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Metabolismo energético no voleibol de quadra: semelhanças 

e diferenças entre equipes femininas e masculinas de alto nível

El metabolismo energético en el voleibol de sala: semejanzas y diferencias entre equipos femeninos y masculinos de alto nivel

 

*Primeiro autor. Licenciado e Bacharel em Educação Física

pela Faculdade de Jaguariúna (FAJ -Jaguariúna/SP)

**Co-autor. Licenciado e Bacharel em Educação Física

pela Faculdade de Jaguariúna (FAJ -Jaguariúna/SP)

***Co-autor. Licenciado e Bacharel em Educação Física pela Universidade Estadual

de Campinas (UNICAMP – Campinas/SP). Mestre em Ciências da Motricidade

pela Universidade Estadual Paulista (UNESP – Rio Claro/SP). Doutorando em Desenvolvimento

Humano e Tecnologias pela Universidade Estadual Paulista (UNESP – Rio Claro/SP)

Bruno Zanardelli dos Santos*

Rude Carlos Berne**

Rodrigo dos Santos Cirvidiu**

André Luís Ruggiero Barroso***

al.barroso@uol.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste estudo foi diagnosticar os metabolismos energéticos predominantes no jogo de voleibol profissional da categoria adulta, verificando semelhanças e diferenças entre os gêneros masculino e feminino. Para o desenvolvimento da pesquisa, utilizou-se o método de natureza quantitativa, denominado como descritiva, sendo uma pesquisa de caráter de levantamento de dados, com análise em relação à duração e ao intervalo entre os rallys e o metabolismo envolvido durante essa atividade. Os resultados indicam que há uma pequena diferença metabólica entre homens e mulheres durante a partida, foi constatado também que a maioria dos rallys tem a duração de até 15 segundos, com isso o metabolismo predominante está classificado como anaeróbico alático, sendo a média dos intervalos em torno de 29 segundos, indicando-se assim que o metabolismo aeróbico possui o importante papel de ressíntese da energia muscular, possibilitando novos esforços.

          Unitermos: Alto rendimento. Metabolismo. Voleibol.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 191, Abril de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Devido a alta intensidade de como são disputados os jogos de voleibol em caráter profissional, faz-se necessário compreender que houve um ganho na questão física durante a preparação dos atletas desse esporte, chegando-se num patamar de performance muito elevado. Ao acompanharmos por meio da mídia televisiva as competições de voleibol de alto rendimento, notamos que há uma diferença no estilo e conceito de jogo entre homens e mulheres, que talvez possam implicar na classificação dos metabolismos energéticos utilizados durante a partida.

    No estudo de Arruda e Hespanhol (2008), em relação à especificidade metabólica deste esporte, denomina-se como predominante nos rallys o metabolismo anaeróbico, utilizando de substratos energéticos da fosfocreatina; já durante todo o jogo, a recuperação metabólica pode ser classificada como aeróbica, aproveitando-se dos carboidratos, principalmente ácidos graxos para gerar estoques de energia.

    Imaginamos que há uma possível diferença metabólica entre homens e mulheres em partidas de alto nível, e isso poderia influir no desempenho e na preparação destes atletas. Aparentemente o volume de jogo do gênero feminino é mais extenso do que o masculino, podendo estar aí uma diferenciação entre os tipos de metabolismo.

    A utilização de substratos energéticos pode variar de acordo com cada metabolismo, sendo predominante a fosfocreatina no metabolismo anaeróbico alático, que é caracterizado pela duração em torno de 15 a 20 segundos de exigência muscular. Após este estágio, e prolongando até 2 minutos, é tido como determinante o metabolismo anaeróbico lático e acima deste período o predomínio será do metabolismo aeróbico, porém ambos se utilizam do mesmo substrato energético, o carboidrato (SANTOS, 2006 apud OLIVEIRA et al, 2010).

    Desta forma, este estudo teve como objetivo diagnosticar os metabolismos energéticos predominantes no jogo de voleibol profissional da categoria adulta, verificando semelhanças e diferenças de metabolismo predominante entre os gêneros masculino e feminino.

    Analisamos, por meio de vídeos, a duração dos rallys e o intervalo entre os rallys dos jogos semifinais e finais dos dois gêneros da superliga 2012/2013, principal campeonato interclubes do Brasil.

Metabolismo energético

    Na maioria dos seres vivos, a fonte de energia utilizada de forma imediata para a realização de qualquer atividade surge da desintegração do composto Adenosina Trifosfato (ATP). Conforme Foss e Keteyian (2000), este composto é produzido por reações metabólicas no músculo e por outras células que se aproveitam dos nutrientes alimentares ingeridos, tanto em reações anaeróbias quanto em aeróbias.

    Para identificarmos o metabolismo envolvido durante uma atividade, devemos levar em consideração duração e intensidade, através dessa relação pode-se determinar a via energética predominante. A intensidade (rendimento ou produção de potência) entraria como fator contribuinte, de acordo com a atividade específica, e a duração como um fator principal de avaliação (MCARDLE et al., 2003). Com relação à duração, o metabolismo poderia ser classificado da seguinte maneira: “atividades com duração até 15-20 segundos são consideradas anaeróbias aláticas, entre 20-120 segundos anaeróbias láticas e acima de 120 segundos aeróbias” (SANTOS, 2006 apud OLIVEIRA et al, 2010).

    Esses metabolismos citados operam de maneira predominante de acordo com a sua duração, transitando de via energética, como aborda em seu trabalho McArdle et al. (2003), sendo que o metabolismo anaeróbico alático provém como uma energia “imediata”, gerada por fosfato de alta energia armazenado na musculatura, denominada Adenosina-fosfocreatina (ATP-PCr). Após este período, inicia a predominância do metabolismo anaeróbico lático, diminuindo o nível de potência, tendo como reserva energética a glicólise, sendo essa fonte de energia também atuante no metabolismo aeróbico, porém neste processo se dá o início do acúmulo de lactato.

Metabolismo Anaeróbico – Sistema ATP-PC

    A energia para a realização do exercício de curta duração e de alta intensidade origina-se essencialmente das vias metabólicas anaeróbicas. A sua produção de energia é dominada pelo sistema ATP- CP ou pela glicólise que depende primariamente da duração da atividade (POWERS e HOWLEY, 1997).

    O metabolismo anaeróbico está relacionado com a ressíntese de ATP por processos químicos que não necessitam de oxigênio, como relata Foss e Keteyian (2000), pelo fato da PC e do ATP estarem armazenados diretamente nas células musculares, sua liberação energética para a contração muscular é instantânea, possibilitando assim a execução de ações muito intensas, porém com curta duração.

Sistema de Glicólise Anaeróbica

    Este sistema anaeróbico, que consiste também na ressíntetização de ATP, passa por uma desintegração incompleta do substrato carboidrato, tornando-se ácido lático1, como menciona Foss e Keteyian (2000). O composto de carboidrato é armazenado em forma de glicose no músculo, sendo chamado assim de glicogênio muscular.

    Seguindo o raciocínio dos mesmos autores citados acima, durante o sistema de glicólise anaeróbica, este glicogênio muscular passa por doze reações químicas que, ao se desintegrar gera o ácido lático, em conseqüência disto ocorre à liberação energética e a ressíntese de uma maior quantidade de ATP. Neste sistema há o fornecimento de ATP proporcionalmente menos rápido do que o sistema ATP-PC, mas em maior quantidade (FOSS e KETEYAN, 2000).

Sistema Aeróbico

    Neste terceiro sistema metabólico, Foss e Keteyian (2000) observam que há a necessidade de oxigênio presente durante as reações químicas para que ocorra a ressíntese de ATP. Diferentemente dos sistemas anaeróbicos, este processo atua diretamente nas mitocôndrias presentes nas células musculares, passando por diversas reações e sistemas enzimáticos que auxiliam na maior produção de ATP entre todos os metabolismos.

O Metabolismo energético no voleibol de quadra

    O Voleibol é uma modalidade esportiva acíclica, englobando diversos eventos durante o transcorrer da partida, intercalando períodos reduzidos entre ações intensas e pausas para recuperação (OLIVEIRA et al., 2010). Hespanhol e Arruda (2000) mencionam que eventos ativos são de caráter de movimentos rápidos na execução, integrando força e velocidade, podendo ser denominada como força explosiva, utilizando de contração muscular rápida.

    Em contrapartida, a força explosiva não pode ser considerada como a única capacidade envolvida na modalidade voleibol, mesmo assim talvez seja a principal referência em intensidade máxima (Verkhoshanski, 1995 apud Arruda e Hespanhol, 2000).

    Conforme Arruda e Hespanhol (2008), as ações durante uma partida de voleibol podem ser caracterizadas como sendo de intensidade máxima (saltos verticais, corridas curtas, deslocamentos e mudanças de direção), como também de proporção moderada ou baixa (recepção, saque sem salto, defesa e coberturas), com realização de forma intermitente, dependendo da posição tática de cada atleta. De acordo com os autores essas ações presentes nos rallys normalmente são de curta duração, aproximadamente (0 a 10 segundos) e com intervalos sendo representados desde o final de um rally ao início de outro, acima de 10 segundos.

    Uma das principais ações durante o rally é o salto, que é uma ação que demanda força explosiva, utilizando-se das capacidades físicas: potência e resistência de força rápida como condicionantes para que ocorra a eficiência e regularidade durante o jogo (DIAS, 2009).

    Outras ações presentes no decorrer da partida são as velocidades de reação e aceleração, que se aplicam em grande parte a via energética anaeróbica, assim carecendo de um aprimoramento desta capacidade, pois demanda uma avaliação do atleta em um curto período para tomar a decisão mais correta e, como consequência, detendo uma ação rápida (HESPANHOL e ARRUDA, 2000).

    Na maioria dos rallys o metabolismo presente é de caráter anaeróbio, tendo em grande parte a utilização da fonte energética creatina-fosfato, como menciona Farias (2006); entretanto, devido à duração do jogo ser de aproximadamente uma hora de partida para mais, há constatação do metabolismo aeróbico atuar como auxiliar na ressíntese de creatina-fosfato ao longo das pausas de recuperação (ARRUDA e HESPANHOL, 2008).

    Como demonstra Bossi (2008), em seu trabalho há a citação sobre o estudo de Forteza (1999), que relata a duração dos metabolismos em esforços físicos da seguinte maneira:

  • Anaeróbio alático: utiliza um grande esforço físico, chegando até 90%. A duração é de no máximo 30 segundos, devendo ser planificado no início da parte principal do treino. No voleibol, 15% dos ralis duram de 9 a 12 segundos (FORTEZA, 1999 apud BOSSI, 2008).

    Para o metabolismo Anaeróbio lático:

  • Anaeróbio lático: provoca grande concentração de ácido lático no músculo, com duração de 30 a 90 segundos. A potência máxima é alcançada no primeiro minuto de esforço. Nos ralis do voleibol, 10% duram mais de 15 segundos, e existem registros de ralis de 20 a 45 segundos, no entanto, estes são muitos raros (FORTEZA, 1999 apud BOSSI, 2008).

    Segundo o autor, a média de duração dos ralis pode ser organizada desta forma:

  • A duração média de ralis é de: 5 a 7 segundos (50%); 3 segundos (20%); 9 a 10 segundos (15%) e 15 segundos (10%). Há registros de ralis de duração de 20 a 45 segundos, sendo a média (por set) de 50 ralis. Os intervalos durante o jogo entre os ralis são de 12 a 14 segundos (BOSSI, 2008).

    Alguns dados referentes às ações de intensidade no voleibol foram mencionados no trabalho de Dias (2009):

  • Constituem-se um total de 323 ações, sendo 194 saltos verticais, 108 deslocamentos e 20 defesas, equivalendo respectivamente a valores médios de 60%, 33% e 7% das ações (IGLESIAS, 1994 apud ARRUDA e HESPANHOL, 2008).

    Por meio dessas informações, podemos apontar que os metabolismos predominantes nesta modalidade são: anaeróbio alático, que representa as ações de curta duração e grande intensidade; aeróbio, responsável pela recuperação durante a partida.

    Já em relação aos rallys percebemos que a duração de até 15 segundos predomina na maior parte do jogo, sendo que, rallys acima deste tempo, verificou-se em poucas ocasiões. Por meio desta análise, podemos considerar como um possível auxílio para o início do processo metodológico para a captação dos dados que serão apresentados posteriormente.

Método

    O método utilizado é de natureza quantitativa, denominado como descritiva, sendo uma pesquisa de caráter de levantamento de dados (GIL, 1988). Foi realizada uma análise em relação à duração e o intervalo entre os rallys e o metabolismo envolvido durante essa atividade, comparando a predominância metabólica entre os gêneros e se há uma possível diferença entre eles.

    Realizamos a coleta de dados por meio da gravação em DVDs e Pen drives das partidas do campeonato nacional de voleibol denominado como Superliga (2012/2013), sendo observados os sets da semifinal e final de ambos os gêneros.

    As equipes envolvidas nessas fases da competição estão divididas da seguinte forma: feminino (Osasco, Rio de Janeiro, SESI-SP e Campinas) e masculino (Rio de Janeiro, Cruzeiro, SESI-SP e Minas).

    Devido ao fato da primeira fase da Superliga ser necessariamente de caráter classificatório e as partidas realizadas não apresentarem disputas decisivas, optou-se por coletar dados das fases finais, por serem mais definitivas e exigirem um grau maior de dificuldade, além de haver um elevado nível técnico por parte dos atletas.

    Para a coleta de dados do tempo dos rallys e do tempo de recuperação entre os rallys utilizamos cronômetros, no qual foi registrado o rally desde o momento em que o atleta tocava na bola, no instante do saque, até que fosse definido o ponto; a partir desse instante, até que ocorresse o próximo saque, ficou determinado como o tempo de recuperação. A marcação da duração dos rallys e do tempo de recuperação segue o critério de minutos e segundos.

    Os sets disputados nas semifinais e finais foram escolhidos de forma aleatória, sendo que, de um total de quarenta e um, foram utilizados nove sets dos dezenove do gênero feminino, com porcentagem de 47,3%, além de nove sets dos vinte e dois do gênero masculino, com porcentagem de 40,9% analisados. Com base na literatura consultada foi adotado os rallys com tempo de duração de até quinzes segundos, com predominância do metabolismo anaeróbio alático e, acima deste tempo, o metabolismo anaeróbio lático.

Resultados e discussão

    Antes de iniciarmos nossa discussão acerca dos resultados obtidos em relação ao tempo de duração dos rallys e intervalo entre estes, tanto para o gênero masculino quanto para o feminino, durante uma partida de alto rendimento, devemos ressaltar que nossa avaliação adotada não é o único parâmetro para se avaliar o tema proposto, podendo se apurar os metabolismos envolvidos nos rallys, por meio de outros mecanismos até mais precisos, como:

    As variáveis fisiológicas, como frequência cardíaca, ventilação respiratória, concentração de lactato, ventilação e consumo de oxigênio durante o jogo de voleibol, são considerados outros indicadores da intensidade do esforço e do requerimento da fonte energética (ARRUDA e HESPANHOL, 2008).

    Entretanto, entende-se que o procedimento adotado nesse estudo para verificar a predominância dos metabolismos energéticos no voleibol de quadra apresenta-se como um fator facilitador para obtenção dos dados.

    Outro aspecto que pode colaborar para elevar o nível de intensidade em um jogo de voleibol é a localização momentânea do atleta; ou seja, se o jogador encontra-se na zona de ataque, mais precisamente nas posições 2, 3 e 4, há uma tendência maior para que isso ocorra, pois nessa faixa da quadra normalmente ocorrem ataques e bloqueios, necessitando de saltos constantes, sendo assim, um possível critério de avaliação e análise no que se refere à intensidade de jogo entre os gêneros masculino e feminino, e se há semelhanças e diferenças consideráveis.

    Para facilitar a visualização e a discussão dos resultados adquiridos em nossa pesquisa, demonstramos os dados por meio de gráficos simples e que permitam a análise de forma clara e objetiva. Primeiramente, há o gráfico com a porcentagem dos rallys que duraram até 15 segundos, dos dezoito sets em ambos os gêneros, como observado no gráfico abaixo:

    Como demonstrado no gráfico 1, a maioria dos rallys disputados até os quinze segundos de duração estão presentes em ambos os gêneros, sendo no masculino um índice maior, pelo fato de executarem o saque “forçado” a fim de dificultarem a criação de jogadas de ataque da equipe adversária, ocasionando em erros do próprio saque, como também são executadas jogadas com mais velocidade e potência, ocorrendo a possibilidade de conclusão do ponto. Já para o feminino este índice é menor, pois são realizados os saques mais “balanceados” e as ações de ataque, de uma forma geral, são executadas com menor risco de erro.

    Em relação aos rallys, com duração acima de quinze segundos, segue o gráfico abaixo:

    Conforme a ilustração no Gráfico 2, para o gênero masculino houve a maior porcentagem de 4,4% no set de número seis, muito devido ao fato de que as jogadas criadas são concluídas de forma mais rápida e potente, havendo menor possibilidade de defesa e continuidade dos rallys. Em referência ao gênero feminino, obtemos informações de caráter quantitativo mais elevado, chegando-se a uma porcentagem razoavelmente considerável de 15,2% no set de número quatro, representados na maior parte por jogadas menos arriscadas, potência de ataque menor, consequentemente resultando em contra-ataques e rallys com maior duração.

    Ao compararmos o gráfico 1 que demonstra a porcentagem de rallys que são realizados até 15 segundos com o gráfico 2, no qual se aborda a percentagem de rallys com duração acima de 15 segundos, notamos que há grande disparidade no set de número 4 com relação ao tempo de rally entre ambos os gêneros. Quando se refere ao tempo de até 15 segundos no masculino, chega a atingir 97,9%, já no feminino atinge 84,8% no mesmo período. Quanto à questão de duração acima de 15 segundos, as mulheres atingem 15,2% e os homens apenas 2,1% no referido set.

    Encontramos resultados semelhantes na pesquisa realizada por Dias (2009), em que é notório que os rallys envolvendo o gênero masculino serem mais curtos do que os do feminino. No trabalho deste autor são expostos números interessantes que representam bem este fenômeno, como as ações de até 5 segundos serem mais comuns com os homens, girando em torno de 20% mais corriqueiro do que no feminino. Com relação ao nosso estudo, que tem como parâmetro até 15 segundos, notamos que essa ação ocorreu 4,9% a mais para o masculino, com esta diferença, podemos entender que, na média, os rallys do gênero masculino são mais rápidos.

    Porém, percebe-se na pesquisa de Dias (2009), que as ações no feminino são mais extensas, chegando a diferenças consideráveis, como no período de 6 a 10 segundos em 3%, já entre 11 a 15 segundos as diferenças estão próximas a 4%, em 16 a 20 segundos ocorre a diferença de 1%. Em nosso estudo, o segundo parâmetro a ser observado é acima de 15 segundos, e é constatado que as mulheres levam vantagem com 4,9% sobre os homens, sendo o rally feminino mais extenso.

    Ao compararmos os resultados obtidos com o trabalho de Arruda e Hespanhol (2008), notamos que há uma semelhança ao tempo de duração de rally, principalmente em se tratando do gênero masculino, no qual os números percentuais de todos os 9 sets avaliados, estão na mesma margem de ocorrência, no que se refere ao tempo de até 15 segundos, girando em torno de 95% dos sets pesquisados. Em contrapartida, com as equipes femininas, esta porcentagem foi verificada em apenas 3 sets, dando indícios de que os rallys deste gênero podem ser considerados mais extensos.

    Para demonstrar a diferença de tempo de duração dos rallys entre os gêneros, notamos que em 6 sets dos 9 avaliados, as mulheres atingiram a faixa de 84% à 93% dos rallys até 15 segundos de disputa do ponto. E, como já foi mencionado, os homens em todos os sets estiveram acima de 95% dos pontos disputados até 15 segundos, dando a entender que um rally masculino, na média, é mais curto do que o feminino.

Tabela 1. Média das pausas entre os rallys em segundos

Set

Masculino

Feminino

32,19

32,49

30,4

32,08

28,84

29,46

31,15

32,51

38

34,16

23,24

32,03

23,98

33,22

23,56

19,47

30,77

20,82

Média total

29,12

29,58

    No quesito de intervalos entre os rallys, os números são muito próximos, tendo uma pequena diferença maior do gênero feminino com 0,46 segundos sobre o masculino. Lembrando que estes intervalos estão caracterizados por diversos fatores, dentre eles é possível destacar: tempo técnico, substituições, tempo da televisão, reposição de bola, inversão de quadra, secagem do piso da quadra, pedido de desafio (finais), entre outros.

    Com relação às pausas entre os rallys, Arruda e Hespanhol (2008), relatam uma pesquisa sobre os Jogos Olímpicos de 2004, no qual a média dos intervalos girava em torno de 15 a 20 segundos, diferentemente do nosso trabalho, em que tanto os gêneros masculino e feminino apresentaram números mais elevados que o estudo citado acima, estando por volta de 29 segundos.

Considerações finais

    Este trabalho teve o intuito de verificar os metabolismos energéticos envolvidos na modalidade de voleibol de alto rendimento, analisando possíveis semelhanças e diferenças entre os gêneros masculino e feminino. Este estudo foi realizado através do acompanhamento dos jogos das semifinais e finais da Superliga de vôlei do Brasil 2012/2013, havendo captação e coleta de dados por meio de vídeos, no qual foi coletado o tempo dos rallys e o tempo de intervalo entre os mesmos.

    Em conferência aos números apurados, ressaltamos que os sets masculinos têm uma duração maior em rallys, de até 15 segundos, do que o feminino, sendo acima de 95% em todos os 9 sets avaliados. Já entre as mulheres, somente em 3 sets ocorreu acima dessa porcentagem. No período após 15 segundos, o gênero feminino atingiu acima de 4% em 7 sets, porém, em relação aos homens, somente ocorreu em 2 sets.

    No quesito pausa, que ocorre do final de um rally até início do próximo, os resultados entre gêneros, podem ser considerados semelhantes, pois ambos estão na faixa dos 29 segundos, em média.

    Com este trabalho, podemos evidenciar que os rallys disputados, apresentam pequenas diferenças no que se refere ao tempo de duração dos rallys, tanto para o período de até 15 segundos, quanto acima deste, sendo o gênero masculino mais propenso à duração do rally mais curto; para o gênero feminino há a tendência de duração mais extensa do ponto em disputa. A semelhança neste artigo foi notada no quesito intervalo entre os pontos, em que os números são muito próximos.

    Uma das possíveis explicações para estes números encontrados possa ser deduzida pelo fato de que os homens demandam de mais força explosiva e poder de decisão mais aguçado, assim dificultando a defesa adversária ou até mesmo trabalhando com uma margem de risco maior nos ataques. Em contrapartida, o jogo das mulheres aparenta ser de um estilo de partida mais paciente, aproveitando-se mais do erro adversário.

    Com relação ao quesito média das pausas entre os rallys, identificamos valores maiores do que os encontrados em outros estudos.

    Entendemos que ocorre um predomínio do metabolismo anaeróbio alático, devido à maioria dos rallys se realizarem com tempo abaixo de 15 segundos, enfatizando a semelhança metabólica presente em ambos os gêneros, porém existem situações que excedem a duração média dos rallys. Quanto ao intervalo entre os rallys, percebemos que este possibilita uma melhor recuperação energética através da ressíntese muscular, juntamente com o sistema ATP-CP, tornando possível que o atleta realize novas ações intensas no rally seguinte, assim o metabolismo aeróbio é determinante durante o jogo.

    Consideramos que, os resultados coletados neste estudo, apontam para uma pequena diferença em relação aos metabolismos energéticos entre os gêneros masculino e feminino durante uma partida de alto rendimento, porém se faz necessário uma análise mais aprofundada, cercada de ferramentas mais precisas, do que apenas o tempo do rally. Sugerimos a utilização da análise de Creatina Kinase (CK), monitoramento da freqüência cardíaca, ou outros mecanismos que envolvam maiores recursos financeiros e estruturais.

Nota

  1.  O termo ácido lático foi comumente utilizado por pesquisadores da área de fisiologia no passado, atualmente este termo está designado como lactato.

Referências bibliográficas

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  • BOSSI, L. C. Musculação para o Voleibol. São Paulo: Phorte, 2008.

  • DIAS, R. Correlações entre parâmetros imunológicos, incidência dos sintomas de infecções das vias aéreas superiores e indicadores da carga de treinamento em atletas de voleibol durante o período competitivo. 2009. 201f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Universidade Metodista de Piracicaba, Faculdade de ciências da saúde, Piracicaba, 2009.

  • FARIAS, J. R. C. Avaliação das características funcionais da modalidade de Voleibol. 2006. 97f. Dissertação (Licenciatura em Ciências do Desporto e Educação Física) – Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física, Universidade de Coimbra, Coimbra, 2006.

  • FOSS, M. L.; KETEYIAN, S. J. Bases fisiológicas do exercício e do esporte. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.

  • GIL, A. C. Como elaborar projeto de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1988.

  • MCARDLE, W. D. et al. Treinamento para potência anaeróbia e aeróbia In: MCARDLE, W. D. et al. Fisiologia do Exercício: Energia, Nutrição e Desempenho Humano. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. p. 471-478.

  • OLIVEIRA, M. B. de et al. Comportamento da freqüência cardíaca em duas funções específicas no jogo de voleibol. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº 2010. http://www.efdeportes.com/efd150/frequencia-cardiaca-no-jogo-de-voleibol.htm

  • POWERS, S. K.; HOWLEY, E. T. Fisiologia do Exercício - Teoria e Aplicação ao Condicionamento e ao Desempenho. 3ª ed. Barueri: Manole, 1997.

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