Análise do desenvolvimento motor de crianças da educação infantil através de atividades psicomotoras Análisis del desarrollo motor de los niños de jardín de infantes a través de actividades psicomotoras Analysis of motor development in children from kindergarten through psychomotor activities
	É formando em Educação Física pelo Centro Universitário Metodista do IPA Porto Alegre, RS	Marcelo Farias Brandão mfariasbrandao@gmail.com (Brasil)
	Resumo           A pesquisa teve como objetivo principal a análise do desenvolvimento motor de crianças da educação infantil, através de uma avaliação psicomotora. Foi utilizada como método de coleta de dados uma Bateria Psicomotora, pois esta se mostrou bastante eficaz na detecção de déficits em termos psicomotores. Observou-se que as crianças que tinham um desenvolvimento motor aquém do esperado para sua idade, tiveram um desempenho abaixo do normal na Bateria Psicomotora. O desenvolvimento motor das crianças pode, e deve ser avaliado constantemente pelos Educadores Físicos, para se detectar prematuramente possíveis carências em relação ao seu estágio de desenvolvimento motor.           Unitermos: Desenvolvimento motor. Atividades psicomotoras. Educação Infantil.   Resumen           La investigación tuvo como objetivo el análisis del desarrollo motor de los niños en la educación de la primera infancia a través de una evaluación psicomotor. Fue utilizado como un método de recolección de datos de una batería psicomotor, ya que resultó muy eficaz en la detección de deficiencias en términos psicomotrices. Se observó que los niños con desarrollo motor están a la altura para su edad, lleva a cabo debajo de lo normal en la batería psicomotora. El desarrollo motor de los niños puede y debe ser evaluada constantemente por los educadores físicos, para detectar prematuramente posibles deficiencias en relación con su nivel de desarrollo motor.           Palabras clave: Desarrollo Motor. Psicomotricidad. Educación Inicial.   Abstract           The research aimed to the analysis of motor development of children in early childhood education, through a psychomotor evaluation. It was used as a method of data collection one Psychomotor Battery, as this proved quite effective in detecting deficits in terms of psychomotor. It was observed that children who had motor development less than expected for their age, scores were below normal in Psychomotor Battery. The motor development of children can, and should be evaluated constantly by Physical Educators, for early detection of possible deficiencies in relation to their stage of motor development.           Keywords: Motor development. Psychomotor activities. Childhood Education.             O presente trabalho não contou com apoio financeiro de nenhuma natureza para sua realização.
	EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 192 - Mayo de 2014. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    O presente projeto de pesquisa tem como objetivo principal a análise do desenvolvimento motor de crianças da educação infantil, através de uma avaliação psicomotora. Conforme Piaget (1973), o nível de desenvolvimento motor está diretamente relacionado ao desenvolvimento cognitivo de todas as crianças:

    [...] a partir do exercício dos reflexos biológicos, que se transformam em esquemas motores e através da ação a criança constrói, gradativamente, suas estruturas que se manifestam numa organização seqüencial chamada de estágios de desenvolvimento cognitivo. (PIAGET, 1973 p.20).

    Identificar estes níveis é importante para que tenhamos uma visão clara se estas crianças estão em seus níveis de desenvolvimento adequado.

    Foi observado em escolas de Educação Infantil, que algumas crianças tem alguma dificuldade em realizar determinadas atividades motoras, em comparação com outras da mesma faixa etária. Por se tratar de crianças pequenas, com idades entre 3 e 5 anos, houve a necessidade de saber o porque desta diferença em realizar essas atividades. Chegou-se a conclusão que seria necessário analisar se os níveis psicomotores delas estavam adequadas para sua faixa etária. Ao identificar os níveis psicomotores de seus alunos, o professor de Educação Física tem em suas mãos uma importante ferramenta, pois através dela as possíveis deficiências poderão receber uma maior atenção, podendo, até mesmo, reverter o caso, ou minimizá-lo.

2.     Desenvolvimento

2.1.     Movimento

    Neste inicio de século XXI, vive-se uma onda tecnológica nunca vista antes, o computador, o celular, e outras formas de tecnologia, vieram auxiliar em praticamente todas as atividades realizadas no cotidiano. Estamos vivendo também, em mundo extremamente turbulento, haja vista, os inúmeros casos de violência, em suas diversas formas, que vemos todos os dias. Isto, agregado aos fatores tecnológicos, está levando nossas crianças, e os adultos também, a permanecerem cada vez mais tempo enclausurados dentro de suas próprias casas, o que leva a um considerável déficit no desenvolvimento motor das crianças.

    No âmbito da educação física atual, pode-se destacar a dificuldade que os professores encontram na hora de realizar suas aulas. Pois cada vez menos as crianças querem participar das atividades, demonstrando um completo desinteresse pelas aulas.

    O movimento é uma importante dimensão do desenvolvimento e da cultura humana. As crianças se movimentam desde que nascem adquirindo cada vez maior controle sobre seu próprio corpo e se apropriando cada vez mais das possibilidades de interação com o mundo. Engatinham, caminham, manuseiam objetos, correm, saltam, brincam sozinhas ou em grupo, com objetos ou brinquedos, experimentando sempre novas maneiras de utilizar seu corpo e seu movimento. Ao movimentar-se, as crianças expressam sentimentos, emoções e pensamentos, ampliando as possibilidades do uso significativo de gestos e posturas corporais. O movimento humano, portanto, é mais do que simples deslocamento do corpo no espaço: constitui-se em uma linguagem que permite às crianças agirem sobre o meio físico e atuarem sobre o ambiente humano, mobilizando as pessoas por meio de seu teor expressivo. (PCN’s, 1998, p. 15)

    Flinchum (1981), fala sobre a relevância que tem o movimento no desenvolvimento motor e cognitivo das crianças:

    O movimento exerce um papel muito importante no desenvolvimento da criança pequena. As atividades de movimento dão à criança pequena não só alegria como também o potencial para sua utilização como uma modalidade de aprendizagem. (FLINCHUM, 1981 p. 8)

    Frente a isto o professor de educação física deverá ter um preparo cada vez maior para levar o movimento às crianças, principalmente na idade pré-escolar.

    A criança em idade pré-escolar é um ser dinâmico, cheio de indagações espontâneas e com múltiplas habilidades físicas. Sua habilidade motora é utilizada para expansão de seu desenvolvimento. O jogo é seu meio de comunicação e aprendizagem. Os movimentos e atividades motoras na primeira infância são de tal forma inerente à vida da criança que merecem ser observados com maior atenção e compreensão para que atitudes e capacidades nessa idade sejam aferidas. (FLINCHUM, 1981, p. 2)

2.2.     Educação infantil

    A educação infantil compreende a faixa etária entre três e cinco anos de idade. Nesta faixa etária elas estão, conforme Gallahue (2005), entre os estágios inicial e elementar de seu desenvolvimento motor.

    O estágio inicial representa as primeiras tentativas da criança orientadas para o objetivo de desempenhar uma habilidade fundamental (estabilização, locomoção e manipulação).

    O próximo estágio é o elementar, e envolve maior controle e melhor coordenação rítmica dos movimentos fundamentais.

    Existe ainda o estágio maduro que na fase de movimentos fundamentais é caracterizado por desempenhos mecanicamente eficientes, coordenados e controlados.

    Sendo assim, a realização do estágio maduro é influenciada grandemente pelas oportunidades para a prática, pelo encorajamento e pelo ensino em um ambiente que propicie o aprendizado.

    Portanto, os anos iniciais da escola, são a oportunidade para desenvolver habilidades motoras fundamentais até níveis maduros. Essas habilidades passarão por processos de melhoria e de refinamento para formar as habilidades motoras específicas tão necessárias a tarefas recreativas, competitivas e da vida diária.

2.3.     Desenvolvimento da criança

    O desenvolvimento motor representa um aspecto no desenvolvimento total da criança, e esta inter-relacionado às áreas cognitiva e afetiva do comportamento humano.

    Nos primeiros anos da infância elas estão envolvidas em duas tarefas sócio-emocionais cruciais: Desenvolvimento do sentido de autonomia e o sentido de iniciativa. A autonomia é expressa pelo crescente sentido de independência. O sentido de iniciativa de uma criança pequena é observado em sua curiosidade, em seu comportamento exploratório e muito ativo. As crianças envolvem-se em novas experiências, como subir, pular, correr e arremessar objetos, pela pura alegria de sentir e saber que são capazes de fazer.

    Conforme Gallahue (2005) nesta fase existem diversas características em relação ao seu desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo, os quais estão sinteticamente relacionadas abaixo.

2.3.1.     Desenvolvimento motor

• As habilidades perceptivo-motoras estão se desenvolvendo rápido, mas frequentemente existe confusão na consciência corporal, direcional, temporal e espacial.

• As crianças, neste período, estão rapidamente desenvolvendo uma variedade de habilidades motoras fundamentais. Movimentos bilaterais, como pular, entretanto, frequentemente apresentam mais dificuldade do que movimentos unilaterais.

• O controle motor refinado ainda não esta totalmente estabelecido, embora o controle motor rudimentar esteja desenvolvendo-se rapidamente.

2.3.2.     Desenvolvimento cognitivo

• Existe uma habilidade crescente de expressar pensamentos e ideias verbalmente.

• Uma imaginação fantástica leva à imitação tanto de ações como de símbolos, com pouca preocupação com a precisão ou com a sequencia lógica dos eventos.

• O “como” e o “porquê” das ações da criança são aprendidos por meio das quase constantes brincadeiras.

2.3.3.     Desenvolvimento afetivo

• Nessa fase, as crianças são egocêntricas e supõem que todas as pessoas raciocinam da mesma maneira que elas. Como resultado, frequentemente parecem ser briguentas e relutantes em compartilhar objetos e sentimentos e em socializar-se com outras.

• As crianças geralmente tem medo de situações novas, são tímidas, introvertidas e não desejam deixar a segurança do que lhes é familiar.

• O autoconceito está desenvolvendo-se rapidamente. Uma orientação criteriosa, experiências voltadas ao sucesso e encorajamento positivo são especialmente importantes nesses anos.

    Conhecendo-se as fases de desenvolvimento da criança na educação infantil, pode-se planejar um programa para que este desenvolvimento seja favorecido. Entre tantas atividades, este programa deve favorecer uma abundância de oportunidades para atividades motoras rudimentares; enfatizar a exploração motora e atividades de resolução de problemas para maximizar a criatividade da criança; favorecer o desenvolvimento das várias habilidades locomotoras, manipulativas e estabilizadoras fundamentais, das mais simples às mais complexas; deve-se tirar vantagem da grande imaginação da criança pelo uso de uma variedade de atividades, incluindo teatro e fantasias; fornecer inúmeras atividades que requeiram manuseio de objetos e coordenação olho-mão.

2.4.     Psicomotricidade e a bateria psicomotora

    A psicomotricidade é hoje concebida como a integração superior da motricidade, produto de uma relação entre a criança e o meio, e instrumento privilegiado através do qual a consciência se forma e materializa-se.

    Portanto, é importante a todo o educador físico verificar as condições psicomotoras de seus alunos, o que faz com que suas aulas possam ser mais direcionadas a algum aspecto motor deficitário, ou ainda, de levar ao conhecimento da direção da escola algum caso mais grave.

    Uma maneira de se verificar essas condições psicomotoras é através de uma avaliação, chamada de Bateria Psicomotora (BPM), método no qual consiste em várias tarefas realizadas pelos alunos, e que segundo Fonseca (1995) dela extrai-se dados sistemáticos de grande interesse para a identificação qualitativa de problemas psicomotores e de aprendizagem.

    A Bateria Psicomotora (BPM) é um instrumento baseado num conjunto de tarefas que permite detectar déficits funcionais (ou substanciar a sua ausência) em termos psicomotores, cobrindo a integração sensorial e perceptiva que se relaciona com o potencial de aprendizagem da criança. (FONSECA, 1995 p. 98-99)

    A BPM se baseia na observação de funções que envolvem as três unidades fundamentais ou funcionais do cérebro. Cada unidade funcional correspondem vários fatores psicomotores, sintetizados em 7 (sete) fatores psicomotores, que são eles:

• Unidade funcional 1 – Tonicidade e Equilibração.

• Unidade funcional 2 – Lateralização, Noção do Corpo e Estruturação espaço-temporal.

• Unidade funcional 3 – Praxia Global e Praxia Fina.

    Os sete fatores psicomotores da BPM trabalham em conjunto de forma integrada e harmoniosa, cada um dos quais realizando a sua própria contribuição para a organização psicomotora global.

    Em relação à escala de pontuação de cada aluno na BPM, sintetizamos abaixo o valor de cada uma:

• Cotação 1 ponto (apraxia): Ausência de resposta, realização imperfeita, incompleta, inadequada e descoordenada.

• Cotação 2 pontos (dispraxia): Realização fraca com dificuldade de controle e sinais desviantes.

• Cotação 3 pontos (eupraxia): Realização completa adequada e controlada.

• Cotação 4 pontos (hiperpraxia): realização perfeita, precisa, econômica e com facilidades de controle.

    A cotação máxima da prova é de 28 pontos (4X7 fatores), a mínima é de 7 pontos (1X6) e a média é de 14 pontos.

    Com base nos respectivos intervalos pontuais pode construir-se uma escala que aponta para os seguintes valores:

Pontos da BPM	Tipo de perfil psicomotor	Dificuldades de aprendizagem
27 – 28	Superior	-
22 – 26	Bom	-
14 – 21	Normal	-
9 – 13	Dispráxico	Ligeiras (específicas)
7 – 8	Deficitário	Significativas (moderadas ou severas)

Fonseca, 1995

    A pesquisa foi realizada com crianças de uma Escola de Educação Infantil de Porto Alegre, as crianças que participaram da pesquisa estão na faixa etária entre 3 e 5 anos de idade.

Resultados

    A pesquisa demonstrou que existem algumas diferenças psicomotoras nas crianças, alguns com grande desenvoltura, e outras com um grau maior de dificuldade para realizar a BPM. No geral, através dos resultados obtidos com a Bateria Psicomotora, percebeu-se que a grande maioria das crianças está em seu estágio normal de desenvolvimento motor.

    Os resultados obtidos nesta pesquisa foram levados ao conhecimento da direção da escola, caso houvesse sido detectado que alguma criança apresentasse algum déficit psicomotor seria sugerido que a direção da escola tomasse algumas medidas no sentido de melhorar as condições motoras dos alunos, a utilização de materiais adequados, de atividades motoras direcionadas a estas crianças e a adoção de outras medidas que se façam necessárias.

3.     Conclusão

    Os resultados obtidos com esta pesquisa, através das atividades psicomotoras, demonstrou que as crianças na faixa etária escolhida, estão em seu estágio normal de seu desenvolvimento motor. Este resultado, porém, não deve ser definitivo, pois há de se levar em conta a pouca idade das crianças, e que muitas delas ainda não tiveram contato com o mundo tecnológico – televisão, vídeo games, celulares – ou seja, elas ainda tem nas brincadeiras de correr, saltar, jogar o seu maior repertório motor. Seria necessária uma nova pesquisa com crianças em uma faixa etária maior para analisar se com o passar do tempo há um aumento no déficit motor delas.

Referências

• Flinchum, Betty M. Desenvolvimento motor da criança. Interamericana, Rio de Janeiro, 1981.

• Fonseca, Vitor da. Manual de Observação Psicomotora. Artes Médicas Sul, Porto Alegre, 1995.

• Gallahue, David L., Ozmun John C. Compreendendo o Desenvolvimento Motor, Phorte, São Paulo, 2005.

• PCN’s, Parâmetros Curriculares Nacionais, MEC/SEF, Brasília, 1998.

• PIAGET, Jean. Biologia e Conhecimento. Petrópolis, Vozes, 1973.

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