Aprendizagem motora através da Teoria do Sistema Dinâmico El aprendizaje motor a través de la Teoría del Sistema Dinámico |
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*Graduação em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul Mestrado em Medicina: Ciências Médicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Aluno de Doutorado pelo programa de pós-graduação em Saúde da Criança e do Adolescente pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul **Graduação em Educação Física pela Universidade Federal de Pelotas Especialista em Educação pela UFPel e em Expressão Corporal Mestre em Ciência do Movimento Humano pela Universidade Federal de Santa Maria Mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul Doutorado em Educação e Neurociências pela Universidade Metodista de Piracicaba, ênfase em Neurociência, Epistemologia e Aprendizagem |
Diogo Miranda Petry* Clézio José dos Santos Gonçalves** (Brasil) |
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Resumo Aprendizagem motora ainda esta baseada no modelo de processamento de informação a onde se discuti a existência de um programa motor, se é inato ou adquirido, baseado no seqüenciamento linear, a onde a informação é processada em série, mais de um módulo ou em paralelo, um modulo de cada vez. Aprendizagem motora na visão do sistema dinâmico possibilita o uso do erro para contribuir para o movimento futuro, pois a variedade de movimento aumenta a retenção de repertório possível de movimento. A idéia é ter um padrão de movimento, pois como estamos mudando constantemente e inserido em um meio em constante mudança, aprendizagem que não possibilita o erro e só ensina gesto certo se torna fadada ao malogro quando colocada em prática. Unitermos: Aprendizagem motora. Sistema dinâmico.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 191, Abril de 2014. http://www.efdeportes.com/ |
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Aprendizagem motora através da teoria do sistema dinâmico
Conhecer os processos da aprendizagem motora é de suma importância, para compreensão de como o corpo aprende e se modifica para conseguir realizar movimentos simples como correr, saltar, rolar para o mais complexo como jogar futebol, vôlei, basquete e dançar durante ao longo da vida.
Com os conhecimentos advindo da cibernética, neurociência, matemática, filosofia e lingüística nos anos 50, os psicólogos cognitivos começaram a criar teorias da mente através de modelos computacionais, casos de pacientes com lesões cerebrais e teoria matemática da informação e entre outras para legitimar o uso da teoria de processamento de informação (VARELA, THOMPSON & ROSCH, 1997; TEXEIRA 1998). A diferença deste modelo para o behaviorismo, vigente naquela época, era que a última não considerava a mediação do processo e construto interno dentro comportamento humano (Bargh & Ferguson, 2000). Mas a psicologia cognitiva agregou além do estimulo - resposta , o processamento de informação. Seria estimulo – processamento - resposta, semelhante à linguagem computacional input- processamento de informação - output. A psicologia cognitiva foi definida por NEISSER (Apud STENBERG, 2000) como o estudo da maneira como as pessoas aprendem, estruturam, armazenam e usam o conhecimento através de símbolos.
Aprendizagem motora ainda esta baseada no modelo de processamento de informação a onde se discuti a existência de um programa motor, se é inato ou adquirido, baseado no seqüenciamento linear, a onde a informação é processada em série, mais de um módulo ou em paralelo, um modulo de cada vez.
E com a evolução científica que contribuiu para o surgimento da psicologia cognitiva também estava levando a mesma ao abismo.
Durante as duas últimas décadas tem aumentado pesquisa utilizando a teoria do Sistema Dinâmico na área de aprendizagem motora, que são os padrões de movimentos emergindo naturalmente através das inúmeras interações complexa entre números elementos conectados (SCHIMDT & WRISBERG, 2001).
Mas para que possamos continuar com as contribuições da teoria do Sistema Dinâmico na área da aprendizagem motora, tentarei realizar um resgate histórico e conceituais da formação da teoria do Sistema Dinâmico.
Teoria do Sistema Dinâmico
O primeiro principio é compreender que as partes não explicam o funcionamento do todo. E que o todo, sistêmico, emerge da organização das estruturas das partes e que não pode ser simplesmente a soma das partes (CAPRA, 1996). Segundo é que os objetos não estão desassociado do meio, ou seja, existe uma relação entre os objetos e meio que está sua volta. Não podendo hierarquizar e sim ver como uma rede de relações. Para que possamos entender melhor, os átomos estabelecem uma relação organizacional que forma uma molécula, as moléculas se organizam e formam células. E as células se organizam para formar tecido → órgãos → seres humanos → sociedade. O que diferenciará tipos de moléculas, células, tecidos, órgãos, seres humanos e sociedade serão a sua organização. E uma emerge da outra, sendo que partimos de um sistema menos complexo para o mais complexo.
Segundo Bertalanffy o ser vivo é um sistema aberto, pois “precisam se alimentar de um continuo fluxo de matéria e de energia extraída do seu meio ambiente para permanecer vivo” (CAPRA, 1996, p.54). O sistema aberto por essa troca continua com o meio está fora do equilíbrio estacionário, e sim procura um equilíbrio dinâmico.
E sendo o ser vivo um sistema aberto e dinâmico e suas interações forma uma rede de conexões. Possibilita a idéia de retroalimentar através dessas interações, podendo regular a si mesma, corrigindo os seus erros (CAPRA, 1996). De certa forma, a idéia do conceito de ontogenia de MATURANA & VARELA (2007) diz que, há modificações continuas das suas estruturas ocorrendo a todo o momento, desencadeado pela interação com o meio da onde ele se encontra ou pode ser resultado da própria dinâmica interna. Ou seja, através da retroalimentação desencadeado pelo meio ou por sistemas menores que o constitui, os seres vivos conseguem sobreviver ou auto-organizar, caracteriza a autopoiese.
Segundo CAPRA (1996) as características dos sistemas auto-organizadores é ser
“... uma emergência espontânea de novas estruturas e de novas formas de comportamento em sistemas abertos, afastados do equilíbrio, caracterizado por laços de realimentação interno e descritos matematicamente por meio de equações não-lineares.” (p. 80)
Até então entender os seres vivos como sistemas aberto para troca de energia e fechado estruturalmente, dinâmico, fora do equilíbrio e auto-organizável não era possível calcular esses milhões de interações sem criar uma ferramenta, a probabilidade. Pois para calcular sistemas simples, utilizavam equações lineares e para sistemas complexos, equações não-lineares. As equações não-lineares não permitem conhecer quais os resultados das infinitas interações, mas permite conhecer os padrões que ela estabelece, ou seja, não são determinísticas.
Pois o sistema dinâmico, como se chama a área matemática que possibilita o uso das equações não-lineares, teve grande importância não só na área da meteorologia, ecologia, economia, como também na aprendizagem. Passamos de uma análise quantitativa, a onde esperávamos valores determinados, temos na análise qualitativa apenas comportamento ou padrão do movimento.
O sistema dinâmico contribuiu para a teoria do caos, segundo THAGARD (1998) o resultado final é muito sensível a condições iniciais, qualquer diferença por menor que seja, em valores de variáveis de suas equações podem produzir evoluções dramaticamente diferente à medida que o sistema desenvolve.
Aprendizagem motora e Teoria do Sistema Dinâmico
Para que possamos construir um arcabouço teórico da aprendizagem motora através do modelo de sistema dinâmico, devemos entender que até então utilizavam e utilizam o modelo de processamento de informação como modelo.
A aprendizagem através do processamento de informação parte do principio que existe um mundo preconcebido independente do observador. Tal modo de pensar se chama representacionismo, o conhecimento é um fenômeno baseado em representações mentais que fazemos do mundo (MATURANA & VARELA, 2007). Ou seja, existe um estímulo, que esse estímulo é identificado e será selecionado e efetuado uma resposta, de acordo com o programa motor (SCHIMDT & WRISBERG, 2001). Existe uma linearidade, pois há uma simplificação do modo de conceber o meio sem levar em conta as inúmeras interações. De certa forma, uma visão platoniana a onde o conhecimento está nas idéias.
Com os avanços nas pesquisas da neurociência, o modelo de processamento de informação, que não considerava as interações do sistema nervoso central com outros sistemas do corpo e o corpo com o meio. O cérebro é formado por 100 bilhões de células nervosas e com 100 trilhões de interconexões, sem contar com os tipos de neurotransmissores, o cérebro humano é o fenômeno mais complexo no universo conhecido, pesando somente 1,5kg (ROSE, 2006). O cérebro pode ser considerado um sistema dinâmico. Primeiro por que o conhecimento dos neurônios não explica o funcionamento do todo. Os estímulos fora, o meio, quanto dentro, os neurônios, desencadeiam modificações estruturais no cérebro, pois é um sistema aberto para troca de energia, embora não os determina, pois é fechado estruturalmente. Está fora do equilíbrio, por que está em mudança constante e é auto-organizavel, neste caso chamamos de plasticidade cerebral. E que a mente seria a emergência dos padrões das interações dos neurônios.
Agora como seria a aprendizagem motora tendo como modelo sistema dinâmico? A primeira lição é que o sistema motor humano é capaz de espontaneamente, auto-organização, ajustar-se sob certas condições controladas. E que durante adaptação motora o sistema nervoso utiliza constantemente a informação do erro para melhorar os movimentos futuros.
Podemos mostrar no estudo de WEI & KORDING (2008) que a hipótese de o sistema nervoso estimar a relevância de cada erro observado e adaptar-se fortemente aos erros relevantes. Foi corroborado em dois testes realizado pelo mesmo estudo. O primeiro estudo avaliou a perturbação visual, mostrou que quando o erro visual é perturbado artificialmente pela realidade virtual, o modelo baseado na estimativa da posição da mão utiliza o histórico de erros informados e usa para estimar movimentos futuros. Embora seja linear a adaptação para correções de erros pequenos, isso não acontece quando os erros são maiores. Desta forma, demonstraram que é uma relação não-linear entre o tamanho do erro e a magnitude da adaptação. No segundo, estima-se que o sistema nervoso está constantemente e fortemente observando a relevância do erro de movimento para adaptação do sucesso motor.
A idéia do aprendizado pelo erro, contribui para o método de referência da variação contextual, pois parte do princípio o treinamento envolva diferentes tipo de exercício e variações da mesma habilidade. Os estudos realizados (LEE & MAGIL, 1983; HALL & MAGIL, 1995) utilizando o modelo de variedade contextual aumentaram a retenção comparando com modelo de treinamento em bloco.
Aprendizagem motora na visão do sistema dinâmico possibilita o uso do erro para contribuir para o movimento futuro, pois a variedade de movimento aumenta a retenção de repertório possível de movimento. A idéia é ter um padrão de movimento, pois como estamos mudando constantemente e inserido em um meio em constante mudança, aprendizagem que não possibilita o erro e só ensina gesto certo se torna fadada ao malogro quando colocada em prática. Desta forma, podemos concluir que a teoria do sistema dinâmico, pode contribuir para aprendizagem motora, visto que passamos de uma análise quantitativa para qualitativa, não procuramos números perfeito e sim padrões de movimentos e o poder de variar conforme as mudanças.
Referência
CAPRA, F., A teia da vida: Em nova compreensão cientifica dos sistemas vivos. São Paulo. Cultrix, 1996.
HALL, H. G. & MAGILL, R. A. Variability of practice and contextual interference in motor skill learning. Journal of Motor Behavior. Vol. 27 (4), p. 299 – 309, 1995.
LEE, T. D. & MAGILL, R. A. The Locus of contextual interference in motor-skill acquisition. Journal of Experimental Psychology: Learning, Memory and Cognition. Vol. 9 (4), p. 730 – 746. 1983.
MATURANA, H. R. & VARELA, F. J. Arvore do conhecimento: as bases biologias da compreensão humana. São Paulo. Palas Athenas, 2001.
ROSE, S. O cérebro do século XXI: como entender, manipular e desenvolver a mente. São Paulo. Globo, 2006.
SCHIMIDT, R. A. & WRISBERG, C. A. Aprendizagem e performance motora. Porto Alegre. Artmed, 2001.
THAGARD, P. Mente: Introdução à ciência cognitiva. Porto Alegre. Artmed, 1996.
WEI, K. & Kording, K. Relevance of error: What drives motor adaptation? Journal of Neurophysiology. Vol. 101, p. 655 – 664, 2009.
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