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Se expressando através do lúdico: relato de um processo

de elaboração de uma dinâmica em um grupo de crianças

Expresándose a través de lo lúdico: relato de un proceso de elaboración de una dinámica en un grupo de niños

Expressing yourself through playful: report of a case of developing a dynamic in a group of children

 

Acadêmicas de Psicologia

Faculdade de Saúde Ibituruna

(Brasil)

Karen Hanna Fagundes Coutinho
Bianca Amaral Tolentino | Caroline da Silva Santos
Franciana Cristina de Souza | Cariza Maria Alves Borges

karenhannacoutinho@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Este artigo foi desenvolvido durante o estágio curricular supervisionado do curso de Psicologia realizado com crianças em vulnerabilidade social participantes do projeto “Aprendendo a aprender”, desenvolvidas na Instituição “Lar Nossa Senhora do Perpétuo Socorro” no município de Montes Claros (MG). Diante da necessidade de se levantar demanda implícita do grupo através de instrumentos que estimulassem as crianças a relatarem fatos relevantes da sua vida, percebeu-se a dificuldade em encontrar dinâmicas apropriadas para estes fins. Sendo assim, foi desenvolvida pelas acadêmicas uma dinâmica que proporcionasse o resultado esperado de conhecer aspectos significantes das crianças, tais como promover a explicitação de suas emoções, sentimentos, pensamentos e conflitos pessoais, suscitar a imaginação e a criatividade e facilitar a comunicação entre o grupo. Todo o processo de criação, de aplicação, interpretação e os resultados dessa dinâmica serão relatados neste artigo.

          Unitermos: Psicologia infantil. Processos grupais. Psicologia Social.

 

Abstract

          This article was developed during the traineeship supervised psychology course conducted with children in social vulnerability project participants “Aprendendo a aprender”, developed in the institution "Lar Nossa Senhora do Perpetuo Socorro" in the city of Montes Claros (MG). Faced with the need to raise the group's implicit demand through instruments that encouraged children to report relevant facts of his life, he realized the difficulty in finding suitable dynamics for these purposes. So, was developed by academic momentum that would provide the expected result of the significant aspects of the children know, such as promoting the explicitness of their emotions, feelings, thoughts and personal conflicts, arouse the imagination and creativity and to facilitate communication among the group. The entire process of creating, implementing, and interpreting the results of this dynamic will be reported in this article.

          Keywords: Child psychology. Group processes. Social Psychology.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 190, Marzo de 2014. http://www.efdeportes.com/

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    As dinâmicas são técnicas amplamente usadas no trabalho com grupos em virtude dos resultados positivos que elas geralmente apresentam, são ferramentas de extrema importância para a psicologia de grupos. Segundo Afonso (2006), elas facilitam a comunicação, favorecem a sensibilização, a expressão e a comparação dos pontos de vista, além disso, através delas é possível trabalhar com os conflitos e as diferenças que aparecem no decorrer do processo grupal.

    Afonso (2006) ressalta que as dinâmicas devem ser tomadas como meios que servem para aumentar a interação e o conhecimento do grupo. Os resultados obtidos com seu uso não vem da técnica por si mesma, mas do valor que ela adquire no campo grupal. Para que as dinâmicas tenham os resultados positivos para os membros do grupo é necessário que sejam bem escolhidas, de acordo com os participantes e o momento em que o grupo se encontra e deve adquirir um valor de metáfora articulada com a experiência dos participantes.

    Gonçalves e Perpétuo (2005), vêem o uso das dinâmicas como uma técnica que tem por objetivo proporcionar aos membros do grupo vivenciar situações inovadoras em todos os níveis.

    Ao confrontar comportamentos, hábitos, valores e conhecimentos, espera-se que os participantes sejam levados a uma avaliação e reelaboração individual evolutiva, podendo assim, potencializar o grupo no aprimoramento da subjetividade e no próprio processo de educação e construção do conhecimento e da prática social. (Gonçalves & Perpétuo, 2005)

    As dinâmicas são instrumentos importantes na psicologia de grupos já que seu uso possibilita a obtenção de um maior conhecimento pessoal, estimulam os pensamentos analógicos e associativos; despertam o sentimento de confiança mútua e solidariedade e facilitam a comunicação não verbal e a solução de conflitos. (Gonçalves & Perpétuo, 2005)

    Para a elaboração desta dinâmica as estudantes basearam-se nos testes projetivos, onde as crianças viam as imagens e contavam uma história. Foi escolhido basear-se na técnica projetiva pelo fato de o público alvo ser crianças e por se buscar uma dinâmica que não fosse cansativa e que não exigisse o domínio da leitura. A menor desejabilidade social é outro fator importante na escolha das técnicas projetivas, pois é menos provável que as pessoas tentem falsear as respostas.

Elaboração da dinâmica

    Diante da necessidade de se levantar a real demanda do grupo utilizando-se de instrumentos que estimulassem as crianças a relatarem fatos relevantes da sua vida, foi primeiro pensado em pesquisar e buscar dinâmicas nas bibliografias já existentes. Após buscarmos e não encontramos uma dinâmica que se encaixasse no perfil procurado por nós, decidimos pela elaboração deste instrumento.

    Com o conhecimento prévio sobre testes projetivos e por conhecermos seus benefícios e vantagens na aplicação com crianças, demos início à elaboração pensando nessas vantagens: são menos ansiógenos, pois o individuo testado desconhece o que está a ser testado, enganando assim os possíveis mecanismos de defesa ou tentativas de enganar o examinador, por não ter uma resposta certa o testando não se mantém preocupado em acertar, possui menor desejabilidade social e permitem o acesso a conteúdos inconscientes.

    Pensando assim e conhecendo a realidade do local e das crianças onde seria aplicada a dinâmica, foi pensado em figuras que representassem e que se aproximassem da realidade de cada criança, a fim de que elas se reconhecessem ou reconhecessem situações vivenciadas por elas em algumas das figuras. A dinâmica foi denominada História Criativa e sua elaboração e aplicação pretendiam alcançar os objetivos de conhecer aspectos significantes das crianças, assim como, promover a explicitação de suas emoções, sentimentos, pensamentos e conflitos pessoais, suscitar a imaginação e criatividade, fomentar o respeito ao outro e facilitar a comunicação entre o grupo.

    A aplicação da dinâmica foi pensada em ser desenvolvida em alguns passos. As crianças ficariam em círculo, sentadas. Em seguida, as facilitadoras entregariam a um participante várias imagens, pedindo a ele que primeiramente olhasse todas as figuras, para que posteriormente escolhesse apenas uma. A criança deveria pensar e narrar uma história que se basearia na imagem selecionada, entretanto, ela deveria possuir início, meio e fim. Esse procedimento seria realizado por todas as crianças, sendo uma de cada vez. Ao final de todas as histórias, as facilitadoras realizariam o Ciclo de Aprendizagem Vivencial (CAV), no qual, permitiria às crianças analisarem a atividade realizada, e conseqüentemente, possibilitaria a reflexão e internalização do que foi vivido. Para isso, as estagiárias perguntariam às crianças o porquê da escolha de determinada imagem, o que pensaram e sentiram enquanto criavam a história e enquanto ouviam a dos colegas, assim como, se já viveram ou presenciaram algo relacionado à figura escolhida.

    As imagens selecionadas para fazerem parte da dinâmica foram escolhidas pelas estagiárias com base em observações feitas por elas em um encontro que foi realizado na instituição com o intuito de conhecer as crianças que participam do projeto “Aprendendo a Aprender”. Algumas demandas foram percebidas pelas acadêmicas, a partir das histórias e vivências que as crianças e as coordenadoras da instituição contaram a elas. Para isso, a escuta diferenciada das estagiárias e a observação dos comportamentos foram essenciais. As crianças do projeto residem em comunidades carentes do entorno da instituição e estão sujeitas a vulnerabilidades sociais, violências doméstica, abusos e negligências. Com isso, as imagens foram pensadas de acordo com a realidade delas, isto é, figuras que demonstram medo, solidão, tristeza, exploração infantil, agressividade e fome, assim como, alegria, felicidade, relação materna, paterna e familiar, aprendizagem, jogos e brincadeiras, cooperação e interação com outrem.

    A seleção das imagens é bastante subjetiva, podendo diferenciar de grupo para grupo, estas devem ser escolhidas de acordo com o momento e a realidade em que os participantes vivenciam, sendo assim, é necessária uma observação primeiramente para a obtenção do conhecimento inicial dos membros do grupo. Além disso, as figuras devem ser pensadas visando o objetivo de conhecer e explicitar as emoções, sentimentos, pensamentos e conflitos pessoais dos participantes, permitindo que os acadêmicos trabalhem sobre eles durante o processo grupal. A seguir, é descrito o perfil da instituição onde a dinâmica foi realizada e a caracterização do público-alvo, sendo estes, os protagonistas em que as estagiárias se basearam para a escolha das imagens.

Perfil da instituição

    O Lar Nossa Senhora do Perpétuo Socorro fundado em 07 de março de 1951, surgiu como uma alternativa para a situação de abandono e descaso que viviam as crianças, principalmente as do sexo feminino. O Lar é uma associação sem fins lucrativos, de cunho educacional, social, beneficente, assistencial e promocional, instituída por prazo indeterminado, com sede e foro na cidade de Montes Claros, MG. Desde sua constituição o Lar foi dirigido por religiosas em parceria com a sociedade civil. Cujo apoio da comunidade, possibilitou oferecer as crianças e adolescentes e respectivas famílias a formação necessária para seu desenvolvimento integral para a vida em sociedade. O Lar conta com uma equipe técnica composta por assistente social, psicóloga, pedagogas e professores. Hoje a instituição se mantém com recursos próprios e parcerias com a comunidade e sociedade civil.

    O Lar tem como missão desenvolver condições para a inserção da criança e adolescente em situação de exclusão social, por meio da educação preventiva e integral, dentro dos princípios espirituais, morais e éticos, acolhendo e promovendo sua inclusão e de sua família na comunidade e mercado de trabalho. Acolhe em regime de abrigo cerca de 40 crianças e adolescentes cujos motivos pelo abrigamento encontramos subdivididos da seguinte maneira: 58% são provenientes de situação de vulnerabilidade social; 30% de situação de risco; 6% situação de abandono e demais 6% de situações de negligência e pobreza. O Lar realiza o acompanhamento das famílias com o objetivo de fortalecer, potencializar e resgatar os vínculos familiares.

    No projeto Aprendendo a Aprender na instituição Lar Nossa Senhora do Perpétuo Socorro são atendidas crianças de escolas públicas do ensino fundamental, com a idade de nove a onze anos. O objetivo geral do projeto é proporcionar para as crianças um reforço escolar através de arte e cultura, com o intuito de perceberem o mundo e a realidade em que estão inseridos, promovendo o desenvolvimento criativo, idéias e sentimentos. O objetivo especifico é estimular as crianças a ter o prazer de estudar, avaliar o aluno na sua singularidade, respeitá-lo, identificar estratégias para a melhoria do rendimento escolar, promover o desenvolvimento sociocognitivo e possibilitar a aceleração dos estudos através de diferentes metodologias.

    O público atendido diretamente pelo projeto é de noventa crianças e adolescentes e dez crianças portadoras de deficiência, sendo do sexo feminino e masculino. Os critérios usados para a seleção das crianças e adolescentes vão depender da sua situação de vulnerabilidade social e a partir dessa seleção serão encaminhados às oficinas.

Aplicação da dinâmica

    A aplicação da dinâmica foi realizada no primeiro encontro do grupo, este é composto por dez crianças, porém, no dia havia apenas oito. Enquanto ocorria a dinâmica de confecção dos crachás pelos membros do grupo, as estagiárias colavam 26 imagens nos espelhos que continham na sala, anteriormente, foi planejado que todas as figuras seriam entregues à criança para que ela pudesse escolher, no entanto, como na sala que acontece os encontros há espelhos, as estagiárias acharam que colá-las permitiria uma maior visualização das figuras. Após o término da preparação dos crachás, as facilitadoras começaram a dinâmica “História Criativa”. As facilitadoras falaram para as crianças que cada uma iria escolher uma imagem dentre aquelas que estavam no espelho, em seguida, pegariam a figura e criariam uma história pra ele, tendo início, meio e fim. Algumas crianças pediram para começar a dinâmica, mas as facilitadoras chamaram a que estava mais empolgada para começar a história.

    A primeira criança a participar escolheu a imagem XVII (Ira), ela disse: “Escolhi esse menino porque é muito engraçado. Parece um menino que eu conheço. Era uma vez um menino muito levado, o nome dele é Ferrugem. Certo dia ele tava pirraçando muito na escola, a mãe dele não sabia mais o que fazer. Ela levou ele para o... como é que chama? O psicólogo. Levou pro psicólogo pra falar com ele. Ele disse: Minha mãe é separada do meu pai, por isso sou revoltada. O psicólogo falou: você pode ir lá fora. Falou pra mãe dele: Olha dona Inês, a mãe dele chamava Inês, seu filho tem um problema, você é separada ele não gosta que você namora, ele quer que você volte. Ela disse: Nós não temos motivo para brigar e eles ficaram juntos de novo. Ele passou a ser obediente, um anjinho”.

    A segunda criança escolheu a imagem IX (Pirraça), ela disse: “Escolhi por causa da língua. A menina tinha raiva de todo mundo, ficava mostrando a língua, certo dia...”. Possivelmente, esta criança não quis continuar a sua história porque havia conversa paralela, as facilitadoras pediram silêncio e respeito com o colega, no entanto, os outros membros não paravam de conversar.

    A terceira criança escolheu a imagem XIII (Trabalho infantil), ela disse: “Isso é muito triste, não se faz isso com uma criança. Isso é injusto. Ele não chega aqui em mim. É muita injustiça. Vai perder o braço. Tá tentando procurar alguma coisa. Isso é muito triste. Se eu tivesse um filho não faria isso com ele. É muito triste até a menina ta chorando. Nem eu agüento fazer isso, é escravidão”.

    A quarta criança escolheu a imagem VIII (Distribuindo alegria), ela disse: “Oh, essa é uma menina muito pirracenta, pega o batom da mãe. A mãe tomou providência e levou ela para a escola de educação. Quando ela voltou continuou pirraçando. Aí pintou a cara de palhaço, a mãe ficou com raiva e levou ela pra escola de militar. Quando ela voltou ficou boazinha e a mãe ainda ficou com raiva”.

    A quinta criança escolheu a imagem IV (Vaidade), ela disse: “Peguei essa foto porque essa menina é muito exibida. Cara de exibida parece que é rica. Toda rica é exibida. Inclusive uma que chama ME, tem o nome igual o meu, mas eu gostou dela. Ela abusava dos pobres, arrumava, passava batom, brigava, não tinha amigos, era muito exibidinha”.

    O final de cada história, os membros e as acadêmicas aplaudiam a criança que havia terminado a história. As outras três crianças não quiseram participar da dinâmica, pois relataram que estavam com vergonha, por se tratar do primeiro encontro, a timidez foi um dos bloqueadores da tarefa, além disso, a falta de adesão às dinâmicas destes pode ter ocorrido pela emissão de comportamentos desrespeitosos pelos outros colegas, como brincadeiras e falas maldosas. Caso a dinâmica seja realizada em um momento em que o grupo esteja mais maduro, estes dificultadores podem não estar presentes.

    Ao final das histórias, as facilitadoras fizeram um círculo e perguntaram a opinião das crianças sobre a dinâmica, segundo elas, elas gostaram bastante de participarem. Anteriormente, o Ciclo Vivencial de Aprendizagem – CAV foi planejado de ser realizado ao final dinâmica, porém, a monitora do estágio fez algumas considerações que permitisse a reflexão após as histórias de cada criança. Para finalizar o encontro, as facilitadoras reforçaram o respeito que cada um deve ter com o outro, para que o grupo possa evoluir, assim como, auxiliar as crianças com os seus conflitos.

    De acordo com as atividades executadas, conclui-se que como dificultadores pode-se citar o não envolvimento e a inibição de algumas crianças em se expor perante o grupo, o que é natural, considerando-se que se trata do primeiro encontro. Quanto aos objetivos, estes foram parcialmente alcançados, pois não foram todas as crianças que participaram, tendo como facilitadores o grau de envolvimento de alguns participantes para com a realização das tarefas propostas, bem como o comprometimento das facilitadoras do grupo para criar um clima favorável ao desenvolvimento do mesmo. Além disso, essa dinâmica revelou as estagiárias as emoções, sentimentos, pensamentos e conflitos pessoais das crianças, na qual as suas histórias reais se misturavam com as histórias que criavam para as imagens, adentrando no objetivo principal da dinâmica e permitindo o levantamento de demandas.

Resultados e considerações finais

    A partir da aplicação da dinâmica, as estagiárias obtiveram os seguintes resultados. Em relação aos objetivos, que foram de apresentação e conhecimento das crianças do grupo, assim como, do levantamento de demandas a partir da expressão de suas emoções e sentimentos revelados na dinâmica, conclui-se que eles foram parcialmente alcançados, tendo como facilitadores o grau de envolvimento de alguns participantes para com a realização das tarefas propostas, bem como o comprometimento dos facilitadores do grupo para criar um clima favorável ao desenvolvimento do mesmo. Como dificultadores pode-se citar o não envolvimento e a inibição de algumas crianças em se expor perante o grupo, o que é natural, considerando-se que se trata do primeiro encontro. As questões inconscientes e as crenças manifestadas pelo grupo residem no medo de se expor. Houve resistência de algumas crianças em participar do grupo, por diversos motivos, como timidez, vergonha e sentimentos negativos em relação a psicólogos.

    Os sentimentos e pensamentos mais observados expressos pelos participantes foram de vergonha por parte de algumas crianças em contarem uma história. A falta de adesão à dinâmica de alguns pode ter ocorrido pela emissão de comportamentos desrespeitosos pelos outros colegas (brincadeiras e falas maldosas). Inicialmente, houve resistência por parte de algumas crianças na realização da tarefa, pois estas chegaram ao encontro com uma visão negativa de psicólogos (falaram que estes fazem muitas perguntas). Algumas crianças ficaram muito agitadas no momento da realização da dinâmica, conversando alto e atrapalhando a audição das falas das facilitadoras e dos colegas.

    Na dinâmica, foi possível analisar os vetores do cone invertido da Teoria de Pichon. A afiliação foi observada no momento em que algumas crianças deram suporte às outras em alguma dificuldade de exposição perante as demais. Quanto à pertença, é muito cedo para avaliá-la, uma vez que se trata do primeiro encontro e o grupo precisa estar em grau maior de amadurecimento.

    Em relação à pertinência, percebe-se que não houve envolvimento e comprometimento de algumas crianças na realização da tarefa, o que comprometeu no resultado final. Porém, àquelas em que se centraram na tarefa, produziram de forma coerente e eficaz com o que foi proposto. Quanto à cooperação, verificou-se que não houve entre todas as crianças, pois algumas não se comprometeram totalmente com a realização da tarefa, atrapalhando os colegas. Os papéis mais notáveis dificultaram o prosseguimento e rendimento do grupo no que se refere à cooperação.

    Na comunicação entre o grupo houve dificuldades, pois a sala não possui janelas nem ventilação natural, somente um ventilador que emitia ruídos altos, dificultando a audição das falas das crianças. Ocorreram também conversas paralelas entre os membros do grupo. A alta temperatura na sala provocou incômodo nas crianças, o que causava distrações, com isso a comunicação ficou comprometida. No entanto, algumas falas das crianças permitiram às estagiárias conhecerem como elas são e se inteirarem de alguns conflitos pessoais e grupais.

    A tele foi identificada, uma vez que boa parte das crianças já se conhecem. Foi possível verificar uma rede de transferências entre aquelas que já tinham algum tipo de afinidade, porém, entre os demais que não possuíam afinidades entre si não houve transferência nem envolvimento com o grupo. Também foi possível verificar a transferência de alguns participantes para com os facilitadores. Inicialmente, houve uma predisposição negativa para trabalharem em conjunto.

    Como o primeiro encontro teve objetivos de apresentação e de levantamento de demandas, além de demonstrar a importância de se conviver em grupo, não foi possível identificar a aprendizagem de todas as crianças, pois é um aspecto que precisa de mais tempo para ser avaliado com precisão. Assim, faz-se necessário um acompanhamento maior ao longo de mais encontros para que a aprendizagem possa ser sentida com mais presença e efetividade.

    Um grupo é definido como “um conjunto de pessoas, ligadas no tempo e no espaço, articuladas por sua mútua representação interna, que se propõem explícita ou implicitamente a uma tarefa, interatuando para isto em uma rede de papéis, com o estabelecimento de vínculos entre si”. (Afonso, 2006) Os participantes chegam ao grupo com histórias, experiências, valores e crenças diferentes, assim, podemos dizer que para que se estabeleça um grupo, deve haver interação entre seus componentes, de forma que todos almejem um objetivo em comum, cooperando uns com os outros, sendo que todos dependem entre si no processo grupal.

    Através das observações do grupo e da aplicação da dinâmica, pôde-se constatar a importância das dinâmicas no processo grupal. Elas apresentam geralmente resultados positivos, facilitam a comunicação, favorecem a sensibilização e a expressão. Seu uso possibilita a obtenção de um maior conhecimento pessoal, estimulam os pensamentos, despertam o sentimento de confiança e solidariedade.

    Diante da necessidade de identificar a demanda implícita do grupo e da dificuldade de encontrar instrumentos apropriados que alcançasse os objetivos propostos, as estagiárias resolveram elaborar uma dinâmica que suprisse tal falta. Pensando na realidade do grupo, a dinâmica foi elaborada de forma que se adequasse as características do público alvo, ressaltando que ao aplicar essa técnica em diferentes tipos de grupos as imagens devem ser escolhidas levando-se em conta o contexto em que o grupo está inserido. Por se tratar de um grupo de crianças, as estagiárias preferiram optar por uma técnica projetiva, pois é um instrumento que permite que o sujeito construa uma resposta livre e expresse seus conteúdos inconscientes de forma espontânea.

    Observamos que para a boa condução da dinâmica foi fundamental o embasamento teórico obtido a partir de estudos aprofundados sobre o tema. Apresentar um estímulo adequado a cada tipo de público é a parte imprescindível para incitar o desejo do sujeito de se expressar.

Referências

  • Afonso, M.L.M. (2006). Oficinas em Dinâmica de Grupo: um método de intervenção psicossocial. In: Afonso M.L.M. organizadora. Oficinas em Dinâmica de Grupo. São Paulo: Casa do Psicólogo. p. 9-61.

  • Gonçalves, A.M & Perpétuo, S.C. (2005). Dinâmica de Grupos na Formação de Lideranças. Rio de Janeiro: Editora DP&A.

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