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Fatores motivacionais para a prática do desporto universitário

Factores motivacionales para la práctica del deporte universitario

 

*Professora de Educação Física. Formada em Licenciatura em Educação Física

e cursando bacharelado em Educação Física pela Universidade Federal de Lavras

**Professor adjunto do Departamento de Educação Física na Universidade Federal de Lavras

Bacharel em esporte pela Universidade de São Paulo (2001). Mestrado (2006)

e doutorado (2010) em Educação Física pela Universidade de São Paulo

***Professora de Educação Física. Formada em Licenciatura em Educação Física

pela Universidade Federal de Lavras

Luana Luamar da Silva*

luamarluana@hotmail.com

Raoni Perrucci Toledo Machado**

Pâmela de Souza Dias***

pandjoca@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo de caráter quati-qualitativo teve como objetivo estudar os fatores ligados a motivação de estudantes da Universidade Federal de Lavras a participarem de competições universitárias. Participaram da pesquisa estudantes da instituição com idades compreendidas entre 18 á 31anos (sendo que a idade não era um fator de inclusão para a pesquisa) que totalizavam 51atletas universitários pertencentes às modalidades: Handebol (feminino e masculino); Futsal (feminino e masculino); Basquete (feminino e masculino); Vôlei (feminino e masculino); Atletismo (masculino); Natação (feminino); Rugby (masculino) e Futebol (masculino) que já participaram e continuavam com o intuito de participar de campeonatos. Foi aplicado um questionário elaborado para este trabalho, com perguntas abertas e fechadas. As coletas consentidas foram realizadas na própria instituição de treinamento antes ou após os treinamentos. Foi encontrado que o fator motivador é de caráter intrínseco, o prazer, tendo-se que estes atletas possuem orientação para o sucesso. Este achado pode ter relação com a idade, onde jovens procuram atividades que lhe proporcione satisfação e alegria. Desta forma este estudo visa contribuir para um melhor entendimento das razões para a prática desportiva universitária e contribuindo para o seu melhor entendimento.

          Unitermos: Orientação para o sucesso. Prazer. Atletas Universitários.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 191, Abril de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O desporto vem conquistando muitos adeptos nos últimos anos, este ganho é notável em muitas áreas como escolas, clubes, universidades, etc. Conhecer os fatores que auxiliam na permanência desportiva é de extrema importância para que mais praticantes permaneçam em suas modalidades, porém não existe um tipo psicológico ideal para o desporte,os achados desta pesquisa se referem a esta população em específico.

    Desporto universitário pode ser definido, em princípio, como Coelho (1984) afirma “o desporto universitário é um desporto de formação, cuja função principal é social, visando o bem estar do estudante universitário sendo impossível negar a contribuição do desporto acadêmico para aproximação do ser humano, de seu relacionamento, do incentivo ao coleguismo, e também ao incentivo à formação de novas lideranças”.

    No Brasil as práticas desportivas se apresentam como: (a) Esporte Universitário de Rendimento, praticado por alunos selecionados dentro de cada Instituição de Ensino com objetivo de participar de competições inter-universidades, inclusive em campeonatos oficiais das Federações Universitárias Estaduais e pela Confederação Brasileira de Desportos Universitários-CBDU (por vezes considerado como Esporte da Universidade); (b) Esporte Universitário de Participação, praticado por qualquer aluno, de modo voluntário, sem qualquer tipo de seleção, seja em competições internas ou atividades esportivas recreativas com outros alunos; (c) Esporte Universitário Educacional, praticado por meio da Educação Física Curricular ou nas Entidades Acadêmicas Esportivas ( Clubes Acadêmicos, Departamentos Esportivos de Centros ou Diretórios Acadêmicos), com a finalidade de alcançar o desenvolvimento integral e a formação para a cidadania e o lazer.

    A prática desportiva entre universitários, sempre foi iniciativa dos próprios universitários, segundo Coelho (1984), e vendo esse comprometimento dos estudantes a participar do desporto competitivo mesmo que em alguns momentos não possuindo muitos recursos para competirem, este trabalho tem por objetivo estabelecer quais motivos/motivação para a prática do desporto que levam estudantes universitário estudantes da Universidade Federal de Lavras - UFLA participarem de competições.

Referencial teórico

    O desporto universitário surgiu no século XIX na Inglaterra e foi introduzido nas universidades com objetivo de melhor gerir o tempo livre dos estudantes das classes dominantes e ascendentes. Acredita-se ainda que o desporto universitário tenha surgido da observação do desporto como um meio de confraternização entre os povos, sendo um instrumento social entre a comunidade e ainda um fator importante para a melhoria da qualidade de vida.

    Os primeiros passos oficiais do desporto universitário se deram através do pai dos Jogos Olímpicos modernos, o Barão Pierre de Coubertin ainda no século XIX. Na sequência dos acontecimentos foram surgindo interesses em formar uma associação do desporto universitário. Foi então que em 1949, constituiu-se oficialmente a International University Sports Federation (FISU), como instituição máxima do desporto universitário e assim organizando a primeira universidade na cidade italiana de Turin em 1959.

    Atualmente o desporto universitário pode se desenvolver como uma atividade extracurricular sendo inserida num contexto de prestação de serviço, desenvolvendo práticas desportivas, ou como forma competitiva (semi- profissional) onde se competem pela instituição, eventos que são promovidos pelas federações universitárias. Outra forma de competição é a profissional, na qual os alunos competem com atletas profissionais representando o nome da universidade.

    Segundo Coelho, (1984), o esporte universitário surgiu no Brasil no fim do século XIX. Foi uma iniciativa dos próprios universitários do College Mackenzie de São Paulo, da Faculdade de Medicina e Cirurgia e da Escola Politécnica, ambas no Rio de Janeiro, ocorrendo às primeiras disputas interestaduais em 1916. Somente em 1935 que se iniciaram as tradicionais competições entre universidades, sendo realizados os primeiros Jogos Universitários - JUBs, na cidade de São Paulo.

    A partir de 1970, Toledo (2006) refere que o modelo das Associações Atléticas Acadêmicas - AAA se desvinculou das universidades, passando as AAA a serem responsáveis pela organização do desporto universitário. Após, muitas instituições passaram elas mesmas a assumir a gestão de seus departamentos esportivos, criando-se a figura do gerente de esportes ou diretor esportivo, muitas vezes um professor de Educação Física.

    Assim observamos que a prática desportiva mostra-se muito benéfica para as instituições de ensino tanto particulares quanto federais, porém ela também é benéfica para os alunos por promover melhor qualidade de vida, socialização entre os membros participantes, e entre outros benefícios a oportunidades de freqüentar um curso superior e ao mesmo tempo não abandonar a prática desportiva competitiva caso ele a praticasse antes de sua admissão na universidade.

Fatores motivacionais para a prática desportiva

    Em um estudo realizado por Lopes a partir de Clapeys (1987) foi verificado que a prática desportiva parece diminuir com a idade, cerca de 15% entre os 15 e 20 anos abandonam o desporto e os restantes, na maioria dos casos, praticam menos intensamente a atividade desportiva, sendo que aos 18 anos esse abandono ocorre de forma mais acentuada que nos anos anteriores.

    Atualmente tem se observado que um crescente número de indivíduos na faixa etária universitária em participação no desporto competitivo pelas suas instituições Deschamps (2009) relatou em um de seus estudos que os fatores motivantes que os levam a participação em eventos esportivos são diversos como: saúde, aventura, capacidade pessoal, competição.

    Já no estudo de Estrada (2000) ele encontrou a melhora das habilidades desportivas, a amizade, o desejo de vencer, entre outros como os fatores motivacionais a prática desportiva.

    Para que um indivíduo queira ou deseje realizar a prática desportiva deve haver um motivo, uma razão ou até mesmo uma meta a ser cumprida (ROSAMILHA 1984).

    A partir dos escritos de Hirota, Winterstein e Rosamilha (1984), pode se dizer que conhecer os motivos que levam os atletas universitários a aderirem à prática desportiva, pode contribuir na ampliação do número de adeptos e no melhoramento desta prática, uma vez que os fatores ligados a sua participação serão conhecidos.

    Balbinotti a partir da Teoria da Autodeterminação de Deci e Ryan (1985, 2000a) preconiza que um sujeito pode ser motivado em diferentes níveis, às formas são intrínseca ou extrinsecamente.

    Autores têm subdividido a motivação intrínseca em 3 tipos: "para saber", ocorre quando se executa uma atividade para satisfazer uma curiosidade, ao mesmo tempo em que se aprende tal atividade; a motivação intrínseca "para realizar" ocorre quando um indivíduo realiza uma atividade pelo prazer de executá-la e a motivação intrínseca "para experiência" ocorre quando um indivíduo realiza uma atividade para experimentar as situações estimulantes inerentes à tarefa“ (Brière, Vallerand, Blais, & Pelletier, 1995). Ao contrario da motivação intrínseca a extrínseca tem ligação com o ambiente a qual o atleta está inserido sendo que: A motivação extrínseca, por sua vez, ocorre quando uma atividade é efetuada com outro(s) objetivo(s) que não o(s) inerente(s) à própria atividade (Ryan & Deci, 2000a).

    Porém deve-se destacar que a motivação envolve a interação de fatores pessoais e ambientais, sendo que a importância desses fatores pode mudar, dependendo das necessidades e oportunidades vivenciadas.

Metodologia

Amostra

    A amostra foi constituída por universitários vinculados a Universidade Federal de Lavras - UFLA que concordaram a participar da pesquisa e que já tenham participado e que pretendediam continuar participando de campeonatos universitários como a Liga Desportiva Universitária – LDU, Jogos Universitários de Minas Gerais - JUM’s, Jogos Universitários Brasileiros - JUB’S entre outros.

    Participaram 51atletas com idades entre 18 á 31 anos, pertencentes das modalidades: Handebol (feminino e masculino); Futsal (feminino e masculino); Basquete (feminino e masculino); Vôlei (feminino e masculino); Atletismo (masculino); Natação (feminino); Rugby (masculino) e Futebol (masculino).

    A média de anos de participação nesses campeonatos são de 2 anos, sendo que eles já praticavam suas modalidades antes de entrar na universidade, a frequência de treinamento das modalidades é de 3 vezes na semana.

    A justificativa de a amostra ser constituída apenas por atletas que já participaram de campeonatos universitários deve-se ao fato deles poderem relatar vivencias que tenham passado que auxiliaram no entendimento dos motivos da permanecia em suas modalidades.

Procedimentos e instrumentos de pesquisa

    Este é um estudo quati-qualitativo, os dados foram coletados por meio de um questionário desenvolvido para este estudo, contendo 4 perguntas abertas relacionadas aos objetivos e fatores para a participação em campeonatos universitários.

    As questões abordavam se as competições oferecem momentos de diversão, se há preocupação com a boa condição física, estas tinham relação com o tempo de treinamento durante a vida e em competições esportivas e outra sobre quantos treinamentos eram realizados na semana. As perguntas abertas foram utilizadas visando compreender mais profundamente os pensamentos dos sujeitos pesquisados, pois quando os participantes geram suas próprias respostas, os fatores mais importantes tendem a emergir.

    A outra parte do questionário compreendia de perguntas fechadas que deveriam ser respondidas com Sim ou Não. O questionário era composto por 14 perguntas e foi aplicado no mês de fevereiro de 2013 nos locais de treinamento antes ou após a este para que não houvesse perturbação durante os treinos. Previamente a aplicação do questionário foi solicitada a permissão aos técnicos para a realização da pesquisa com suas equipes.

    A verificação dos dados qualitativos foi feita com a análise dos conteúdos posteriormente os dados foram categorizados, através da frequência de relatos que apareciam com informações semelhantes e confrontadas entre si, os quantitativos foi verificado a porcentagem que marcaram os participantes entre Sim ou Não .

Resultados

    Os participantes possuem tempo médio de participação no esporte de 9 anos, participam de competições Universitárias a aproximadamente 2 anos e treinam 3 vezes na semana.

Tabela 1. Relação com boa forma física e boa condição física

    Quando foram perguntados se a equipe a qual pertencem era empehada 97,9% disseram que sim, em jogos pouco mais da metade 56,6% dissearm que não realizam a maiorias dos pontos, porém 80% afirmaram que suas habilidades fazem a diferença em jogos.

Tabela 2. Objetivo em participar. (*conhecer pessoas e novos lugares)

    Também foi encontrado que a maioria 70,8% não vencem as competições a qual participam, mas que quando vencem 97,7% acreditam que suas participações foram importantes para a vitória, todos falaram que se sentem satisfeitos em participar das competições e que mesmo quando não estão em campeonatos a equipe saem juntos. As tabelas a seguir mostraram outros resultados.

Tabela 3. Momentos de Diversão

 

Tabela 4. Fatores para a participação. (*conhecer novos lugares, pessoas

e se integrarem com os participantes da competição)

Discussão e conclusão

    Analisando os dados observa-se que o objetivo dos atletas universitários ao participarem de competições é a vitória. Este resultado se assemelha ao de Costa (2009) que estudou aspectos motivacionais a prática esportiva em atletas que participam de um campeonato metropolitano de futebol em Campo Grande, Samulski (2009, pág. 170) define o sucesso “[...] como a capacidade de vivenciar orgulho e satisfação na realização de tarefa”.

    Lázaro (2005) afirma que o sucesso é fonte de inspiração para os atletas, pois vencer um adversário é o retorno de todo o processo de insistência durante os treinamentos a qual eles foram submetidos até a competição. Porém quando questionados se vencem as competições que participam a maioria respondeu que não, estes atletas são considerados pessoas orientadas para o sucesso (High Achievers).

    Mesmo quando questionados sobre a condição física e manter a boa forma as resposta foram voltadas para o desempenho nos campeonatos fato este inesperado, pois jovens vem em sua imagem corporal uma forma de se entrosar com o ambiente que pertencem. Este ambiente acaba por padronizar o que é considerado “belo” e caso os jovens não se sintam dentro dos padrões estéticos estabelecidos se sentirão insatisfeitos.

    Ferriani (2005) menciona que adolescentes e jovens valorizam como também desejam ser/estar de acordo com os padrões de beleza estabelecidos pela mídia, para que então possam ter o sentimento de igualdade perante a sociedade. Assim o resultado encontrado reforça a orientação apresentada por eles para o sucesso sendo que em suas falas a preocupação com a condição física se sobre sai a da boa forma:

    “Sim, a boa forma permite ao grupo um melhor desempenho mesmo quando não alcançamos a vitória temos a sensação de que foi feito o máximo dentro de nossas condições físicas”

    Apesar de ser ter encontrado que o objetivo para a prática do desporto universitário é o de ganhar, o fator que os motiva a competir que foi encontrado é o prazer, isto leva a crer que apesar da relação estabelecida com as competições visando à vitória os atletas universitários participam das competições por sentirem-se bem praticando o desporto.

    Deschamps (2009) a partir de um estudo realizado por Samulski e Noce (2000) obtiveram resultados que vão ao encontro a este em relação ao prazer, este estudo foi realizado com professores, alunos e funcionários em 2 instituições públicas do Estado de Minas Gerais. Isto indica que a motivação dos universitários é intrínseca, ou seja, eles participam das competições por diversão e satisfação.

    Balbinotti a partir de Scanlan, Stein e Ravizza (1991), afirma que o prazer é o fator chave para se compreender a participação em desporto a busca pelo prazer em atividades físicas regularmente praticadas.

    Pelo fato de participarem de competições por sentir prazer considera-se que a motivação a qual eles possuem é intrínseca que são comumente associadas ao bem estar psicológico, interesse, alegria e persistência. Veigas (2009) afirma que pessoas motivadas intrinsecamente possuem a maior probabilidade de serem mais persistentes de apresentarem níveis de desempenho mais elevados e de realizarem mais tarefas que os motivados extrinsecamente.

    Isto é notável nesta pesquisa, mesmo não ganhando as competições os atletas conseguem avaliar seus comportamentos durantes os treinos visando melhoras para as competições isso ressalva o interesse que eles possuem. Analisando a resposta da pergunta 14 que é sobre a boa forma física pode se perceber a preocupação com o desempenho que está ligado a boa condição física: “Sim, para ser um bom atleta e competir bem essa é uma preocupação fundamental, tendo em vista que o nosso corpo atua como um todo”.

    A questão para que o fator prazer se apresentar como um o mais relevantes para este grupo pode estar ligada a idade. Em um estudo realizado por Lourenço (2004) ele expõe que a idade influencia na transmissão de valores, quando adolescentes a preocupação maior é com a vitória, porém na juventude a priorização do prazer causado pelo esporte. Samulski (2009, pág 216) diz que durante a atividade competitiva os atletas passam por diversas emoções como a alegria que os levam a uma alta concentração que em alguns momentos acaba se esquecendo de si mesmo este estado é considerado como flow-feeling.

    Outro achado na pesquisa se refere ao âmbito social, este foi encontrado na questão 13, ela indagava se as competições ofereciam momentos de diversão com a equipe, eles relataram que sim destacando que as brincadeiras de baralho, passeios, conversas, as festas que freqüentam nas cidades que competem, o momento em que vão dormir, vídeo game. Foram encontrados momentos de diversão também durante os jogos, ou em momentos que torcem por seus amigos.

    Estes momentos podem também estar ligados a motivação para a participação, porém um estudo mais aprofundado se mostra necessário para saber qual é a real influência da amizade para este grupo estudado e como a amizade favorece para as participações em competições universitárias.

    Respondendo ao objetivo deste estudo, segue o fator motivacional mais importante para a participação em campeonatos universitários. A motivação encontrada foi o prazer. Portanto este grupo apresenta características motivacionais intrínsecas.

    De acordo com a literatura o fato de a motivação ser voltada para o prazer pode ter ligação com a idade, pois na juventude ocorrem transferências de valores e conseqüentemente eles começam a valorizar mais o aspecto lúdico que o desporto proporciona como a satisfação, bem estar e alegria.

    Fica aqui a sugestão para um estudo mais aprofundado sobre os sentimentos vivenciados durante os jogos e/ou a comparação com grupos diferentes que poderão fomentar um resultado mais consistente.

Referências bibliográficas

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 19 · N° 191 | Buenos Aires, Abril de 2014
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