%) e série simples (17%). Isso concorda com a bibliografia^1,4,7,9,13, pois o treinamento de força deve buscar o estímulo neuromuscular com intensidades submáximas, sendo que séries simples, método baseado na realização de uma série para cada exercício, se relaciona com o período de adaptação ao treinamento e tendem a desaparecer do treinamento de força mais avançado. O método piramidal (9,5%) foi indicado para essa finalidade, o que não contam com embasamento para tanto.

    O fortalecimento e reabilitação foi atendido pelos participantes com os métodos alternado por segmento corporal (60%) e circuito (40%). Os dois métodos são indicados para os praticantes em geral e não apresentam limitações para essa finalidade, mas estudos também indicam o método série simples para essa finalidade².

Conclusões

    Os objetivos dos praticantes de musculação mais atendidos pelos Profissionais de Educação Física das academias de Campo Grande - MS são emagrecimento, hipertrofia muscular, saúde e qualidade de vida, e fortalecimento e reabilitação. Na prescrição do treinamento de força o método mais empregado para cada objetivo concorda com a bibliografia específica.

Referências

1. Aaberg E. Musculação biomecânica e treinamento. São Paulo: Manole, 2001.

2. ACSM. Diretrizes do ACSM para os testes de esforço e sua prescrição. 7ª. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007.

3. Borges LFC; Ide BN; Leitão MTK. Pausas longas e curtas entre séries no treinamento de força não afetam desempenho neuromuscular agudo. RBPFEX. 2013, 7, 353-359.

4. Bossi LC. Periodização na musculação. São Paulo: Phorte, 2009.

5. Candow DG; Burke DG. Effect of short-term equal-volume resistance training with different workout frequency on muscle mass and strenght in untrained men and women. Journal of Strenght and Conditioning Research. 2007, 21, 204-207.

6. Castinheiras Neto, AG; Silva NL; Farinatti PTV. Influência das variáveis do treinamento contra-resistência sobre o consumo de oxigênio em excesso após o exercício: uma revisão sistemática. Rev. Bras. Med. Esporte. 2009, 15, 70-78.

7. Ferreira BE. Exercícios de musculação: abordagem anatômica e funcional. Uberlândia: Edibrás, 2013.

8. Figueira Junior A; Douglas MP; Rosemari O. Influência de três intervalos entre séries no volume de treinamento com pesos. R. bras. Ci. e Mov. 2012, 20, 54-59.

9. Fleck SJ; Kraemer WJ. Fundamentos do treinamento de força muscular. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.

10. Gentil P; Oliveira E; Fontana K; Molina G; Oliveira RJ; Bottaro M. Efeitos agudos de vários métodos de treinamento de força no lactato sanguíneo e características de cargas em homens treinados recreacionalmente. Rev. Bras. Med. Esporte. 2006, 12, 303-307.

11. Lamas L; Drezner R; Tricoli V; Ugrinowitsch C. Efeito de dois métodos de treinamento no desenvolvimento da força máxima e da potência muscular de membros inferiores. Rev. bras. Educ. Fís, Esp. 2008, 22, 235-245.

12. Monteiro A; Lopes C. Periodização esportiva: estruturação do treinamento. São Paulo: AG Editora, 2009.

13. Reis Filho AD; Vitto JPP; Vieira Junior RC; Voltarelli FA. Análise da glicemia capilar após 12 semanas de treinamento de força em mulheres. R. bras. Ci. e Mov. 2013, 21, 150-156.

14. Willardson JM; Kattenbraker MS; Khairallah M; Fontana FE. Research note: effect of load reductions over consecutive sets on repetition performance. Journal of Strenght and Conditioning Research. 2010, 24, 879-884.

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