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Aspectos sociais e econômicos de atletas

 residentes em região de elevado risco de malária

Aspectos sociales y económicos de los deportistas residentes en una región con elevado riesgo de malaria

 

*Dr. em Biologia Experimental

Pós- Doutorando pela Fiocruz/unidade de Rondônia

Professor do Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Rondônia

Integrante do Grupo de Estudos do Desenvolvimento e da Cultura Corporal

**Dr. em Bioquímica

Professor do Departamento de Medicina da Universidade Federal de Rondônia

Vice- Presidente da Fundação Oswaldo Cruz, Brasil.

***Dr. em Parasitologia

Vice-Diretor de Pesquisa e Laboratório da Fundação Oswaldo

Cruz – Unidade de Rondônia, Brasil.

****Dr. em Biologia Experimental

Diretor técnico do Centro de Pesquisa em Medicina Tropical/CEPEM

*****Dra. em Sociologia e professora de Educação Física

Professora do Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Rondônia

Diretora do Núcleo de Saúde da Universidade Federal de Rondônia

Líder do Grupo de Estudos do Desenvolvimento e da Cultura Corporal

Ramón Núñez Cárdenas*

Rodrigo Guerino Stabeli**

Luiz Hildebrando Pereira da Silva***

Mauro Shugiro Tada****

Ivete de Aquino Freire*****

rnunezcardenas@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Os resultados esportivos da região norte do Brasil nas diversas modalidades esportivas estão longe de aproximar-se de outras regiões do país como sul e sudeste. Alguns resultados positivos verificados são pontuais e esporádicos, com maiores destaques para os estados do Pará e Amazonas. Por outro lado, a região norte inserida na Amazônia Brasileira, historicamente é reconhecida como região endêmica de malária. É neste contexto que se insere a cidade de Porto Velho, capital do estado de Rondônia. Apesar das Políticas públicas para o esporte no país, os resultados esportivos de Rondônia acompanham a esporte amazônico na fragilidade das conquistas obtidas. Desde 2004 o governo brasileiro discute e elabora políticas para investimento mais eficaz no esporte de rendimento no país. Criou o programa bolsa-atleta na perspectiva de minimizar os problemas sociais e econômicos dos esportistas de rendimento, se comprometeu a investir em espaços físicos e instalações adequadas. O presente estudo teve como objetivo conhecer o perfil econômico dos atletas de rendimento da cidade de Porto Velho e estabelecer relações com os aspectos sociais dos mesmos em consonância com as Políticas Públicas para o setor esportivo no Brasil. Para o diagnóstico econômico utilizou-se uma adaptação do Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB) da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa - ABEP (2003); para identificação do perfil social elaborou-se um questionário próprio para este fim. Os dados foram complementados com registro em Diário de Campo durante a coleta de dados. Os resultados apontam que a manutenção do esporte de rendimento na cidade de Porto Velho se deve ao nível econômico dos atletas (C1 e C2) que garantem uma rotina de treinamentos e participação em competições; e ao amor pelo esporte por parte dos treinadores e praticantes. Por outro lado, os aspectos sociais levantados no estudo (filhos, companheiro/companheira, estudo e trabalho ou ambos) contribuem negativamente no desempenho esportivo devido a que o tempo despedido para estes aspectos podem prejudicar uma fase importante do treinamento esportivo, como por exemplo, a recuperação após a carga física.

          Unitermos: Políticas públicas. Esporte de rendimento. Malária. Região Amazônica.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 192 - Mayo de 2014. http://www.efdeportes.com/

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I.     Introdução

    Desde 2004, o Governo Brasileiro vem adotando estratégias de discussões populares sobre as Políticas Públicas no âmbito esportivo. Uma destas estratégias é a promoção de Conferências Nacionais de Esporte e Lazer. Tais eventos tiveram como pontos de partida discussões preliminares em todos os estados da Federação e Distrito Federal (MINISTÉRIO DO ESPORTE, 2010).

    Três conferências nacionais voltadas ao setor esportivo foram desenvolvidas a partir de 2004. Cada conferência nacional resultou em um relatório final a modo de explicitar as decisões dos representantes tanto do poder público (nas suas distintas esferas); como da sociedade civil organizada. Os documentos, resultados das conferências, se caracterizam por expressar as demandas necessárias para o desenvolvimento do esporte brasileiro bem como a sinalização das responsabilidades das distintas esferas de poder.

    O relatório da primeira conferência de esporte, realizada em 2004, retrata que tais eventos expressam o posicionamento e as deliberações da comunidade esportiva e sociedade em geral cuja finalidade é orientar e subsidiar a Política Nacional do Esporte.

    Dentre as decisões expressas no relatório da I Conferência Nacional de Esportes, chama atenção que dos 10 itens em que está dividido, 3 fazem, menção a questão social e econômica dos atletas. Em relação ao esporte de rendimento, a bolsa-atleta, espaços físicos adequados e instalações são o carro-chefe das deliberações. De modo mais ou menos enfático, os três relatórios apontam metas e ações para o investimento no esporte de rendimento. Para a implantação das ações propostas nas convenções o documento afirma que cabe responsabilidade ao Estado e a Sociedade.

    Estudos sobre aspectos econômicos e sociais dos atletas são necessários na medida em que favorecem a compreensão de fatores importantes no desempenho esportivo dos mesmos, uma vez que tais fatores tem profunda relação com as condições de vida. Os estudos sociais e econômicos são importantes instrumentos para formulação, validação e avaliação de políticas orientadas para o desenvolvimento e a melhoria das condições de vida no Brasil.

    O atleta de rendimento necessita adequar-se a uma série de padrões de treinamento, de rotina, de dieta, entre outros aspectos, que o diferencia das rotinas costumeiras dos indivíduos não atletas. Mesmo no esporte amador, as competições exigem um tempo destinado aos treinamentos e competições bem como sistematização e periodização das cargas de treinamento, seriedade e disciplina na busca de resultados satisfatórios.

    O atleta que necessita trabalhar ou aqueles com baixo nível social e econômico pode ter baixo rendimento esportivo. De acordo com Balyi (2005), os estudos têm demonstrado que são necessários, no mínimo, 10 anos e 10 mil horas de treino para que um atleta considerado talentoso consiga atingir níveis elevados de desempenho na sua modalidade esportiva. O êxito atlético nas etapas de formação é fortemente influenciado pela maturação e pela experiência (tempo de prática, número de competições, número de sessões de treinos, entre outros). Para isso, o atleta necessita entre outros aspectos, dedicar tempo às atividades esportivas.

    As categorias sociais e econômicas interferem no desempenho dos atletas, uma vez que as condições alimentares, vestuário e moradia são dependentes do nível social e econômico. Apesar da importância de estudos voltados ao nível socioeconômico de atletas este tema tem sido pouco investigado. No estado de Rondônia e demais estados da federação localizados na Amazônia brasileira, este fenômeno não ocorre de modo diferente.

    O futebol, esporte que mais incentivo financeiro tem no Brasil, na região norte é avaliado como decadente. Neste esporte, o estado de Rondônia nunca conquistou nenhum título de relevância nacional ou regional (ELANDER e TADEU, 2014). Ainda na mesma região, ao analisar as demais modalidades esportivas, podem ser verificadas alguns resultados positivos pontuais e esporádicos, com maiores destaques para os estados do Pará e Amazonas. Entretanto, tais resultados estão longe de eliminar o distanciamento entre resultados esportivos da região norte brasileiro e das regiões sul e sudeste por exemplo.

    Paralelo a este quadro, a Amazônia é classificada como uma região endêmica de malária. E o estado de Rondônia está localizado no sudoeste dessa região, portanto se trata de um estado vulnerável a esta doença. A localidade ocupa uma área de 238. 512,8 km², equivalente a 2,8% da superfície do território nacional, sendo o 3º estado mais populoso e o mais denso da região Norte; é o 23º mais populoso do Brasil, com 1.590.011 habitantes (IBGE). Não foram localizados estudos que apontem para o potencial esportivo dos moradores da localidade.

    A cidade de Porto Velho, por sua condição de principal centro urbano do estado de Rondônia, tem sido pólo de atração demográfica nas últimas décadas, recebendo importantes contingentes de migração. O crescimento demográfico intenso e desordenado, ocorrido nos anos 70-80 deu origem a um processo de urbanização acelerado, resultando em sérios problemas de infra-estrutura de serviços públicos que não estavam dimensionados para atender demandas tão grandes em tão pouco tempo. Tal processo se repete nos últimos três anos. Os impactos no ordenamento da região, principalmente relacionado ao fluxo migratório, adensamento da ocupação e desflorestamento com foco na proteção do ecossistema, somam-se as já precárias condições sanitárias, Riscos de uma nova epidemia de Malária não podem ser desconsiderados uma vez que a propagação dessa doença está ligada a alterações no ambiente, como os desmatamentos, processos migratórios, sanitárias e comportamentais entre outras. Desse modo, se vê agravado a vulnerabilidade ambiental, social e econômica da região demandando uma nova forma de organização que envolva políticas públicas sérias de infraestrutura.

    Considerando o contexto anteriormente descrito, o estudo ora apresentado tem como objetivo conhecer o perfil econômico dos atletas de rendimento da cidade de Porto Velho e estabelecer relações com os aspectos sociais dos mesmos.

II.     Materiais e métodos

    O estudo foi realizado no período de Novembro de 2013 a Março de 2014. Participaram da pesquisa atletas registrados nas suas respectivas federações esportivas, e classificados na categoria de esporte de rendimento amador.

    A amostra foi constituída de 30 atletas de futsal; 28 de basquete e 15 de voleibol, tanto homens como mulheres; e todos acima de 18 anos de idade. Os dados foram coletados nos locais de treinamentos e/ou de competições.

    Para a classificação econômica dos atletas, foi utilizada uma adaptação do Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB) da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa - ABEP (2003:1-3), que pontua os bens de cada indivíduo e Grau de instrução do chefe de família, conforme demonstram as Figuras 1 e 2.

Figura 1. Referência para pontuação dos Bens

Figura 2. Referência para pontuação do Grau de Instrução do chefe da família

Figura 3. Referência para a Classificação econômica

    Para as informações sociais, considerou-se a existência de filhos, estado civil e atividades as quais se dedica (trabalho e/ou estudo), além dos treinamentos e participações em competições.

    Os dados da situação social foram coletados através da inserção das perguntas para este fim, no questionário adaptado do Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB) da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa - ABEP (2003).

    Além do questionário utilizaram-se registros em Diário de Campo, cujo objetivo foi levantar informações que contribuíssem na contextualização dos dados do questionário.

    Para a análise dos dados, realizou-se a análise estatística das variâncias e média de cada um dos aspectos econômicos e sociais que foram avaliados nos grupos estudados. Este procedimento foi adotado a fim de comprovar a igualdade das variâncias (test-f) e, médias (teste t) nas amostras.

III.     Resultados e discussões

    Os treinamentos das modalidades estudadas são realizados em distintos lugares, com horário de início entre 22 e 23horas; o tempo dedicado varia em torno de 2 horas; três a cinco vezes na semana.

    Para participação em competições estaduais, regionais e nacionais, todos os gastos com uniforme, pagamento de taxas de inscrição, passagem para deslocamento, hospedagem e alimentação são custeados pelos atletas ou seus familiares. Esporadicamente e de forma assistemática, as secretarias estadual ou municipal de esportes financiam no todo ou em parte os gastos com deslocamentos.

    Os locais utilizados para os treinamentos são espaços públicos cuja autorização de uso depende do prestigio dos treinadores ou de algum atleta junto ao/a gestor/a das instalações. A manutenção dos espaços é precária: as paredes estão sujas e descascando, os lavatórios e sanitários não funcionam e chamam a atenção pela falta de limpeza. È comum observar-se o acúmulo de águas paradas, dentro e fora dos espaços de treinamento o que favorece a ocorrência de criadouros de mosquitos de várias espécies, inclusive de anofelinos transmissores da Malária.

    Com relação aos dados econômicos dos atletas de Futsal, Basquetebol e Voleibol, verificou-se que apresentam perfil similar, conforme se expressa nas Tabelas 1, 2 e 3. Os atletas de Futsal e de Basquete, foram identificados na categoria econômica C1, obtendo respectivamente 18,82 e 18,76 pontos (Figura 4). Pode-se inferir que no aspecto econômico estes atletas se encontram em classe considerada médio-baixa; já os praticantes de Voleibol, com obtenção de 16,06 pontos foram qualificados na categoria C2, aproximando-se mais da classe baixa quando comparados com os primeiros.

    Para a leitura das Tabelas 1, 2 e 3 utilizou-se as seguintes siglas:

Tabela 1. Pontuação relativa à Situação Econômica dos atletas de Futsal

Tabela 2. Pontuação relativa à Situação Econômica dos atletas de Basquetebol

Tabela 3. Pontuação relativa à Situação Econômica dos atletas de Voleibol

    Para comprovar a igualdade das variâncias nas amostras utilizou-se o test-f, verificando-se aceitação da hipótese nula devido a que p(f<=f)> 0,05, ou seja a variância em relação ao aspecto econômico dos atletas de Futsal- Voleibol e Basquetebol e Voleibol não são diferentes. Já nos atletas de Futsal-Basquetebol se observam resultados diferentes, isto é a variância dos atletas de futsal é diferente aos de atletas Basquetebol. Uma vez analisada a variância para as amostras no aspecto econômico foi utilizado o teste-t para duas amostras presumindo variância equivalente (Futsal-Voleibol e Basquetebol-Voleibol), e teste-t de variância diferente (futsal-basquetebol), com o objetivo de comparar as médias das amostras. Obteve-se como resultado, diferença não significativo entre as médias dos grupos de atletas estudados (Tabela 4).

Tabela 4. Análise de variâncias e Médias da Situação Econômica dos atletas através do teste-f e teste-t de variâncias equivalentes e diferentes

 

Figura 4. Representação Gráfica da análise comparativa da Situação Econômica dos atletas de Futsal, Basquetebol e Voleibol

    Os testes estatísticos mostram que não há diferença significativa no poder de compra entre os atletas de Futsal, Voleibol e Basquetebol quando comparados entre si. Desse resultado, pode-se inferir que a situação econômica dos atletas investigados permite que os mesmos participem das competições fora do município e do seu estado de residência.

Resultados da avaliação social dos atletas de esportes coletivos

    Os resultados da situação social dos atletas estudados podem ser observados nas Tabelas 5, 6 e 7.

Tabela 5. Resultado da Avaliação Social dos atletas de Futsal

Tabela 6. Resultado da Avaliação Social dos atletas de Basquetebol

Tabela 7. Resultado da Avaliação Social dos atletas de Voleibol

    Realizou-se a análise estatística das variâncias e média de cada um dos aspectos sociais que foram avaliados nos grupos estudados. Este procedimento foi adotado a fim de comprovar a igualdade das variâncias nas amostras. Para tanto, utilizou-se o teste-f, verificando-se aceitação da hipótese nula devido a que p(f<=f)> 0,05, ou seja a variância em relação à idade dos atletas de Futsal não é diferente aos dos atletas de Basquetebol. Entretanto nos esportes de Futsal e Voleibol; e Basquete e Voleibol observou-se que as variâncias são diferentes, isto é p(f<=f)< 0,05. Uma vez analisada a variância para as amostras nas idades (Futsal e Basquetebol) foi utilizado o teste-t para duas amostras presumindo variância equivalente. Como resultado, verificou-se diferença não significativa para ambas as médias. Já no Futsal e Voleibol; e Basquetebol e Voleibol foram utilizados o teste-t presumindo variâncias diferentes observando-se diferença significativa entre as médias (Tabela 8, Figura 5).

    Estudos com objetivos variados mostram as diferenças de idade entre os atletas, assinalados segundo a modalidade esportiva. Alguns esportes requerem atletas cada vez mais jovens como é o caso da ginástica artística; enquanto outras modalidades demandam esportistas adultos e com mais experiência. No Basquetebol, por exemplo, a idade média de atletas profissional está em torno de 22 anos (Silva, 2012); e 25 anos (Ribeiro; Vasconcelos; Gôngora e Santana, 2014). Já na modalidade Futsal, distintos estudos apontam para a idade média dos atletas de equipes profissionais brasileiras: em torno de 20 anos (Leal Junior; Souza; Magini e Martins, 2014); 21 anos (Heineck; Moro e Matheus, 2014); 22 anos (Guimarães; Andrade; Crescente e Siqueira, 2014) e 24 anos (Wilton e Ribeiro, 2014; Balbim; Fiorese, 2014). No Voleibol a idade de atletas profissionais é em média 20 anos (Agresta; Brandão e Barros, 2014); 24 anos no caso das mulheres; e dos homens, 22 anos (Bueno e di Bonifácio, 2007).

    Seguindo os estudos, pode-se deduzir que os atletas de Porto Velho, nas três modalidades esportivas analisadas, se encontram em idade que acompanha os esportistas profissionais do Brasil, portanto com possibilidades de evoluir da fase de esporte amador para o profissional considerando-se o fator idade.

Tabela 8: Análises de variâncias e medias em relação à idade e quantidade de filhos dos atletas através do teste f e teste t de variâncias equivalentes e diferentes

 

Figura 5. Representação gráfica da análise comparativa da idade dos atletas de futsal, basquetebol e voleibol

 

Figura 6. Representação Gráfica da análise comparativa da quantidade de filhos dos atletas de Futsal, Basquetebol e Voleibol

    Para a análise da igualdade das variâncias e as médias de ambas as amostras, foram utilizadas o teste-f e teste-t de variâncias equivalentes. Observou-se igualdade das variâncias; assim como também diferença não significativa das médias entre as amostras em relação ao estado civil, atividades de estudo, trabalho e estudo e trabalho dos atletas de Futsal-Basquetebol, Futsal-Voleibol e Basquetebol-Voleibol (Tabela 9 e Figura 7).

Tabela 9. Análise de variâncias e médias em relação ao estado civil, estudo, trabalho e estudo e trabalho dos atletas através do teste f e teste t de variâncias equivalentes

 

Figura 7. Representação gráfica da análise comparativa do estado civil, estudo, trabalho e estudo e trabalho dos atletas de Futsal, Basquetebol e Voleibol

    Se somados os números de atletas que trabalham com aqueles que estudam e trabalham, resulta um total de 72% dos esportistas pesquisados. Além da jornada de estudo e/ou trabalho acrescenta-se o tempo destinado aos treinamentos, o que significa dizer que estes atletas possuem dupla ou tripla jornada de atividades que podem ser consideradas atividades laborais. A situação se agrava no caso de atletas que possuem filhos e/ou são casados ou tem uma relação marital, circunstâncias que exigem tempo destinado para o desempenho das tarefas de pai/mãe; e companheiro/companheira. A recuperação na prática esportiva exerce um papel fundamental no êxito esportivo. Além deste fator, o descanso adequado diminui o nível de fadiga e a freqüência de lesões (GREIG e JOHNSON, 2007; MORASKA, 2007). A recuperação envolve três processos indispensáveis: fisiológico, psicológico e social (SIMOLA, SAMULSKI, PRADO, 2007).

    Durante o estudo, foi localizado apenas um atleta que se dedica exclusivamente ao esporte. Os demais, cuja maioria compõe a amostra deste estudo, são trabalhadores que atuam em diversas áreas profissionais para manutenção de fonte de renda.

    O treinamento esportivo, orientado por princípios científicos preconiza que após um esforço, o organismo deve ser submetido a um período de descanso adequado. É justamente nessa pausa que ocorrem as mudanças necessárias para a melhoria do desempenho físico. O período de recuperação não pode ser muito curto, pois o organismo necessita recuperar suficientemente as suas reservas; caso contrário, pode entrar em um processo de supercompensação na tentativa de manter o equilíbrio das funções biológicas (homeostase). Com o treinamento, as células musculares apresentam algumas alterações do metabolismo, e para que essas ações ocorram com eficácia, o descanso do atleta será fundamental (Weineck, 1999).

    A literatura atual menciona o descanso ativo para recuperar a musculatura de forma rápida e eficaz. A técnica é realizada através de exercício com curta duração (30 minutos), baixa a moderada intensidade entre 24h e 48h após estímulo intenso. O descanso ativo deve ser programado como parte do planejamento do treinamento do atleta (Pastre, Junior J, Vanderlei, 2009). No caso dos atletas participantes deste estudo, nenhum deles tem em seu programa de treinamento, o descanso ativo.

Análise comparativa dos resultados socioeconômico dos atletas de futsal, basquetebol e voleibol

    Na figura 8 pode-se observar a representação do perfil social econômico dos atletas de Futsal, Basquetebol e Voleibol.

Figura 8. Representação gráfica da análise comparativa do perfil social e econômico dos atletas de Futsal, Basquetebol e Voleibol

SE: Situação Econômica; C1: Classe Econômica C1

    Além do descanso ativo, evidências recentes apontam para a necessidade de determinadas horas de sono para o desempenho exitoso de um atleta. A falta de sono pode levar a um metabolismo mais lento de glicose, redução de 30% para 40%. Além disso, a privação de sono tem sido associada a níveis mais elevados de esforço percebido e um decréscimo real em níveis de resistência aeróbia. Uma boa qualidade e quantidade de sono antes das competições e durante uma programação de treinamento ajuda o organismo a se recuperar mais rápido e manter a resistência necessária para a prática esportiva.

    Considerando o exposto, os atletas pesquisados que trabalham; ou estudam e trabalham, são chefes de família e possuem filhos, apresentam forte tendência a ter afetado seu tempo de repouso e sono. O tempo dedicado aos horários de treinamentos (em torno de 2 horas, cinco vezes na semana) e na locomoção do espaço esportivo para a residência; e da residência para o espaço esportivo corrobora com esta tendência. Ao longo de um período de tempo estes fatores poderão interferir na saúde dos mesmos e, consequentemente, no desempenho atlético.

    Por outro lado, no esporte de rendimento de atletas habitantes de regiões endêmicas, o nível de exigência com a saúde adquire grande importância, sobretudo no enfrentamento de doenças como a malária, que continua sendo considerada a endemia que causa maior impacto na população Amazônica. Na cidade de Porto Velho as águas paradas nos espaços de treinamento e seu entorno que favorecem a proliferação de mosquitos, reforçam a vulnerabilidade que se encontram os atletas.

V.     Conclusões

    Dos resultados levantados neste estudo, pode-se deduzir que a manutenção do esporte de rendimento na cidade de Porto Velho se deve ao nível econômico dos atletas (C1 e C2) que garantem uma rotina de treinamentos e participação em competições; e ao amor pelo esporte por parte dos treinadores e praticantes. Por outro lado, os aspectos sociais levantados no estudo (filhos, companheiro/companheira, estudo e trabalho ou ambos) contribuem negativamente no desempenho esportivo devido a que o tempo despedido para estes aspectos podem prejudicar uma fase importante do treinamento esportivo, como por exemplo, a recuperação após a carga física.

    Os resultados obtidos no estudo nos remetem a algumas reflexões. Entende-se que num governo democrático, que organiza conferências a modo de conhecer as necessidades e expectativas da sociedade; a implementação das decisões tomadas, são mais do que um compromisso político; se tornam obrigação dos gestores nas distintas esferas de governo. No que diz respeito ao esporte de rendimento na cidade de Porto velho, as decisões tomadas nas conferências não tem servido de balizadoras das ações.

    A variedade geográfica, social e econômica das diversas regiões do Brasil impõe a necessidade de Políticas Públicas Esportivas diferenciadas, que expressem as demandas imperativas para o desenvolvimento do esporte. As especificidades da Amazônia brasileira e os incipientes resultados esportivos obtidos na região têm demonstrado que é imperativo o atendimento às demandas particulares, sob pena de manterem-se as discrepâncias nos resultados esportivos entre as regiões do país. Os condicionantes geográficos, econômicos e sociais tem se constituído fortes elementos para a seletividade esportiva no Brasil, superando as habilidades e rendimento esportivo individual e coletivo. Assim, o resultado das competições esportivas no Brasil reproduz a realidade destes condicionantes.

    A fragilidade nas conquistas obtidas pelo esporte amazônico, e especial em Porto velho, se deve mais bem ao fracasso das Políticas Públicas para este setor. A localização da cidade em zona considerada de alto risco para determinadas doenças, como a Malária, por exemplo, indica maior vulnerabilidade na saúde dos atletas, o que demanda atendimento diferenciado quando comparados com atletas de outras regiões do Brasil.

    Finalmente, pode-se inferir que a gestão do esporte na localidade estudada, nas diversas esferas, faz uso de mecanismos sutis que sustentam a fragilidade do desempenho esportivo da região amazônica. Desse modo, dificilmente os atletas de Porto Velho chegarão à fase de transição do esporte amador para o profissional.

    Daí a necessidade de garantir infraestrutura, alimentação adequada, atenção a saúde e na melhoria da qualidade de vida dos atletas, apontando assim para um investimento real no desenvolvimento dos talentos esportivos na região.

Referencias

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 19 · N° 192 | Buenos Aires, Mayo de 2014  
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