2.1.
Aspectos gerais do desenvolvimento motor
Desde o nascimento, o bebê já é capaz de sentir e começar a formar as
primeiras impressões perceptuais e afetivas com o ambiente que o cerca, essas
serão fundamentais para um bom desenvolvimento futuro (BUSSERI et al.,
2006; LIEBERMANN; GIESBRECHT; MÜLLER, 2007). É então no início da infância
que se desenvolverá com mais precisão o número de tarefas motoras, ou seja,
haverá um refinamento nas pequenas habilidades, consideramos então, que esse
“refinamento” nas habilidades se dará com resultados ainda melhores quando
o meio em que a criança vive o propicia a vivenciar o seu desenvolvimento de
maneira adequada (GALLAHUE; OZMUN, 2005).
Os primeiros anos de vida da criança foram considerados para Piaget apud
Gallahue; Ozmun (2005) a “fase do raciocínio pré-operacional”, neste
período as crianças desenvolvem funções cognitivas que resultarão em
raciocínio lógico e formulação de conceitos, as brincadeiras são vitais
para que as estruturas cognitivas sejam desenvolvidas, pois as crianças possuem
uma imaginação fantástica sem a preocupação com a sequência lógica das
atividades.
Segundo Enderle (1987), o período mágico que vai entre os dois aos seis anos
de idade, é o momento que a criança passará pela transição da fantasia para
o concreto, para o autor o fato de caminhar por si só ocasiona um desligamento
da mãe, ou seja, a criança passará a explorar o ambiente, objetos e
consequentemente aprender a realizar ações do dia a dia como a alimentação e
higiene, o que irá garantir uma autonomia. O desenvolvimento motor, social,
intelectual, afetivo e emocional passam por uma significativa mudança nesta
fase mágica.
Para Perez (1994), na fase pré-escolar ocorre um grande desenvolvimento das
habilidades básicas, ocorrerá a maturação neurológica, o crescimento
corporal que facilitarão o desenvolvimento das atividades motoras com maior
precisão, a criança à medida que cresce tende a se locomover com mais
facilidade e a alcançar o equilíbrio motor, portanto isso ajuda muito a
realizar atividades físicas com melhores resultados.
Segundo Gallahue; Ozmun (2001), a fase dos quatro aos seis anos de idade é
muito importante na aquisição das habilidades básicas, o ato de correr,
saltar, pular e outras ações levarão o individuo ao refinamento de suas
habilidades que os ajudarão a passar para o estágio seguinte. De acordo com
Hottinger apud Tani et al. (1988), essa fase determinará o modelo
de adulto que a criança se tornará. Para Tani et al. (1988), o
organismo passa a ser considerado maduro após os vinte anos.
Todavia, a aquisição motora depende tanto de fatores neurofisiológicos como
de fatores psicológicos como a atenção, motivação, autoconfiança, e ainda
de aspectos socioculturais associados à experiência, estilos de ensino, entre
outros (NELSON; BLOOM, 1997; HENSCH, 2004).
Os movimentos fundamentais são divididos em três fases: Estágio inicial,
estágio elementar e estágio maduro. No estágio inicial aparecem às primeiras
tentativas de desempenhar uma habilidade fundamental sendo movimentos restritos
pela falta de coordenação e ritmo. No estágio elementar, embora os movimentos
ainda sejam restritos, há uma maior coordenação e sincronização dos
movimentos. O último estágio da fase dos movimentos fundamentais é o maduro
onde se espera que uma criança entre cinco e seis anos de idade já tenha
atingido este estágio que se caracteriza pelo refinamento das habilidades
básicas para que a criança consiga variá-las passando assim para o próximo
estágio e adquira os movimentos mais especializados (GALLAHUE; OZMUN, 2005).
Em meio as pesquisas sobre o desenvolvimento motor surgiram diversas escalas em
relação à idade e desempenho motor, para Johnson (1962) apud Gallahue;
Ozmun (2001), utilizando uma pesquisa do primeiro ao sexto ano, o desempenho
motor indica uma tendência ascendente até o quinto ano. Cratty; Martim (1969)
apud Gallahue; Ozmun (2001) caracterizam aquisição de várias habilidades
que variam entre os quatro aos doze anos. Willians (1970) apud Gallahue;
Ozmun (2001), as habilidades motoras de crianças de três a seis anos considera
o avanço dos movimentos à medida que a idade aumenta. Sinclair (1973) apud
Gallahue; Ozmun (2001), estudaram o desenvolvimento motor de crianças de dois a
seis anos, revelando que o movimento é um processo em desenvolvimento nos anos
iniciais de infância.
Conforme dispõe Gallahue; Ozmun (2005), ao longo dos três estágios a
progressão é a mesma para a maioria das crianças, entretanto o ritmo pode
variar, dependendo dos fatores ambientais e hereditários, seguindo este
pensamento Paim (2003), publica em seu artigo que para que haja um bom
desenvolvimento é necessário que se dê a criança a oportunidade de
desempenhar suas habilidades, como por exemplo, o movimento que colocará a
criança frente a descobertas, interação social, autonomia, interação com o
meio em diversas situações e inúmeros outros avanços em termos de
amadurecimento.
O desenvolvimento é entendido como uma interação entre as características
biológicas individuais (crescimento e maturação) com o meio ambiente ao qual
o sujeito é exposto durante a vida (PAPALIA; OLDS, 2000; ROGOFF, 2005;
GALLAHUE; OZMUN, 2006; FRISANCHO, 2009; MALINA et al., 2009).
Esse conjunto de relações com o mundo deixa clara a interferência que o
ambiente exerce no desenvolvimento humano, sendo fundamental para a
estruturação e a organização do sistema nervoso no que se refere aos
aspectos emocionais, cognitivos e motores. Assim, o potencial de futuras
aquisições começa a ser estruturado desde o nascimento, e muito do que vai
ocorrer no futuro está diretamente ligado a essas interações iniciais entre o
ambiente e o desenvolvimento biológico (DIAMOND, 2000; KNUDSEN, 2004; STODDEN et
al., 2008; WOLFE; BELL, 2007).
Uma criança pode estar com a idade cronológica não correspondente a idade
motora, o que pode demonstrar que suas habilidades deixam a desejar em relação
há outras muito mais novas, isso pode ser, apenas sintomas, de que a esta
criança, não foram ofertadas as oportunidades necessárias para que seu
desenvolvimento motor atingisse o objetivo esperado a deixando assim mais
atrasada. Para Bee (1996), crianças mais velhas é que recebem os maiores
incentivos e estímulos, estímulos estes que não viram com as condições
adequadas, pois não estão acompanhados por repertorio motor diversificado que
deveria ter sido adquirido na fase da infância, pesquisadores como Valentini
(2002); Villwock (2005) apontam para desempenhos motores baixos, devido à falta
de um ciclo e aprendizagem e também de experiências que deveriam ser propostas
durante a infância, reforçando assim a tese que os incentivos devem ir
aumentando progressivamente a cada estagio da vida.
Outro aspecto a ser citado que contribui para baixos níveis de desempenho motor
em crianças é a urbanização, as tecnologias que influenciam o sedentarismo,
refletindo significativamente nas atividades cotidianas. A criança passa a
ficar na frente da televisão, computador, do que realizando atividades que
contribuam para sua formação motora (STABELINI NETO et al., 2004).
2.2.
Estudos na base de dados do Lilacs com o descritor: desenvolvimento motor e
desenvolvimento motor infantil
Em pesquisa na base de dados Lilacs foram encontrados 144 artigos sobre o
descritor desenvolvimento motor infantil entre os anos de 1982 ao ano de 2010
sendo que, não foi encontrado nenhum artigo até o momento com este descritor
nos anos de 2011 e 2012. A partir do ano de 2002 ocorreu uma progressão de
publicação. Dentre os 144 artigos encontrados, apenas 4 foram utilizados de
alguma maneira na pesquisa e destes somente quatro apresentaram especificidade
na área de conhecimento do estudo. Os restantes dos artigos não utilizados
tratavam sobre assuntos como síndromes, desenvolvimento e evolução da
linguagem, aquisição da marcha em bebes pré-termo, desenvolvimento do sistema
sensório oral em prematuros e diversos outros assuntos relacionados à
prematuridade, avaliação da inteligência na primeira infância, mães com
hipertensão na gestação, hiperatividade, efeitos do chumbo no cérebro em
desenvolvimento, desenvolvimento motor da mão dominante na escrita, influencia
do andador, aleitamento materno e uso de chupeta.
Dos quatro artigos que se encontravam de acordo com os propósitos do presente
estudo pode-se citar a pesquisa de Nascimento et al. (2003) e Rossi et
al. (2007) que descreveram em seus artigos os tipos de atividades e do tempo
gasto em tarefas de coordenação motora fina na sala de aula, de pré-escolares
ao primeiro ano do ensino fundamental, os resultados indicam que, em média,
apenas 13,66 % do tempo é gasto em atividades de coordenação fina, sendo que
enquanto a demanda por atividades de escrita aumenta à medida que a criança se
aproxima do ensino fundamental, o tempo gasto em atividades específicas de
coordenação motora fina diminui, o que é ideal pois a medida que a criança
vai crescendo adiquire o amadurecimento das habilidades fazendo com o que era
tão complexo se torne uma atividade mais simples.
Para Zilke et al. (2009), que analisaram o desenvolvimento
neuropsicomotor de crianças que frequentam escolas de Educação Infantil o
resultado obtido foi que todos completaram todas as provas da sua faixa etária,
da idade anterior e em média completaram as provas para duas idades posteriores
à sua. O resultado deste estudo mostra que as crianças possuem um ótimo
desenvolvimento e que com certeza é ofertado a elas o estímulo necessário
para que se obtenha este resultado.
No estudo de Cardoso et al. (2006), o objetivo da revisão
foi descrever o desenvolvimento da coordenação motora da criança em idade
escolar, com ênfase nas habilidades de coordenação bilateral e
sequenciamento, examinando as variações de acordo com a idade e as possíveis
influências do sexo no desempenho motor, os trabalhos revisados indicam que há
progressão em tais habilidades motoras. Além disso, os estudos sobre a
evolução das habilidades de arremesso, chute e agarrada sugerem evolução
diferenciada de maneira favorável ao sexo masculino. Essa diferença favorável
ao sexo masculino se explica através da biologia e anatomia do corpo, na
infância que não se pode notar muitas diferenças entre capacidades motoras de
meninos e meninas, no entanto, a medida que a criança vai crescendo, pode-se
perceber que os meninos possuem uma maior estrutura corporal, além disso cada
sexo possui um determinado modelo desde o nascimento, a cada um é ofertado um
tipo de estímulo favorecendo assim o melhor desempenho dos meninos em relação
as meninas em algumas atividades que necessitam das habilidades básicas que
são culturalmente aprendidas.
Magalhães et al. (2009) em sua pesquisa de análise comparativa da
coordenação motora de crianças nascidas a termo e pré-termo, aos 7 anos de
idade, onde o objetivo era comparar o desenvolvimento motor, na idade escolar,
de crianças nascidas a termo e pré-termo obteve-se o resultado indicando
diferença significativa entre os grupos tendo como pior desempenho o grupo
pré- termo. Tendo como referência outros artigos, pode se concluir que
crianças nascidas em pré-termo tem uma desvantagem principalmente aquelas com
nível socioeconomico baixo, a maioria das crianças pré-termo com poucas
condições nascem abaixo do peso o que influenciará na vida e rendimento
escolar.
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