Resposta fisiológica aguda em diferentes condições de salto na aula de natação para bebés Respuesta fisiológica aguda en diferentes condiciones de salto en la clase de natación para bebés |
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*Departamento de Ciências do Desporto; Universidade da Beira Interior/CIDESD **National Institute of Education, Nanyang Technological University/CIDESD ***Departamento de Desporto e Expressões; Instituto Politécnico da Guarda/CIDESD (Portugal) |
Alberto Ramos* Daniel Marinho* Tiago Barbosa** Mário Costa*** |
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Resumo O efeito fisiológico agudo promovido pela prática de natação para bebés tem sido um tópico explorado nos últimos anos pelos autores de referência. Foi objetivo deste estudo comparar a resposta fisiológica aguda entre diferentes situações promotoras de salto na aula de natação para bebés. Os valores de frequência cardíaca média (FCméd) foram adotados como indicadores do nível de stress/exigência física durante a execução do salto para a água segundo três vertentes: (i) da borda; (ii) de um colchão flutuante, e; (iii) do escorrega. Apenas se registaram diferenças significativas na FCméd quando comparados o salto do colchão e da borda (p = 0,03). Os coeficientes de correlação demonstraram que a experiência de prática influencia significativamente o salto a partir do escorrega (rs = -0,57, p = 0,03). Os monitores de natação para bebés deverão estruturar as suas progressões pedagógicas tendo como base a exigência física e/ou o receio promovido pela várias situações promotoras de salto. Unitermos: Natação. Bebés. Frequência cardíaca. Conteúdos.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 191, Abril de 2014. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Nos últimos anos tem-se assistido a um aumento da adesão por parte das crianças à prática da natação para bebés. Dada a massificação desta atividade pelos centros aquáticos em todo o mundo, a comunidade técnico-científica tem procurado entender o comportamento do bebé no meio aquático. A diminuição de episódios de afogamento (Stallman et al., 2008), a melhoria de habilidades motoras aquáticas básicas (Langendorfer e Bruya, 1995) e os efeitos adversos que possam ocorrer por exposição ao cloro (Voisin et al., 2010) têm sido alguns tópicos abordados no passado.
Recentemente outros grupos de investigação têm procurado verificar o efeito fisiológico agudo na prática dos exercícios básicos durante as sessões de natação para bebés (Martins et al., 2010). Dado o seu caráter não invasivo, a frequência cardíaca (FC) tem sido utilizada como o indicador de referência. Ainda que indiretamente, os aumentos de FC podem ser indicadores do nível de stress perante situações incomuns (como seja o exercício no meio aquático) (Malik, 1998). Paralelamente, a FC pode ainda expressar o nível de exigência de determinada atividade física (Kenney et al., 2012).
Tendo em conta o trabalho de habilidades de motricidade grossa, a progressão pedagógica proposta para as aulas de natação para bebés tem sido sustentada em seis conteúdos distintos (Barbosa e Queirós, 2005; Barbosa et al., 2013): (i) adaptação ao local; (ii) flutuações; (iii) deslocamentos; (iv) imersões; (v) passagens, e; (vi) saltos. O trabalho destes conteúdos ao longo das aulas é feito de uma forma inter-relacionada e não estanque. Estudos anteriores têm reportado diferentes valores de FC para diferentes vertentes dos conteúdos atrás descritos. Por exemplo, os valores de FC parecem ser mais elevados na execução de flutuações ou deslocamentos em posição ventral quando comparados com a posição dorsal (Martins et al., 2010). Numa perspetiva pedagógica este facto sugere que o trabalho numa primeira instância deverá ser direcionado numa posição dorsal e ir gradualmente introduzindo exercícios de posição ventral.
Apesar dos avanços, carecem ainda evidências científicas de como estruturar a progressão de ensino no trabalho do conteúdo “saltos”. Foi objetivo deste estudo comparar a resposta fisiológica aguda entre diferentes situações promotoras de salto na aula de natação para bebés.
Métodos
Amostra
Fizeram parte do presente estudo 14 bebés (36,00±5,08 meses de idade) com experiência prévia em ambiente aquático (9,71±5,14 meses de prática). Os pais das crianças deram o seu consentimento escrito para a participação no estudo no que toca à recolha de imagens e indicadores cardíacos. Todos os procedimentos foram aprovados pelo Comité Científico Institucional e realizados de acordo com a Declaração de Helsínquia nos que diz respeito à pesquisa em seres humanos.
Recolha dos dados
Os bebés foram monitorizados ao longo de uma sessão de natação em três condições distintas de salto para a água (Figura 1): (i) da borda; (ii) de um colchão flutuante, e; (iii) do escorrega. Todas as situações foram executadas na presença dos pais. Adotou-se a frequência cardíaca média (FCméd, bpm) como o indicador fisiológico representativo do nível de exigência física provocado por cada um dos comportamentos. A FC foi medida por intermédio de um cardiofrequencímetro (Polar S210, Finlândia) colocado no peito do bebé, em cada uma das condições. Cada vertente do exercício só foi executada após os valores de FC retornarem a valores similares observados durante o repouso pré-aula (FCrep = 111,00±5,55 bpm). Assumiram-se como critérios de exclusão: (i) os bebés não reagirem bem à presença do dispositivo no corpo; (ii) perda momentânea de dados por imersão exagerada após o salto.
Figura 1. Condições de execução do salto para a água; a) da borda; b) do colchão flutuante; c) do escorrega
Procedimentos estatísticos
Os dados foram expressos em termos de medidas de tendência central (média, ±1 DP, máximo e mínimo. A distribuição da normalidade foi efetuada com recurso ao teste Shaphiro-Wilk. Dado que a normalidade não foi sustentada adotou-se a estatística não paramétrica. Recorreu-se ao teste de Wilcoxon para comparar os valores de FCméd entre as três condições de execução. Foi ainda usada a correlação de Spearman (rs) para determinar o grau de associação entre os valores de FCméd e os meses de experiência prática em meio aquático. O nível de significância foi determinado para P £ 0,05.
Resultados
A tabela 1 demonstra os valores obtidos nas três condições de execução de salto para a água. Os valores mais elevados de FCméd foram observados no salto a partir do colchão (138,86±12,28 bpm), seguido do salto a partir do escorrega (137,29±11,17 bpm) e finalmente do salto a partir da borda (133,14±13,20 bpm). Apenas se registaram diferenças significativas quando comparados o salto do colchão e da borda (p = 0,03). A tabela 1 apresenta ainda os valores de associação (rs) entre as três condições de execução e a experiência antecedente em ambiente aquático. Os coeficientes de correlação demonstraram que a experiência de prática (rs = -0,57, p = 0,03) se associou significativamente com o salto a partir do escorrega.
Tabela 1. Valores médios de frequência cardíaca obtidos nas três condições de salto e sua associação com os meses de experiência prévia em meio aquático.
Discussão
O objetivo do presente estudo foi o de comparar os valores de frequência cardíaca em diferentes condições de salto na aula de natação para bebés. Os resultados apontam para diferentes respostas fisiológicas agudas consoante as diversas condições do exercício.
Os valores de FCméd obtidos neste estudo parecem estar de acordo com os valores apresentados por outros autores (~130 bpm) que tenham usado amostras semelhantes durante a execução de saltos para o meio aquático (e.g. Martins et al., 2010). Quando comparadas as três condições de execução, foi na vertente do colchão onde se verificaram os maiores valores de FCméd e com diferença estatística para as outras componentes. O facto de estarmos perante uma superfície instável (o colchão flutuante) acarreta maior exigência física. Impreterivelmente existe uma necessidade de um maior aporte de oxigénio para a musculatura inferior para o bebé manter o equilíbrio. Deste modo dá-se um aumento do número de batimentos cardíacos para suprimir as necessidades musculares. Fenómeno semelhante foi observado no passado mas num conteúdo distinto. A resposta da FCméd revelou-se mais elevada durante a flutuação dorsal quando comparada com a flutuação ventral (Martins et al., 2010). O facto de os bebés estarem privados de oxigénio quando a face está imersa durante a flutuação ventral faz com que a atividade simpática despolete um aumento do FC durante o exercício (Kenney et al., 2012).
A experiência prática no meio aquático associou-se significativamente com o salto a partir do escorrega. Dado que se trata de um salto de um plano superior, parece que quanto maior for o número de meses de contacto com o objeto, menor será o sentimento receoso por parte do bebe e por sua vez a FC será diminuída. Evidências semelhantes foram já reportadas no passado com base em análises de cortisol salivar em bebés que frequentaram sessões de natação. Hertsgaard et al. (1992) observaram que duas sessões sucessivas de natação promoveram uma diminuição nos níveis de cortisol, sensação de bem-estar nos bebés e uma maior facilidade nas exigências do ambiente que os rodeava. Deste modo, parece que o stress perante as execuções mais difíceis de salto será atenuado consoante maior for a experiência prática.
Assim, alerta-se os monitores de natação para bebés, que deverão estruturar as suas progressões pedagógicas tendo como base a exigência física e/ou o receio promovido pela tarefa. No momento em que quiserem trabalhar o conteúdo “salto”, deverão considerar iniciar a progressão a partir de superfícies estáveis (p.e. borda ou escorrega) e racionalmente ir fazendo a transição para o salto a partir de superfícies instáveis (p.e. colchão).
Conclusão
A exigência física traduzida pela resposta fisiológica aguda parece ser diferente entre três condições de salto na aula de natação para bebés. Os valores expressos pela frequência cardíaca indicam que a exigência física é maior quando os bebés saltam de um colchão flutuante quando comparada com um salto a partir da borda ou de um escorrega.
Referências
Barbosa TM, Queirós TM. Manual Prático de Atividades Aquáticas e Hidroginástica. Ed. Xistarca. Lisboa, 2005.
Barbosa TM, Costa MJ, Marinho DA, Silva AJ, Martins M, Queiros T. Jogos aquáticos nas sessões de atividades aquática na primeira infância. Pulsar, 2013; vol 5 nº 1.
Hertsgaard L, Gunnar M, Larson M, Brodersen L, Lehman H. First time experiences in infancy: when they appear to be pleasant, do they activate the adrenocortical stress response? Developmental Psychobiology, 1992; 25(5):319-33.
Kenney W, Wilmore J, Costill D. Physiology of Sport and Exercise. Champaign, IL: Human Kinetics, 2012.
Langendorfer S, Bruya L. Aquatic readiness: Developing water competence in young children. Champaign, IlL: Human Kinetics, 1995.
Malik M. Heart rate variability. Current Opinion in Cardiology, 1998; 13(1): 36-44.
Martins M, Silva AJ, Marinho DA, Pereira AL, Moreira A, Sarmento P, Barbosa TM. Assessment of heart rate during infant’s swim session. International SportMed Journal, 2010; 11(3):336-344.
Stallman RK, Junge M, and Blixt T. The teaching of swimming based on a model derived from the causes of drawning. International Journal of Aquatic Research and Education, 2008; 2:372-382.
Voisin C, Sardella A, Marcucci F, Bernard A. Infant swimming in chlorinated pools and the risks of bronchiolitis, asthma and allergy. European Respiratory Journal, 2010; 36(1):41-7.
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