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Efeitos da aspiração traqueal nos dados vitais e 

na mecânica respiratória do neonato: uma revisão

Efectos de la aspiración traqueal en los signos vitales y la mecánica respiratoria en el recién nacido: una revisión

Effects of suction in tracheal vital data and respiratory mechanics of the newborn: a review

 

*Especialista em Fisioterapia Hospitalar, Fisioterapeuta do Hospital Pequeno Príncipe

Membro da Liga Sem Dor de Curitiba

**Especialista em Fisioterapia em Terapia Intensiva e Neo-Pediatria

(Brasil)

Fabricio Lopes Conduta*

Juliana Thiemy Librelato**

fabricio_conduta@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A Ventilação Mecânica Invasiva (VMI) é um método comumente utilizado em Unidades de Terapia Intensiva. Contudo sua utilização predispõe a riscos ao paciente como tosse ineficaz predispondo ao acúmulo de secreções. Objetivando a manutenção da permeabilidade das vias aéreas são utilizadas técnicas como aspiração traqueal entre outras. Contudo seu uso pode acarretar alterações nos dados vitais do paciente. O objetivo do estudo foi verificar na literatura os reais efeitos da aspiração traqueal nos dados vitais de neonatos. Foi realizado consulta às bases de dados Medline, Lilacs, PEDro e busca ativa no acervo de periódicos da Biblioteca da Faculdade Inspirar e da Biblioteca das Faculdades Integradas do Brasil, no período de Junho de 2011 à Junho de 2012. Foram encontrados 12 artigos. De acordo com os achados, conclui-se que a técnica de aspiração traqueal, traz alterações importantes nos dados vitais de neonatos como: aumento da pressão arterial, retenção de PaCO2, queda da SPO2, bradicardia, diminuição da complacência pulmonar. Isso se reflete no cérebro pela vasodilatação e desoxigenação.

          Unitermos: Ventilação mecânica. Fisioterapia. Recém-nascido. Aspiração respiratória.

 

Abstract

          The Invasive Mechanical Ventilation (IMV) is a method commonly used in intensive care units. However its use predisposes the patient to the risks as ineffective cough causing accumulation of secretions. Aiming to maintain airway patency techniques are used as tracheal aspiration among others. Otherwise its use can cause changes in the patient's vital data. The aim of the study was to assess the existing literature the actual effect of tracheal aspiration in neonates vital data. Review was carried to the databases Medline, Lilacs, PEDro and active in the collection of the Library of the Faculdade Inspirar and the Library of Integrated Schools of Brazil, in the period June 2011 to June 2012. 12 articles were found. According to the findings, it is concluded that the technique of aspiration and brings important changes in vital data from neonates as: increased blood pressure, PaCO2 retention, drop in SPO2, bradycardia, decreased pulmonary complacency. This is reflected in the brain by vasodilation and deoxygenation.

          Keywords: Mechanical ventilation. Physiotherapy. Newborn. Respiratory aspiration.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 191, Abril de 2014. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    A fisioterapia respiratória tem sido um recurso efetivo na prevenção e tratamento de diversas doenças broncopulmonares, especialmente para a remoção da secreção brônquica. Em Unidades de Terapia Intensivas Neonatais (UTIN) a fisioterapia neonatal consiste em procedimentos realizados pelo fisioterapeuta no período situado entre o clampeamento do cordão umbilical até 28 dias após o parto, que compreendem o manuseio da parte motora e pulmonar do recém-nascido (RN) (ABREU; 2003, 2006).

    Ribeiro et al (2007) verificou um significativo índice de problemas respiratórios nos prematuros internados em UTIN do HUSFP.

    Outro método comumente empregado nos Centros de Terapia Intensiva é a Ventilação Mecânica Invasiva (VMI). Contudo sua utilização predispõe a riscos ao paciente, como: lesão traqueal, barotrauma e/ ou volutrauma, diminuição do débito cardíaco, toxicidade de oxigênio. Além destes fatores, pacientes submetidos à VMI, tendem a problemas respiratórios devido à tosse ineficaz predispondo ao acúmulo de secreções. (JUDSON, 1994)

    Em relação ao acúmulo de secreções, a análise dos estudos realizados na faixa pediátrica e neonatal mostra que a fisioterapia respiratória está indicada e tem eficácia comprovada nos casos de hipersecreção brônquica. Freitas (2005), Crane (2003).

    Objetivando a manutenção da permeabilidade das vias aéreas são utilizadas técnicas de hiperinsuflação manual (HM), drenagem postural (DP), aspiração traqueal entre outras. (STILLER, 2000).

    Na literatura é ressaltada a importância de se realizar a aspiração traqueal nos pacientes, como indicativos desta, pode-se citar a mudança do estado do paciente, diminuição de saturação de oxigênio, agitação, trauma facial ou oral, falência respiratória, ruídos adventícios que demonstrem a presença de secreções. (TAMEZ, 2006).

    No entanto várias manobras fisioterapêuticas estão sendo avaliadas, quanto à eficácia na remoção de secreção do trato respiratório e ao risco de efeitos adversos, porém estes aspectos ainda não estão determinados. A aspiração traqueal, muito utilizada, tem risco de efeitos adversos, como bradicardia e hipoxemia. (HADDAS, 2006).

    Nos trabalhos de Antunes et al (2006), realizou-se comparações do impacto de diversas técnicas de fisioterapia sobre os parâmetros fisiológicos. Esses autores concluíram que os resultados são divergentes e que novos estudos são necessários nessa população amplamente assistida na Unidade de Cuidados Neonatais.

    Apesar de serem claros na prática clínica, os benefícios da aspiração para remoção das secreções das vias aéreas, nunca foram estudados ou, principalmente, avaliados os efeitos colaterais associados a ela. (STILLER, 2000).

    Outros autores apresentam efeitos deletérios da fisioterapia sobre a população neonatal. Sugerem que este manuseio traga instabilidades hemodinâmicas. (HARDING et al, 1998).

    Ao considerarem-se os efeitos da Ventilação Mecânica Invasiva no sistema respiratório, pode-se destacar o acúmulo de secreções em decorrência à tosse ineficaz. (JUDSON, 1994). Portanto o intuito deste estudo é elucidar e contribuir para que se verifiquem realmente os efeitos desta técnica nos parâmetros vitais dos pacientes, através da revisão de literatura existente.

2.     Materiais e métodos

    Foi realizado consulta às bases de dados Medline, Lilacs, PEDro e busca ativa no acervo de periódicos da Biblioteca da Faculdade Inspirar e da Biblioteca das Faculdades Integradas do Brasil, no período de Junho de 2011 à Junho de 2012 com idiomas Português e Inglês; unitermos incluídos no título e/ou resumo Ventilação Mecânica, Fisioterapia, Recém-Nascido, Aspiração Respiratória.

    Para a seleção dos artigos, inicialmente foi feita a leitura dos resumos, verificando se continham as informações que preenchiam os seguintes critérios: Estudos com recém-nascidos; estudos que avaliaram os efeitos da aspiração traqueal ; estudos que avaliaram o efeito da aspiração traqueal nos dados vitais a longo prazo; estudos que avaliaram os efeitos da aspiração traqueal na mecânica ventilatório de recém – natos; estudos que apresentavam recém-nascidos com critérios de aspiração traqueal segundo o que recomenda American Association for Respiratory Care (AARC). AMERICAN ASSOCIATION FOR RESPIRATORY CARE (1993).

    Os artigos da seleção final foram incluídos e lidos na íntegra para a realização deste trabalho.

3.     Resultados

    Foram encontrados 30 artigos, dos quais 12 preencheram os requisitos da pesquisa: Avena (2003), Spense (2009), Selestrin (2007), Haddad (2006), Nicolau (2008), Rosa (2007), Swartz (1996), Gunderson (1986), Rogge (1989), Boutros (1970), Shah (1992), Morrow (2008).

    O delineamento da pesquisa seguiu critérios estabelecidos pela Oxford Center for Evidence - based Medice 2001.

Quadro 1. Síntese do conteúdo dos 12 artigos selecionados para a revisão

Autores

Delineamento da pesquisa

Metodologia

Resultados

Publicação

Avena et al, 2003.

2B

Realizado aspiração traqueal em 13 neonatos.

Houve retenção de PaCO2, queda da SPO2 e diminuição da complacência pulmonar.

Assoc Med Bras 2003; 49(2):156-61.

Spence, K; Gillies, D; Waterworth, L, 2009.

2A

Revisão realizada sobre aspiração traqueal superficial e profunda em neonatos,

Não há evidência de estudos randomizados e controlados sobre os benefícios ou riscos da aspiração profunda em relação à aspiração superficial.

Editorial Group: Cochrane Neonatal Group. Published Online: 21 JAN 2009

Selestrim et al, 2007.

2B

A amostra foi constituída de 27 neonatos, submetidos a aspiração traqueal.

Observou-se redução da FC, FR, sem alteração da PA, aumento da SpO2 e diminuição da temperatura corporal.

Rev. Bras. De Crescimento e Desenvolvimento Humano, São Paulo, v.17, n.1,p 146-155, 2007.

Haddad et al, 2006.

C4

Relato de caso de 2 RN, submetidos a aspiração traqueal durante 5 dias.

Observou que a aspiração causou bradicardia e hipoxemia.

Pediatria (São Paulo) 2006, 28(2):135-40.

Nicolau, CM; Falcão, MC, 2008.

2B

Foram estudados 42 RN, submetidos à aspiração traqueal.

Concluindo-se, que PA permaneceu dentro de valores fisiológicos

Fisioter Pesq. v.15 n.3 São Paulo 2008

Rosa et al, 2007.

2B

12 pacientes separados em grupo fisioterapia convencional e aspiração traqueal para higiene brônquica

As alterações cardiorrespiratórias foram observadas apenas na P.A, imediatamente após a sua aplicação, em que houve um aumento não sustentado da FR e PAS durante a aspiração traqueal

Revista Brasileira de Terapia Intensiva. Vol. 19 Nº 2, Abril-Junho, 2007.

Swartz, K; Noonan, DM; Beckett, JE; 1996.

2B

Questionário respondido por 80 enfermeiros sobre intercorrências durante a aspiração

80% relatam poucas respostas deletérias aos pacientes decorrentes do procedimento.

Heart & Lung: The Journal of Acute and Critical Care Volume 25, Issue 1, January–February 1996, Pages 52–60

Gunderson, LP; Mcphee, AJ; Donavan, EF. 1986.

2B

11 recém nascidos, aspirados em sistema fechado

Ocorreu hipoxemia e bradicardia após a aspiração.

Am J Dis Child 1986 May; 140(5):462-5.

Rogge JÁ Bunde, L; Baun, MM. 1989.

2B

Este estudo intra-sujeito comparou os efeitos de hiperinflações, com 20% e 100% O2 antes e depois da aspiração endotraqueal em 11 pacientes

Houve desaturação de oxigênio no procedimento

Heart Lung. 1989 Jan;18(1):64-71.

Boutros, AR. 1970.

2B

22 pacientes em Ventilação mecânica, submetidos à aspiração traqueal

As diminuições na PaO2 foram significativamente menores durante e após.

Anesthesiology February 1970 - Volume 32 - Issue 2

Shah et al. 1992

2B

12 pacientes com síndrome do desconforto respiratório tratados com ventilação mecânica

Estudos mostram que a aspiração traqueal causa hipoxemia transitória, e demonstrar que isso se reflete no cérebro pela vasodilatação e desoxigenação. Estes efeitos são evitáveis ​​por pré-oxigenação antes de aspiração.

The Journal of Pediatrics. Volume 120, Issue 5, Pages 769-774, May 1992

Morrow, BM; Argent, AC. 2008.

Revisão baseada em evidências de aspiração endotraqueal pediátrica: efeitos, indicações, e na prática clínica. 118 referências foram incluídos na revisão fina

Não há nenhuma evidência clara que a sucção endotraqueal melhora da mecânica respiratória, com a maioria dos estudos que apontam para o efeito negativo que tem sobre a mecânica pulmonar

Pediatric Critical Care Medicine: September 2008 - Volume 9 - Issue 5 - pp 465-47.

PaCO2= Pressão parcial de oxigênio; SPO2= Saturação de oxigênio no sangue; FR= Frequência respiratória; 

FC= Frequência cardíaca; PA= Pressão arterial; PAS= Pressão arterial sistêmica; RN= Recém-nascido.

4.     Discussão

    Frequentemente, a prática nos evidencia que cada vez mais os recém-nascidos prematuros apresentam doenças respiratórias, tendo a fisioterapia como um dos tratamentos em Unidades de Terapias Intensivas Neonatais (UTIN). (GARCIA, 1996). Estes fatores, associados às condições clinicas do paciente e aos demais inconvenientes relacionados á ventilação mecânica e ao manuseio excessivo da cânula endotraqueal, predispõem o paciente a severas infecções respiratórias, que aumentam a produção de muco, sobrecarregando os mecanismos naturais de defesa. (BELAND, 1979; NIELSON, 1980)

    Pode-se ainda citar o uso de drogas incluindo sedativos, narcóticos e atropina, comumente usados nesses pacientes, que também comprometem a expansibilidade torácica, o reflexo da tosse e a viscosidade do muco, dificultando a mobilização de secreções através do sistema mucociliar. (BELAND, 1979).

    Com isso o objetivo descrito na literatura da fisioterapia em recém-nascidos e crianças são: otimizar a função respiratória de modo a facilitar a relação ventilação/perfusão, adequar o suporte ventilatório assim como prevenir e reabilitar complicações pulmonares, facilitar o desmame da ventilação mecânica, como buscar meios para evitar se possível o uso de oxigenioterapia favorecendo uma saturação de oxigênio ideal, e manter a permeabilidade das vias aéreas. Garcia (1996), Schans (1999). A aspiração das vias aéreas é um procedimento, muitas vezes, utilizado nas UTI's para manter a permeabilidade das mesmas, em especial em pacientes com pouca tosse, como os RN.

    Isto porque, nesses pacientes, o acúmulo de secreções se torna inevitável, pois a canulação endotraqueal impede que os mecanismos de defesa das vias aéreas superiores como a filtração, umidificação e aquecimento do ar sejam utilizados. (BELAND, 1979).

Efeitos da aspiração traqueal nos dados vitais

    Embora pareça ser um procedimento simples, é necessário que se tome devidos cuidados para que se tenham efeitos indesejáveis. Esses efeitos podem ser citados como: efeitos cardiovasculares adversos, determinados assim pela hipoxemia, e por alterações do sistema nervoso autônomo. Por meio da estimulação de receptores simpáticos pode resultar secundariamente vasoconstricção periférica e aumento da pressão arterial, e em decorrência da estimulação dos receptores parassimpáticos, a bradiarritmia. Pode ocorrer também aumento do fluxo sanguíneo cerebral e da pressão intracraneana. Parker (1985), Webber (1990).

    Em decorrência a esses fatores é recomendável que a aspiração traqueal siga critérios para serem aplicadas. Segundo a AARC para que este fim seja seguido foram estabelecidos parâmetros para tal, como: piora do desconforto respiratório, presença de secreções, agitação e queda da saturação pela oximetria de pulso.

    Com isso se torna efetivo a utilização da técnica de aspiração endotraqueal quando outras técnicas não invasivas surtirem efeitos, entre elas pode-se citar: umidificação, fluidificação, estimulo da tosse, percussão, vibração e drenagem postural. Beland, Barnes (1979), Buchanan (1986), Hoffman (1987), Preusser (1988). Outro aspecto importante é no que se refere à contenção no momento da aspiração. Indica-se que seja realizada de forma rotineiramente na UTIN, de modo que provoque maior estabilidade e segurança clínica, reduzindo desde modo a dor e o índice de complicações durante ou após o procedimento. (FALCÃO, 2008)

    Outro autor preconiza o procedimento de aspiração endotraqueal quando houver somente a presença de ruídos adventícios (roncos) pulmonares, aumento do pico de pressão inspiratória no ventilador ou quando a movimentação das secreções for audível durante a respiração. (HOFFMAN, 1987)

    Com uma indicação correta da aspiração traqueal, os pacientes ficam menos expostos às sérias complicações decorrentes do procedimento, incluindo arritmias: Nielson (1980), Barnes (1980), Buchanan (1986), Hoffman (1987); laringoespasmos: Barnes (1986); traumatismos da mucosa oral: Nielson (1980), Barnes (1986), Buchanan (1986), Hoffman (1987); microatelectasias: Barnes (1986), Buchanan (1986), Hoffman (1987); hipoxemia: Nielson (1980), Buchanan (1986), Hoffman (1987), Preusser (1988); desaturação de oxigênio: Barnes (1986), Rogge (1989); bradicardias: Hoffman (1987); hipertensão arterial, aumento da pressão intracraniana: Rudy (1986); infecções: Hoffman (1987); ansiedade, alterações na pressão parcial de gás carbônico, cianose, broncoconstricção: Buchanan (1986) e parada cardíaca; Hoffman (1987).

    Em virtude dessas complicações, Avena et al (2003) demonstrou em seu estudo que a técnica de aspiração acarreta risco aos pacientes, devendo ser um procedimento na qual haja avaliação multidisciplinar, considerando ausculta, presença de secreção no interior da cânula ou sinais que comprometam a oxigenação da ventilação, detectadas através de sinais clínicos sendo de fundamental importância avaliação contínua das respostas dos pacientes a este procedimento. Demonstrou ainda que este procedimento também acarreta em retenção de PaCO2, queda de SpO2 diminuição da complacência torácica. E m crianças este procedimento acarreta: bradicardia, hipoxemia. (GUNDERSON, 1986; 1991; CHULAY, 1988; GRAEBER, 1988; YOUNG, 1984). Outro estudo realizado com objetivo de se analisar os efeitos da prática da fisioterapia neonatal, com aspiração traqueal. Buscou-se analisar os efeitos desta técnica em parâmetros fisiológicos como: FC, FR, SpO2 e temperatura axilar em RN pré-termo submetidos à ventilação mecânica. Como resultado da pesquisa verificou-se uma redução da FC e FR, sem constatação da alteração da PA, aumento da SpO2 e diminuição da temperatura porém sem repercussões clínicas. (SELESTRIM, 2007). Rosa et al em seu estudo avaliou os efeitos de um protocolo de higiene brônquica em curto prazo, comparando com protocolo controle, em que foi realizada apenas a aspiração do tubo traqueal. As alterações cardiorrespiratórias foram observadas apenas na P.A, imediatamente após a sua aplicação, em que houve um aumento não sustentado da FR e PAS (ROSA et al, 2007). Nesse sentido, a mensuração da pressão sangüínea faz-se imprescindível para verificar a influência dos procedimentos fisioterapêuticos utilizados e do procedimento de aspiração, sobre o fluxo sangüíneo cerebral. (VOLPE, 1989; BERNEY, 2003). Porém, em outros estudos, valores pressóricos médios permaneceram dentro dos intervalos dos valores considerados fisiológicos, não alcançando significância estatística na comparação entre os momentos antes e imediatamente após a fisioterapia. Esses resultados mostram que as intervenções fisioterapêuticas realizadas não podem ser consideradas prejudiciais para os RN’s, podendo-se deduzir que os procedimentos fisioterapêuticos estudados não exerceram influência sobre a hemodinâmica cerebral e, portanto, não contribuíram para a ocorrência de eventos hemorrágicos. A partir desses resultados permite-se dizer que o procedimento de aspiração traqueal e/ou de vias aéreas superiores provoca oscilações significantes em todas as variáveis da pressão arterial, ratificando que esse procedimento deve ser empregado somente quando estritamente necessário e não deve fazer parte rotineira do atendimento fisioterapêutico. Concluindo-se, na população estudada, a pressão arterial sistêmica (sistólica, diastólica e média) permaneceu dentro de valores fisiológicos após os procedimentos fisioterapêuticos e de aspiração endotraqueal. O procedimento de aspiração teve maior influência nas oscilações da pressão arterial sistêmica do que os procedimentos fisioterapêuticos. (NICOLAU, 2008). Outro fator essencial no momento da aspiração é o quadro de hipoxemia, sendo um fator de total atenção e preocupação por partes dos profissionais que executam o procedimento, considerando que as quedas abruptas da pressão parcial do oxigênio no sangue (PaO2) comprometem severamente as funções celulares, desencadeando arritmias cardíacas, parada cardiorrespiratória e óbito. Além disso, a hipoxemia tem sido considerada como fator desencadeante da maioria das intercorrências durante o procedimento de aspiração endotraqueal (NIELSON, 1980)

    A aspiração endotraqueal ocasiona uma irritação nas vias aéreas provocando estimulação vagal, como consequência também se pode ocorrer o broncoespasmo. Além disto, a excessiva pressão negativa reduz a oferta de oxigênio nos pulmões e gera microatelectasias. Como conseqüências destas situações, o paciente desenvolve hipoxemia, que associada ao estimulo vagal, desencadeia graves bradicardias, com vasoconstricção coronariana comprometendo seriamente o débito cardíaco e o fornecimento de sangue tecidual. (NIELSON, 1980)

6.     Conclusão

    De acordo com os achados, conclui-se que a técnica de aspiração traqueal, traz alterações importantes nos dados vitais de neonatos como: aumento da pressão arterial, retenção de PaCO2, queda da SPO2, bradicardia, diminuição da complacência pulmonar. Isso se reflete no cérebro pela vasodilatação e desoxigenação.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 19 · N° 191 | Buenos Aires, Abril de 2014
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