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Coesão de equipes de futebol da categoria de base de Porto Alegre

La cohesión de equipos de fútbol de la categoría de base de Porto Alegre

 

Professor das Faculdades Sogipa e Fadergs

Psicólogo e professor de Educação Física

(Brasil)

Marcio Geller Marques

psiesporte@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Objetivos: Analisar e compreender os processos grupais, organizados através do método psicodramático, na busca de coesão de equipe. Metodologia: Foi utilizada uma amostra constituída de 116 atletas subdivididos em quatro equipes (pré-infantil, pré-infantil/grupo controle, juvenil e juvenil/grupo controle) de categoria de base de um clube de Porto Alegre. O instrumento utilizado foi o questionário Clima Ambiental (Group Atmosphere Scale) desenvolvido por Fiedler (1967) e adaptado por Simões & Hata (1994). Resultados: Os resultados mostraram que o clima ambiental do grupo pré-infantil houve melhora, principalmente na questão de aceitação dos jogadores, na equipe Juvenil não houve melhora, justificado pelo mal resultado de uma competição anterior a aplicação do resultado, fazendo com que as insatisfações da equipe fossem mostradas no teste. Nas equipes pré-infantil e juvenil do grupo controle não houve melhora no clima ambiental. Conclusões: Tudo indica que o método psicodramático é um excelente instrumento de intervenção em equipes esportivas, uma vez que, proporciona melhora na postura dos atletas, favorecendo a coesão da equipe.

          Unitermos: Socionomia. Futebol. Coesão.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 191, Abril de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Nas últimas décadas, a Psicologia do Esporte vem ganhando espaço no meio esportivo. Ela é abordada no sentido de motivar os atletas e torná-los parceiros na identificação e solução de problemas, além de dar subsídios aos treinadores em relação à dinâmica dos seus jogadores. No entanto, pouco se tem feito e escrito sobre o trabalho da Psicologia do Esporte através do método socionômico, com vistas a um maior entendimento dos processos grupais e das relações entre os atletas participantes da equipe. Ao contrário, a mídia e treinadores discutem mais sobre o produto final, ou seja, a união da equipe, o “grupo fechado”, sem tentar entender como é que isto se constrói.

    No futebol, há inúmeros fatores que contribuem para o rendimento de cada equipe e de seus membros. Dentre esses fatores pode-se destacar a dinâmica grupal, a interação dos atletas, a comunicação, as normas, as lideranças e as condições do clube. Para Carravetta (2006) um dos papeis da Psicologia do Esporte é fazer a análise sociométrica para identificar lideranças, o isolamento e a coesão de grupo.

    A dinâmica grupal de um time de futebol é complexa e precisa ser compreendida, de forma a possibilitar uma “radiografia” do funcionamento dos atletas e de suas relações, da comunicação e das lideranças do grupo, para possíveis intervenções no sentido de buscar o melhor desenvolvimento da equipe, o que trará como conseqüência um bom rendimento e o bem estar de cada atleta.

    Para entender essas peculiaridades das equipes, a psicologia dos grupos e particularmente o psicodrama detêm um conhecimento útil que dá o apoio especial a este entendimento. Segundo a teoria psicodramática, o individuo é estudado e compreendido através das suas relações. Seu potencial se realiza pelas relações vividas em papéis e contra-papéis, buscando o estado de espontaneidade e criatividade no seu dia-a-dia.

    Moreno (1988), o criador do Psicodrama, salienta que o homem é um indivíduo social, nascido em sociedade e precisando de relações com outras pessoas para constituir-se, ou seja, o indivíduo está sempre em relação por fazer parte de uma sociedade.

    Para o indivíduo se constituir como jogador de futebol, ou seja, conseguir chegar à categoria profissional e ter uma carreira bem sucedida, precisa passar por um caminho difícil e complexo, pois ocorrem várias transformações na passagem pelas categorias de base, como jogador titular, como jogador reserva, como capitão da equipe e não estar no banco de reservas de uma partida. Além disso, as vagas que existem nas categorias de base são extremamente restritas, havendo constantes trocas de jogadores, ou seja, vários jogadores são dispensados por não estarem correspondendo tecnicamente ao treinador e outros entram para suprir a falta dos jogadores que foram dispensados. Assim, em um dia o jogador pode ser o titular absoluto, no outro pode estar na reserva e depois pode ser mandado embora do clube. Não há estabilidade.

    Outro aspecto importante a se destacar é o fato do futebol ser um esporte popular no Brasil, tendo inúmeros jogadores ou adolescentes desejando ocupar um espaço dentro dele. No entanto, esse espaço, além de restrito, é extremamente competitivo e poucas pessoas conseguem alcançá-lo. Muitas vezes, os atletas adolescentes se preocupam mais em jogar bonito para chamar a atenção do treinador ou dos dirigentes, não se importando com o colega de equipe. Mas, sabe-se que futebol é resultado. Caso isto não ocorra, ocorre a dispensa de jogadores, para qualificar o grupo e fazer com que a equipe conquiste títulos. Assim, neste processo muitos jovens jogadores são mandados embora dos clubes, mesmo tendo grande potencial. Quando uma equipe não obtém bons resultados, os atletas que não conseguem se destacar naquele determinado momento acabam perdendo a oportunidade de mostrar seu talento.

    Frente a esses problemas, uma intervenção apoiada na teoria socionômica pode por em evidência as relações entre atletas, desenvolvendo o clima de aceitação recíproca e crescimento do time, oportunizando uma postura na qual o jogador consegue se colocar no lugar dos companheiros de equipe, bem como do próprio técnico, além de desenvolver as potencialidades como jogador de futebol através da espontaneidade e criatividade. Isto porque, o psicodrama, ao contrário de outras teorias que são exclusivamente verbais, proporciona uma abordagem do indivíduo em grupo através de métodos de ação (MORENO, 1978).

    Ao evidenciar as relações, inclusive as competitivas, surge a possibilidade de serem feitas negociações e novos arranjos. Ver o outro não como um inimigo, mas sim como um parceiro, com o qual tem uma interdependência, que pode ajudar no desenvolvimento da equipe e de cada membro, trará como conseqüência um conjunto coeso, que possibilitará a construção de novo papel de jogador de futebol, mais questionador e crítico em relação a sua equipe, mais espontâneo no contexto futebolístico e com maior poder de criatividade no jogo.

    Portanto, essa pesquisa vem no sentido de analisar e compreender o psicodrama como um método na construção da coesão em equipes de futebol.

Fundamentação teórica

Equipe esportiva e coesão

    Em relação à Psicologia do Esporte, não há uma teoria específica que aborde o desenvolvimento ou funcionamento do grupo esportivo. No entanto os autores de Psicologia do Esporte baseiam seus estudos em teóricos que pesquisam sobre a psicologia dos grupos. Mas, embora as questões ligadas a definições de equipe, grupo, coesão já existam, o entendimento específico das equipes no contexto esportivo, ainda é pouco explorado.

    Autores ligados à Psicologia do Esporte, como Becker Júnior (2002), García-Mas (2001) e Sanzano (2003), fazem diferenciação entre grupo e equipe. Para estes autores, o grupo é um conjunto de indivíduos que treinam e competem juntos, porém têm objetivos diferentes e focados em si mesmos. A equipe é um conjunto de pessoas reunidas com os mesmos objetivos. Em uma equipe, sempre prevalece a vontade ou o objetivo coletivo, o indivíduo nunca se sobrepõe ao coletivo.

    Para alcançar o status de equipe, o caminho a ser percorrido exige concentração e conscientização elevadas, visto que diversos fatores - mídia, família, sonhos - surgem no percurso e tendem a desviar o indivíduo do foco principal.

    As características de uma equipe, segundo Sanzano (2003), são compostas da interdependência das tarefas, a distribuição de poder, a responsabilidade compartilhada, estrutura estabelecida em função dos objetivos e a união.

    Para compreender a equipe esportiva, é necessário entender seus objetivos. García-Mas (2001) relata que os fatores básicos para a formação da equipe são de estimular os desafios, convívio grupal não somente nas competições, a dedicação aos treinamentos, o rendimento da equipe, a comunicação entre os membros da equipe, principalmente os considerados isolados e o foco ou direção necessária para buscar os objetivos.

    No futebol, segundo Carravetta (2006), dirigentes, comissão técnica e os próprios jogadores desenvolvem atividades socializadoras para a equipe, assim o comportamento do jogador sofre sanções tanto de aprovação como de desaprovação, a fim de se adequar às regras do grupo. O futebolista adquire, portanto, a cultura do grupo e passa a ser regido pela pauta de comportamento pré-estabelecida. Isto o leva a atuar de maneira quase mecânica, pela interiorização de valores, símbolos, normas, crenças, usos, costumes e sanções. A preocupação em manter um ambiente saudável nas equipes e na instituição, imune a drogas, álcool e safadezas, é obrigação das comissões técnicas, dos funcionários e dirigentes, para que se cultive o bem-estar do grupo e atinja-se a plenitude do desenvolvimento técnico.

    Percebe-se que aquilo que rege o processo de constituição de equipe, conforme Becker Júnior (2008) e Garcia Mas (2001) são semelhantes à definição de coesão, ou seja, uma meta em comum. Em relação ao objetivo e às normas em comum, Moreno, criador da teoria socionômica, salienta que é isto que dá consistência a um grupo (GARRIDO, 1996).

    Carron (1988) compreende a coesão de grupo como o processo dinâmico que se reflete na tendência de o grupo continuar junto, visando alcançar suas metas e objetivos. Quanto mais tempo o grupo permanecer junto, maior será a coesão.

    Pode-se definir coesão como o conjunto de forças que mantém unidos os membros de um grupo. O desenvolvimento da coesão ultrapassa a motivação grupal, ela necessita o reforço dos resultados para manter-se. Mesmo assim, podem ocorrer variações na coesão da equipe (SANZANO, 2003).

    Moreno (1999) faz uma relação entre coesão e tele. Por tele pode-se defini-la como o conjunto de processos perceptivos que permite a valorização correta do mundo em que se vive e que, pela correta avaliação da relação interpessoal, proporciona maior aproximação entre as pessoas (GARRIDO, 1996).

    Ele enfatiza que a coesão está ligada à estrutura das relações télicas, ou seja, ao analisar, no teste sociométrico, as escolhas feitas, pode-se estudar as forças de coesão dentro do grupo.

    A sociometria é o estudo da estrutura psicológica real da sociedade humana (MORENO, 1997). Em sua construção descobriu-se que cada grupo tem uma estrutura peculiar de coesão e profundidade. Desde a primeira sessão, pode-se verificar a estrutura definida e, através dela, ter idéia das possibilidades do sucesso terapêutico (MORENO, 1974).

    Ferreira, Rodrigues e Reston (2001) ampliam a questão da coesão e enfatizam que a operacionalização de objetivos irá demonstrar e definir o papel desempenhado por cada um no grupo. Neste processo, distingue-se espontaneidade, criatividade e tele, que dão suporte à continuidade e ao crescimento do grupo e de seus membros, os quais levam em conta tanto a necessidade de auto-expressão como de coesão.

    As características básicas que acompanham a coesão, segundo Figueiras (2007), se manifestam quando os membros do grupo aceitam o objetivo da equipe, tendo conformidade com as normas e regras. Também fazem parte das características da coesão a perseverança frente às dificuldades, a motivação, a inter-relação dos membros da equipe, a estabilidade do grupo e o seu aumento do rendimento.

    Pontes (2006) e Gabarra (2008) salientam que, segundo Moreno, para almejar a coesão é preciso que os indivíduos tenham comunicação de compreensão mútua, ou seja, a percepção e reconhecimento grupal, pois a partir disto se dará uma melhor capacidade de relacionamento dos grupos sociais.

    Para detectar o nível de coesão de uma equipe é importante analisar a integração e cooperação dos membros a fim de realizar o projeto dramático na teoria socionômica (MORENO, 1992).

    García-Mas (2001) salienta que, para técnicos e dirigentes, a base para o excelente desempenho de uma equipe é a sua coesão. É preciso tempo, no entanto, para atingi-la, pois é necessário que as relações interpessoais dos jogadores se desenvolvam.

    Não é fácil alcançar a união de uma equipe, visto que a sociedade atual dá muita importância à conquista individual. Por isso, os jogadores facilmente focam sua meta no próprio interesse e perdem o sentido de relação com a equipe, que é a essência do trabalho, conforme relatam Delehanty e Jackson (1997).

    Em relação aos fatores que prejudicam a coesão, Figueiras (2007) relata o desacordo com os objetivos da equipe, a falta de definição e aceitação dos papeis dentro da equipe, o individualismo, a dificuldade da inter-relação entre os colegas, a excessiva mudanças dos jogadores e a ausência de normas claras.

    Para Carravetta (2006), é inevitável que, no interior das equipes, ocorram conflitos temporários entre os atletas. Esta situação deve ter a participação crítica das lideranças com o objetivo de alcançar a eficiência, sem que se desconsiderem a personalidade dos integrantes, a inquietação pelas tarefas realizadas com insucesso e a compreensão e a análise crítica dos jogos. Os atletas, ao terem conduta que demonstra transparência nos posicionamentos; lealdade; liberdade de expressão; respeito a si próprio e aos companheiros, proporcionam um ambiente próspero, integrado e de eficiência competitiva.

    No Brasil, é curioso perceber que a mídia dá ênfase somente a determinados jogadores e não ao grupo, de modo que sempre se pensa em determinados atletas. Quando a mídia comenta que Romário arrasou o time adversário ou que levou seu time à classificação, ela destaca uma única pessoa, como se o jogador conseguisse vencer sozinho. Existem, no entanto, outros atletas que o acompanham, sem os quais o time não obteria sucesso. O agravante é que o reconhecimento parcial desmerece todos os demais componentes da equipe (MARQUES, 2003). Delehanty e Jackson (1997) salientam que ‘super-estrelas', que chamam a atenção, recebem enormes somas de dinheiro, enquanto os jogadores que contribuem, de forma menos espalhafatosa, para o esforço do time, ganham, em geral, salários baixos.

    Para que o coordenador de grupo possa desenvolver a coesão grupal, ele deve reconhecer a estrutura interna do grupo; os papéis e as posições sociométricas; os átomos sociais; os critérios pelos quais os indivíduos organizam-se e comportam-se. Através disso, ele pode favorecer o desenvolvimento grupal e possibilitar a mudança terapêutica no grupo (KNOBEL, 1996). William (1998) acrescenta, em relação ao papel do diretor de grupo (assim chamado o coordenador, quando se trata de psicodrama), que ele deve escolher critérios de trabalho que criem forte coesão e, a partir disso, abrir caminhos para o desenvolvimento desta meta.

    Não somente o psicólogo favorece ou desenvolve a união e coesão da equipe, mas também o treinador. Marques (2003) enfatiza que o técnico tem papel importante no processo de coesão, pois ele também participa da equipe e é ele quem norteia o caminho a seguir, visando à união do grupo. Assim, o trabalho de construir uma equipe requer a ação de todos os indivíduos do grupo, porém é necessário, principalmente, a manifestação de lideres do grupo como o treinador e capitães. Grupos com problemas de liderança nunca chegam a funcionar como uma autentica equipe (FIGUEIRAS, 2007).

    Para Becker Júnior (2008), o treinador é a figura fundamental para o bom rendimento da equipe, agindo constantemente, seja nos treinamentos, seja na competição. O psicólogo pode assessorar o treinador, a fim de favorecer o desenvolvimento e o sucesso do trabalho, bem como a melhora da comunicação na equipe. O assessoramento do psicólogo contribui para a melhora da coesão da equipe; determinar os objetivos individuais e grupais; verificar os fatores psicológicos que bloqueiam ou diminuem o rendimento esportivo; potencializar as habilidades psicológicas facilitadoras do rendimento.

    Figueira (2007) faz uma relação entre coesão e rendimento, salientando que ambas se retro alimentam, ou seja, a coesão incrementa o rendimento que por sua vez potencializa a coesão da equipe. Porem há uma ressalva enquanto esperar que a equipe alcance a coesão focando exclusivamente nos resultados.

    A dinâmica interna e a contínua interação que se produz entre os integrantes de uma equipe esportiva representam ou equivalem a um jogador extra quando a equipe atua acertada. Pode-se salientar equipes de primeira linha e com grandes jogadores que fracassaram ante um adversário de menor quantia técnica e tática, mas que conta com reforçada dinâmica interna que lhes possibilita somar coesão grupal e compromisso de jogo em equipe (PAGLILIA e PAGLILIA, 2005).

    O futebol tem uma característica diferente do esporte individual, visto que não se pode trabalhar somente o sujeito isolado, mas se precisa trabalhar o time, suas relações e seus objetivos. Pouco adianta o atleta ser talentoso e não ter espírito de equipe.

    A teoria moreniana vem ao encontro dos esportes coletivos, pois tem como base a busca da potencialidade de cada indivíduo, através da espontaneidade e da criatividade dentro do contexto social. O indivíduo é visto e entendido do ponto de vista de seus relacionamentos e do grupo em que está inserido.

    Autores contemporâneos têm estudado e contribuído para a teoria moreniana. Fonseca (1980) formulou uma teoria abordando o desenvolvimento do grupo, em quatro fases. A primeira, denominada fase de indiferenciação, caracteriza-se pelo início do grupo, quando os indivíduos não se conhecem, estão ansiosos e temem pela futura vida grupal. Na segunda fase, chamada de reconhecimento grupal, as pessoas começam a perceber-se dentro do grupo e passam a manifestar-se. A terceira fase - de triangulação - revela-se, através da formação de triângulos grupais. Na quarta fase - de circularização e de inversão de papéis, dissolvem-se os triângulos e abre-se caminho para o círculo télico grupal, atingindo a identidade do grupo. A entrada de pessoas novas em um grupo faz com que ele se modifique, propiciando a retomada de fases anteriores, cuja intensidade varia de acordo com a fase em que o grupo se encontra.

    Para Garrido (1996), quando o indivíduo chega ao grupo, busca a tendência grupal ou conservadora do grupo1, o qual experimenta um movimento de rejeição ou receio com relação ao indivíduo. Levando em conta o átomo social, ele tende a romper com o equilíbrio, pois irá estabelecer novas linhas de relação emocional.

    A teoria psicodramática proporciona entendimento dos grupos, a fim de que se busquem melhor comunicação, compreensão e coesão. A seguir, se discorre sobre Jacob Levy Moreno, autor da teoria psicodramática, a fim de melhor entender e contextualizar a ele próprio e aos objetivos de sua teoria.

Problema

    Equipes esportivas submetidas a métodos de psicodrama apresentam uma melhora na sua coesão?

Objetivos

Objetivo geral

  • Analisar e compreender os processos grupais, organizados através do método psicodramático, na busca de coesão de equipe.

Objetivos específicos

  • Identificar aspectos do clima ambiental das equipes investigadas.

  • Desenvolver novos caminhos no papel de jogador de futebol.

  • Melhorar a coesão das equipes.

Metodologia e desenho experimental

Características da investigação

    Este estudo se caracteriza por uma investigação quantitativa.

    O delineamento do estudo é:

  • Explicativo (se ocupa com os porquês de fatos/fenômenos que preenchem a realidade); quase experimental (busca explicar porque acontece determinado fenômeno (x causa y) visa estabelecer relações de causa-efeito), transversal (realizado em um determinado momento); pesquisa ação (processo desenvolvido envolvendo pesquisador e pesquisados no mesmo trabalho) (SANTOS, 2001).

Instrumento para a coleta de dados

    O instrumento utilizado foi o questionário Clima Ambiental (Group Atmosphere Scale) desenvolvido por Fiedler, (1967) e adaptado por Simões & Hata (1994) que visa avaliar as percepções que os jogadores tem de seu meio esportivo. Este instrumento é composto por 10 itens com escala Likert de oito pontos. O escore é computado através da soma das respostas dos 10 itens, sendo os escores mais altos indicativos de bom clima ambiental. Este instrumento tem sido utilizado no âmbito internacional por Jochems e Kreijns (2006), Kreijns et al. (2007), Orengo e Zanosa (2000) e Santos e Simões (2007).

População e amostra

    A população foi constituída de jogadores de futebol masculino da categoria juvenil, com idades compreendidas entre dezesseis e dezessete anos e pré-infantil, com idades de catorze e quinze anos, de um clube de Porto Alegre – RGS- Brasil. A amostra foi constituída de 29 jogadores da categoria juvenil e 27 jogadores da categoria pré-infantil. Segue na tabela 1 o detalhamento da amostra de todo o trabalho realizado com as equipes da categoria de base.

Tabela 1. Amostra

Procedimentos para coleta de dados

    O método do estudo foi empregado em dez encontros uma vez por semana com duração de uma hora e meia, perfazendo um total de quinze horas de trabalho junto a cada equipe de futebol.

    O questionário Clima Ambiental (Group Atmosphere Scale) desenvolvido por Fiedler (1967) e adaptado por Simões & Hata (1994) foi aplicado no terceiro e nono encontro independente da fase em que as equipes se encontrassem nas competições. O questionário foi aplicado no terceiro encontro, visto que nos dois primeiros foram realizadas as combinações das normas de funcionamento do trabalho. No nono encontro foi aplicado novamente o questionário para que no décimo e último encontro fosse feito o fechamento do trabalho. A aplicação foi realizada de forma coletiva. Em todas as sessões foi utilizado o método psicodramático de acordo com a técnica descrita por Moreno (1974).

Tratamento estatístico

    Foi utilizado para o estudo comparativo das médias o teste de Wilcoxon com nível de aceitação £ 0,05. Para a análise das escolhas foi utilizado freqüência e porcentagem. Para o estudo estatístico, foi utilizado o “Statistical Pachage for the Social Sciences” - SPSS - for Windows, v. 10.0 (1999). Foi utilizado o teste de Kolmogorov-Smirnov 2 para checar a normalidade dos dados, o qual mostrou que os dados têm uma distribuição simétrica, portanto foram utilizados os testes estatísticos paramétricos.

Análise e compreensão dos resultados

Equipe pré-infantil

    A equipe pré-infantil é constituída de jogadores que tem ou completam 15 anos de idade. A maioria dos jogadores estão juntos há dois anos.

    A equipe se encontra no meio do campeonato estadual no inicio do trabalho

Análise do clima ambiental

    Apresentaremos o estudo comparativo realizado através da percepção do clima ambiental antes e depois do trabalho de grupo na categoria de pré-infantil.

Tabela 2. Comparação do clima ambiental da categoria pré-infantil

    O trabalho realizado com a categoria pré-infantil verificou diferença estatisticamente significativa na categoria Aceitável/ De Rejeição (0,04). Através das medias antes do trabalho em grupo (6,24) e depois da intervenção no grupo (7,14) mostra que o trabalho proporcionou uma maior percepção entre os atletas constituindo um clima favorável para teles entre os atletas, bem como diminuir as transferências que por ventura podiam estar atrapalhando a relação. Podemos dizer que a equipe pré-infantil ampliou sua capacidade télica pelo fato de haver tido uma melhora significativa da aceitação dos atletas no grupo. Isto mostra que o grupo esta proporcionando uma relação verdadeira entre os companheiros de equipes.

    Na questão entusiasmo/sem entusiasmo houve uma diferença estatisticamente significativa de (0,03). No início a média foi de 7,38 passando para 6,76 ao final do trabalho. A diminuição da média é explicado pelo fato do grupo estar no fim da temporada na qual a competição havia finalizado, assim os atletas estavam cansados por todo um ano de trabalho e competições.

Equipe Juvenil

    A equipe juvenil é composta por atletas que estão no seu primeiro e segundo ano de juvenil, com idades entre 17 e 18 anos. É uma equipe dividida em dois grupos, um são jogadores vindos da categoria infantil, outros são do segundo ano da categoria juvenil. A equipe se encontra no início da temporada.

Análise do Clima ambiental

    Apresentaremos o estudo comparativo realizado através da percepção do clima ambiental antes e depois do trabalho de grupo na categoria de juvenil.

Tabela 3. Comparação do Clima Ambiental da categoria juvenil

    O teste foi aplicativo depois de um campeonato brasileiro em que o time não conseguiu se classificar para a próxima fase. O treinador optou por levar quatro jogadores que estavam jogando na categoria Junior, pois tinham idade de estarem no juvenil. Pode-se perceber que todas as categorias baixaram a média com exceção da categoria “agradável e desagradável’ que aumentou. Verifica-se também que o único resultado significativo foi a categoria cooperativo/não cooperativo (p=0,035) que baixou de 6,76 para 6,00, isto pode ter acontecido devido ao fato de no campeonato isto não ter ocorrido cooperação trazendo como conseqüência a desclassificação do torneio. Por outro lado mesmo a maioria dos dados terem baixado isto demonstra que os jogadores estão se tornando mais questionadores e críticos frente o funcionamento do grupo, característica essa que não se manifestava no grupo. No futebol, quando o momento é positivo, ou seja, quando a equipe tem bons resultados, o grupo não se movimenta para mudanças. O contrário ocorre se os resultados forem negativos.

    Frente ao que um atleta tinha relatado anteriormente que somente quando um resultados ruim o grupo iria se manifestar em relação ao empenho e funcionamento da equipe isto ficou evidenciado. O fato disto ter ocorrido e o resultado ter sido negativo abriu-se assim a perspectivas de poder trazer as inquietações do grupo. Estas respostas vem ao encontro da proposta de pesquisa em desenvolver nos atletas pessoas mais questionadoras e comprometidas pela equipe, independente da posição que se encontra. Este tipo de trabalho é difícil de se alcançar uma vez que o funcionamento de uma equipe esportiva é muito complexo, pois possui varias nuances que afetam o seu funcionamento. Treinador, jogador, valores pessoais, experiências esportivas entre outros que estão diretamente ligados a isto. No entanto para que a equipe consiga um bom desempenho é preciso que os valores individuais fiquem em segundo plano do objetivo coletivo e que todos os integrantes do grupo sejam tratados iguais bem como aceitos na equipe.

Conclusão

    Frente os resultados encontrados pode-se concluir que:

  • Houve uma melhora no clima ambiental da equipe pré-infantil através do método psicodramático porem na equipe juvenil no houve uma melhorara significativa justificado pela mal resultado na competição que antecedeu a aplicação do questionário. No entanto foi entendido que criou se uma jogadora mais questionar a respeito da sua equipe no sentido de buscar uma melhor coesão de grupo e conseqüentemente melhores resultados. Em relação as equipe do grupo controle não houve nenhuma diferença significativa.

  • Os jogadores puderam através do método psicodramático desenvolver uma nove papel de jogado de futebol, um papel mais questionador em relação ao seu papel na equipe e, bem como o funcionamento da própria equipe.

  • A partir do clima ambiental do grupo ser favorável através do método de intervenção, bem como os jogadores mais participativos no grupo fez com que eles se desenvolvesse mais a espontaneidade dos atletas. Na questão de inter-relações verificasse que a partir do trabalho socionômica foi possível elevar a número de ligações entre os jogadores em ambas as equipes trabalhadas.

Considerações finais e sugestões

    A parir deste estudo verificou-se que o psicodrama é um excelente instrumento de intervenção na busca de coesão de equipe, sendo assim recomenda-se que esta metodologia de trabalho seja mais divulgada nos esportes a fim de possibilitar atletas com melhores postura e percepção de equipe.

Nota

  1. A tendência grupal é a característica que surge da participação e do esforço de cada um dos membros. Há ressentimento quando um membro do grupo desaparece. A influência do indivíduo sobre o grupo torna-se visível especialmente quando um novo membro substitui o anterior e vai de encontro à tendência conservadora que se formou através da participação de quantos o integravam, até a data em que este novo membro aparece.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 19 · N° 191 | Buenos Aires, Abril de 2014
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