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Segurança na Terapia Farmacológica Hospitalar: 

o aprazamento e a reconciliação medicamentosa

La seguridad en la Terapia Farmacológica Hospitalaria: la suspensión y la persistencia en la medicación

Safety in the Hospital Drug Therapy: the drug terms and the reconciliation

 

*Acadêmico do Curso de Graduação em Enfermagem

da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES)

Bolsista de Iniciação Científica do CNPq. Montes Claros, MG

**Acadêmicas do Curso de Graduação em Enfermagem da UNIMONTES. Montes Claros, MG

***Enfermeiras. Professoras do Departamento de Enfermagem

da UNIMONTES. Montes Claros, MG

(Brasil)

Cássio de Almeida Lima*

Camilly Roberta da Silva**

Kattiany Pereira Marques**

Marianne de Andrade Costa**

Sarah Caroline Oliveira de Souza**

Edna de Freitas Gomes Ruas***

Renata Patrícia Fonseca Gonçalves***

Simone Guimarães Teixeira Souto***

cassio-enfermagem2011@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo objetivou investigar, por meio de uma revisão integrativa da literatura, a situação atual do aprazamento e da reconciliação medicamentosa na atenção hospitalar. Realizou-se a busca de artigos nas bases de dados BDENF, Cochrane, LILACS, MEDLINE e SCIELO entre junho e dezembro de 2012. Nos 11 artigos selecionados e investigados, o aprazamento medicamentoso é destacado como fator vinculado à ocorrência de interações medicamentosas e, junto à reconciliação, à segurança e qualidade da terapia farmacológica. O papel do enfermeiro é enfatizado nesse contexto e, sobretudo, no aprazamento. Ressalta-se a necessidade de realização de mais pesquisas e a atuação conjunta dos profissionais de saúde.

          Unitermos: Reconciliação medicamentosa. Interações de medicamentos. Sistemas de Medicação no Hospital.

 

Abstract

          This study has as an objective to investigate, by means of an integrative literature review, the current status of the medication terms and reconciliation in the hospital care. We conducted a search for articles in the BDENF, Cochrane, LILACS, MEDLINE and SciELO databases between June and December, 2012. In the 11 selected and investigated articles the terms are highlighted as a factor related to the occurrence of drug interactions and, along the reconciliation, safety and quality of the drug therapy. The nurse's role is emphasized in this context, and especially in the terms. We emphasize the need for further research and joint efforts of the health professionals.

          Keywords: Medication reconciliation. Drug interactions. Hospital Medication Systems.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 190, Marzo de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O processo de medicação consiste em um conjunto de etapas interligadas que deve ser planejado e implementado pelos profissionais da saúde de forma segura e efetiva (OLIVEIRA; MELO, 2011; FARIA; CASSIANI, 2011).

    Para diminuir a ocorrência de interações medicamentosas prejudiciais e eventos adversos, podem ser executados o aprazamento apropriado e a reconciliação medicamentosa. O aprazamento é um item do plano de cuidados em que são determinados os horários mais adequados para a administração dos medicamentos (FREITAS, 2004). A reconciliação medicamentosa se define como a obtenção de uma lista precisa dos medicamentos que o paciente está utilizando ao ser admitido no hospital. As informações obtidas são comparadas com a prescrição médica realizada após a admissão e discrepâncias devem ser solucionadas (JCAHO, 2010).

    Os estudos contribuem para o desempenho do enfermeiro e favorecem o alcance de melhores resultados na assistência (SILVA; SANTOS, 2011; SILVA; CASSIANI, 2004). Torna-se indispensável conhecer o sistema de medicação hospitalar e verificar como os trabalhadores, especialmente o enfermeiro, desenvolvem suas atividades (SILVA; CASSIANI, 2004).

    Apesar da considerável literatura sobre interação medicamentosa, são escassas as produções científicas quanto à reconciliação e ao aprazamento. Dessa forma, são necessários estudos que abordem essa temática. Assim, este estudo objetivou investigar na literatura os aspectos relacionados à situação atual do aprazamento e da reconciliação medicamentosa na atenção hospitalar.

Metodologia

    Optou-se pela revisão integrativa para o delineamento metodológico deste estudo, pois é um método eficaz no processo de comunicação dos resultados de pesquisas, uma vez que facilita a aplicação desses na prática clínica (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008). Seguiram-se as etapas de Ganong (1987): elaborou-se a questão norteadora: “Qual a situação do aprazamento e da reconciliação medicamentosa na atenção hospitalar atualmente?” Foram delimitados os critérios de seleção: pertinência à questão norteadora; artigo científico; distintos tipos de pesquisas; publicação nos últimos 10 anos; disponibilidade no idioma português ou inglês; acessibilidade dos artigos na íntegra; não repetição nas bases de dados onde se fez a busca.

    Após a delimitação dos descritores, realizou-se a busca no Banco de Dados em Enfermagem (BDENF), Biblioteca Cochrane, Literatura Internacional em Ciências da Saúde (MEDLINE), Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific Electronic Library Online (SCIELO) entre junho e dezembro de 2012. Aplicaram-se os descritores em ciências da saúde: reconciliação medicamentosa, sistemas de medicação no hospital e interações de medicamentos, medication reconciliation, drug interactions e medication systems. A palavra aprazamento não é considerada um descritor. Os descritores interações de medicamentos e drug interactions foram utilizados devido ao fato de, conforme a literatura, a reconciliação e o aprazamento de medicamentos estarem vinculados à interação medicamentosa. O expressivo número de material excluído (96,2%) se explica principalmente pela não disponibilidade dos artigos encontrados na íntegra, ou pela ausência de vínculo com o tema e a questão norteadora (Tabela 1).

Tabela 1. Número de artigos científicos encontrados, excluídos e selecionados

nas bases de dados onde se fez a busca entre junho e dezembro de 2012

    Em seguida, os artigos selecionados foram caracterizados, contendo informações acerca de sua descrição. Os artigos foram divididos em dois quadros: um caracterizando as publicações sobre aprazamento (Quadro 1), e outro caracterizando as publicações sobre reconciliação (Quadro 2). Em relação ao aprazamento, foi necessário incluir artigos que retratavam a interação de medicamentos e, no corpo do texto, o aprazamento, uma vez que não foram encontrados estudos exclusivamente sobre esse assunto. Houve a análise criteriosa do material selecionado, por meio da leitura exaustiva de cada artigo. A partir da discussão dos resultados alcançados, foram extraídas e sintetizadas as informações sobre o assunto.

Resultados

    Dos 11 (100%) artigos selecionados, 6 (54,5%) abordam o aprazamento medicamentoso e foram publicados no Brasil, enquanto 5 (45,5%) abordam a reconciliação, sendo que, destes, 2 (40%) foram publicados no Brasil, 1 (20%) no Canadá, 1 (20%) na Irlanda e 1 (20%) na Suíça.

    Em relação aos artigos sobre o aprazamento, todos (100%) foram veiculados em periódicos da área da enfermagem. A maioria dos artigos, 4 (66,6%), foi publicada no ano de 2011, 1 (16,7%) em 2009 e 1 (16,7%) em 2008. Quanto às categorias profissionais dos autores, observa-se a presença de enfermeiros e de professores universitários de enfermagem na autoria de todas as pesquisas. O método transversal foi empregado em 1 (16,7%) artigo, na mesma proporção que o método exploratório, o método exploratório-transversal, a revisão integrativa, o método descritivo e a revisão bibliográfica. A unidade de terapia intensiva foi o local específico em 2 (33,3%) artigos, o setor de transplante de medula óssea e o hospital especializado em 1 (16,7%) respectivamente, e as bases de dados em 2 (33,3%) artigos. Acerca das bases de dados, 4 (66,6%) estudos foram selecionados na base LILACS, 1 (16,7%) na BDENF e 1 (16,7%) na SCIELO (Quadro 1).

Quadro 1. Caracterização dos artigos sobre aprazamento

Descrição do Artigo

País

Objetivo

Método e Local

Principais Conclusões

Base

Faria LMP, Cassiani SHB. Interação medicamentosa: conhecimento de enfermeiros das unidades de terapia intensiva. Acta Paul Enferm. 2011.

Brasil

Avaliar o conhecimento de enfermeiros que atuam em unidades de terapia intensiva de adultos sobre as interações medicamentosas.

Estudo descritivo, transversal. Unidades de terapia intensiva.

É necessário sensibilizar autoridades e profissionais sobre a importância das interações medicamentosas na unidade de terapia intensiva e implementar ações para a segurança dos pacientes.

SCIELO

Fonseca RB, Secoli SR. Medicamentos utilizados em transplante de medula óssea: um estudo sobre combinações dos antimicrobianos potencialmente interativos. Rev Esc Enferm USP. 2008.

Brasil

Caracterizar o perfil dos medicamentos quanto ao aprazamento dos horários de administração e identificar as combinações existentes.

Estudo descritivo, exploratório. Setor do transplante de medula óssea.

Nos pacientes de transplante de medula óssea, a coadministração de medicamentos potencialmente interativos foi freqüente. Associada à polifarmácia e ao aprazamento simultâneo de horários, poderia predispor o paciente a eventos indesejados.

LILACS

Lima REF, Cassiani SHB. Interações medicamentosas potenciais em pacientes de unidade de terapia intensiva de um hospital universitário. Rev Latino-am Enferm. 2009.

Brasil

Analisar potenciais interações medicamentosas em pacientes de uma unidade de terapia intensiva de um hospital do Ceará.

Estudo descritivo, exploratório, transversal. Unidade de terapia intensiva.

A maioria das intervenções para evitar os efeitos indesejáveis das interações medicamentosas pode ser realizada pelo enfermeiro, o qual deve conhecer os mecanismos farmacológicos das interações medicamentosas e seus fatores precipitantes.

LILACS

 

Martins TSS, Silvino ZR, Silva LR. Eventos adversos na terapia farmacológica pediátrica: revisão integrativa da literatura. Rev Bras Enferm. 2011.

Brasil

Identificar as evidências sobre os principais eventos adversos a medicamentos na clientela pediátrica e propor estratégias para sua redução.

Revisão integrativa da literatura. Bases de dados.

A tomada de decisão do enfermeiro sobre o aprazamento seguro, o preparo e a administração de fármacos devem se basear na avaliação criteriosa, científica e individualiza de cada cliente.

LILACS

Oliveira RB, Melo ECP. O sistema de medicação em um hospital especializado no município do Rio de Janeiro. Esc Anna Nery. 2011.

Brasil

Analisar o sistema de medicação de um hospital especializado do Rio de Janeiro.

Estudo descritivo. Hospital especializado.

É necessária a implementação de estratégias para a mudança na cultura de detecção das falhas, de forma a auxiliar os profissionais na prevenção de erros.

LILACS

Silva LD, Santos MM. Interações medicamentosas em unidade de terapia intensiva: uma revisão que fundamenta o cuidado do enfermeiro. Rev enferm UERJ. 2011.

Brasil

Descrever a produção publicada acerca de interações medicamentosas no tratamento de pacientes críticos.

 

Revisão Bibliográfica. Bases de dados.

 

A interação entre medicamentos nos pacientes críticos pode ser freqüente devido à grande quantidade de fármacos que recebem.

BDENF

 

    Sobre reconciliação medicamentosa, verifica-se que 3 (60%) são artigos são da área farmacêutica, 1 é da área médica (20%) e 1 (20%) é de periódico da área da enfermagem. Foram publicados 2 (40%) artigos em 2011 e 3 (60%) em 2012. As categorias profissionais enfermeiro e professor universitário se inserem na autoria de 1 (20%) estudo, e os demais artigos não apresentaram informações suficientes para se identificar a categoria. Quanto à metodologia, 2 artigos (40%) se caracterizam como pesquisas retrospectivas e os demais são, respectivamente, 1(20%) estudo transversal, observacional, 1 (20%) estudo descritivo e 1 (20%) é revisão integrativa. Hospital pediátrico, hospital público universitário, hospital geral, unidade de primeiro atendimento e bases de dados foram os locais de estudo em 1 (20%) artigo, cada. Na base LILACS, foram selecionados 3 (60%) artigos, e na MEDLINE, 2 (40%) (Quadro 2).

Quadro 2. Caracterização dos artigos sobre reconciliação medicamentosa

Descrição do Artigo

País

Objetivo

Método e Local

Principais Conclusões

Base

Bédard P, Tardif L, Ferland A, Bussières JF, Lebel D, Bailey B, et al. A medication reconciliation form and its impact on the medical record in a paediatric hospital. J Eval Clin Pract. 2011.

Canadá

Avaliar a qualidade das informações sobre os medicamentos disponíveis nos prontuários antes e depois da implementação da reconciliação medicamentosa.

Estudo retrospectivo. Hospital pediátrico.

Os formulários utilizados na reconciliação, sobretudo na prescrição da alta, podem elevar a qualidade da informação nos prontuários e deveriam ser utilizados mundialmente.

LILACS

Grimes TC, Duggan CA, Delaney TP, Graham IM, Conlon KC, Deasy E, et al. Medication details documented on hospital discharge: cross-sectional observational study of factors associated with medication non-reconciliation. Br J Clin Pharmacol. 2011.

Irlanda

Investigar os fatores que contribuem para a reconciliação medicamentosa na alta e identificar a prevalência da não reconciliação.

 

Estudo transversal, observacional.

Dois hospitais públicos universitários.

A maioria dos episódios de não reconciliação teve potencial de resultar em moderado ou severo dano. O crescente número de medicamentos e de doenças crônicas foi associado com a não reconciliação. Os formulários facilitaram a reconciliação medicamentosa na alta hospitalar.

MEDLINE

Hellström LM, Bondesson Å, Höglund P, Eriksson T. Errors in medication history at hospital admission: prevalence and predicting factors. BMC Clin Pharmacol. 2012.

Suíça

Descrever a frequência, o tipo e as predições de erros de histórico de medicação e avaliar qual a melhor forma de corrigir esses erros.

Estudo descritivo. Hospital.

Farmacêuticos clínicos conduzindo reconciliações medicamentosas têm um potencial de corrigir históricos de erros de medicação para todos os pacientes.

MEDLINE

 

Miranda TMM; Petriccione S; Ferracini FT; Filho WMB. Intervenções realizadas pelo farmacêutico clínico na unidade de primeiro atendimento. Einstein. 2012.

Brasil

Demonstrar a atuação e a importância do farmacêutico clínico na Unidade de Primeiro Atendimento.

Estudo retrospectivo.

Unidade de Primeiro Atendimento.

A reconciliação medicamentosa correspondeu a 2 (0,16%) das classificações e quantidades das intervenções. O Serviço de Farmácia Clínica teve grande impacto na segurança do paciente e prevenção de eventos adversos.

LILACS

Teixeira JPDS, Rodrigues MCS, Machado VB. Educação do paciente sobre regime terapêutico medicamentoso no processo de alta hospitalar: uma revisão integrativa. Rev Gaúcha Enferm. 2012.

Brasil

Analisar e sintetizar a produção científica acerca da educação do paciente sobre regime medicamentoso no processo de alta hospitalar.

Revisão integrativa da literatura. Bases de dados.

 

O planejamento de alta estruturado, a reconciliação medicamentosa, a educação medicamentosa, os eventos adversos e a aderência medicamentosa permeiam a temática investigada.

LILACS

Discussão

    Conforme estudo sobre o sistema de medicação, o aprazamento medicamentoso se insere na etapa em que a folha de prescrição impressa no posto de enfermagem é assinada e carimbada pelo médico, e entregue à enfermeira do setor, que é responsável pelo aprazamento. A distribuição dos horários segue rotina padronizada, sem que se observe a possibilidade de interações entre os medicamentos. O enfermeiro é o responsável por essa distribuição (OLIVEIRA; MELO, 2011). Em outros hospitais, é desenvolvida pelo auxiliar de enfermagem e/ou pela secretária da unidade (LIMA; CASSIANI, 2009). A concentração de vários medicamentos em determinados horários se deve às normas da instituição e aos hábitos de trabalho da equipe de enfermagem (FONSECA; SECOLI, 2008).

    No Instituto do Coração, em São Paulo, os pacientes, de modo geral, tiveram os medicamentos aprazados em horários padronizados, às 10h (100%), às 18h (95,7%) e às 22h (100%), nos diferentes turnos de trabalho da equipe de enfermagem. Verificou-se uma menor quantidade de medicamentos administrados nos horários das 7h, 13h e 19h, que equivalem à troca de plantão, e 15h e 16h, em que há visita de familiares. Grande parte dos medicamentos (72,7%) apresentou potencial interativo, destacando-se os precipitadores (79,2%). Metade da amostra foi exposta à coadministração de antimicrobianos potencialmente interativos, sendo o Fluconazol o mais envolvido (85,7%) e responsável pela exposição de 40% dos pacientes à combinação entre Fluconazol e Omeprazol. Essa frequência da coadministração de medicamentos potencialmente interativos, associada à polifarmácia complexa e ao aprazamento simultâneo, poderia afetar a segurança da terapia (FONSECA; SECOLI, 2008).

    Em pesquisa sobre interações medicamentosas potenciais em uma unidade de terapia intensiva (UTI) de um hospital universitário do Ceará, verificou-se que, dos 1845 medicamentos analisados, 1140 (61,8%) foram aprazados para o mesmo horário e, desses, 844 (74%) apresentaram potencial para interações medicamentosas. O horário em que houve maior frequência de medicamentos administrados foi às 6h, com até 9 medicamentos. Dentre as ações que poderiam ser cumpridas pelo enfermeiro, para minimizar ou evitar os efeitos negativos das interações medicamentosas, está aprazar adequadamente os medicamentos (LIMA; CASSIANI, 2009). O enfermeiro, ao exercer o aprazamento, pode favorecer o potencial de uma interação. Embora as repercussões clínicas sejam em sua maioria leves a moderadas, os profissionais devem agir apropriadamente para evitá-las e considerar não apenas a rotina institucionalizada, mas a clínica do paciente e a ação farmacológica do medicamento (SILVA; SANTOS, 2011; MARTINS; SILVINO; SILVA, 2011).

    Os eventos adversos na terapia farmacológica pediátrica são tipificados em erro de medicação e reação adversa medicamentosa. Essa reação se relaciona às interações medicamentosas oriundas do aprazamento não seguro dos fármacos e da inexistência de drogas com apresentação direcionada às necessidades terapêuticas das crianças (MARTINS; SILVINO; SILVA, 2011).

    Em outro estudo, observou-se que, em relação ao conhecimento sobre interação medicamentosa e manejo clínico, o maior número de respostas incorretas foi nas associações de medicamentos com ação anti-infecciosa e cardiovascular. O resultado desse estudo é preocupante, visto que os fármacos com ação cardiovascular são abundantemente utilizados na UTI. Assim, a equipe de enfermagem deve ficar atenta na determinação do aprazamento (FARIA; CASSIANI, 2011) e deve-se capacitar os profissionais para os melhores regimes terapêuticos (LIMA; CASSIANI, 2009; FONSECA; SECOLI, 2008). Quando se realiza o aprazamento de forma negligente, pode-se desencadear uma reação adversa, a qual exige monitorar o paciente, gerar um período maior de internação e intervir com outros medicamentos e procedimentos, onerando o processo de hospitalização (MARTINS; SILVINO; SILVA, 2011; SILVA; SANTOS, 2011).

    Entre as 1.238 intervenções praticadas pelo farmacêutico clínico na Unidade de Primeiro Atendimento em um hospital de São Paulo, a reconciliação e o aprazamento medicamentoso corresponderam somente a 2 (0,16%) e a 7 (0,56%) intervenções, respectivamente (MIRANDA et al., 2012). A reconciliação é um novo conhecimento (BÉDARD et al.; 2011) a ser explorado junto à equipe multiprofissional. Em uma revisão integrativa, constatou-se maior número de publicações no ano de 2008, provavelmente pelo fato de a Organização Mundial da Saúde (OMS) ter lançado em 2004 a Aliança Mundial para a Segurança do Paciente. A reconciliação deve se inserir na educação em terapia medicamentosa nos pontos de transição do cuidado do paciente (TEIXEIRA; RODRIGUES; MACHADO, 2012).

    Em um hospital pediátrico do Canadá, para avaliar a qualidade da informação sobre os medicamentos presentes nos prontuários antes e depois da implementação da reconciliação medicamentosa, foram usadas duas formas distintas: um formulário na admissão do paciente para o histórico de medicamentos e outro para a prescrição da alta. Ambos os formulários deveriam ter seções explícitas, nas quais os profissionais poderiam documentar suas intenções. Os pacientes e/ou os familiares deveriam estar intimamente envolvidos no processo e cópias dos formulários deveriam ser fornecidas para o cuidado contínuo. A qualidade das informações sobre os medicamentos identificados na admissão foi avaliada através da presença dos critérios: dose, frequência e rota de administração para cada medicamento. Também foram coletadas informações vinculadas ao diagnóstico, data, alergias, intolerâncias, peso, altura, gordura corporal e histórico de medicamentos. Na alta, a qualidade das informações foi avaliada por meio dos critérios: dose, frequência, via de administração e duração do tratamento. Após a alta, a melhoria na qualidade das informações foi observada na etapa de pós-implementação da reconciliação (BÉDARD et al.; 2011).

    Conforme investigação feita na Irlanda, a identificação de fatores associados à ausência da reconciliação é extensa e deveriam ser propostas estratégias para minimizar a falta de comunicação entre tal país e outros. Constatou-se que, nos 624 pacientes internados em dois hospitais públicos universitários que não receberam a reconciliação medicamentosa, ocorreram 16% de episódios com impactos no cuidado, 2% desses episódios tiveram severo potencial de comprometer a terapia medicamentosa ou um grande potencial e em 1% dos casos poderia haver uma readmissão não planejada em três meses (GRIMES et al.; 2011).

    Em um hospital sueco, analisaram-se a frequência e o tipo de erros de medicação identificados por farmacêuticos que praticavam a reconciliação medicamentosa para pacientes admitidos. Verificaram-se que os erros na admissão foram comuns, o que evidenciou a importância de realizar a reconciliação, na qual se destacaram os farmacêuticos clínicos. A reconciliação deveria ser conduzida em todos os pacientes do hospital, sendo que os pacientes idosos, aos quais são prescritas muitas drogas e formam a maior parcela afetada por erros na admissão, poderiam ser beneficiados (HELLSTRÖM et al., 2012).

Conclusão

    O enfermeiro possui papel significante nessa realidade e deve se preocupar com a efetivação apropriada da reconciliação e do aprazamento em seu cotidiano de trabalho. Os hospitais devem fornecer a capacitação dos trabalhadores e infraestrutura operacional eficaz. Em conjunto com os profissionais, principalmente o enfermeiro, o médico e o farmacêutico, é necessário que avaliem e possibilitem a prática do aprazamento e da reconciliação como ferramentas eficazes na prevenção de interações medicamentosas indesejadas e na qualidade da assistência disponibilizada. A escassez de publicações sobre o tema também reforça a necessidade de realização e divulgação de mais estudos.

Referências

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  • TEIXEIRA, J. P. D. S.; RODRIGUES, M. C. S.; MACHADO, V. B. Educação do paciente sobre regime terapêutico medicamentoso no processo de alta hospitalar: uma revisão integrativa. Rev Gaúcha Enferm, Porto Alegre, v. 33, n. 2, p. 186-96, 2012.

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