Introdução
A postura bípede humana pode ser definida como a organização de segmentos
corporais que cada indivíduo faz para garantir equilíbrio entre músculos e
ossos, com capacidade de promover coordenação para as diversas necessidades de
movimento (KENDALL, 1995). Já o controle postural, é conceituado como a
habilidade de manter o equilíbrio, oscilando ou recuperando o centro de massa
corporal sobre a base de sustentação, com a habilidade de controlar a
posição do corpo no espaço (GAZZOLA et al., 2004).
Diversos motivos como limitação de força muscular, amplitude de movimento ou
até mesmo dor ou outras lesões podem afetar o controle postural e a descarga
de peso (HORAK, 2006). Freqüente é o relato, por exemplo, da assimetria da
descarga de peso entre indivíduos com seqüela de acidente vascular encefálico
(MARTINS et al., 2011).
Posturas inadequadas quebram a harmonia existente entre as estruturas
envolvidas, sendo que isto pode desencadear dores, desgastes articulares,
desvios posturais crônicos (hiperlordose, hipercifose, escoliose), limitações
de movimento, compressão de raízes nervosas, tendinites, bursites, tensões
musculares, entre outros (HORAK, 2006).
Em relação à descarga de peso, fatores como a estatura, índice de massa
corpórea (IMC), peso, alterações no arco longitudinal dos pés e dominância
lateral, podem modificar a biomecânica da descarga de peso (HIS, 2004; BIRTANE,
2004; ALMEIDA, 2009). Outros fatores não menos importantes, são as
compensações posturais, devido a fatores tais como postura antálgica,
encurtamentos musculares e até mesmo lesões também podem levar à alteração
da descarga de peso (MARCOLINO, 2008; MIRANDA, 2009).
A avaliação da descarga de peso é de extrema importância, pois pode
influenciar desde a escolha de calçados ou a concepção dos mesmos até mesmo
a elaboração de programas de reabilitação (ALFIERI, 2008). A avaliação da
descarga de peso pode ser realizada por meio de plataforma de força, plataforma
de pressão e de forma mais simples através de balanças digitais, porém,
também pode ser verificado por meio de equipamentos eletrônicos que consigam
obter o quanto de carga cada segmento está sofrendo, uma opção de recurso é
o videogame Nintendo Wii®. O Nintendo Wii® é um aparelho de
realidade virtual não imersivo, ou seja, que não envolve todo o corpo dentro
de um sistema virtual. É um videogame que vem sendo inserido nos tratamentos
motores e cognitivos como ferramenta terapêutica (SOUZA et al, 2011).
Esse videogame interage com o uso de controles, em que o jogador
(paciente) realiza movimentos segurando o controle, ação essa, que é
visualizada no televisor. Além disso, o Wii possui uma balança como
acessório, na qual o jogador pode treinar seu equilíbrio. Esta balança
calcula a distribuição do peso da pessoa e reproduz os resultados na tela
(BRESCIANI, 2012).
O controle postural é freqüentemente avaliado em indivíduos com algum tipo de
problema de equilíbrio ou em indivíduos com problemas nos membros inferiores,
porém hipotetizamos que uma simples lesão como, por exemplo, uma tendinite no
ombro, fratura de algum segmento do membro superior, também possam levar à
alteração da postura devido a posturas antálgicas podendo levar a alteração
da descarga de peso o que por sua vez pode levar prejuízos como alteração da
marcha. Por isto, acreditamos que investigar o quanto de alteração de descarga
de peso os indivíduos com lesões nos membros superiores podem apresentar, pode
ser importante a fim de que programas de reabilitação mais completos possam
ser elaborados, como por exemplo, a inclusão de treino de descarga de peso.
Desta forma o objetivo deste estudo foi o de avaliar a distribuição de peso
corporal e a mobilidade funcional de indivíduos saudáveis versus indivíduos
com lesões musculoesqueléticas no membro superior.
Metodologia
Este estudo de caráter transversal foi aprovado pelo Comitê de ética e
pesquisa do Centro Universitário Adventista de São Paulo (CAAE:
12352613.5.0000.5377) sendo realizado na Policlínica Universitária
do Centro Universitário Adventista de São Paulo - UNASP-SP. Os indivíduos que
aceitaram participar do estudo deram por escrito sua autorização no termo de
consentimento livre e esclarecido. Foram convidados a participar do estudo,
indivíduos da comunidade e aqueles que estavam em tratamento na Policlínica do
Centro Universitário Adventista de São Paulo – SP (UNASP-SP). Participaram
deste estudo 10 indivíduos de ambos os sexos considerados saudáveis (sem
lesões ortopédicas ou queixas de algias importantes (Escala Visual Analógica
< 3 cm) com idade entre 18 e 59 anos. Também participaram deste estudo 8
indivíduos com as mesmas características, porém algum tipo de
alteração/doença (fraturas, tendinites, bursites no sistema
musculoesquelético nos membros superiores que possuíam quadro álgico (Escala
Visual Analógica ≥ 4 cm) (CHAMPMAN, 1990). Não participaram deste estudo
aqueles com doenças associadas que interfiram na descarga de peso corporal tais
como doenças neurológicas: Parkinson, Acidente Vascular Encefálico (AVE),
queixas de tonturas ou com doenças musculoesqueléticas bilaterais.
Posteriormente foram coletadas informações como peso, altura, idade, sexo,
tempo da lesão e tempo de tratamento (para o grupo lesão).
Para avaliação da descarga de peso entre os membros inferiores, foi utilizado
o sistema de avaliação postural do Nintendo Wii Balance Board®. O
avaliador pediu ao paciente para que retirasse os calçados e ficasse sobre a
plataforma de equilíbrio (Nintendo Wii Balance Board). O software
utilizado foi o jogo Wii Fit Plus. O voluntário permaneceu com os pés
afastados, um em cada hemisfério da plataforma, de forma estática e relaxado,
olhando para um aparelho televisor ao nível dos olhos a dois metros de
distância. O jogo era iniciado e após, o Nintendo Wii media a descarga
de peso entre os membros inferiores direito e esquerdo, sendo então finalizado
o teste (SHIH, 2010). Foi calculado o grau de
assimetria de descarga de peso em valor percentual.
Os indivíduos também tiveram a sua mobilidade funcional avaliada por meio do
teste Timed Up & Go (TUG). Esse teste avalia o nível de
mobilidade do indivíduo, mensurando em segundos o tempo gasto pelo voluntário
para levantar-se de uma cadeira, sem ajuda dos braços, andar a uma distância
de 3 metros, dar a volta e retornar. No início do teste, o voluntário estava
com as costas apoiadas no encosto da cadeira e, ao final, encostava novamente. O
voluntário recebeu a instrução “vá” para realizar o teste e o tempo foi
cronometrado a partir da voz de comando até o momento em que o voluntário
apoiou novamente suas costas no encosto da cadeira. O teste foi realizado uma
vez para familiarização e uma segunda vez para tomada do tempo (PODSIADLO,
1991).
Análise
de dados
A análise dos dados foi feita em pacote estatístico Graph Pad Instat. Os dados
estão apresentados em média ± desvio-padrão. As comparações entre os
grupos foram feitas com o teste t para dados não pareados. Em todos os casos, o
nível descritivo α estabelecido foi 5% (α < 0,05).
Resultados
Os indivíduos recrutados para o grupo lesão (GL) foram selecionados através
da lista de pacientes atendidos e lista de espera no setor de ortopedia da
Policlínica Universitária do UNASP. Ambas as listas totalizavam 286 pacientes,
destes, apenas 85 indivíduos preenchiam os critérios de inclusão para o GL do
presente estudo. Foram contactados 43 pacientes no total, com relação aos
demais não obtivemos sucesso no contato, por motivos variados (números
inexistentes, ligações não atendidas, números incorretos), sendo que, dos
contactados, apenas 15 aceitaram fazer parte da amostra, porém, somente 8
entraram no estudo após serem avaliados, sendo que estes foram homogêneos
quanto ao local da lesão (tendinite e bursite de ombro). Já o grupo saudável
(GS) foi composto por pessoas que freqüentam a policlínica Universitária do
UNASP escolhidos aleatoriamente, foram avaliados no total 18 indivíduos, sendo
que apenas 10 atendiam aos critérios de inclusão.
A tabela 1 mostra as características gerais da amostra, quanto à
distribuição por gênero entre os grupos, média de idade e índice de massa
corpórea, intensidade da dor, mobilidade funcional e descarga de peso. Como
esperado, os grupo foram diferentes estatisticamente em relação à intensidade
da dor. Também foram diferentes em relação a media de idade, porém quanto ao
tempo de execução do TUG e em relação à descarga de peso, ambos os grupos
foram semelhantes.
Tabela
1. Características gerais entre os grupos: saudáveis (GS) e grupo com
lesão dos membros superiores (GL)
Discussão
Há evidências na literatura de que indivíduos que apresentam dor em algum
segmento do corpo podem desenvolver postura antálgica e conseqüentemente um
desequilíbrio postural (MARCOLINO, 2008; MIRANDA, 2009). Segundo Marcolino
(2008), em estudo de caso, um paciente com dor no ombro pode adotar uma postura
de elevação do mesmo devido a quadro álgico decorrente de lesão no plexo
braquial.
Neste estudo, hipotetizamos que indivíduos com algum tipo de lesão no membro
superior poderiam apresentar alteração da postura que por sua vez poderia
interferir na descarga de peso, bem como na mobilidade funcional, porém tal
hipótese não foi confirmada. Observou-se no presente estudo que a avaliação
assimétrica da descarga de peso não apresentou diferença significativa entre
GS e GL (0,71 ± 5 e 1,22 ± 7, respectivamente) sugerindo que lesões em
membros superiores não interferem na descarga de peso. Em relação ao tempo de
execução do teste timed up and go, o mesmo ocorreu, mostrando que neste
grupo de indivíduos a mobilidade funcional não foi afetada devido à lesão do
membro superior.
Estudos comprovam a eficácia do Nintendo Wii como um método de reabilitação
(TAVARES, 2013; PERIARD, 2013), contudo, não foi encontrado na literatura,
evidência de que esse instrumento seja eficaz na avaliação. Porém, um fato
que pode ajudar a realmente comprovar que não há diferença ao menos nestes
indivíduos deste estudo preliminar, é a questão da mobilidade funcional
também não ser diferente entre os grupos. Por isto, sugerem-se estudos
comparativos entre Nintendo Wii versus métodos já comprovados como plataforma
de força, balança digital, posturografia dinâmica foam-laser e
baropodometria computadorizada, bem como a utilização de amostras maiores e
homogêneas em relação à idade (LOTH, 2011; ALFIERI, 2006; MARTINS, 2011;
DUARTE, 2010).
Acreditamos que nossos resultados aconteceram provavelmente devido a alguns
fatores tais como o baixo valor na escala visual analógica e também ao fato de
que talvez no momento da avaliação os indivíduos tentassem descarregar o peso
de forma mais harmônica possível, mascarando uma possível diferença. Outra
possível explicação pode ser o tamanho da amostra.
Considerações
finais
Os dados deste estudo preliminar mostraram que indivíduos com lesão no ombro
com intensidade de dor com média de 6,2 cm na Escala Visual Analógica, não
apresentam menor mobilidade funcional e nem possuem alteração da descarga de
peso em relação a indivíduos considerados saudáveis. Sugere-se, portanto que
mais estudos sejam realizados, porém com amostras maiores e também que usem
outros métodos de avaliação como, por exemplo, a baropodometria
computadorizada e plataforma de força a fim de comprovar ou não a questão da
assimetria da descarga de peso em indivíduos com lesões nos membros
superiores, bem como a mobilidade funcional nestes pacientes.
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