O futsal nas aulas de Educação Física: a participação dos(as) menos habilidosos(as) El futsal en las clases de Educación Física: la participación de los(as) menos habilidosos(as) |
|||
*Licenciatura em Educação física pela Universidade do Sudoeste da Bahia especialista em Metodologia do Ensino e da Pesquisa em Educação Física, esporte e Lazer pela UFBA e professora da rede estadual do Estado da Bahia **Mestre em Educação, UFBA, especialista em Metodologia em Educação Física e Esporte/UNEB Professor da Universidade do Sudoeste da Bahia |
Alantiara Peixoto Cabral* Alan de Aquino Rocha** (Brasil) |
|
|
Resumo Este estudo surge de questionamentos levantados durante a disciplina tirocínio docente da Especialização em Metodologia da Educação Física e do esporte. A presente disciplina tinha como proposta a vivência do ambiente escolar visando às soluções de problemáticas levantadas pelo professor regente. O estudo foi realizado nas turmas do 9º ano A, B, C e D, no turno vespertino. Foram lecionadas 16 aulas de 45 minutos, com a temática futsal. A problemática inicial levantada foi a não participação das mulheres no jogo de futsal, depois de uma breve reflexão e observação da prática chegou-se a conclusão que a real problemática é a exclusão dos menos habilidosos sejam eles homens ou mulheres. A proposta de trabalho das aulas foi baseada nas possibilidades de os menos habilidosos poderem aprender a jogar, basta que oportunidades surjam e um dos locais prioritários é a escola. A função da aula de educação física não é vencer o jogo, não é treinar atletas, mas fazer com que crianças e jovens reflitam as expressões culturais que envolvem o movimento e as entendam e assim dar oportunidade de vivência e crescimento para todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem. Concluímos que é possível vencer o sexismo que perpassa a educação física. Para isto é necessário deixar de lado uma prática sem reflexão e partir da ação-reflexão-ação. Unitermos: Educação física escolar. Sexismo. Ação-reflexão-ação.
|
|||
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 191, Abril de 2014. http://www.efdeportes.com/ |
1 / 1
Introdução
Este estudo surge de questionamentos levantados durante a disciplina tirocínio docente da Especialização em Metodologia da Educação Física e do esporte. É importante salientar que a especialização tem como principal público alvo professores de educação física da rede estadual, partindo desta perspectiva a disciplina tirocínio docente foi planejada. A presente disciplina tinha como proposta a vivência do ambiente escolar visando as soluções de problemáticas levantadas pelos professores regentes (discentes da especialização).
Assim, os professores (discentes da especialização) tinham que elencar os principais problemas vivenciados durante o ano letivo. Os problemas eram investigados desde a estrutura física, organização pedagógica da escola até o processo ensino-aprendizagem. Após o levantamento começaram as discussões sobre possíveis soluções. A presente pesquisa foi realizada no Colégio da Policia Militar de Jequié, este oferece o ensino fundamental II e ensino médio, atendendo ao disposto na legislação especifica.
A educação física é uma componente curricular obrigatório para todas as turmas com a carga horária de 2 (duas) aulas semanas, contudo, o 3º (terceiro) ano possui em sua grade curricular apenas 1 (uma) aula por semana. O componente curricular acontece no horário oposto, ou seja, se a turma estudar no turno matutino a aula de educação física é no turno vespertino ou vice e versa.
Este ponto contribui no que diz respeito às vestimentas dos educandos, já que todos vão uniformizados especificamente para aula de educação física, todavia isto leva a muitas faltas, apresentação de atestado médico e os alunos do ensino médio tem dispensa das aulas quando estão estagiando ou em cursinhos pré-vestibulares.
O estudo foi realizado nas turmas do 9º ano, totalizando 4 (quatro) turmas. Em cada turma foi realizado um total de 4 aulas, no turno vespertino. Quanto aos meterias, na escola tem bolas, cones, arcos, coletes, aparelhos de ginástica, balança, freqüencímentro, cronômetro, aparelho para medir a pressão, dentre outros, espaço físico para a prática, este último se encontra em mal estado, colocando em risco os estudantes durante as vivências. Encontramos material áudio-visual quando necessário. No que se refere a estrutura física apresenta a mesma problemática das escolas públicas.
Foram lecionadas um total 16 aulas de 45 minutos, com a temática futsal: Dia 01/11/2012: 4 aulas (horário: 14:50 às 17:55); dia 08/11/2012: 4 aulas (horário: 14:50 às 17:55); dia 09/11/2012: 4 aulas (horário: 14:05 às 17:05). Cabe salientar que aconteceram apenas estas aulas, pois a escola já se encontrava no final do ano letivo. A educação Física sempre termina uma semana antes das outras disciplinas, já que durante a semana de prova não tem aula de educação física.
Por ser um colégio de regimento militar, alguns acreditam que a educação física é militar. Mas isto não acontece graças ao grupo que leciona a mesma, todos de uma formação progressista em educação que defende a educação física enquanto uma prática pedagógica que deve levar a cultura corporal para todos contribuindo no desenvolvimento completo do educando.
(...) Educação Física é uma prática pedagógica que, no âmbito escolar, tematiza formas de atividades expressivas corporais, como jogo, esporte, dança, ginástica, formas estas que configuram uma área de conhecimento que podemos chamar de cultura corporal (CASTELLANI FILHO, et al, p. 50, 2009).
A principal problemática levantada para o estudo foi inicialmente a não participação das mulheres, como afirma Lima e Dinis:
A disciplinarização dos corpos também atravessa a formação das identidades de gênero, marcada pelo predomínio de uma tradição biológica/tecnicista arraigada na história e nas práticas da Educação Física. Essa tradição pode ser percebida nas práticas escolares na quais prevalecem a prática desportiva e a divisão das atividades entre meninos e meninas. A aula de Educação Física, desta forma, acaba fortalecendo padrões e estereótipos de gênero, produzindo sujeitos masculinos e femininos (LIMA e DINIS, p.6, 2007)
No entanto, após investigar a essência do problema concluímos que o ponto principal não é o gênero como categoria de exclusão nas aulas, ainda que a não participação das meninas seja evidente, e sim que a habilidade determina a participação de meninos e meninas no momento do jogo.
Buscando minimizar esta situação foram realizadas atividades neste propósito, o ponto fundamental do trabalho foi despertar a consciência do educando sobre a exclusão dos menos habilidosos, pois acreditamos que mudanças comportamentais só acontecem quando os educandos amadurem seu modo de compreender o mundo. Nossos educandos precisam compreender que habilidades motoras são aprendidas, assim todos são capazes de desenvolvê-las, bastar ter experiências motoras que contribuam para tal.
Relato de experiência: a participação dos não habilidosos nas aulas de Educação Física
Analisando historicamente como as práticas das modalidades esportivas vem sendo valorizadas pela sociedade observamos que mesmo vivendo nos tempos atuais, algumas atitudes de preconceito ainda existem para com as mulheres no que diz respeito à vivência do esporte, principalmente o futsal.
A educação física, como defende o CASTELLANI FILHO (2009) é uma prática pedagógica e assim como qualquer outra disciplina deve estar ligada ao projeto político pedagógico, afim de que contribua com o desenvolvimento pleno (motor, afetivo, intelectual e social) de todos os envolvidos no processo ensino-aprendizagem, independente de sexo ou habilidade para o envolvimento com o conhecimento a ser aplicado
Partindo desta perspectiva observamos que a educação física, enquanto prática pedagógica tem uma gama de saberes a ser explorados pelos educadores. Diante desta realidade sabemos que nós professores não podemos negar o que existe culturalmente construído à nossos alunos, infelizmente em no país ainda há uma grande parcela da população que não chega a ter acesso a educação, sendo assim, os que possuem este bem devem usufruir da melhor forma possível.
No presente estudo iremos tratar do saber escolar futsal, futebol adaptado para a prática em quadra esportiva com 5 (cinco) jogadores. O futsal é um esporte bastante vivenciado nas comunidades, já que é mais comum existir nas comunidades quadra e não campo de futebol, este último requer muito espaço.
Assim ao chegarem à escola, nossos alunos já conhecem por ouvir falar, por ver jogar ou até mesmo por praticar frequentemente o futsal. Então este conhecimento não é uma novidade para muitos, principalmente para os meninos que na maioria das vezes praticam diariamente. No entanto, esta não é uma realidade de todos, ainda vivemos em um país onde as mulheres são excluídas desta prática, e em sua minoria os homens com poucas habilidades. Nas aulas de educação física ainda encontramos muita discriminação e preconceito exercida pelo sistema escolar, docentes e por meninos sobre meninas. É necessário modificar esta prática cotidiana, já que para muitas a escola será a sua única oportunidade de vivenciar o futsal, e nós como professores não podemos negar isto aos nossos alunos.
(...) Observamos indícios da relevância da Educação Física Escolar, na medida que foi na escola que essas mulheres revelaram a oportunidade de superar as dificuldades de praticar esses esportes. As meninas, através de suas narrativas apontam a escola como principal, ou o único espaço a oportunizar através da EFE a prática dos esportes coletivos de confronto. Elas reconhecem que, até exercerem uma autonomia suficiente para decidir suas opções de lazer, foi na escola que elas encontraram a possibilidade de expressar seus desejos e de aprender a negociar suas participações em um espaço hegemônico masculino. (VIANA et al. p.2 Resumo 204)
Nós professores, especificamente de educação física precisamos superar os valores conservadores que perpassam nossa disciplina há décadas e oportunizar questionamentos relevantes na formação dos nossos educandos. Precisamos romper com a separação entre meninos e meninas em nossas aulas. Vamos superar as atitudes discriminatórias esta postura deve partir de nós educadores. Nossos alunos têm valores discriminatórios impregnados advindos de condicionantes sociais, logo vão preferir a divisão.
O professor exerce uma função única dentro da escola, e ele deve ter consciência que é o elo de ligação entre escola e sociedade, suas ações em sala de aula, refletem quais cidadãos buscam formar.
Meninos e meninas fazem aulas separadas. Vivemos uma cultura que algumas modalidades esportivas são exclusivamente do sexo masculino. Futebol e futsal para os meninos, baleado e voleibol para meninas. Estas atitudes fortalecem os padrões e estereótipos de gênero, contribuindo na formação onde os meninos são para o futebol e as meninas para jogos com menos violência e contato físico.
Vejo que tanto na prática tecnicista quanto na prática humanista do profissional de educação física, existem discriminações. Essas são disfarçadas com a simples separação das turmas em grupos feminino e masculino. Convém observar que quando falo em discriminação não é só em relação às meninas; mas também de uma atitude discriminatória a ambos os sexos, uma vez que se espera do menino atitudes preestabelecidas [...] Tanto meninos quanto as meninas irão preferir esta divisão, pois já estão impregnados de valores discriminatórios advindos de condicionantes sociais (ABREU, 1990 apud VIANA, resumo 204 p. 13-14)
Este ponto foi observado nas aulas: meninos e meninas preferem a divisão. No primeiro encontro para trabalhar a problemática o professor deixou que eles vivenciassem o futsal dando liberdade para a turma escolher, tanto como seria o jogo, quanto a formação das equipes. A única regra era que o jogo deveria ter a essência do futsal. Como já esperado jogou homens e mulheres separado. O jogo aconteceu com as regras estabelecidas pelo futsal de rendimento. Cabe salientar que apenas uma turma escolheu vivenciar o futsal misto (homens e mulheres juntos), contudo, isto só aconteceu porque a turma é formada por muitas mulheres e a quantidade de homens não completava um time de futsal.
No segundo encontro buscamos superar esta visão de que homens e mulheres não podem jogar juntos, como também o que levou a seleção dos primeiros times a participar do jogo. Como já esperado os homens com maior habilidade jogaram primeiro e os outros com uma menor habilidade jogaram por último. A segunda aula foi realizada em sala.
Na segunda aula o professor escolheu 4 (quatro) alunos intencionalmente (uma mulher e um homem envolvidos com modalidades esportivas na escola, uma mulher e um homem que não tem esta participação). Os alunos tinham que elencar seu time de futsal, com as posições, destacando os reservas e os titulares, sendo que as pessoas que fariam parte do seu time deveriam fazer parte da turma e estar presente na sala. Ao final cada educando justificou a escolha do seu time.
Os educandos masculinos formaram seu time apenas com os “melhores” jogadores da sala, tendo apenas pessoas do sexo masculino. As educandas com participação no esporte seguiram a mesma lógica, no entanto seu time era misto, mas só com os jogadores que mais se destacam, os “melhores” homens e as “melhores” mulheres. Enquanto, que as meninas que não tinham o esporte enquanto vivência cultural, escolheram por grau de afinidade.
As justificativas da escolha do time foram: os que tinham os melhores jogadores escolheram para vencer e as meninas que escolheram por grau de afinidade, relatou que sua escolha foi pensada em dar oportunidade para suas colegas, que são excluídas, participarem do jogo no inicio da partida.
Assim constatamos que o ponto chave na escolha do time é possuir ou não habilidade, ou seja de jogar bem o futsal. Se existissem alguma menina na sala que possuíssem habilidade quanto ou melhores que os meninos fariam parte do time. Após as justificativa foi apresentado o vídeo documentário “deixa que eu chuto”, que conta a história de quatro jogadoras brasileiras de futebol feminino, os depoimentos das meninas mostram sua paixão pela “bola” e revelam suas dificuldades para estabelecer sua carreira, já que nasceram na terra onde os meninos nascem com as bolas nos pés e das meninas que crescem com as bonecas nas mãos. Foi perguntado para turma se estas meninas que apareceram no vídeo fariam parte dos times montados, e foi unânime a resposta, todas as turmas falaram que sim.
Dentro desta perspectiva começamos a reflexão sobre as possibilidades de que as mulheres podem aprender a jogar, basta que oportunidades surjam e um dos locais prioritários é a escola, e nós não podemos negar isto para as mulheres, nem para os meninos com falta de habilidade com a bola. A função da aula de educação física não é ensinar a vencer o jogo, mas dar oportunidade de vivência e crescimento para todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem.
Assim, corroboramos com o estudo de ABREU (1990) apud VIANA (resumo 204), ao afirmar que os preconceitos não são tão fortes, já que são concentrados no desempenho das habilidades esportivas. Quando relacionamento meninos e meninas são mais a habilidade e menos a oposição dos sexos, já que meninas que demonstram habilidade são aceitas pelo grupo.
Ao final das atividades foi passada uma atividade para casa, que foi entregue na aula seguinte, a atividade constava na produção textual individual, a mesma deveria conter sua opinião sobre a participação dos menos habilidosos, como também qual a possível solução para esta problemática.
No terceiro encontro foi realizado uma atividade em quadra poliesportiva, a aula foi dividida em 3 momentos: resgate da aula anterior; vivência do futsal de 4 gols e por fim a reflexão sobre a vivência.
Por ser uma aula em quadra todas as turmas ficaram bastante entusiasmadas, primeiro o trabalho com o futsal já era esperado por todos desde o inicio do ano, segundo as turmas gostam muito da educação física, principalmente nos momentos de vivência.
A proposta apresentada para a vivencia deste dia, como já dito anteriormente, foi o futsal de 4 gols, os dois gols já estabelecidos pela trave e mais dois gols, uma em cada lateral da quadra, feitos com cones e não precisavam goleiros, ou seja cada equipe escolhe a sua goleira lateral e de fundo. As equipes podem fazer gols em duas goleiras e têm de defender duas. Apenas a goleira do fundo tinha goleiro. Quanto a quantidade de pessoas a fazer parte do time foi estabelecidos pelas turmas, se fossem apenas 5 pessoas, os times deveriam ter pelo menos 2 (duas) mulheres. A quantidade de mulheres é determinada pela proporção da quantidade de pessoas que fizeram parte do time.
Inicialmente aconteceram algumas reclamações sobre jogar com as mulheres, então buscamos o momento das reclamações para refletir sobre a aula anterior. Durante a realização do jogo os meninos esqueciam que tinham mais um local para fazer gol, só jogavam para frente, pensando em realizar o gol na trave, enquanto as mulheres ficavam tentando avisá-los que nos cones também poderiam fazer gols. Quanto às atitudes dos meninos em relação as meninas no momento do jogo, os do mesmo grupo na maioria das vezes não passavam a bola para as meninas e o do grupo opositor eram violentos, assim paramos as atividades e juntos propusermos novas regras, as meninas levantaram que apenas elas poderiam fazer os gols. Esa proposta foi aceita pela maioria sendo assim continuou a partida. Ao final do jogo sentamos em círculos para conversamos um pouco sobre o que tinha acontecido na aula e tentar buscar uma relação com as aulas anteriores.
No principio cada educando relatou sua opinião, uns totalmente contra a participação das mulheres e de mais área de gols, enquanto outros defenderam a importância de jogar misto, já que quando aconteceu o jogo apenas das mulheres foi uma “bagunça”, pois não tinham pessoas com habilidades para aquela modalidade e quando misturou possibilitou uma maior oportunidade para todos. Outro ponto a destacar é a escolha dos times, pois mesmo sendo misto, as mulheres escolhidas para jogar inicialmente eram as que tinham mais habilidade e o mesmo acontecia com os homens, assim os educandos propuseram que nos próximos jogos a professora escolhesse o time.
Assim concordamos com Duarte e Mourão (2007), ao atentar sobre as escolhas dos times, uma vez que os critérios de seleção entre meninos e meninas representam a relação de poder nas aulas de Educação Física, a seleção interioriza os critérios de dominação e perpetua uma classificação que fortalece o poder de uns (meninos com habilidades ou meninas com habilidade) e ao mesmo tempo reafirma o fracasso de outros (meninos e meninas com pouca habilidade)
Diante deste fato ao final da discussão buscamos demonstrar quais os critérios de seleção utilizados pelas equipes, retornando também as escolhas da aula anterior e deixar como reflexão sobre a necessidade de superar as regras pré-estabelecidas. Nós podemos mudá-las. Mudar não significa deixar de jogar o futsal, e sim descobrir uma nova forma de vivenciar o futsal, do mesmo modo que as pessoas que tiveram oportunidade de conhecer o futsal fora da escola e hoje já possuem habilidade e competências para jogar podem contribuir no desenvolvimento dos seus colegas que infelizmente culturalmente não obteveram esta mesma oportunidade, e muitas das vezes a escola será sua única oportunidade de vivência.
No último encontro o planejamento inicial não pode ser realizado, visto que a aula deveria ser em quadra e o dia estava chuvoso. A quadra da escola não é coberta, por isto em período de chuva é muito perigoso a vivência na quadra, diante desta realidade foi pensando uma proposta de aula realizada em sala.
Os alunos tinham entregado um texto na aula anterior, retornamos os textos para a turma, mas de forma aleatória, o educando pegava qualquer texto, menos o da sua produção. O texto foi produzido em duplas, diante disto as mesmas duplas se juntaram novamente, para ler o texto do colega e expor sua opinião sobre o mesmo, relatando se era a favor ou contra e justificar sua resposta. Acreditamos que este foi o ponto ápice do trabalho, pois foi possível visualizar o pensamento de todos e diagnosticar como o nosso trabalho, mesmo em poucas aulas, conseguiu despertar uma consciência critica sobre a função da educação física na escola.
A maioria encaminhou seu pensamento no sentido de que todos devem ter oportunidade de participar das aulas de educação física. Alguns relataram isto no diálogo, mas sua prática dizia o contrario. Isto foi percebido pela turma, pois no momento os educandos que tinham hábitos de jogar apenas com os mais habilidosos deram sua opinião, a turma mostrou com exemplos do cotidiano das aulas que sua fala era contraria aos seus atos.
No momento de discussão os alunos ficaram livres para expor sua opinião a professora só intervia quando necessário, principalmente em relação ao tempo pedagógico, pois era apenas uma aula com cada turma, e todos precisavam expor seus pensamentos. No final a professora terminou despedindo-se da turma já que era a última aula da unidade e expôs o quanto foi gratificante ver o crescimento deles no momento da discussão sobre a exclusão nas atividades em quadra e que mais importante do que expor sua opinião era mostrá-las em atos.
Diante das vivencias esperamos contribuir na superação das aulas de educação física que separam meninos de meninas, perpetuam um modelo em que o homem é ativo, violento e competitivo.
Acreditamos que a separação homens e mulheres na prática é possível romper, a meninas que o que mais distancia a participação de meninos e meninas em um mesmo jogo é em relação a habilidade. Segundo estudos quando as meninas possuem experiências motoras prévias elas são aceitas no jogo. E isto pode ser comprovado na nossa prática cotidiana em sala de aula. Esta questão deve ser levantada para os alunos, a fim de que os mesmos percebam e anulem o sexismo ainda existente nas escolas.
É importante e necessário que os meninos e meninas percebam historicamente como são construídas estas praticas sexistas, compreendendo que habitualmente os meninos são livres, ganham uma bola de presente, jogam bola nas ruas, estas atividades desenvolvem sua motricidade ampla, tudo isto apoiado pelos pais, visinhos, familiares. Enquanto as meninas muitas vezes são desanimadas ou até proibidas de praticarem estas atividades nas ruas, com isto desenvolvem outras habilidades motoras, por exemplo, a fina, por isto toda dificuldade em desenvolverem atividades ditas “masculinas”.
Conclusão
É difícil concluir quando estamos diante de uma discussão tal ampla, que envolve todo um contexto histórico e dinâmico da nossa sociedade. Mas um ponto é certo. É possível vencer o sexismo que perpassa a educação física. Basta partir de uma consciência critica de educação, compreender todos os indivíduos que estão envolvidos no processo de ensino e aprendizagem. É necessário deixar de lado uma educação física que não reflete sobre sua prática, e assim colabora para durante décadas para a formação de estereótipos.
Para desejar participar de algo é necessário conhecer. Neste ponto nós professores devemos estar sempre atentos. Vamos proporcionar o conhecimento aos nossos alunos, para que assim despertem o desejo de participar. As meninas gostam do futsal. O que acontece na maioria das vezes é a negação desta prática, e assim poucas experiência motora. Meninos são bem aceitos por meninas quando se mostram gentis e amigáveis e meninos aceitam meninas que demonstram habilidade nos jogos e tarefas motoras, desta forma, cabe a educação física enquanto prática pedagógica rever esta história e escrever um novo capitulo.
Referencias
CASTELLANI FILHO, Lino et al. Metodologia do Ensino da Educação Física. 2º Ed. Ver. São Paulo: Cortez. 2009.
DUARTE, Cátia Duarte e MOURÃO, Ludmila. Representações de adolescente feminas sobre os crtérios de seleção utilizados para a participação em aulas mistas de educação física. Movimento, Porto Alegre, v 13, n 01, p. 37-56. Janeiro/Abril de 2007.
LIMA, Francis Madlener de e DINIS, Nilson Fernandes. Corpo e Gênero nas práticas escolares de educação física. Currículo sem fronteiras, v.7, n.1, pp.243-252, Jan/Jun 2007.
SOUZA JÚNIOR, Osmar Moreira de e DARIDO, Suraya Cristina. A Prática do futebol feminino no Ensino Fundamental. Motriz Jan-Abr 2002, Vol.8 n.1, pp.1-9.
VENTURA, Thabata Santos e HIROTA, Vinicius Barrosa. Futebol e Salto Alto: Por que Não? Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, 2007, 6 (3): 155-162.
VIANNA, Alexandre Jackson Chan; MOURA, Diego Luz e MOURÃO, Ludmila. Gênero e educação física escolar: Uma análise das evidencias empíricas sobre a discriminação e o sexismo. Resumo 244, CBCE.
Outros artigos em Portugués
Búsqueda personalizada
|
|
EFDeportes.com, Revista
Digital · Año 19 · N° 191 | Buenos Aires,
Abril de 2014 |