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Educação Física para integração e desenvolvimento 

sócio-comunicativo em modalidades esportivas para ensino fundamental

La Educación Física para la integración y desarrollo socio-comunicativo en las modalidades deportivas para la escuela primaria

 

Graduando de Licenciatura em Educação Física pela UNIVERSO

Universidade Salgado de Oliveira Filho, Goiânia-Goiás

(Brasil)

Bruno Garcia Gomes

brunogarciagg@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Através de uma pesquisa qualitativa e com uma abordagem desenvolvimentista traçou-se como objetivo específico o treinamento dos alunos de uma escola particular focado nos jogos internos escolares que seriam realizados na instituição. Após uma série de observações, os planejamentos das aulas foram direcionados para atividades que pudessem ajudar os alunos a melhorarem seus desempenhos e conhecimento esportivo nas modalidades que fazem parte dos jogos internos escolares. O objetivo do trabalho foi promover aos alunos, um conhecimento sobre os conteúdos esportivos que são trabalhados nas aulas de educação física, ajudando-os a desenvolver processos sócio-comunicativos e a qualidade de vida coletiva com auxílio de atividades lúdicas, garantindo a formação integral dos alunos. Ao final do estudo foi possível perceber indícios de uma melhora na interação entre os alunos e professores assim como um aumento do interesse dos mesmos alunos pelas aulas.

          Unitermos: Educação Física. Ensino Fundamental. Interação grupal.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 191, Abril de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O presente estudo foi realizado em uma escola particular de Goiânia, Goiás, Brasil e teve como ponto de partida o acompanhamento as aulas de Educação Física na instituição de ensino. Buscou-se identificar algumas particularidades que o colégio apresentava em seu método de ensino e, a partir daí, analisar alguns problemas típicos presentes nas séries finais do ensino fundamental.

    Após a fase de observação foram feitas algumas co-regências e regências com o intuito de minimizar alguns problemas observados como a falta de interação e relacionamento dos alunos. Vários desses se dividiam em pequenos grupos e demonstravam grande indisposição em participarem de outros grupos. a falta de interesse por diversas atividades (aquecimento, trabalho de fundamentos dos esportes e tática de jogo) e a precária atenção dos alunos com as orientações passadas por ele. As intervenções focaram-se no trabalho com os alunos de atividades que pudessem ajudar a melhora do relacionamento interpessoal na a própria turma, com o professor e também com as ferramentas de trabalho. A melhora no desempenho nas modalidades esportivas trabalhadas pela escola também foi explorada - com base na proximidade dos jogos internos da escola.

    Foram observados vários questionamentos e críticas dos alunos sobre o que estava sendo explorado nas aulas de educação física e, após algumas análises, a regência baseou-se em aulas dinâmicas, com aspectos lúdicos, para incentivar alguma mudança na postura dos alunos e para que houvesse a cooperação e a interação entre todos. A abordagem desenvolvimentista, ludicidade, as práticas de cooperação e coletividade na turma, assim como o conhecimento dos conteúdos esportivos foram decisivos para uma pequena mudança na postura dos alunos frente às aulas de educação física.

Metodologia

    Foi realizado um estudo de campo por um período de três meses com aproximadamente trinta crianças do sexto ano do ensino fundamental de uma escola particular da cidade de Goiânia, Goiás, Brasil. Durante o período foram feitas quatro observações, duas co-regências e oito regências nas aulas. Baseando-se inicialmente na observação dessas aulas foram feitos relatórios com tudo aquilo que aparentemente apresentava-se como um problema no processo de ensino/aprendizagem da educação física e as informações foram cruzadas para uma melhor compreensão das dinâmicas das aulas de Ed. Física na escola visitada. Em seguida montou-se um problema de investigação com foco nas possibilidades de se desenvolver nas aulas de Educação Física as modalidades esportivas presentes nos jogos internos da escola, desafiando, integrando e propiciando aos alunos uma assimilação dos conteúdos propostos para tais aulas.

    Os planos de aulas foram traçados a partir do problema de investigação, e focaram-se em atividades que trabalhavam a coletividade e a cooperação, com conhecimentos de conteúdos diversos visando o desenvolvimento motor e o estímulo de processos sócio-comunicativos. A abordagem utilizada foi a abordagem desenvolvimentista da qual o movimento é o foco do trabalho.

    Segundo Gallahue (1996, p. 4), a Educação Física Desenvolvimentista integra componentes motores, cognitivos, sociais e afetivos. O mesmo autor completa:

    Além de reconhecer a importância vital interativa de cada domínio de desenvolvimento humano, a Educação Física Desenvolvimentista reconhece que existe uma relação complexa entre a constituição biológica do indivíduo, as circunstâncias próprias de seu ambiente e os objetivos da tarefa de aprendizagem em que a criança está engajada. (GALLAHUE, 1996, p. 3).

    Durante as semanas na escola foram exploradas modalidades esportivas de voleibol, basquete, queimada (dodgebol) e handebol, além de alguns jogos e brincadeiras que trabalhavam fundamentos das atividades citadas acima. A partir do tempo disponível para as aulas de Ed. Física foram feitas aulas para o desenvolvimento motor, técnico e tático das crianças. Para isso, foram feitas algumas intervenções durante as aulas e ministradas orientações sempre que necessárias. As ações não visavam uma melhora esportiva de alto rendimento, e sim uma melhora que propiciasse conhecer melhor o esporte e sua prática de forma contínua e prazerosa. Para isso, foram planejadas e implementadas aulas dinâmicas das quais os alunos eram estimulados todo o tempo, inclusive nos intervalos, momentos nos quais eram repassadas correções e fundamentos com questões táticas.

    De acordo com ALMEIDA (2012),

    O papel do professor é assegurar que os grupos trabalhem de forma produtiva e independente e intervir só quando for estritamente necessário [...] estas intervenções podem consistir em eliminar algum bloqueio, esclarecer os possíveis obstáculos (sejam de conhecimento ou de funcionamento do grupo), mas nunca em dar respostas. (p.19)

Referencial teórico

    Foi trabalhada a abordagem desenvolvimentista onde o foco do trabalho foi o movimento. De acordo com os autores desta abordagem o objetivo é trabalhar e desenvolver movimentos e as aulas devem privilegiar a aprendizagem do movimento embora outras aprendizagens possam ocorrer com a prática das habilidades motoras.

    O movimento é o principal meio e fim da Educação Física [...] sua função não é desenvolver capacidades que auxiliem a alfabetização e o pensamento lógico-matemático, embora isto possa ocorrer como subproduto da prática motora. Além disso, a proposta também não é buscar na Educação Física soluções para todos os problemas sociais do país [...] Em suma, a aula de Educação Física deve privilegiar a aprendizagem de movimento. (DARIDO e RANGEL, 2005, p. 08)

    Segundo Darido e Rangel (2005), para a abordagem desenvolvimentista, a Educação Física deve proporcionar ao aluno condições para que seu comportamento motor seja melhorado através da interação entre o aumento da diversificação e a complexidade dos movimentos. Assim, o principal objetivo da Educação Física é oferecer experiências de movimento adequadas ao seu nível de crescimento e desenvolvimento, a fim de que a aprendizagem das habilidades motoras seja alcançada. A criança deve aprender a se movimentar para adaptar-se às demandas e exigências do cotidiano em termos de desafios motores.

    Para Tani et al (1988), a proposta “é uma abordagem dirigida especificamente para crianças de quatro a quatorze anos que busca nos processos de aprendizagem e desenvolvimento uma fundamentação para a Educação Física Escolar”. Segundo eles “é uma tentativa de caracterizar a progressão normal do crescimento físico, do desenvolvimento fisiológico, motor, cognitivo e afetivo-social, na aprendizagem motora e, em função destas características, sugerir aspectos ou elementos relevantes para a estruturação da Educação Física Escolar”. Em outras palavras, a partir da motricidade, da interação professor-aluno, aluno-aluno e ferramentas-alunos buscar-se-á uma aprendizagem significativa e prazerosa pela Educação Física.

    [...] a abordagem desenvolvimentista enfatizará um ser humano em constante interação com os elementos dinâmicos de seus contextos de vida, colocando em harmonia e de forma indissociável seus atributos motores, cognitivos, emocionais e sociais. (GALLAHUE, 1996, p. 2).

Resultados

    É sabido que o pouco tempo para observação, planejamento e intervenção não garantem resultados expressivos na postura dos alunos e no bom andamento das aulas. É um processo que requer mais tempo e dedicação, porém foi possível perceber indícios de mudanças de comportamento por parte dos alunos durante as aulas de Educação Física. Grupos de alunos, antes inseparáveis, já conseguiam disputar partidas em equipes opostas, alunos que reclamavam de atividades de preparação para os jogos, começaram a se tornar mais participativos. Outros alunos que não estavam integrados com o restante da turma passaram a ter um relacionamento mais estreito e participativo (talvez pela questão de ajudar a representar a turma nos jogos internos). Essas constatações corroboram com GALLAHUE (1996):

    Um importante resultado de qualquer programa de Educação Física com qualidade é o enriquecimento dos domínios social e afetivo. Crescimento sócio-afetivo é o processo de aprendizagem que amplia a capacidade da criança de agir, interagir e reagir efetivamente com outras pessoas, bem como consigo mesma. Muitas vezes, isso é referido como "desenvolvimento sócio-emocional" e é de vital importância para a criança. (p. 9).

    Durante as observações também foi possível perceber indícios de que os alunos passaram a ter um prazer maior em fazer as atividades de aquecimento e fundamentos técnicos após o aumento da ludicidade – muitos relataram posteriormente que pareciam estar brincando mas sabiam que era algo importante para o futuro.

    Com o passar das aulas percebeu-se uma melhora significativa na comunicação entre os alunos. A maioria dos mesmos demonstraram sinais claros de compreensão da importância do diálogo para alcançarem objetivos em comum. O professor também teve um papel muito importante na medida em que atuava como mediador de todo o processo, buscando meios de resolver diferenças pessoais, lapidar o senso competitivo dos alunos e criar momentos prazerosos de interação grupal. ALMEIDA (2012) completa:

    A cooperação é um valor importante nas atividades lúdicas grupais e é um processo que se fomenta na relação direta entre os participantes e o facilitador. Para que a cooperação seja aceita e praticada no dia a dia por parte dos envolvidos na situação lúdica como um valor assumido no mundo social, e não uma mera estratégia de trabalho, é fundamental estabelecer uma veracidade nas ações educativas vividas nos jogos e praticadas fora deles. (p. 18).

    Outro fato curioso pôde ser observado durante as atividades de quadra. A grande maioria dos alunos possuíam smartphones e tablets. Esse fato trouxe um certo transtorno aos educadores na medida em que os mesmos eram utilizados pelos alunos quando os mesmos não estavam participando efetivamente da atividade (aguardando sua vez de jogar ou nos intervalos entre os jogos). Mesmo existindo orientações da escola para que os alunos não levassem seus aparelhos para as aulas, os mesmos o faziam. A intervenção do professor com algumas dinâmicas e orientações infelizmente não foram eficazes para minimizar o uso dessas tecnologias, alguns alunos foram encaminhados para a Orientação Educacional devido a isso. A própria escola, ocasionalmente, requisitava as aulas de Educação Física para ensaios de quadrilha e entrega de notas, diminuindo o tempo hábil para desenvolvimento dos trabalhos propostos.

Considerações finais

    As atividades feitas e a abordagem mais lúdica propiciaram pequenas mudanças na postura dos alunos em relação aos outros colegas, ao professor e o próprio grupo de trabalho. Com o decorrer das aulas os alunos mudaram suas atitudes com os colegas, mostrando mais respeito e incentivando os colegas que tinham mais dificuldades. O desenvolvimento de modalidades esportivas acrescenta qualidade de vida aos praticantes seja com o aprimoramento das valências físicas, seja pelo desenvolvimento motor adquirido pelos praticantes ou mesmo pelo conhecimento do esporte e possibilidade presente e futura de praticá-lo. A questão da preparação da turma para os Jogos Internos demonstrou uma mudança de comportamento interessante. A turma que no início relutava em participar das atividades acabou por apresentar indícios de maior união e coesão ao longo das atividades.

    Mesmo que a prática não seja voltada para o rendimento, o conhecimento dos esportes é importante pois o aluno terá no futuro a possibilidade de praticar com seus amigos em um ambiente informal e divertido. Percebeu-se também uma melhora significativa nas técnicas para a prática dos esportes trabalhados na medida em que os próprios alunos sentiam-se instigados a conhecer melhor a técnica para melhorarem sua prática e ajudar a turma durante as competições dos jogos internos.

    Ao final das semanas em que o estudo foi feito, constatou-se que a turma estreitou seus laços afetivos e consolidou uma identidade grupal. A proximidade dos Jogos Internos e as mediações feitas pelo professor de educação física, após uma seqüência de observações dos trabalhos em grupo da turma, apresentaram-se como possíveis catalisadores de todo o processo de integração da turma. Muito mais do que a competitividade, buscou-se estimular o diálogo e a cooperação grupal.

    Como sugestões para trabalhos futuros recomendo estudos mais aprofundados nas formas com que a tecnologia pode ser aproveitada durante as atividades esportivas, principalmente acerca da ludicidade aplicada à educação física - relacionando-a (ou não) com as novas tecnologias da informação e comunicação.

    Conhecer a prática do educador físico no ambiente escolar é muito importante para compreender a importância de lecionar e, mesmo com todas as dificuldades, perceber no rosto do professor quão gratificante é fazer um trabalho bem feito.

Referências

  • ALMEIDA, Marcos T.P. Atividades lúdicas – Jogos para animação de grupos. Petrópolis, RJ: Vozes 2012.

  • DARIDO S.C., RANGEL I.C.A. Educação Física na Escola. Implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara. 2005

  • GALLAHUE, D.L. Educação Física Desenvolvimentista. Disponível em http://ayanrafael.files.wordpress.com/2011/08/gallahue-d-l-a-educac3a7c3a3o-fc3adsica-desenvolvimentista.pdf. Acesso em 15 de janeiro de 2014

  • TANI, G. Comportamento motor: Aprendizagem e Desenvolvimento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.

  • TANI, G; KOKUBUN, E; MANOEL, E. J; PROENÇA, J.E. Educação Física Escolar: fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista. São Paulo: EPU, 1988.

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