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Parasitoses intestinais: principais etiologias, manifestações

clínicas, prevenção e abordagem terapêutica segundo a literatura

Parasitosis intestinales: principales etiologías, manifestaciones clínicas, prevención y abordaje terapéutico según al literatura

 

*Enfermeiro. Especialista em Didática e Metodologia

do Ensino Superior pela Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES

Acadêmico de Medicina da Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES

**Enfermeira. Especialista em Saúde da Família

pela Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES

***Enfermeira. Graduada pelas Faculdades

Unidas do Norte de Minas - FUNORTE

Antônio Lincoln de Freitas Rocha*

antonio.lincoln@hotmail.com

Marcela Guimarães Fonseca**

marcelafonseca1@yahoo.com.br

Wanessa de Jesus Oliveira Maia***

wanessadjesus2013@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          As parasitoses intestinais constituem importante problema de saúde pública no Brasil, em função da alta prevalência encontrada em determinadas regiões. Sua ocorrência na população reflete as desigualdades no padrão de desenvolvimento socioeconômico e as diferenças nas condições de vida. Predomina em zonas rurais e periferias das grandes cidades, onde habitam populações de baixa renda. A ausência de saneamento básico e as precárias condições de habitação dificultam as boas condições de higiene e a conservação adequada de alimentos, viabilizando a ocorrência das parasitoses. O objetivo deste estudo foi correlacionar os diferentes dados da literatura médica no que tange à etiologia, fisiopatologia, manifestações clínicas e manejo das principais parasitoses intestinais. Esta é uma pesquisa bibliográfica, retrospectiva, de natureza descritiva que enfatiza a importância de compreender definição, etiologia, fisiopatologia, manifestações clínicas e abordagem terapêutica das principais parasitoses intestinais. Optamos pela técnica de pesquisa da revisão bibliográfica, em que os estudos publicados são reunidos e sintetizados, obtendo os resultados evidenciados na ótica de diversos especialistas, trazendo contribuições para melhoria no diagnóstico e tratamento da doença. As infecções parasitárias intestinais continuam endêmicas e devem merecer atenção da saúde pública nos países tropicais. A prevalência é alta e seu efeito é deletério, principalmente no estado nutricional dos indivíduos infectados.

          Unitermos: Doenças parasitárias. Giardíase. Amebíase. Ascaridíase.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 191, Abril de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    As parasitoses intestinais constituem importante problema de saúde pública no Brasil, em função da alta prevalência encontrada em determinadas regiões. Sua ocorrência na população reflete as desigualdades no padrão de desenvolvimento socioeconômico e as diferenças nas condições de vida. Predomina em zonas rurais e periferias das grandes cidades, onde habitam populações de baixa renda. A ausência de saneamento básico e as precárias condições de habitação dificultam as boas condições de higiene e a conservação adequada de alimentos, viabilizando a ocorrência das parasitoses (SUCUPIRA et al., 2002).

    Estima-se que infecções intestinais causadas por helmin­tos e protozoários afetem cerca de 3,5 bilhões de pessoas, causando enfermidades em cerca de 450 milhões ao redor do mundo, sendo a maior parte em crianças. Desnutrição, anemia, diminuição no crescimento, retardo cognitivo, irritabilidade, aumento de suscetibilidade a outras infecções e complicações agudas são algumas das morbidades decorrentes. A prevalência de infecções por parasitos intestinais constitui um dos melhores indicadores do status socioeconômico de uma população e pode estar associada a diversos determinantes, como instalações sanitárias inadequadas, poluição fecal da água e de alimentos consumidos, fatores socioculturais, contato com animais e ausência de saneamento básico (BELO et al., 2012).

    As crianças representam o grupo mais vulnerável à infestação por parasitas intestinais, pois, geralmente, não têm estabelecidos hábitos de higiene pessoal de forma adequada e, comumente, se expõem ao solo e à água, importantes focos de contaminação. No que tange à morbidade associada, pode-se destacar, dentre outras conseqüências, o déficit pôndero-estatural e a anemia ferropriva (ARAÚJO FILHO et al., 2011).

    O objetivo deste estudo foi correlacionar os diferentes dados da literatura médica no que tange à etiologia, fisiopatologia, manifestações clínicas e manejo das principais parasitoses intestinais.

Metodologia

    Esta é uma pesquisa bibliográfica, retrospectiva, de natureza descritiva que enfatiza a importância de compreender definição, etiologia, fisiopatologia, manifestações clínicas e abordagem terapêutica das principais parasitoses intestinais.

    Optamos pela técnica de pesquisa da revisão bibliográfica, em que os estudos publicados são reunidos e sintetizados, obtendo os resultados evidenciados na ótica de diversos especialistas, trazendo contribuições para melhoria no diagnóstico e tratamento da doença.

    A população foi composta por seis artigos que abordaram os temas parasitoses intestinais, giardíase, amebíase, ascaridíase, ancilostomíase, enterobíase, tricuríase e estrongiloidíase, publicados em periódicos nacionais no período entre 2000 e 2011 e indexados nas bases de dados do Scielo. E também por três obras literárias a respeito do assunto, para uma melhor fundamentação teórica.

    Foi realizada a análise de conteúdo dos artigos e obras literárias, em relação a seus objetivos.

Resultados e discussão

    Os parasitas intestinais figuram entre os patógenos mais encontrados em humanos. Entre os helmintos, os mais freqüentes são os nematelmintos Ascaris lumbricoides e Trichuris trichiura e os ancilostomídeos Necator americanus e Ancylostoma duodenale. Os protozoários mais frequentes são Entamoeba histolytica e Giardia duodenalis. Estima-se que cerca de 1 bilhão de indivíduos em todo mundo alberguem Ascaris lumbricoides, sendo apenas pouco menor o contigente infestado por Trichuris trichiura e pelos ancilostomídeos. Estima-se, também, que 200 e 400 milhões de indivíduos, respectivamente, estejam parasitados por Giardia duodenalis e Entamoeba histolytica. As repercussões que os enteroparasitas podem causar a seus portadores incluem a obstrução intestinal (Ascaris lumbricoides), a desnutrição (Ascaris lumbricoides e Trichuris trichiura), a anemia por deficiência de ferro (ancilostomídeos) e quadros de diarréia e disabsortiva (Entamoeba histolytica e Giardia duodenalis), sendo que as manifestações clínicas são proporcionais à carga parasitária que infesta o hospedeiro (FERREIRA et al., 2013).

    A ascaridíase tem uma ocorrência global e é a helmintíase humana mais prevalente no mundo. É mais comum em áreas tropicais, onde as condições viabilizam a manutenção dos ovos no solo. A taxa mais alta de infecção está situada na fase de pré-escolar e escolares jovens. Os ovos de Ascaris lumbricoides povoam o intestino delgado após a ingestão pelo hospedeiro humano, sendo as larvas liberadas, penetram na parede intestinal e migram para os pulmões pela circulação venosa, causando a ascaridíase pulmonar à medida que penetram no alvéolo e migram pelos brônquios e traquéia. São deglutidos e voltam ao intestino, onde se tornam adultos. A apresentação clínica relaciona-se à doença pulmonar e obstrução do trato intestinal ou biliar. A migração das larvas pode provocar sintomas alérgicos, febre, urticária e doença granulomatosa. Uma complicação mais importante ocorre quando uma grande massa de vermes leva à obstrução intestinal aguda. Pode afetar o crescimento e o estado nutricional. O diagnóstico é feito pela pesquisa de ovos nas fezes pelo método de kato-katz. O tratamento de escolha recomendado é o uso de Albendazol 400mg Via Oral em dose única. A prevenção consiste em tratar todos os indivíduos em uma área de alta endemicidade, melhoria das condições sanitárias, das instalações de esgoto, interrupção do uso de fezes humanas como fertilizante e educação para a saúde (NELSON, 2005).

    Uma minoria dos pacientes apresenta complicações, especialmente crianças menores, desnutridas, imunossuprimidas e maciçamente infestadas, principalmente com suboclusão intestinal e ascaridíase biliopancreática. Até os casos complicados costumam ser tratados por métodos clínicos, poucos precisam de cirurgia. A utilização de óleo mineral no tratamento de complicações da infestação é controversa pelo risco de broncoaspiração e indução de pneumonia lipoídica (JESUS et al., 2008).

    A maioria das infecções por A. lumbricóides envolve pequeno número de parasitos adultos e é assintomática, diagnosticada em exames parasitológicos ou pela eliminação de parasitos nas fezes. A manifestação dos sintomas depende do número de parasitos adultos albergados pelo indivíduo. Infecções maciças podem resultar em bloqueio mecânico do intestino delgado, principalmente em crianças (SILVA et al., 2011).

    A ancilostomíase é provocada pelos vermes cilíndricos Ancylostoma duodenale e Necator Americanus. A infecção afeta aproximadamente um bilhão de pessoas no mundo todo. Em geral encontra-se confinada a zonas rurais, onde fezes humanas são utilizadas como fertilizantes ou onde o saneamento é inadequado. A China e a Índia apresentam os índices mais elevados de infecção por ancilostomídeos. A principal morbidade da parasitose é resultado direto da perda sanguínea intestinal. Os vermes adultos aderem à mucosa do intestino delgado proximal, inibem a resposta inflamatória local do hospedeiro e ingerem o sangue diretamente da submucosa. Hipoalbuminemia e edema (ou mesmo anasarca) devido à perda de pressão oncótica também podem ocorrer. Uma deficiência prolongada de ferro associada aos ancilostomídeos na infância pode levar a retardo do crescimento físico e déficits cognitivos e intelectuais. As larvas causam dermatite quando penetram na pele humana. Eosinofilia é freqüentemente notada no contexto da infecção assintomática. Em casos de doença crônica em crianças há uma palidez amarelo-esverdeada denominada clorose. O diagnóstico pode ser feito através do exame fecal direto. O tratamento é conduzido com albendazol 400mg Via oral em dose única para todas as idades. A prevenção é pautada nas melhorias de saneamento básico, educação sanitária, evitar uso de fezes humanas como adubo e melhor desenvolvimento socioeconômico (NELSON, 2005).

    A tricuríase é causada pelo verme filiforme Trichuris trichiura, que habita o ceco e o cólon ascendente em seres humanos. A contaminação se faz através da ingestão de ovos embrionados, em forma de barril. As larvas escapam da carapaça no intestino delgado superior e penetram nos vilos intestinais e chegam ao ceco e cólon ascendente. É comum em comunidades rurais com instalações sanitárias inadequadas e solo contaminado com fezes humanas ou de animais. Estima-se que um bilhão de pacientes estejam infectados mundialmente. A taxa mais elevada de infecção ocorre em crianças entre cinco e 15 anos de idade. A maioria das pessoas não apresenta sintomas. Alguns podem apresentar dor no quadrante inferior direito e periumbilical. Pode haver disenteria crônica, prolapso retal e anemia, retardo do crescimento, déficits cognitivos e do desenvolvimento. Não há eosinofilia significativa. O diagnóstico pode ser feito através de Exame Parasitológico de Fezes com sedimentação espontânea. O tratamento é feito com Mebendazol 100mg duas vezes ao dia, via oral, por três dias ou 500mg uma vez, para todas as idades. A doença pode ser prevenida através de higiene pessoal, melhoria das condições sanitárias e eliminação do uso de fezes humanas como fertilizante (NELSON, 2005).

    A enterobíase é causada pelo Enterobius vermicularis. A infecção ocorre por ingestão de ovos embrionados em unhas, roupas, roupa de cama ou mesmo poeira domiciliar. É prevalente em crianças de cinco a 14 anos de idade, em regiões com climas temperados, sendo a infecção por helminto mais comum nos Estados Unidos. A auto-inoculação pode acontecer em indivíduos que habitualmente levam os dedos à boca. A infecção pode provocar sintomas através de estimulação mecânica e irritação, de reações alérgicas e da migração dos vermes para sítios onde se tornam patogênicos. Raramente causa problemas sérios, as queixas mais comuns incluem prurido e sono inquieto secundário ao desconforto noturno causado pela coceira perianal e perineal. Granulomas perianais contendo vermes ou ovos vivos ou mortos desenvolvem-se raramente, mas podem exigir exérese cirúrgica. Quanto ao diagnóstico, um prurido anal noturno em crianças sugere fortemente enterobíase. Pode-se utilizar o método da fita gomada com uso na região perianal no início da manhã para identificação de ovos ou vermes adultos. O tratamento pode ser feito com Mebendazol 100mg via oral em dose única para todas as idades. Os tratamentos repetidos a cada três a quatro meses podem ser necessários em circunstâncias com exposição repetida, como crianças institucionalizadas. Embora o asseio pessoal seja um princípio geral útil, não há qualquer evidência de que seja efetivo na prevenção da enterobíase (NELSON, 2005).

    A estrongiloidíase é causada pelo nematódeo Strongyloides stercoralis. Apenas os vermes adultos fêmeas habitam o intestino delgado. O hospedeiro é infectado através do contato da pele com o solo contaminado com larvas infecciosas. As larvas penetram na pele, entram na circulação venosa e em seguida passam pelos pulmões, entram nos espaços alveolares e migram através da árvore brônquica. São deglutidas e passam pelo estômago, e os vermes fêmeas se desenvolvem no intestino delgado. A infecção é prevalente em regiões tropicais e subtropicais do mundo e endêmica em várias áreas da Europa, do sudeste dos Estados Unidos e em Porto Rico. A resposta imune inicial do hospedeiro contra a infecção é a produção de IgE e eosinofilia no sangue e tecidos, o que evita a disseminação da infecção em imunocompetentes. Cerca de um terço dos acometidos são assintomáticos. Larva currens é a manifestação de uma reação alérgica contra as larvas filarióides que migram pela pele, onde elas deixam os traçados urticariformes, tortuosos e pruriginosos. A doença pulmonar raramente ocorre e pode se assemelhar à síndrome de Löffler. A estrongiloidíase intestinal é caracterizada por indigestão, dores abdominais em cólicas, vômitos, diarréias, esteatorréia, enteropatia perdedora de proteína e perda de peso. Edema do duodeno com pregas mucosas irregulares, ulcerações e estenoses podem ser observadas radiologicamente. A doença é potencialmente fatal devido ao risco de causar grandes hiperinfecções nas pessoas imunocomprometidas. A síndrome da hiperinfecção tem início repentino, com dor abdominal generalizada, distensão abdominal e febre. Múltiplos órgãos podem ser acometidos devido à disseminação de larvas pelo corpo. Esse fenômeno pode resultar em bacteremia e septicemia. As manifestações cutâneas incluem petéquias e púrpuras. Tosse, sibilos e hemoptise são sinais de envolvimento pulmonar. A eosinofilia pode estar ausente em imunocomprometidos. O diagnóstico pode ser feito por exame de fezes pelo método de Baermann ou Rugai. O tratamento de escolha é feito com ivermectina (200µg/kg/dia uma vez ao dia, via oral, por um a dois dias). A prevenção é pautada em práticas de saneamento, uso de calçados, diminuição da contaminação fecal do ambiente através da limpeza das camas e tratamento dos casos (NELSON, 2005).

    A amebíase é causada pela Entamoeba histolytica e é prevalente em todo o mundo, havendo focos endêmicos nos trópicos, em regiões de baixos padrões socioeconômicos e sanitários. Em uma pequena fração de indivíduos, o microrganismo infesta outros órgãos além do trato gastrointestinal, especialmente o fígado. A Entamoeba díspar, a espécie mais prevalente, associa-se ao estado de portador assintomático, enquanto a E. histolytica, a espécie patogênica, pode tornar-se invasiva, causando doença sintomática. A infecção inicia-se com a ingestão de cistos do parasita, os quais são resistentes à acidez gástrica e enzimas digestivas; eclodem no intestino delgado para formar oito trofozoítos ativamente móveis que colonizam a luz do intestino grosso, podendo invadir sua mucosa. A prevalência regional em todo o mundo varia de 5% a 81%, com maior freqüência nos trópicos. Estima-se que 10% da população mundial esteja infectada. A contaminação ocorre através de alimentos e bebidas contaminados e contato fecal-oral direto, bem como água não tratada e fezes utilizadas como fertilizantes. Os trofozoítos, que são responsáveis pela invasão e destruição teciduais, aderem-se à mucosa colônica em um receptor de lecitina específico para galactose. Uma vez aderidas, as amebas liberam uma proteinase rica em cisteína que possibilita a penetração através da camada epitelial. As células do hospedeiro são destruídas devido a peptídeos formadores de esporos, fosfolipases e hemolisinas liberados pelos trofozoítos. Uma vez que invadem a mucosa intestinal, produzem destruição tecidual (úlceras) com pouca resposta inflamatória local devido à capacidade citolítica do microrganismo. Este multiplica-se e dissemina-se lateralmente abaixo do epitélio intestinal, produzindo as características úlceras em forma de “botão de camisa”, comumente observadas no ceco e nos cólons transverso e sigmoide. O quadro clínico pode variar de eliminação assintomática dos cistos a colite ou disenteria amebianas, ameboma e doença extra-intestinal. A doença grave é mais comum em crianças pequenas, gestantes, desnutridos e pessoas em uso de corticoides. A doença extra-intestinal em geral acomete apenas o fígado, entretanto outras manifestações raras incluem abscessos amebianos cerebrais, doença pleuropulmonar e lesões ulcerativas na pele e trato geniturinário. O tratamento é feito com metronidazol 15 a 20mg/kg de peso corporal por dia, sob a forma de xarope, fracionados em duas ou três tomadas no dia. A duração do tratamento é de cinco dias (NELSON, 2005; NEVES, 2004).

    O diagnóstico laboratorial da amebíase intestinal é feito tradicionalmente por pesquisa do parasita nas fezes. Formas císticas são encontradas em fezes consistentes e trofozoíticas em material fecal diarréico ou pastoso. O imunodiagnóstico, a reação de imunofluorescência indireta (RIFI) para pesquisa de anticorpos específicos contra o parasita no soro do paciente e o ensaio imunoenzimático (ELISA) para detecção de coproantígenos nas fezes têm sido empregados como alternativa diagnóstica. Ambas as técnicas podem ser utilizadas para casos isolados ou para estudos epidemiológicos (POVOA et al., 2000).

    A giardíase é provocada pela Giardia lamblia e a infecção pode cursar com colonização assintomática ou diarréia aguda ou crônica e má absorção. É mais prevalente em crianças e em locais com saneamento precário. Em países desenvolvidos, também é uma causa importante de morbidade, onde ocorre em creches, instituições para deficientes mentais e em surtos causados por alimentos. A giárdia infecta os seres humanos após a ingestão de 10 a 100 cistos, os quais eclodem no duodeno sob a forma de trofozoítos, colonizam sua luz e também a do jejuno proximal, onde se ligam à borda em escova das células epiteliais e se multiplicam por divisão binária. Os trofozoítos, à medida que se deslocam ao longo do trato intestinal, se transformam em cistos ovais que contêm quatro núcleos, os quais são eliminados nas fezes. Os cistos são relativamente resistentes à cloração e à irradiação com luz ultravioleta, mas a fervura é eficaz para inativá-los. Imunodeficiências humorais, incluindo hipogamaglobulinemia comum variável e agamaglobulinemia ligada ao X predispõem à infecção sintomática crônica. Existe uma maior incidência da infecção em pacientes com fibrose cística, provavelmente devido a fatores locais, tais como uma maior quantidade de muco, que pode proteger o microrganismo contra fatores de defesa do hospedeiro. A maioria dos pacientes sintomáticos apresenta um período limitado de diarréia aguda, afebril ou com febre baixa, náuseas e anorexia, podendo também apresentar cólicas e distensão abdominal, sensação de plenitude gástrica, mal estar, flatulência, náuseas, anorexia e perda de peso. Inicialmente as fezes são aquosas e depois tornam-se gordurosas e com odor fétido, podendo flutuar no vaso sanitário, não contém sangue, muco nem leucócitos. O diagnóstico pode ser feito através de exame parasitológico de fezes (fezes diarréicas: método da hematoxilina férrica ou método direto; em fezes formadas: sedimentação espontânea ou método de Faust). O tratamento pode ser feito com Albendazol 400mg, uma vez ao dia, por cinco dias, por via oral. Apesar da terapia adequada, os sintomas podem reaparecer em alguns pacientes. A prevenção consiste em lavagem adequada das mãos, adoção de métodos adequados para purificar adequadamente os suprimentos públicos de água, incluindo cloração, sedimentação e filtração. Evitar comer comidas cruas em áreas endêmicas também constitui medida importante (NELSON, 2005; NEVES, 2004).

Considerações finais

    As infecções parasitárias intestinais continuam endêmicas e devem merecer atenção da saúde pública nos países tropicais. A prevalência é alta e seu efeito é deletério, principalmente no estado nutricional dos indivíduos infectados. O Brasil tem passado por modificações que melhoraram a qualidade de vida de sua população, mas as parasitoses intestinais ainda são endêmicas em diversas áreas do país, constituindo um problema relevante de Saúde Pública, sendo, pois, necessárias, medidas enérgicas de educação em saúde aliadas a políticas publicas eficientes para o controle endêmico adequado.

Referências

  • ARAUJO FILHO, Humberto B. et al. Parasitoses intestinais se associam a menores índices de peso e estatura em escolares de baixo estrato socioeconômico. Rev. paul. pediatr., São Paulo, v. 29, n. 4, dez. 2011.

  • BELO, Vinícius Silva et al . Fatores associados à ocorrência de parasitoses intestinais em uma população de crianças e adolescentes. Rev. paul. pediatr., São Paulo, v. 30, n. 2, jun. 2012.

  • FERREIRA, Marcelo Urbano; FERREIRA, Claudio dos Santos; MONTEIRO, Carlos Augusto. Tendência secular das parasitoses intestinais na infância na cidade de São Paulo (1984-1996). Rev. Saúde Pública, São Paulo, v. 34, n. 6, dez.

  • JESUS, Lisieux Eyer de et al. Ascaridíase hepatobiliar complicada por pneumonia lipoídica. Rev. paul. pediatr., São Paulo, v. 26, n. 2, jun. 2008.

  • NELSON, Jenson A. B. Tratado de Pediatria. 17ª. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier Editora. 2005.

  • NEVES, David Pereira Neves. Parasitologia Humana. 11º ed. Rio de Janeiro: Ed. Atheneu. 2004.

  • POVOA, Marinete Marins et al. Diagnóstico de amebíase intestinal utilizando métodos coproscópicos e imunológicos em amostra da população da área metropolitana de Belém, Pará, Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 16, n. 3, set. 2000.

  • SILVA, Jefferson Conceição et al. Parasitismo por Ascaris lumbricoides e seus aspectos epidemiológicos em crianças do Estado do Maranhão. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., Uberaba, v. 44, n. 1, fev. 2011.

  • SUCUPIRA, Ana Cecília Lins; BRICKS, Lúcia Ferro; KOBONGER, Maria Elissabeth; SAITO, Maria Ignez; ZUCCOLOTTO, Sandra Maria. Pediatria em Consultório. Editora Sarvier. 4ª Edição, 2002.

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