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Vivência em Danças Circulares no SUS. Uma breve revisão

Vivencia en danzas circulares en el SUS. Una breve revisión

 

*Especialista em Gestão Pública – UFSM/RS

**Especialista em Atividade Física, Desempenho Motor e Saúde – UFSM/RS

Técnico em Assuntos Educacionais - UFFS Campus Passo Fundo/RS

(Brasil)

Maria Luiza Machado de Quadros*

maria.luiza.src@gmail.com

Jorge Luiz dos Santos de Souza**

jorge.souza@uffs.edu.br

 

 

 

 

Resumo

          O presente trabalho tem a finalidade de fomentar a discussão acerca das danças circulares e sua introdução no campo da saúde como um instrumento de promoção, prevenção e terapêutica, assim como para o fortalecimento de vínculos sociais e comunitários. Faz-se necessário tal debate no meio acadêmico pois ainda existem resistências por parte de gestores e profissionais quanto ao seu uso e sua eficiência, embora a sua prática seja reconhecida no Sistema Único de Saúde - SUS pouco é oferecido para seus usuários.

          Unitermos: Saúde Pública. Terapia através da dança. Exercício. Saúde.

 

Abstract

          The present work aims to foster discussion about the circular dances and their introduction in the health field as a tool for promotion, prevention and therapy as well as to the strengthening of social ties and community. It is necessary that debate in the academy because there are still resistance from managers and professionals as to their use and efficiency, although its practice is recognized in the Brazilian National Health Care System - SUS little is offered to its users.

          Keywords: Public Health. Dance Therapy. Exercise. Health.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 190, Marzo de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    As danças sempre fizeram parte da existência humana, seja como um rito de guerra, um rito comunitário ou ainda um rito dos “deuses”. Várias tradições e formas de dança fazem e fizeram parte da história, neste sentido as danças circulares estão presentes em todos os povos de todas as épocas, seja no oriente quanto no ocidente, construindo um ponto em comum das vivências corporais mescladas com a musicalidade dos diversos povos.

As Danças Circulares

    Garaudy apud Ostetto (2009) mostra que as danças circulares trazem a lembrança de um tempo onde o dançar significava o pertencer ao grupo, a celebração de momentos importantes da vida e da comunidade, a partilha de valores e crenças por meio de músicas e gestos cheios de significados onde todos estão voltados para um centro comum representando a união do grupo e da comunidade.

    Já conforme Danças Circulares RJ (2013), as danças circulares geralmente são realizadas de mãos dadas promovendo uma rápida integração dos participantes, reflexões sobre o trabalho em equipe, compreensão dos conflitos, despertar da criatividade, entre outros. A mesma entidade classifica as danças circulares em: dança dos povos; meditativas; da natureza e contemporâneas.

    A proposta da dança circular hoje é amplamente aceita nos meios da psicologia, terapias alternativas e também na administração, pois como demostra Ramos (2010) a roda e o círculo evocam o equilíbrio, a totalidade, a unidade, a diversidade e a interdependência. No círculo rompem-se velhos conceitos enraizados na nossa sociedade capitalista e cartesiana como a separatividade, o individualismo, o excesso do “eu”.

Danças Circulares e o SUS

    Remetendo ao Sistema Único de Saúde – SUS, por meio da Política Nacional de Promoção da Saúde as Práticas Corporais, atividades físicas como as danças circulares e outras atividades orientais, são incentivadas como expressões individuais e coletivas do movimento corporal advindo do conhecimento e da experiência em torno de um objeto de prática corporal, que no caso do nosso estudo gira em torno das danças circulares. Tais práticas possibilitam a organização, as escolhas nos modos de relacionar-se com o corpo e de movimentar-se sendo compreendidas como benéficas à saúde física e mental dos indivíduos e de coletividades (Brasil 2006).

    Partindo a um ponto de vista mais voltado à saúde biológica, Fleury e Gontijo (2006) realizaram uma pesquisa com 12 mulheres entre 61 e 78 anos onde avaliaram vários aspectos da saúde física, mental e social e conseguiram demonstrar uma melhora significativa com as danças circulares, destacando-se a diminuição da tensão em 100%; aumento da disposição física em 92%; disposição mental e flexibilidade melhoraram em 83%, postura e força muscular em 75% e melhora da qualidade do sono em 67% das participantes. Cabe ressaltar também que 58% melhoraram sua socialização, sendo que 67% das mulheres participantes da pesquisa disseram ter os sentimentos de solidão abrandados mostrando que as danças circulares são capazes de trazer inúmeros benefícios, melhorando a condição física e mental permitindo a pessoa a trabalhar a atenção, memória, cognição, linguagem e principalmente a socialização.

    A cidade de São Paulo é pioneira em institucionalizar as práticas integrativas e complementares como instrumento de promoção da saúde no âmbito do SUS e em uma pesquisa avaliando sua utilização onde a dança fazia parte dos instrumentos de terapêutica Rodrigues et al (2009) verificaram com 19 indivíduos uma melhora significante do aspecto emocional demostrando assim um importante meio para o estabelecimento da saúde, como relatado em uma fala dos indivíduos participantes do estudo que citou a melhora do sono e diminuição das dores depois de entrar no grupo de práticas corporais.

    Ainda na cidade de São Paulo Costa et al (2009) em pesquisa para avaliar a efetividade das práticas complementares onde a dança circular também foi objeto de intervenção destacaram-se a melhora da disposição física, do equilíbrio, da mobilidade, bem como controle da hipertensão arterial e do diabetes. Na questão emocional foi demonstrado melhora da depressão, do humor, ansiedade e irritação, assim como diminuição da insônia aumento da autoestima e do autocuidado.

    Apesar do paradigma cartesiano biomédico ser questionado quanto a sua possibilidade de atender a demanda que se apresenta nas portas do SUS as iniciativas em relação a medicina complementar e outras formas de promover o cuidado com a saúde são incipientes no meio acadêmico (Ischkanian, 2012), mesmo sendo apresentados os resultados acima que demostram no simples ato de dançar em grupo, em uma roda, inúmeros benefícios não só no campo físico mas no social e na mente dos participantes, fortalecendo assim não só o corpo mas o vínculo entre as pessoas, com a comunidade e consigo mesmo.

    Ischkanian (2012) mostra que as práticas complementares produzem uma diminuição de custos e têm se mostrado eficaz na promoção e educação em saúde e que o SUS é favorável ao uso de tais recursos terapêuticos, apesar de gestores e profissionais de saúde muitas vezes não possuírem o devido conhecimento sobre o assunto.

Considerações finais

    As danças circulares diferem, significativamente do conceito ocidental de atividades físicas que levam em consideração apenas o gasto energético e freqüência de realização numa lógica biologicista, pois tal prática considera o ser humano em movimento como um todo, ou seja, estuda a sua gestualidade, os seus modos de se expressar corporalmente, atribuindo valores, sentidos e significados ao dançar. Agrega as diversas formas do ser humano se manifestar por meio do corpo e contempla as duas racionalidades: a ocidental (centrada no biológico) e a oriental (centrada no bem estar psicossocial). Assim sendo, as danças circulares são “olhadas” a partir das ciências humanas e sociais, das artes, da filosofia e dos saberes populares, sem desconsiderar as ciências biológicas e naturais (Carvalho, 2006).

    Para concluirmos podemos perceber que as danças circulares vem ao encontro de uma nova proposta de assistência em saúde, seja no campo da promoção, prevenção e reabilitação, fortalecendo o vínculo comunitário podendo ser um excelente instrumento de socialização e discussão sobre qualidade de vida e saúde no âmbito do SUS e indo além, as danças circulares não são contra o modelo médico vigente mas sim um coadjuvante e complementar do processo terapêutico do indivíduo.

Referências bibliográficas

  • Carvalho, Y. M. Promoção da Saúde, Práticas Corporais e Atenção Básica. Revista Brasileira de Saúde da Família. Brasília: Ministério da Saúde, 2006.

  • Ischkanian, P.C.; Pelicioni, M.C.F. Desafios das práticas Integrativas e Complementares no SUS Visando a Promoção da Saúde. Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano., Vol. 22., nº 2, 2012.

  • Costa, E. M. A. et al. As Práticas Complementares/Atividade Física e a Qualidade de Vida de usuários de unidades de Saúde da Região Norte da Cidade de São Paulo. Caderno Técnico DANT: Capacitação em Avaliação da Efetividade das Ações de Promoção da Saúde em Doenças e Agravos Não Transmissíveis. São Paulo, 2009.

  • Rodrigues, J.A. et al. As Práticas Integrativas e Complementares Contribuindo Para Promoção da Saúde em Doenças e Agravos Não Transmissíveis. Caderno Técnico DANT: Capacitação em Avaliação da Efetividade das Ações de Promoção da Saúde em Doenças e Agravos Não Transmissíveis. São Paulo, 2009.

  • Fleury, T. M. e Gontijo, D.T. As Danças Circulares e as possíveis Contribuições da Terapia Ocupacional Para as Idosas. Cadernos de Estudos Interdisciplinares em Envelhecimento., Porto Alegre, Vol. 9, 2006.

  • Brasil. Política Nacional de Promoção da Saúde. Ministério da Saúde, Brasília, 2006.

  • Ramos, M. M. Danças Circulares e Sagradas: Proposta de Mini Curso., Conferência Internacional Sobre os Sete Saberes – UECE, Fortaleza, 2010.

  • Ostetto, L. E. Na Dança e na Educação: O Círculo Como Princípio. Educação e Pesquisa, São Paulo, Vol. 35, Nº 1, 2009.

  • Danças Circulares – RJ. Sobre Danças Circulares. Rio de Janeiro, 2013. Acesso em: 18/11/2013, Disponível em http://www.dancascircularesrj.com.br/50.html.

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