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Orientações técnicas para a gestão de Piscinas Municipais

Orientaciones técnicas para la gestión de Piscinas Municipales

 

*Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física

da Universidade de Coimbra (FCDEF.UC)

**Centro de Investigação do Desporto

e da Actividade Física (CIDAF)

(Portugal)

Gonçalo Dias* **

goncalodias@fcdef.uc.pt

Luís Rama* **

luisrama@fcdef.uc.pt

José Manuel Borges*

jose.borges@uc.pt

 

 

 

 

Resumo

          Este artigo teve como objectivo principal apresentar algumas orientações técnicas para a gestão de piscinas municipais. Nesta base, enquadramos os recursos humanos envolvidos neste tipo de equipamentos e as actividades ministradas em meio aquático. Além disso, descrevemos a manutenção, segurança ocupacional e os princípios normativos que estão subjacentes a estas infraestruturas. Perante o exposto, conclui-se que a gestão de uma piscina municipal deve seguir uma política de rigor e qualidade, orientada para a rentabilização social e satisfação dos clientes.

          Unitermos: Piscina Municipal. Gestão. Manutenção. Qualidade.

 

Abstract

          The main objective of this paper is to summarize some useful guidelines to help the correct decisions in the management of public local swimming pools. In this domain, the type of the equipment and the kind of activities offered to the potential users, determines the human resources needed to implement an operating program. In brief, we described the maintenance, the safety and the normative rules underlying the regular operation of these infrastructures. A strict politic of quality must be implement in the management of local swimming pools, oriented to correspond to the social needs and expectations of the users.

          Keywords: Local swimming pools. Quality management.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 191, Abril de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Enquadramento

    Vários autores defendem que os serviços prestados em piscinas municipais englobam uma grande variedade de actividades aquáticas e diferentes estruturas de apoio (Correia, Costa, Mamede, & Sacavém, 2003; Pires & Caramez, 2003). Contudo, é necessário perceber a gestão deste tipo de equipamentos e avaliar se efectivamente concorrem para a satisfação das expectativas dos “clientes”. Este aspecto é muito importante, pois a sustentabilidade económica destas infraestruturas deverá encontrar correspondência nos custos da construção e da manutenção exigindo a adopção de critérios rigorosos no planeamento da gestão (Soares & Cobra, 2012).

    Por outro lado, os paradigmas relacionados com a prática de atividades aquáticas alteraram-se nos últimos anos. A um decréscimo da procura relacionada com o associativismo e a prática competitiva, correspondeu um aumento da procura relacionada com as preocupações orientadas para a saúde e bem-estar.

    Uma piscina pode ser definida como: “ O conjunto de construções e instalações que abrange um ou mais tanques artificiais apetrechados para fins balneares e atividades recreativas, formativas ou desportivas aquáticas” (CNQ 23/93; Soares & Cobra, 2012). Neste contexto, as piscinas de uso público, onde se enquadram as municipais, são: “As piscinas e os estabelecimentos de recreação aquática que podem ser utilizados pelo público em geral, independentemente da sua titularidade ou forma de ingresso, e estejam ou não integradas em espaços públicos municipais, clubes desportivos, escolas, parques de campismo, hotéis, complexos turísticos” (CNQ 23/93; Soares & Cobra, 2012).

Tipologia

    De acordo com Soares e Cobra (2012), ao adoptarem a nomenclatura da NP EN 15288-1 2008, são consideradas piscinas públicas: aquelas onde a prática da natação e as atividades de animação aquáticas correlacionadas constituem o objectivo e as funções principais oferecidas (e.g., piscinas municipais, piscinas recreativas/lazer, parques aquáticos), e cujo uso é considerado “público”.

    A tipologia de uma piscina municipal deve ser estabelecida em função da população base. Neste sentido, para uma população situada entre 15.000 a 20.000 habitantes, é recomendada a construção de um equipamento que contemple um tanque de 25 metros (m) x 12 m (6 a 8 pistas), e um tanque de menores dimensões de 12,5m x 10 m (Vaz, 2001).

    Perante este enquadramento, autores como Andrés, Ortego e Gomez (1997); Vaz (2001), Borges (2004), Soares e Cobra (2012) recomendam dois formatos de piscinas cobertas, i.e., segundo o tipo de serviços que vão prestar (Tabela 1):

Tabela 1. Formatos de piscinas cobertas (adaptado de Andrés, Ortego, & Gomez, 1997; Vaz, 2001; Borges, 2004 e Soares & Cobra, 2012)

    Por seu lado, se estiver prevista a sua utilização para outras atividades aquáticas desportivas como o pólo aquático, é necessário prever uma profundidade superior no tanque principal, o que acarreta um aumento dos custos de manutenção e o reajuste das possibilidades de oferta de serviços e rentabilização dos mesmos. Além disso, diminui as possibilidades de oferta de outros serviços, bem como a rentabilidade do espaço (um espaço aquático sem pé, implica menor número de alunos por professor). Salientamos ainda que uma piscina de 50 metros apenas se justifica em meios urbanos de maior expressão demográfica ou em centros específicos de treino com atletas de elite (Vaz, 2001; Borges, 2004 e Soares & Cobra, 2012).

Área das instalações/equipamentos

    Correia et al. (2003) indicam que os serviços prestados em piscinas municipais devem considerar os seguintes indicadores de qualidade (Tabela 2).

Tabela 2. Indicadores de qualidade em piscinas municipais (adaptado de Correia et al., 2003)

    Para além destes aspectos, tal como iremos verificar de seguida, os indicadores de qualidade das piscinas estão também dependentes de opções relativas à gestão dos equipamentos e dos recursos humanos disponíveis e indispensáveis (Correia et al., 2003).

Área de gestão

    A área de gestão (Tabela 3) engloba os indicadores relacionados com as orientações estratégicas da organização e dos recursos humanos envolvidos (Vaz, 2001; Correia et al., 2003).

Tabela 3. Indicadores de qualidade na área da gestão em piscinas municipais (adaptado de Correia et al., 2003)

    É neste nível de decisão que se define o regulamento de utilização das instalações e a prestação de serviços de qualidade, bem como as condições disponibilizadas para o acesso à prática desportiva formal (Vaz, 2001; Correia et al., 2003).

    A qualidade dos serviços prestados em conjugação com a diversidade de serviços passíveis de serem disponibilizados às populações em cada instalação, são o garante de captação e fidelização dos utilizadores, aspectos determinantes para garantir uma gestão económica eficaz.

    Por outro lado, a capacidade de promover interligações entre as várias dimensões da prática (ensino, recreação, competição, saúde, entre outras), apresentam-se como fundamentais para fidelização dos praticantes.

Área administrativa

    A área administrativa (Tabela 4) abrange os processos administrativos relacionados com os clientes, nomeadamente: inscrições, horários, actividades, taxas e pagamentos, entre outros procedimentos (Correia et al., 2003).

Tabela 4. Indicadores de qualidade na área administrativa em piscinas municipais (adaptado de Correia et al., 2003)

    Os recursos humanos afectos a esta área encontram no atendimento aos clientes um grande “desafio”, contribuindo assim para o bom funcionamento dos serviços (Correia et al., 2003), pois a qualidade dos serviços está intimamente ligada à qualidade das pessoas que os prestam.

Área técnica

    A área técnica (Tabela 5) assume um papel fundamental na gestão e organização dos recursos humanos de uma piscina municipal (Correia et al., 2003).

Tabela 5. Indicadores de qualidade na área técnica em piscinas municipais (adaptado de Correia et al., 2003)

    Tal como referem Correia et al. (2003), as relações que estabelecem com os clientes e com os elementos da administração são fundamentais na avaliação do serviço prestado pela entidade proponente (e.g., Autarquia), sobretudo no transmitir da missão e na operacionalização dos objectivos.

    O professor, no desempenho das suas diversas funções, apresenta-se como um elemento fundamental para a qualidade percebida pelo utilizador, dado que a sua intervenção se revela decisiva para a qualidade do produto final disponibilizado aos clientes.

Requisitos fundamentais

Tratamento da água

    A Tabela 6 apresenta os requisitos fundamentais na qualidade, colheita de amostras, tratamento e renovação da água em piscinas municipais (Soares & Cobra, 2012).

Tabela 6. Requisitos fundamentais na qualidade, colheita de amostras, tratamento e renovação da água em piscinas municipais (Adaptado de Soares & Cobra, 2012)

    Transversalmente, de acordo com Soares e Cobra (2012), para a filtração da água, devem ser usados filtros fechados, de funcionamento em pressão, e com leito filtrante único em areia ou leito misto de areia e antracite (i.e., hidrantracite), com as seguintes características (Tabela 7).

Tabela 7. Filtração da água e tipos de filtros (Adaptado de Soares & Cobra, 2012)

    Nesta base, deve ser dada preferência aos filtros multimédia, permitindo assim obter uma poupança significativa de água e energia (Soares & Cobra, 2012).

Registo sanitário

    Cada piscina ou estabelecimento de recreação aquática deve contemplar um ou mais livros de registo sanitário (Soares & Cobra, 2012), onde devem ser registados diariamente os seguintes elementos (Tabela 8).

Tabela 8. Elementos de registo em piscinas municipais (Adaptado de Soares & Cobra, 2012)

Plano de gestão

Politica de qualidade

    Vários autores como Pires e Sarmento (1999); Correia et al. (2003); Borges (2004); Soares e Cobra (2012) sugerem que a gestão de uma piscina pública deve seguir uma política de qualidade, orientada para a rentabilização social e económica e satisfação dos clientes, onde se exige uma liderança competente através de técnicos com formação profissional e académica adequada.

Gestão da manutenção e custos

    Uma piscina municipal exige cuidados de manutenção diários e programados (Vaz, 2001; Soares & Cobra, 2012). Deste modo, é fundamental idealizar um plano de manutenção e conservação das instalações e equipamentos, com o objectivo de aumentar a sua vida útil e reduzir os custos de funcionamento (Vaz, 2001; Correia et al., 2003).

Gestão de actividades aquáticas

    A Tabela 9 mostra as actividades aquáticas que podem integrar os serviços prestados em piscinas municipais.

Tabela 9. Actividades aquáticas desenvolvidas em piscinas municipais (adaptado de Borges, 2004)

Face ao exposto, a gestão de uma piscina municipal passa por seleccionar as actividades a implementar, em função das disponibilidades espaciais oferecidas, das necessidades e objectivos da população (Correia et al. 2003; Borges, 2004).

Segmentos da população

    Os programas a implementar numa piscina municipal, abrangem os seguintes segmentos de população (Vaz, 2001; Borges, 2004; Soares & Cobra, 2012):

  1. Bebés;

  2. Crianças (educação pré-escolar e ensino básico);

  3. Jovens;

  4. Adultos;

  5. Seniores;

  6. Populações especiais;

  7. Utilização colectiva (colectividades, empresas, entre outras).

    Uma vez mais, a possibilidade de garantir mecanismos de transição entre diferentes programas, revela-se fundamental para a fidelização dos utilizadores ao assegurar uma resposta ajustada às suas necessidades e motivações em cada etapa das suas vidas.

Qualidade de serviços

    O modelo de excelência da European Foundation Quality Management (EFQM) é um documento a considerar na implementação de uma política de qualidade na oferta de serviços em piscinas municipais. Este modelo reconhece que existem várias abordagens para se alcançar uma excelência sustentável em todos os aspectos do desempenho da organização. Além do mais, promove a utilização de uma metodologia de gestão baseada em critérios objectivos, constituindo ainda um importante exercício de auto-avaliação (Correia et al., 2003).

    A avaliação e monitorização constante do processo em termos globais, permite: i) controlar o andamento dos programas; ii) rectificar e consolidar procedimentos; iii) observar e assimilar possíveis erros; iv) recolher e valorizar sugestões e críticas; v) obter informação relevante. Desse modo, assegura a antecipação de problemas e a possibilidade de tomar decisões de forma mais rápida e com uma menor margem de erro nas opções tomadas.

Carta de qualidade

    A Carta de Qualidade é um instrumento de grande utilidade em piscinas municipais na implementação de uma política de excelência, permitindo estabelecer um compromisso de realização de objectivos entre os serviços e os clientes (Correia et al., 2003).

    Este documento abrange os seguintes aspectos (Correia et al., 2003):

  1. Identificação completa da entidade proponente do serviço;

  2. Localização da infraestrutura;

  3. Organograma;

  4. Descrição sumária e enquadrada dos serviços;

  5. Condições de acesso aos serviços;

  6. Condições de funcionamento das instalações;

  7. Regras de utilização das instalações.

    Operacionalmente, deverá ser idealizada da seguinte forma:

  1. Utilizar linguagem simples e clara;

  2. Indicar sequencialmente os principais procedimentos;

  3. Atender à especificidade dos serviços;

  4. Divulgar a informação principal que elucide os utilizadores do serviço.

    Finalmente, a Carta de Qualidade é um instrumento relevante para o gestor da piscina municipal e para a sua equipa de trabalho, uma vez que permite definir de forma clara o nível de serviços a prestar, assim como os objectivos e as metas a operacionalizar.

Divulgação dos serviços

    Grande parte do sucesso de uma piscina municipal depende da divulgação de serviços que vão ser prestados aos clientes. Neste contexto, as estratégias de marketing devem abranger os órgãos de comunicação social e contemplar várias “áreas” de intervenção, tais como: saúde, educação, desporto, ramo empresarial, entre outras (Vaz, 2001; Correia et al., 2003; Zeithaml & Bitner, 2003).

Enquadramento legal e normativo

    O enquadramento legal e normativo que está subjacente à gestão de uma piscina municipal “obriga” à elaboração de um regulamento que suporte o funcionamento deste tipo de equipamentos. Este documento deverá ser idealizado numa perspectiva multifuncional, estabelecendo medidas e critérios rigorosos de segurança, tendo ainda em conta os aspectos relacionados com saúde e a qualidade dos serviços prestados (Vaz, 2001; Correia et al., 2003; Borges, 2004; Soares & Cobra, 2012). Além disso, é fundamental que estabeleçam critérios rigorosos de sistemas de gestão da qualidade, de gestão ambiental, bem como de saúde e segurança ocupacional (Vaz, 2001; Correia et al., 2003; Borges, 2004).

    Perante o quadro legal vigente, existem procedimentos que são fundamentais no âmbito do funcionamento e gestão de piscinas municipais (Tabela 10).

Tabela 10. Procedimentos no âmbito do funcionamento e gestão de piscinas municipais

 (adaptado de Decreto-Lei n.º 271/2009, de 1 de Outubro; IDP.IP e Directiva CNQ 23/93)

Conclusões

    A construção de uma piscina municipal deve ter como base estudos de mercado e um forte enquadramento de viabilidade económica que justifique a implementação deste tipo de equipamento. Transversalmente, devem ser ponderados os aspectos demográficos, o índice de prática desportiva e a abrangência desta infraestrutura pelos concelhos “vizinhos”. São igualmente factores importantes a considerar a localização/acessibilidade (transportes públicos), concorrência em termos de oferta desportiva (outros desportos ou oferta disponível noutras piscinas próximas).

    Este trabalho prévio, muitas vezes descurado, é decisivo para garantir a viabilidade económica da instalação umbilicalmente ligada à sua capacidade da mesma para dar resposta às necessidades percebidas pelos seus potenciais clientes.

    O quadro de gestão de piscinas municipais deve seguir uma política efectiva de qualidade, orientada para a rentabilização social e satisfação dos clientes.

    A dinamização de actividades aquáticas deve ser planeada e ajustada às necessidades das faixas etárias da população que vai usufruir deste equipamento.

Referências

  • Andrés, F., Ortego, G., Ortego, L., & Gomez, J.C. (1997). La funcionalidad y el coste de los equipamientos deportivos. Madrid: Gráficas Aguado S.L.

  • Borges, J.M. (2004). Serviços desportivos – planeamento e gestão de serviços aquáticos, Editorial Caminho.

  • Correia, A., Costa, C., Mamede, P., & Sacavém, A. (2003). Serviços de qualidade no desporto, piscinas polidesportivos e ginásios. Lisboa: Instituto Nacional de Formação e Estudos do Desporto.

  • Costa, C.O. (2014). Atendimento nos serviços de desporto como factor estratégico para a qualidade. Do Recepcionista ao Técnico de Natação. [On-line]. Recuperado: 28 de Fevereiro de 2014. Disponível: https://www.zotero.org/marco666/items/itemKey/7TP9TI7U.

  • Pires, P., & Caramez, R. (2003). Qualidade do serviço de atendimento em ginásios/health clubs. Estudos em Gestão do Desporto. Edição de Autor.

  • Pires, P., & Sarmento, J.P. (1999). Estudo da rentabilização social e económica das piscinas do Baixo Vouga (distrito de Aveiro) e do perfil de competências e funções das mesmas piscinas. Revista Horizonte, 15, 90, 33-37.

  • Soares, P.M., & Cobra, D. (2012). Curso profissional de técnico(a) de apoio à gestão desportiva. Edição APTN.

  • Vaz, F.M.B. (2001). Caracterização Global das Piscinas Cobertas da Região de Trás-os-Montes. Tese de Mestrado. Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física – Universidade do Porto.

  • Zeithaml, V.A., & Bitner, M.J. (2003). Marketing de serviços: a empresa com foco no cliente. Porto Alegre: Bookman.

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