Perfil epidemiológico dos óbitos
por causas Perfil epidemiológico de los óbitos por causas externas en el norte de Minas Gerais |
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*Graduandos em medicina pelas Faculdades Integradas Pitágoras, Montes Claros, MG **MD, Professor Assistente do Departamento da Saúde da Mulher e da Criança, CCBS, Unimontes e da graduação em Medicina das Faculdades Integradas Pitágoras, Montes Claros, MG (Brasil) |
Bruna Tupinambá Maia* Gilson Gabriel Viana Veloso* Eduardo Gonçalves** |
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Resumo As causas externas são um importante problema de saúde pública no país, sendo responsáveis grande número de óbitos, bem como de internações hospitalares. Este estudo tem por objetivo esclarecer a comunidade científica acerca deste assunto – sua prevalência e ocorrências mais freqüentes – além fornecer subsídio aos gestores de saúde, com o intuito de auxiliar a adoção de estratégias de intervenção nesta área da saúde pública. Mediante os resultados, faz-se necessária a implementação de políticas públicas, visando a prevenção primária do risco de acidentes e a redução da violência na região estudada. Unitermos: Óbitos por causas externas. Saúde pública. Risco de acidentes. Prevenção.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 190, Marzo de 2014. http://www.efdeportes.com/ |
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As causas externas de morbidade e mortalidade compreendem as lesões decorrentes de acidentes (relacionados ao trânsito, afogamento, envenenamento, quedas ou queimaduras) e de violências (agressões/homicídios, suicídios, tentativas de suicídio, abusos físicos, sexuais e psicológicos), as quais são um importante desafio às autoridades de saúde pública (WHO, 2010; OLIVEIRA & SOUZA, 2007; SMARZARO, 2005; XU et al., 2010).
Anualmente, essas causas são responsáveis por mais de cinco milhões de mortes em todo o mundo, representando cerca de 9% da mortalidade mundial. No mundo, as causas externas apresentam comportamento de constante crescimento, ocupando as primeiras posições dentre as mais freqüentes causas de morte. Porém, esses agravos não afetam a população de maneira uniforme, fato que sugere a existência de grupos populacionais mais vulneráveis. Isso pode ser percebido pela distribuição heterogênea dos óbitos por causas externas, os quais atingem, sobretudo, pessoas de cinco a 44 anos, do gênero masculino e residentes em países de baixa e média renda, com diferentes números entre áreas pobres e ricas de um mesmo país ou cidade (MESQUITA FILHO & MELO JORGE, 2007; PEDEN et al., 2004).
Diversas são as manifestações das causas externas. Dentre os eventos ditos acidentais, destacam-se as mortes e hospitalizações decorrentes do trânsito. Estima-se que ocorram, anualmente, 1,2 milhão de óbitos e mais de 50 milhões de feridos em decorrência das colisões entre automóveis. A maior parte deles mortes ocorre entre os usuários mais vulneráveis da rede viária, como pedestres, ciclistas e motociclistas, especialmente nos países de baixa renda; já os ocupantes dos veículos predominam entre as vítimas residentes em países desenvolvidos (PEDEN et al., 2004).
Além dos acidentes de transporte, as queimaduras, quedas, afogamentos e envenenamentos compõem o elenco de causas “acidentais” de morbimortalidade em todo o mundo. Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), as queimaduras foram responsáveis por cerca de 238 mil mortes no mundo, vitimando sobretudo as crianças menores de cinco anos e os idosos. Os afogamentos e submersões foram responsáveis por 450 mil óbitos anuais, atingindo principalmente crianças de até 14 anos de idade. As quedas acidentais vitimaram cerca de 283 mil pessoas por ano, com grande frequência na população idosa. As mortes por envenenamento acidental somaram 310 mil ocorrências a cada ano, afetando principalmente jovens e adultos entre a faixa etária de 15 a 59 anos. Todos esses agravos apresentaram maior impacto entre as nações de baixa e média renda (DAHLBERG & KRUG, 2006; MONTENEGRO et al., 2011)
Assim como as causas acidentais de morbimortalidade, a violência apresenta-se sob diversas manifestações e com diferente distribuição nas populações. As principais manifestações da violência podem ser ilustradas pelos homicídios e suicídios. As taxas de mortalidade por homicídio entre os homens são três vezes mais altas do que entre as mulheres, predominando ainda entre a faixa etária de 15 a 29 anos, seguidos de perto por homens de 30 a 44 anos. Em todo o mundo, os suicídios ceifaram a vida de aproximadamente 815 mil pessoas no ano 2000. Mais de 60% de todos os suicídios ocorreram entre homens, e mais da metade na faixa etária de 15 a 44 anos. Tanto para homens quanto para mulheres, as taxas de suicídio aumentam com a idade e alcançam um pico por volta da sexta década de vida (REICHENHEIM et al., 2011).
Conforme o Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), o número de óbitos hospitalares do SUS por causas externas no município de Montes Claros, na macrorregião norte, no período de janeiro de 2008 a julho de 2012 foi de 820. Dentre eles, 595 pertenciam ao gênero masculino (72,56%) e 225 ao gênero feminino (27,44%). A prevalência foi maior nos indivíduos com idades entre 20 e 29 anos e 50 e 59 anos, os primeiros representando 16,46% (135) dos casos e segundo 13,78% (113) do total. Nas demais faixas etárias os óbitos foram distribuídos heterogeneamente, sobretudo nos extremos de idade. Na população pediátrica a prevalência de morte por causas externas representa 2,31% do total notificado (19 óbitos). Esta taxa aumenta nos indivíduos idosos, alcançando o percentual de 10,48% (86 morte) do número total de notificações (BRASIL, 2012).
No que tange à realidade nacional, neste mesmo período, foram registradas 103.542 mortes por causas externas, sendo 47,54% deste total na região sudeste (49.224 notificações) e 23,74% no nordeste brasileiro (24.587 notificações). Já as regiões sul, centro-oeste e norte esses valores foram de 15,73%, 7,30% e 5,67%, respectivamente (BRASIL, 2012).
A violência pode ser considerada uma das principais causas de morte por causas externas e o seu impacto pode ser percebido de várias formas por todo o mundo. A cada ano mais de um milhão de pessoas perdem a vida e muitas outras sofrem acidentes não fatais, como resultado de violência interpessoal ou coletiva. A violência está entre as causas principais de morte por todo mundo na faixa etária de 15 a 44 anos. Apesar das dificuldades para definir precisamente os custos dos serviços de saúde dispensados para este fim, estima-se um gasto superior a quatro bilhões de reais no período de janeiro de 2008 a julho de 2012 no Brasil (BRASIL, 2012; KRUG et al., 2002).
Os agravos conseqüentes às causas externas representam uma importante sobrecarga emocional, social, pública e financeira para a população economicamente ativa, a qual é a principal atingida. A abstenção do trabalho e os danos psicossociais da vítima e dos seus familiares são as principais causas desses prejuízos financeiros. No que se refere ao sistema de saúde, as conseqüências da violência explicitam-se como o aumento dos gastos com emergência, assistência e reabilitação, os quais são mais onerosos do que procedimentos convencionais (SARTI et al., 2006).
A mortalidade por causas externas, bem como seu impacto podem ser evitado s e reduzidos da mesma forma que políticas públicas de saúde vem contribuindo para a prevenção de complicações gestacionais, acidentes de trabalho, doenças infecciosas e intoxicação por água e alimentos em diversas partes do mundo. Os fatores que levam um indivíduo à violência – sejam eles comportamentais, sociais, econômicos, políticos ou culturais – podem ser mudados, justificando o presente estudo (BUTCHART et al., 2004; KRUG et al., 2002; CHRISTOFFEL & GALLAGHER, 2006).
Referências
BRASIL, Ministério da Saúde. SIH/SUS – Sistema de informações hospitalares do SUS. Disponível em: http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=0203&VObj=http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sih/cnv/fr. Acesso em 25 de setembro de 2012.
BUTCHART, A. et al., Preventing violence: a guide to implementing the recommendations of the World report on violence and health. Department of Injuries and Violence Prevention, World Health Organization, Geneva, 2004.
CHRISTOFFEL, T. & GALLAGHER, S. S. Injury prevention and public health: practical knowledge, skills, and strategies. 2. ed. Sudbury: Jones and Bartlett Publishers; 2006.
DAHLBERG, L. L. & KRUG, E. G. Violência: um problema global de saúde pública. Ciên Saúde Coletiva, v. 11, n. 1, p. 1163-78, 2006.
KRUG, E. G. et al. World report on violence and health. Department of Injuries and Violence Prevention, World Health Organization, Geneva, 2002.
MESQUITA-FILHO, M; JORGE, M.H.P.M. Características da morbidade por causas externas em serviço de urgência. Revista Brasileira de Epidemiologia, São Paulo, v.10, n.4, p. 679-691, 2007.
MONTENEGRO, M. M. S. et al. Mortalidade de motociclistas em acidentes de transporte no Distrito Federal, 1996 a 2007. Rev. Saúde Pública, v. 45, n. 3, p. 529-38, 2011.
OLIVEIRA, M. L. C. & SOUZA, L. A. C. Causas externas: investigação sobre a causa básica de óbito no Distrito Federal, Brasil. Epidemiol. Serv. Saúde, v. 16, n. 4, p. 245-250, 2007.
PEDEN, M. et al. World report on road traffic injury prevention. Geneva: WHO; 2004.
REICHENHEIM, M. E. et al. Violence and injuries in Brazil: the effect, progress made, and challenges ahead. The Lancet, v. 377, n. 9781, p. 1962-75, 2011.
SARTI, C. A.; BARBOSA, R. M.; SUAREZ, M. M. Violência e gênero: vítimas demarcadas. Physis, v.16, n. 2, p. 167-183, 2006.
SMARZARO, D. C. A Informação Sobre Mortes por Causas Externas: estudo do preenchimento da causa básica de óbito em um serviço de medicina legal no Espírito Santo. 2000 – 2002, 2005, 95fls. Dissertação (Curso de Mestrado em Saúde Pública, área de concentração em Epidemiologia Geral) - Departamento de Epidemiologia e Métodos Quantitativos em Saúde da Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz – RJ, 2005.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Injuries and violence: the facts. Geneva: WHO, 2010.
XU, J. et al. Deaths: final data for 2007. Nat Vital Stat Rep, v. 58, n. 19, p.1-136, 2010.
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