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Efeitos do processo do envelhecimento na capacidade

funcional dos idosos e suas formas de mensuração

Los efectos del proceso de envejecimiento en la capacidad funcional de las personas mayores y sus formas de medición

 

*Acadêmicas do quarto período de Medicina

das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, em Minas Gerais

**Coordenadora da UTI-Neonatal na empresa Santa Casa de Montes Claros

e Orientadora das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros

(Brasil)

Míria Rita Duarte*

miriaritaduarte@gmail.com

Maria Luiza Terra Santos*

luiza_mari@hotmail.com

Maria Fernanda Gonçalves Batista*

nandinhag_11@hotmail.com

Paula Moura**

pmssmoura@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Envelhecimento refere-se a alterações progressivas de cunho biológico que representa um processo natural com alterações da fisiologia do organismo e que podem vir a exercer um impacto na capacidade funcional do indivíduo. O envelhecimento representa uma nova realidade no perfil populacional mundial, sendo um desafio para o setor da saúde e de outras esferas da sociedade. Dessa forma o objetivo desse estudo é entender a interferência do processo de envelhecimento na capacidade funcional do idoso e caracterizar formas de mensuração da mesma. Foi empreendida uma revisão exploratória qualitativa cujo levantamento literário envolveu as fontes de dados do Google Acadêmico, Scielo, PubMed, MEDLINE e LILACS, publicadas entre 1963 e 2013, totalizando 38 obras selecionadas. Percebeu-se que não existem muitos estudos científicos relacionados com a avaliação funcional do idoso, além disso, as escalas de Katz, de Lawton e Brody e a Medida de Incapacidade Funcional (MIF), que são bastante conhecidos no meio acadêmico, além de amplamente empregados e discutidos na maioria das obras selecionadas como base para este artigo são profícuos, porem com eficácia atrelada a sua aplicação segundo os parâmetros pré-definos como corretos, além disso, salienta-se a necessidade do emprego de suas versões adaptadas ao contexto sociocultural brasileiro.

          Unitermos: Idoso. Capacidade funcional. Incapacidade funcional. Avaliação funcional. Escala de Katz. Escala de Lawton e Brody. Medida de incapacidade funcional.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 192 - Mayo de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O envelhecimento da população é uma realidade vivenciada em âmbito mundial, sendo um processo natural, irreversível e dinâmico, envolvendo alterações físicas, comportamentais e psicológicas (XAVIER et al., 2011) que trazem implicações do ponto de vista social, médico e de políticas públicas, por exigir uma preparação para o atendimento destes indivíduos acima de 60 anos (PAIXAO JUNIOR; RECHENHEIM, 2005BARROS et al., 2010).

    O último censo demográfico brasileiro, que foi realizado em 2010, evidenciou que a quantidade de idosos no Brasil alcançou 10,8% da população, correspondendo a cerca de 20,5 milhões de indivíduos. Dessa forma, estima-se que o país, até 2025, seja classificado como o sexto país do mundo com o maior numero de idosos (IBGE, 2012). Segundo Rauen et al. (2008) essa mudança no perfil demográfico apresenta como conseqüência aumento na prevalência de doenças crônicas e degenerativas mais freqüentes nesse grupo etário, associado à redução da capacidade física e funcional com o avanço da idade, resultando em declínio da capacidade funcional e independência do idoso (NUNCIATO; PEREIRABORGHI-SILVA, 2012).

    Para Lino et al. (2008) a capacidade funcional pode ser definida como habilidade para realização de atividades que viabilizam o cuidado próprio e a vida independente, dessa forma a perda da capacidade funcional está intimamente ligada à fragilidade e vulnerabilidade do envelhecer uma vez que funções como cognição, mobilidade e comunicação são progressivamente comprometidas. (LISBOA; CHIANCA, 2012).

    Segundo Lisboa e Chianca (2012) a diminuição da capacidade funcional leva os idosos a uma situação de dependência na realização de atividades de vida diária, sendo necessários cuidados constantes, medicação contínua e exames periódicos, representando maior demanda de utilização dos serviços de saúde e suporte da assistência social (TANNURE et al., 2010). A avaliação da capacidade funcional do idoso, nesse sentido, permite determinar em que nível as patologias ou agravos à saúde interferem na realização de atividades de vida diária bem como a necessidade de auxílio para realizá-las (OLIVEIRA; MATTOS, 2012BARROS et al., 2010).

    Na população idosa, apenas o diagnóstico baseado na avaliação clínica não é suficiente para aferir a real condição de saúde do idoso, já que os níveis de independência e funcionalidade apresentam maior relevância, sendo, portanto, a avaliação funcional a dimensão-base da assistência geriátrica e contribui com subsídios para o planejamento da assistência e monitorizarão do estado clínico-funcional do idoso (MACÊDO et al., 2012COUTINHO et al., 2012). Segundo Paixão Junior e Rechenheim (2005) os métodos para realização da avaliação da capacidade funcional consistem na observação direta através de testes de desempenho ou indireta por meio de questionários auto-aplicados ou entrevistas sistematizados por meio de escalas que compõem o instrumento de avaliação funcional.

    Apesar de a avaliação funcional ser uma temática importante e essencial ao cuidado com o idoso permitindo uma abordagem sistemática dos déficits do idoso e acompanhamento do progresso ou deterioração em longo prazo, há carência de estudos científicos voltados para essa área (TENORIO et al., 2006TAVARESDIAS, 2012). Paixão Junior e Rechenheim (2005) acrescentam que permanece o uso assistemático de instrumentos de avaliação funcional, possivelmente pela reduzida adaptação desses instrumentos para realidade brasileira.

    Dessa forma, o presente estudo objetivou entender a interferência do processo de envelhecimento na capacidade funcional dos indivíduos, assim como explicar as formas de mensuração da mesma.

Metodologia

    O presente estudo caracteriza-se por ser uma revisão exploratória qualitativa, que foi definida por Gil (2010) como uma pesquisa bibliográfica.

    A pesquisa abrangeu o resultado de um levantamento literário que envolveu as fontes de dados do Google Acadêmico, Scielo, PubMed, MEDLINE e LILACS, publicadas entre 1963 e 2013. A coleta de dados foi realizada no período de 12/03/2013 a 28 /06/2013, com desataque a utilização de artigos na íntegra em língua portuguesa e inglesa.

    Ao todo foram elegíveis 38 obras como base de estudo, sendo que todas se relacionam com a descrição e analise dos instrumentos de avaliação funcional dos idosos e passaram por uma analise critica pelos integrantes da equipe. Além disso, não foram incluídos referenciais publicados em bases de dados não científicas e resumos de pesquisa sem disponibilidade dos artigos na íntegra.

    Os descritores empregados foram Idoso; Capacidade funcional; Incapacidade funcional; Avaliação funcional; Escala de Katz; Escala de Lawton e Brody; Medida de Incapacidade Funcional.

Revisão de literatura

    A avaliação funcional é uma tentativa sistematizada de mensurar os níveis nos quais uma pessoa se enquadra, numa variedade de áreas, tais como: integridade física, qualidade da auto-manutenção, qualidade no desempenho dos papéis, estado intelectual, atividades sociais, atitudes em relação a si mesmo e ao estado emociona. (OLIVEIRA; GORETTI; PEREIRA, 2006)

    Por conseqüência do envelhecimento sobrevém alterações sistêmicas e, principalmente, aumento na prevalência de doenças crônicas e degenerativas, que podem provocar diminuição na capacidade funcional (RAUEN et al., 2008). Nesse contexto, evidencia-se a incapacidade funcional marcada pela dificuldade de realização de certas atividades diárias ou pela impossibilidade de executá-las, gerando maior vulnerabilidade e dependência na velhice, reduzindo o bem-estar e a qualidade de vida (BISPO; ROCHA; ROCHA., 2012)

    Preconizada pela Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, a avaliação funcional é fundamental e determinará tanto o comprometimento funcional da pessoa idosa, quanto sua necessidade de auxilio. Caso não seja capaz, verificar se essa necessidade de ajuda é parcial, em maior ou menor grau, ou total. Usualmente, utiliza-se a avaliação no desempenho das atividades cotidianas ou atividades de vida diária. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2007)

    Os métodos habituais de realização de uma avaliação funcional estruturada consistem na observação direta (testes de desempenho) e por questionários, quer auto-aplicados ou concebidos para entrevistas face a face, sistematizados por meio de uma série de escalas que aferem os principais componentes da dimensão. Tais escalas compõem o que se tem denominado instrumentos de avaliação funcional. (JUNIOR PAIXÃO; REICHENHEIN, 2005)

    Quando se avalia a funcionalidade da pessoa idosa é necessário diferenciar desempenho e capacidade funcional. O primeiro avalia o que o idoso realmente faz no seu dia-a-dia e o segundo, o potencial que a pessoa idosa tem para realizar a atividade, ou seja, sua capacidade remanescente, que pode ou não ser utilizada. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2007)

    A avaliação funcional do idoso tem sido de grande importância para realizar o diagnóstico, o prognóstico e uma análise clínica do estado geral de saúde do idoso, ainda serve como base para a adequação de tratamentos e necessidades especiais. Não se pode desconsiderar a importância da avaliação cognitiva e mental, porém alterações na avaliação funcional são indicativas de alterações nesses outros aspectos, explica-se isso através da forte relação entre declínio funcional e altos índices de institucionalização e/ou mortalidade em idosos. (SILVA, 2009)

    Giacomin et al. (2008) esclarecem que a incapacidade funcional pode ser mensurada de acordo com as dificuldades para realizar atividades cotidianas, que são subdivididas em atividades de vida diária (AVD), grupo que compreende atividades do autocuidado; e atividades instrumentais de vida diária (AIVD), grupo que compreende atividades de interação comunitária.

    Dessa forma, as AVDs são as tarefas que uma pessoa precisa realizar para cuidar de si, tais como: tomar banho, vestir-se, ir ao banheiro, andar, comer, passar da cama para a cadeira, mover-se na cama e ter continências urinária e fecal. Já as AIVD são as habilidades do idoso para administrar o ambiente em que vive e inclui as seguintes ações: preparar refeições, fazer tarefas domésticas, lavar roupas, manusear dinheiro, usar o telefone, tomar medicações, fazer compras e utilizar os meios de transporte. (COSTA; NAKATANI; BACHION, 2006). Sendo que para Oliveira e Mattos (2012) a autonomia designa a capacidade de se autogovernar e executar desígnios próprios.

Tabela 1. Classificação de estudos sobre instrumentos de avaliação de atividades da vida diária (AVD)

    No presente estudo foram selecionados três instrumentos de avaliação funcional, todos de língua inglesa e escolhidos por terem sido os que quantitativamente mais se destacaram nas obras analisadas no decorrer da revisão literária empreendida.

Escala de Katz

    A escala de Katz ou Índice de Independência em Atividade da Vida Diária (EIAVD) é um dos instrumentos mais antigos e mais citados na literatura nacional e internacional para avaliação da capacidade funcional. (LISBOA; CHIANCA., 2012) Estudos de validade desse instrumento são relativamente robustos e há menção de validade conceitual, preditiva e concorrente com a qualidade dos resultados de validade classificada como boa. Entretanto, os estudos de confiabilidade desse instrumento são incompletos e qualificados como fracos. (PAIXÃO JUNIOR; REICHENHEIM., 2005).

    Foi primeiramente publicada em 1963 em um artigo chamado Studies of Ilness in the Aged, The index of ADL: A Standardized Measure of Biological and Psychossocial Functio e em 1984, com a permissão do autor, foi publicada uma nova escala, onde houve uma adaptação dos índices em 3 categorias: mais independente (Katz A e B), intermediário (Katz C, D e E) e mais dependente (Katz F e G). Em 1998, uma nova versão do índice de ADL de Katz foi publicada cujas principais mudanças, em relação ao índice original, se referem à criação de um ponto de corte para dependência e independência. (DUARTE; ANDRADE; LEBRÃO., 2007).

    Cada quesito classifica o idoso como sendo dependente (zero ponto) ou independente (um ponto) na atividade avaliada. Quando feita a soma, é gerado um escore final que determina os seguintes pontos de corte: zero a dois (muito dependente), três ou quatro (dependência moderada) e cinco ou seis (independente). (SOUZA et al., 2012)

    A escala de Katz avalia as AVD básicas, sendo elas: banhar-se, vestir-se, ir ao banheiro, alimentar-se, transferir-se da cama para a cadeira e ter continência. A independência dessas atividades significa que a tarefa desempenhada é sem supervisão, direção ou ajuda. (TREFIGLIO et al., 2012). Foi construída no raciocínio que a diminuição da capacidade para executar as AVDs nos pacientes idosos segue um mesmo padrão de evolução, ou seja, perde-se primeiro a capacidade de se banhar, posteriormente, de se vestir, de transferir-se e alimentar-se. A recuperação do desempenho das seis atividades básicas ocorre de forma inversa, semelhante ao processo de desenvolvimento da criança. (DUARTE; ANDRADE; LEBRÃO, 2007)

Figura 1. Formulário de avaliação de atividades básicas de vida diária, Katz.

Fonte: Ministério da Saúde, 2007

    Lino et al. (2008), observaram a necessidade de uma adaptação transcultural da EIAVD para a língua portuguesa para que a mesma mantivesse sua eficácia. Sendo assim, aplicaram o método de Herdman et al e obtiveram uma versão em português do EIAVD, fiel ao original em inglês, pois a retradução se aproximou do original, e onde haviam diferenças, estas foram corrigidas.

    A escala mostra-se de grande serventia ao demonstrar a dinâmica da instalação da incapacidade no processo de envelhecimento, auxiliar prognóstico, avaliar as demandas assistenciais, determinar a efetividade de tratamentos, além de contribuir para o ensino do significado de “ajuda” em reabilitação. (ANDRADE et al., 2008).

Escala de Lawton e Brody

    Esta escala explora um nível mais complexo de funcionalidade diferenciando-se da Escala de Katz pela avaliação do grau de limitação individual, em atividades instrumentais como: usar meios de transporte, manipular medicamentos, realizar compras, tarefas domésticas leves e pesadas, utilizar telefone, preparar refeições e cuidar das próprias finanças. (MENDES., 2008).

    Para Lawton e Brody (1963) a escala é eficaz no estudo de uma população idosa, em contexto hospitalar ou na comunidade, não estando adaptada para pessoas idosas institucionalizadas.

    Avalia oito funções para as mulheres sendo a capacidade para utilizar o telefone, fazer compras, preparar refeições, cuidar da casa, lavar a roupa, modo de transporte, responsabilidade pela própria medicação e habilidade para lidar com o dinheiro, e cinco funções para os homens, pois para este grupo seria excluído as indagações a cerca de preparação de alimentos e limpeza. (LAWTON; BRODY., 1963) No entanto, as recomendações atuais são para avaliar todos os domínios para ambos os sexos (LAWTON et al., 2003). A pontuação que pode ser obtida varia de 0 (indicando dependência) até 8 (independente) para as mulheres e de 0-5 para os homens (LAWTON; BRODY., 1963).

    É considerada de fácil aplicação e baseia-se no auto relato das capacidades necessárias para vida em comunidade, sendo empregada em diversos estudos, porem, para Santos e Virtuoso Júnior (2008), deve-se utilizar esse instrumento com cautela, sugerindo a necessidade de realização concomitante de testes de desempenho, baseados em um critério de parâmetros físicos relacionados à aptidão funcional como força, resistência aeróbia, flexibilidade, coordenação e equilíbrio. Eles também promoveram uma adaptada ao contexto brasileiro da escala de Lawton e Brody que seguindo os mesmos possui parâmetros psicométricos satisfatórios.

    Segundo Paixão Junior e Reichenheim (2005), a escala de Laton e Brody mesmo não sendo o recurso mais utilizado tem indícios de ter boa validade e confiabilidade. Acrescentam ainda que em suas pesquisas 23 estudos foram encontrados tendo essa escala como instrumento empregado.

Figura 2. Escala de Lawton. Fonte: Ministério da saúde, 2007

Medida de Incapacidade Funcional

    A Medida de Incapacidade Funcional (MIF) foi desenvolvida pela Academia Americana de Medicina Física e Reabilitação e pelo Congresso americano de Medicina de Reabilitação na década de 1980, foi validada e adaptada para a língua portuguesa por Ribeiro et al., em 2001 (TALMELLI et al., 2010). Segundo Scattolin, Diogo e Colombo (2007) esse instrumento foi desenvolvido com objetivo de padronizar conceitos e definições de incapacidade, bem como de se obter uma avaliação integral da reabilitação baseada em atividades habituais.

    Esse instrumento permite avaliar quantitativamente a demanda de cuidados necessários a uma pessoa para a realização de atividades motoras e cognitivas de vida diária e possibilita tipificar a capacidade funcional do idoso. (COUTINHO et al., 2012)

    Esse instrumento apresenta como diferencial a incorporação do aspecto cognitivo na avaliação, sendo amplamente utilizado internacionalmente (MINOSSO et al., 2010) e que Coutinho et al. (2012) ressaltam que possui ampla aceitação facilitando o intercâmbio entre os profissionais da saúde que trabalham de maneira interdisciplinar e que a natureza multidimensional desse instrumento é útil como forma de planejamento terapêutico voltado para o problema e centrado no paciente.

    De acordo com Minosso et al. (2010) a MIF trata-se de um instrumento que avalia a independência funcional com base em 18 atividades diárias pontuadas de um a sete, em que um corresponde à dependência total e sete, à independência completa. As atividades são divididas em dois domínios, um motor referente às dimensões de autocuidado, controle de esfíncteres, mobilidade e locomoção; e outro cognitivo, que engloba as dimensões de comunicação e cognição social. Essa afirmativa é ratificada por Ricci, Kubota e Cordeiro (2005), pois estes acrescentam que cada dimensão é analisada pela soma dos itens que a compõem, sendo que quanto maior a pontuação, menor o grau de independência.

    A dimensão do autocuidado compreende a avaliação da higiene matinal, banho, vestir-se acima e abaixo da cintura, uso do vaso sanitário; o controle de esfíncteres envolve o controle de urina e fezes; a mobilidade refere-se a transferências do leito para a cadeira/cadeira de rodas, para o vaso sanitário, para o chuveiro ou banheira e a locomoção engloba a avaliação da marcha e do desempenho ao subir e descer escadas; a dimensão da comunicação compreende os itens de compreensão e expressão, e a cognição social, os itens interação social, resolução de problemas e memória. (SCATTOLIN; DIOGO; COLOMBO, 2007; TALMELLI et al., 2010)

    Segundo Macêdo (2012) o escore total da MIF varia de 18 (dependência total) a 126 pontos (independência completa), o resultado da soma dos itens é classificado: I. 18 pontos – dependência completa (assistência total); II. 19 a 60 pontos – dependência modificada (assistência de até 50% na tarefa); III. 61 a 103 pontos – dependência modificada (assistência de até 25% na tarefa) e IV. 104 a 126 pontos - independência modificada a completa.

    A Medida de Incapacidade Funcional integra o Sistema Uniforme de Dados para Reabilitação Medica (SUDRM), sendo um instrumento que atende critérios de confiabilidade, validade, precisão, praticidade e facilidade (COUTINHO et al., 2012) além de boa confiabilidade para o escore total e para as dimensões.(TALMELLI et al., 2010)

    Entretanto para Riberto et al. (2004) a MIF, no Brasil, é aplicada por meio de entrevistas a partir das observações durante a consulta, o que não é recomendados segundo as orientações originais. Outro ponto destacado pelo mesmo autor é o fato dos pacientes brasileiros em reabilitação serem tratados em ambiente ambulatorial, para qual o instrumento não foi desenvolvido sendo que a MIF não é um instrumento autoaplicado e que exige treinamento para sua aplicação.

    De acordo com Paixão Junior e Reichenheim (2005), o MIF representa um dos instrumentos mais completos no que concerne avaliação de validade e confiabilidade, tendo vários estudos com poder estatístico considerado bom, comprovando tal afirmativa.

Figura 3. Funções avaliadas pela MIF

Fonte: Ministério da saúde, 2007

 

Figura 4. Funções avaliadas pela MIF

Fonte: Ministério da saúde, 2007

Considerações finais

    O envelhecimento populacional é uma realidade na maioria das sociedades atuais, sendo este um processo mundial que vem ocorrendo de maneira bastante acelerada no Brasil. (LISBOA; CHIANCA, 2012). Segundo dados do Censo 2010 do IBGE, já existem mais de 14 milhões de idosos no Brasil e as projeções indicam que este segmento poderá totalizar mais de 32 milhões em 2020. (BANHATO et al., 2008; IBGE, 2012)

    Para Marchon, Cordeiro e Nakano (2010), essa população emergente também apresenta maior incapacidade funcional, ou seja, à medida que o ser humano envelhece, tornam-se cada vez mais difíceis de serem realizadas tarefas do dia a dia. Diante disso, a avaliação da capacidade funcional, que salienta a habilidade de cuidar de si próprio, e que é um indicador de saúde diretamente associado com a qualidade de vida, é um importante dado a ser averiguado. (LINO et al., 2008)

    A avaliação do estado funcional é central na avaliação geriátrica, sendo que os instrumentos que a proporcionam são variados, podendo servir desde pesquisas, triagens ou avaliações clínicas até mensurar incapacidades para funções físicas e sócias. (PAIXÃO JUNIOR; REICHENHEIM., 2005) Esses mesmos autores salientam que a escolha de um instrumento depende muito do ambiente e de quais são os objetivos do profissional ao emprega-lo no paciente.

    No presente estudo optamos por aprofundar nossas pesquisas nas escalas de Katz, de Lawton e Brody e na Medida de Incapacidade Funcional (MIF), visto serem todos bastante conhecidos no meio acadêmico, além de amplamente empregados e discutidos na maioria das obras selecionadas como base para este artigo.

    Conclui-se que os três instrumentos são profícuos, porem com eficácia atrelada a sua aplicação segundo os parâmetros pré-definos como corretos, além disso, salienta-se a necessidade do emprego de suas versões adaptadas ao contexto sociocultural brasileiro.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 19 · N° 192 | Buenos Aires, Mayo de 2014  
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