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Geometria fractal e o processo de treinamento em futebol

La geometría fractal y el proceso de entrenamiento en fútbol

Fractal geometry and the training process in soccer

 

Faculdades Integradas do Vale do Iguaçu (Uniguaçu)

Universidade do Contestado (UnC) – Campus Porto União

Mestre em Desenvolvimento Regional pela Universidade do Contestado – UnC.

Treinador de Futebol da Escola Furacão do C. A. Paranaense

Douglas Tajes Jr.

douglastajesjr@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

           O objetivo do estudo é apresentar a geometria fractal no processo de treinamento em futebol como um fator determinante, pois, um fractal é uma parte invariante ou regular de um sistema caótico que pela sua estrutura e funcionalidade consegue representar o todo. A metodologia empregada fundamenta-se no materialismo dialético proposto por Hegel, de perfil qualitativo baseada em dados primários e secundários. O processo de treinamento em futebol é muito complexo, devemos deixar a superficialidade para trás, não podemos estudar o futebol (trabalhar, ser responsáveis por gerenciar o programa semanal de treinamentos, ministrar aulas e/ou palestras) sem compreender certas nuances. Para adquirirmos qualidade do jogar necessitamos evoluir, para tal, necessitamos nos aperfeiçoar, olhar o futebol por outro prisma, e este, é o da complexidade que o futebol exige.

           Unitermos: Fractal. Futebol. Complexidade.

 

Abstract

           The objective is present fractal geometry in the process of training in soccer as a factor; a fractal is invariant or regular part of a chaotic system that its structure and functionality can represent whole. The methodology is based on dialectical materialism proposed by Hegel, the qualitative profile based on primary and secondary data. The process of training in soccer is very complex, we leave behind the superficiality, cannot study soccer (work, be responsible for managing the weekly trainings, teaching classes and/or lectures) without understanding certain nuances. To acquire quality play evolving need for that, we need to improve ourselves, to watch soccer from another standpoint, and this is the complexity that soccer demands.

           Keywords: Fractal. Soccer. Complexity.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 191, Abril de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Estamos vivendo tempos onde a complexidade faz parte de tudo. Entretanto, o futebol não pode ficar além de desse processo. Desta forma, o processo de preparação das equipes no futebol envolve um conjunto de procedimentos e situações/decisões que resulta do olhar de quem operacionaliza o jogo e o seu treinamento. Diante disso, Barreto (2003), relata que existem duas vertentes de treinadores: nos primeiros a bola aparece no centro de tudo, surgindo à posse da bola como um princípio importante e fulcral dos seus modelos de jogo; e outros, que são obcecados pela tática e acima de tudo pelo físico, que é mensurável, e onde as melhorias podem ser vistas através de simples números e cálculos matemáticos.

    Com o advento de novas tecnologias de informação, nos encontramos em uma era onde a informação é quase instantânea. Através destas informações ficamos sabendo que, existem metodologias de treinamento que refutam o isolamento e a descontextualização do jogar futebol que requer para a sua equipe. Metodologias que não creditam porcentagens para cada dimensão (tática, técnica, física, psicológica). Pois, sabem que essas são impossíveis de quantificar e que só são possíveis de avaliar o seu desempenho quanto equipe e dos jogadores fazendo parte desta equipe. E uma forma de entendimento dessas é pela geometria fractal.

    O objetivo do estudo é apresentar a geometria fractal no processo de treinamento em futebol como um fator determinante, pois, um fractal é uma parte invariante ou regular de um sistema caótico que pela sua estrutura e funcionalidade consegue representar o todo. O presente estudo realizado disponibiliza um viés pouco elucidado na bibliografia, pois trata de um assunto de extrema complexidade: a geometria fractal no processo de treinamento em futebol. Essas novas concepções podem subsidiar a elaboração de trabalhos futuros, através da sistematização do conhecimento gerado na efetivação do estudo, o que será possível a partir do cruzamento de indicadores e variáveis, sobre geometria fractal e o processo de treinamento em futebol.

    O trabalho se apresenta da seguinte maneira: na segunda seção trataremos da geometria fractal e o processo de treinamento em futebol. Na terceira, fractalidade no plano transversal. A conclusão encerra o trabalho.

Materiais e métodos

    A metodologia empregada fundamenta-se na dialética proposta por Hegel, será de perfil qualitativo baseada em dados primários e secundários. Primários oriundos de pesquisa documental. A característica da pesquisa documental é que a fonte de coleta de dados está restrita a documentos, escritos ou não, constituindo o que se denomina de fontes primárias. Estas podem ser recolhidas no momento em que o fato ou fenômeno ocorre, ou depois (MARCONI e LAKATOS, 1996, p. 62). E secundários oriundos de pesquisa bibliográfica.

Geometria Fractal e o processo de treinamento em futebol

    O termo Fractal foi instituído por Benoit Mandelbrot em 1975, para denominar uma classe especial de curvas definidas recursivamente que produzia imagens reais e surreais. Uma estrutura geométrica ou física tendo uma forma irregular ou fragmentada em todas as escalas de imediação. A geometria fractal estuda subconjuntos complexos de espaços métricos.

    Segundo Stacey (1995) um fractal é uma parte invariante ou regular de um sistema caótico que pela sua estrutura e funcionalidade consegue representar o todo, independentemente da escala onde possa ser encontrado. Os fractais são representativos do todo, pois têm uma constituição "genética" semelhante ao todo onde foi observado (GUILHERME OLIVEIRA, 2004 apud CAMPOS, 2008, p. 54).

    A fractalidade propõe um etnocentrismo descentrado (uma vez que descobre o centro na periferia), ela reinvidica o local-global, o micromacro (um global feito de emergência das localidades e um local feito de evidências da globalidade). A fractalidade intui que o micro não se opõe ao macro, ela sabe que o macro contém o micro, mas é o micro quem identifica quem atribui identidade ao macro (CUNHA e SILVA, 1999).

    Esta concepção só faz sentido se, entendermos o futebol como um sistema complexo de elementos de interação. Bertalanffy (1977) relata que, a característica primordial dos sistemas abertos é a contínua troca de energia, matéria e informação com o meio ambiente. Os sistemas vivos são considerados sistemas abertos que, apesar da constante presença de processos irreversíveis nessas trocas, conseguem manter certa ordem, mesmo em um estado de instabilidade e imprevisibilidade. No jogo de futebol existe uma estrutura formal constituída pelos elementos: jogadores, bola, campo de jogo, regulamento e uma estrutura funcional, que seria o resultado da interação entre os jogadores – companheiros e adversários, tentando a todo instante superar uns aos outros (GARGANTA, 1997).

    Outra questão pertinente a esse assunto sobre complexidade e geometria fractal, é a questão da causalidade não linear. Causalidade é a relação entre um evento designado geralmente de causa e um segundo evento designado de efeito, sendo que numa concepção linear o segundo evento é uma conseqüência do primeiro. Desta forma, podemos distinguir dois tipos de causalidade: a linear e a não linear. Gleick (1989) esclarece que, as relações lineares podem ser representadas por uma linha reta num gráfico. As equações lineares são solucionáveis, o que as torna próprias para livros de texto. Os sistemas lineares possuem uma virtude modular importante: pode-se separá-los e voltar a reuni-los que as peças encaixam. Ao contrário, os sistemas não lineares não são solucionáveis nem obedecem a princípios de sobreposições de soluções. Não linearidade significa que a maneira como se joga altera as regras do jogo, Ocorre uma mutabilidade recíproca que torna a não linearidade difícil de calcular, mas origina também uma variedade de comportamentos possíveis que não existem nos sistemas lineares. E o futebol funciona com relações de cooperação e oposição num processo interativo.

    No jogo de futebol, a ocorrência das situações não apresenta uma lógica seqüencial, elas inventam-se e reinventam-se a cada instante e, conseqüentemente, são extremamente sensíveis às condições iniciais, significando isto que, nos sistemas complexos de causalidade não linear, qualquer acontecimento que ocorra durante o processo tem implicações nos acontecimentos que se seguem e pode modificar e alterar completamente a seqüência, a lógica e o resultado do processo (OLIVEIRA et al., 2007). Entretanto, como defendem os autores, falamos em sistemas caóticos deterministas, isto é, que apresentam padrões de ação que se repetem no tempo, denominados invariantes ou regularidades. Estes padrões escondidos revelam uma ordem organizante no sistema, ou seja, a aleatoriedade e a variabilidade destes sistemas apresentam um modelo de ação consistente, uma dimensão fractal constante (SOARES, 2009).

    A menção da importância do processo de treinamento sobre a geometria fractal para a criação de um padrão de jogo nos é trazida por Guilherme Oliveira (2004, p. 146) relatando que:

    O processo de treino deve ser construído através de uma organização fractal no sentido de se manifestarem através de invariâncias/padrões fractais nas diferentes escalas de manifestação – invariância de escala – tanto ao nível dos padrões de comportamento como ao nível da produção do processo.

    Em uma partida de futebol, o quadro do jogo é organizado e conhecido, mas o seu conteúdo é sempre surpreendente, imprevisível, incerto, aleatório. Não é possível estandardizar as seqüências de ações. Pode mesmo dizer-se que não existem duas situações absolutamente idênticas e que as possibilidades de combinação são inúmeras, o que torna impossível recriá-las no treino (GARGANTA e GRÉHAIGNE, 1999). Por isso, a necessidade de criação de um padrão de jogo através da geometria fractal.

    A geometria fractal pode ser mais bem compreendida dentro do processo de treinamento de futebol, fazendo uma analogia simples. Quando uma fotografia é feita de uma partida de futebol, quantos jogadores aparecem na mesma? Irão aparecer quantos jogadores serão responsáveis pelo setor onde a fotografia for tirada. Por exemplo, é retirada uma fotografia da saída de jogo de uma equipe que privilegia a valorização da posse e manutenção da bola, nesta, irão estar presentes, o goleiro a dupla de zagueiros e os volantes (neste caso hipotético um), contra uma dupla ou um trio de atacantes (dependo do padrão da equipe adversária). Ficará visível nesta fotografia, uma superioridade numérica da defesa interagindo com o meio sobre o ataque adversário (G + 3 X 2) naquele setor do campo de jogo, em forma geométrica de triângulo. E isso é um fractal que está representando o todo. O micro representa o macro. Pois, o padrão de comportamento diz respeito ao modelo da equipe, o padrão dos comportamentos coletivos, o padrão dos comportamentos setoriais, o padrão dos comportamentos intersetoriais, o padrão dos comportamentos individuais e o padrão das respectivas interações (CAMPOS, 2008). E essas interações que representam o modelo da equipe devem ser treinadas dentro da geometria fractal. Ou, o intitulado Jogo Fractal. Os jogadores deverão entender os objetivos e as finalidades dos exercícios (Jogos Fractais) dentro do jogo todo. Para isso será fundamental o conhecimento global do jogo por parte dos jogadores, imagem mental e vivencia do mesmo (GUILHERME OLIVEIRA, AMIEIRO e FRADE s/d apud TAMARIT, 2013). Isso em substituição do jogo reduzido, que na sua grande maioria ocorre sem objetivos.

    A relevância prática disto pode ser entendida pela presença do jogo dentro do processo de treinamento em futebol (Jogo Fractal). E isto, ocorrerá por uma redução sem empobrecimento do jogo formal enquanto objetos fractais do mesmo (MACIEL, 2011). Pois, o jogo de futebol pode ser entendido como um sistema caótico com organização fractal. No meio do caos aparente é possível sustentar regularidades organizacionais, isto é, modelar e padronizar uma dada forma de jogar (OLIVEIRA et al., 2007). Brito (2003) afirma que, dentro de um modelo de jogo, existem vários princípios para serem trabalhados durante os treinos. O referido autor relata que, os princípios de jogo são linhas orientadoras básicas que coordenam as atitudes e comportamentos táticos dos jogadores quer no momento ofensivo, quer no momento defensivo, bem como nas suas transições. Como bem relata Maciel apud Tamarit (2013), é graças à redução sem empobrecimento que se asseguram as dominâncias desejadas para cada uma das unidades de treinamento. Uma redução que sendo qualitativa, uma vez que se reporta a complexidade de um jogar, também é quantitativa, já que a configuração dos exercícios (jogos) de treinamento e o modo como o jogar é vivenciado (sem perda de Especificidade), requer que o treinador manipule e articule com parcimônia as seguintes variáveis: espaço, número de jogadores e tempo. Ou seja, reduzir sem empobrecer é sustentar essa redução na articulação de sentido com o todo. Corroborando com os autores, podemos entender um fractal como uma parte regular de um sistema caótico que, pela sua estrutura e funcionalidade, consegue representar o todo, independentemente da escala considerada. Se estilhaçarmos um sistema caótico em subsistemas, podemos neles encontrar, qualquer que seja a escala, uma auto-semelhança com o todo. Desta forma, os autores defendem ser possível emprestar uma organização fractal a todo o processo de treinamento, para obter uma auto-semelhança, tanto ao nível dos padrões de comportamento como da produção do processo, nas suas diferentes escalas de manifestação (SOARES, 2009).

    Para melhor compreensão do que foi relatado acima, necessitamos descrever um princípio de treinamento, o Princípio da “desmontagem” e hierarquização dos princípios de jogo. Para tal, recorremos a Casarin e Oliveira (2010, p. 4) que explanam o seguinte:

    Assim, entra o conceito de desmontagem e hierarquização dos princípios para eleger alguns objetivos parcelares a serem trabalhados. Nesse preceito, devemos entender que apesar da supervalorização de alguns princípios o sistema de interação se mantém. Em cima disso, os princípios são hierarquizados e desmontados para uma melhor compreensão didáctica dos participantes do processo, sendo que a essência do jogo da equipe não são alterados, apenas particularizados.

    Os Jogos Fractais caracterizam-se pela simplificação da estrutura complexa do jogo, diminuição das variáveis de exercitação, espaço e número de intercessores, não devendo a manipulação destas variáveis fazer-se de forma aleatória, uma vez que estas influem na quantidade de informação a tratar pelos jogadores, sendo assim, aspectos relevantes para a escolha do tipo de trabalho a desenvolver-nos diferentes escalões e níveis de jogo (LOPES, 2005). Segundo Oliveira et al. (2007) é possível contemplar exercícios de treino como objetos fractais já que, independentemente da maior ou menor complexidade dos mesmos, cada um deles como parte pode conter em si o todo. Outro princípio próprio da Periodização Tática que tem total afinidade com a geometria fractal é, o Princípio das Propensões. Que como bem relata Tamarit (2013), o Princípio das Propensões consiste em aumentar, através da criação de um exercício contextualizado, para que aconteça um grande número de vezes o que queremos que nossos jogadores vivenciem e adquiram a todos os níveis. Ou seja: é modelar o exercício para o contexto pretendido. Maciel apud Tamarit (2013, p. 40) nos esclarece que:

    Criar contextos de prática ricos, que permitam que os desempenhos dos jogadores verifiquem uma elevada ocorrência de InterAções relativas ao nosso jogar, e de modo particular aos contornos que o jogar vai verificando ao longo dos vários dias do Morfociclo.

    Há não observância da geometria fractal (Jogos Fractais) no processo de treinamento em futebol, implica no nível de qualidade do processo. Pois, se o treinamento for conduzido por outra metodologia de treinamento (analítico-sintético e/ou jogo formal) estas vão acarretar lacunas no processo de formação (da equipe e/ou jogador) devido à reduzida especificidade que estes processos transferem para a competição. Somos impelidos por uma concepção científica tradicional, analítica e reducionista que objetiva a fragmentar um determinado sistema a partir dos elementos constituintes mais simples. Entretanto, a partir do comportamento unitário de um determinado fundamento, tenta-se generalizar tal reação ao sistema como um todo, estando este não necessariamente nas mesmas condições de avaliação. Os objetos são reduzidos e isolados para tentar conceber sua complexidade (GOMES, 2008). Segundo Estriga apud Maciel (2011) a não redução do jogo implica a não preparação para as exigências competitivas, contribui para a mecanização de determinadas ações e ainda para a diminuição das propensões para a ocorrência dos comportamentos desejados. Pois, tal afirmação pode ser confirmada por meio de uma análise das competições desportivas, as quais, para serem compreendidas, devem ser perspectivadas na totalidade e, então, reduzidas para uma série de princípios menores, mas estes têm de ser universais e refletir, desse modo, a propriedade elementar do todo (PIVETTI, 2012).

    Após essas explanações, não podemos incorrer no erro de que, apenas a geometria fractal isolada será suficiente para melhorar o processo de treinamento em futebol. Anteriormente foram relatados dois princípios que se interacionam com a geometria fractal: Princípio da “desmontagem” da hierarquização dos princípios de jogo e o Princípio das Propensões. Mas, será necessário incidir sobre dois outros princípios primordiais da Periodização Tática: O Princípio da Progressão Complexa e o Princípio da Alternância Horizontal em Especificidade. Quanto ao Princípio da Progressão Complexa, este pode ser caracterizado como a redução da complexidade do Modelo de Jogo Adotado (MJA), vivenciando Princípios e Subprincípios (TAMARIT, 2007). Para melhor compreensão destes, recorremos à Pivetti (2012, p. 50) que nos esclarece sobre estes termos: Princípios são contornos gerais da identidade de jogo própria; Subprincípios são as partes intermédias que suportam e dão corpo a essa identidade.

    O Princípio da Progressão Complexa tem sentido devido a não linearidade do Processo. Acontece pelo menos a dois níveis distintos, mas que interacionam de maneira conjunta. Um em nível de longo prazo que, consiste em priorizar o que consideramos mais importante, quer dizer, hierarquizar os Princípios e Subprincípios de Jogo na evolução do Jogar que, como este Princípio evidencia, irá desde um jogar menos complexo até um jogar mais complexo, e que, como já sabemos, não é linear, o que isso significa: que na sua evolução existiram desvios, voltas atrás, mas, sendo sempre coerentes com a Matriz (Modelo de Jogo Adotado), ou seja, sem que exista perda de sentido. E outro nível, mais a curto prazo, que teremos que ter em conta o controle e o regulamento da complexidade dos exercícios durante cada sessão de treinamento do Morfociclo, de maneira que se cumpra um esforço/recuperação tática coerente segundo nossa lógica. Por isso devemos entender que a complexidade de um exercício depende da relação existente entre muitas variáveis, entre elas as quais cabe destacar: A complexidade dos Princípios ou Subprincípios ou da articulação entre Princípios e Subprincípios que estamos treinando; A SubDinâmica dominante do “esforço” e do padrão de contração muscular dominante que estão envolvidos: Recuperação; Tensão da contração muscular aumentada; Duração da contração muscular aumentada; Velocidade da contração muscular aumentada; Recuperação/Ativação (TAMARIT, 2013).

    A relação desse Princípio com a geometria fractal (Jogo Fractal) se revela no, número de jogadores que participam do exercício; no espaço de jogo (tamanho) onde se realiza o exercício e no tempo de duração do exercício (jogo).

    Quanto ao Princípio da Alternância Horizontal em Especificidade, este diz respeito à essência da Periodização Tática quanto à dimensão física, se diferenciando do “físico” da lógica convencional. Vítor Frade apud Tamarit (2013, p. 44) esclarece:

    (...) o esforço advêm de você ter que contrair músculos, ter que mover-se, e, por tanto, como há três indicadores que caracterizam o modo de manifestação das contrações musculares, e sendo diverso o modo em relação ao prolongamento de sua manifestação e o seu cansaço, então temos que ajustar isso. Ela garante a sua maximização, digamos assim, em um dia um desses indicadores, no outro dia esse não, e no outro, outro.

    Ainda sobre esse Princípio Maciel apud Tamarit (2013, p. 45) relata que, a diferenciação dos regimes de desempenho envolvidos nos diferentes dias se faz tendo em conta a fractalização das várias dimensões que compõem o jogar. E isso é feito através dos Jogos Fractais.

    Fica claro após essas evidências que, o responsável pelo processo de treinamento em futebol deve criar Jogos Fractais e mesmo que, na sua forma mais reduzida estes representem a especificidade do “Jogar” que se pretende. Nos Jogos Fractais os quatro momentos do jogo podem estar presentes, em qualquer que seja a escala: organização ofensiva, transição defensiva, organização defensiva, transição ofensiva.

Fractalidade no plano transversal

    A decomposição do jogar em diferentes partes constitui-se como um aspecto fundamental para o tratamento de algo tão complexo. Esta desmontagem engloba partes de diferentes tamanhos e diferentes complexidades, mas, todas têm que estar necessariamente referenciadas ao todo de onde são temporariamente extraídas. Assim, vemos que o plano micro do jogar advém do macro daí que não faça sentido falar de um sem o outro. Esta sujeição do micro ao macro é algo que deve estar presente em todas as situações, pois a riqueza que deve surgir no detalhe deve ter sempre como pano de fundo os princípios de jogo (CAMPOS, 2008).

    Para Campos (2008) os diversos momentos do jogo (organização ofensiva, transição defensiva, organização defensiva e transição ofensiva) não podem ser vistos como estanques em si mesmos, isto é, eles dependem-se mutuamente e na construção dos princípios de cada um deles temos de ter em conta a ligação com os restantes sob pena de haver uma desarticulação comprometedora da qualidade de jogo. Ciente desta informação como poderá programar a semana de treinos sem levar em consideração a Fractalidade Transversal. Para melhor compreensão Guilherme Oliveira apud Campos (2008, p. 95) falam-nos de uma Fractalidade Transversal relacionada com todos os momentos do jogo, ou seja, os comportamentos pedidos, por exemplo, no momento de organização defensiva, leva em consideração o momento de perda da posse da bola e, por conseguinte os momentos de transição para a defesa (pressionar o portador da posse da bola no mesmo setor da perda, isso não sendo possível, fechar os espaços para impedir a progressão da mesma em direção à baliza) e posteriormente entrar em organização defensiva. Desta forma, observamos que há uma interação entre os diferentes momentos e o que está a acontecer num determinado momento está a ter uma resposta baseada não só no sucesso do momento em causa, mas também dos momentos subseqüentes tal como um sistema de engrenagens (Figura 1), em que a inversão do sentido de uma delas implica uma resposta das demais visto que estão em interação permanente. Isto significa que, nos sistemas complexos de causalidade não linear, qualquer acontecimento que ocorra durante o processo tem implicações nos acontecimentos que seguem e podem modificar/alterar completamente a seqüência, a lógica e/ou o resultado do processo. De fato, o jogo revela uma grande dependência do que acontece em cada instante. Desta forma, o jogo de futebol pode ser então, entendido como um sistema caótico com organização fractal (OLIVEIRA, et al., 2007).

Figura 1. Sistema de engrenagens representativo da Fractalidade Transversal

Fonte: Campos, (2008) adaptado por Tajes Jr., (2014)

    Essas considerações expostas nos remetem ao Princípio Hologramático, princípio norteador da metodologia Periodização Tática. Que anuncia que cada elemento da totalidade sistêmica reflete as características emergenciais do todo. Princípio este que está em conformidade com a metodologia de treinamento Periodização Tática e também possui afinidade com a fractalidade no plano transversal. Por entender que, os momentos do jogo não acontecem isolados uns dos outros. Pois, a fragmentação das partes do sistema implica não só na separação destas, mas na anulação de suas propriedades (TAMARIT, 2007).

    Haja vista, a fractalidade do processo de treinamento não é dependente da quantidade de jogadores, do espaço de jogo nem da complexidade da situação, mas da intencionalidade e da representatividade que esta possa ter relativamente ao jogar que se pretende. Isto corresponde, com a articulação de sentido que os exercícios (jogos) têm em relação ao modelo de jogo assumido pela equipe. Pelo conceito de especificidade inerente à teoria e à metodologia de treino (Periodização Tática), deve-se treinar no mesmo padrão que o processo de competição exige, aumentando-se, assim, a transferência daquilo que é praticado no treino para a competição. Dessa forma, principalmente em modalidades esportivas coletivas, os exercícios propostos em treino devem contextualizar-se ao máximo às circunstâncias observadas na competição (PIVETTI, 2012).

    No caso particular dos exercícios (jogos), para que sejam de fato objetos fractais, independente da complexidade que podem assumir, devem ser representativos da especificidade do jogo da equipe, devem evidenciar a geometria do jogar que se pretende (OLIVEIRA, et al., 2007). Referente ao plano individual, Tavares, Greco e Garganta (2006, p. 286) relatam que:

    Apreciar a habilidade motora de um jogador supõe poder relacionar o seu rendimento com a dificuldade da tarefa a realizar. Assim sendo, o jogador eficiente será aquele que é capaz de alcançar os objetivos da tarefa quando confrontado com elevadas restrições de realização das mesmas.

    Haja vista que, no futebol o jogador concretiza a ação através da aplicação de uma técnica, defronta-se com problemas que exigem soluções num sistema de múltiplas referências, nos quais existem coerções e solicitações fisiológicas e funcionais. No entanto, condicionam-se e requerem-se paralelamente as suas funções psicológicas, especificamente os processos cognitivos, para “o que fazer” e “como fazer”. Sua ação, na escolha de decisões táticas no jogo, tornam-se produto do acoplamento entre cognição e ação, isso se converte numa cogni(a)ção (GRECO, 2004).

    Neste contexto, os jogos fractais são de suma importância no processo de treinamento, pois além de oportunizar uma melhora no plano coletivo, ajuda no plano individual, onde o jogador terá que aprimorar as suas habilidades de resolução de problemas dentro do ambiente de jogo, mas com subordinação ao plano macro, o MJA pela equipe. Assim, todas as decisões de cada jogador devem ter sempre uma alusão comportamental coletiva, pois caso contrário, estaremos a treinar aspectos que não têm sentido para a globalidade, para o padrão mais geral do jogo (CAMPOS, 2008). Para Guilherme Oliveira apud Campos (2008, p. 96) isto representa uma fractalidade em profundidade: Que está presente na medida em que, por exemplo, eu peço um comportamento mais geral no momento de organização ofensiva e o comportamento mais individual tem a ver com esse comportamento mais geral. Para o comportamento geral aparecer, o coletivo, cada um dos jogadores têm que agir com coerência e isso exige treinamento (CAMPOS, 2008).

    Essa articulação de sentidos, diz respeito ao padrão diário e semanal de treinamentos. Os jogos fractais apresentados nos treinamentos devem ser entendidos como fractais representantes do todo, nesse caso específico, o MJA pela equipe. E essa operacionalização, é de competência do treinador, que tem o dever de extrair o máximo da equipe nas sessões de treinamentos diárias e semanais e buscar a sua transferência para o dia do jogo.

Conclusão

    Invariavelmente, continuamos a tratar o futebol e conseqüentemente o seu processo de treinamento muito mais pelo lado individual do que pelo coletivo. A lógica seria sendo o futebol uma modalidade esportiva coletiva, suas características serem todas coletivas. O que preconiza as condições incipientes de uma equipe de futebol, ou seja, os princípios e o MJA contraídos no processo de treinamento definem os comportamentos escolhidos e realizados diante de uma determinada situação durante o jogo. Compreendendo os quatro momentos do jogo como norteador das ações coletivas, as respostas esperadas da equipe (coletivo) tem grande influência no comportamento individual (jogador), desta forma, o objetivo do processo de treinamento deve focar no modo de atuação da equipe, ou seja, como ela se expressará nos diferentes momentos que o jogo exige.

    Para que um sentenciado modelo funcione de fato, o processo de treinamento tem de fazer emergir determinadas regularidades contextuais na competição desempenhada pela equipe e pelos jogadores. Nesse entendimento, o modelo envolve a operacionalização dos princípios de jogo nos diferentes momentos e circunstâncias da partida. É bom lembrar que, no plano metafórico, se o MJA reflete a totalidade, recorrendo ao conceito de Geometria Caótica, os princípios de jogo significam os fractais de tal fenômeno complexo (PIVETTI, 2012).

    Com toda essa complexidade exposta, não consigo compreender como podemos estudar o futebol (trabalhar, ser responsáveis por gerenciar o programa semanal de treinamentos, ministrar aulas e/ou palestras) tratando o futebol com superficialidade. Para adquirirmos qualidade de jogar necessitamos evoluir, para tal, necessitamos nos aperfeiçoar, olhar o futebol por outro prisma, e este, é o da complexidade que o futebol exige.

    Desta forma, a geometria fractal no processo de treinamento em futebol pode nos elevar há novos patamares, tanto a níveis coletivos como individuais.

Referências

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