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Entendendo o processo de hospitalização infanto-juvenil: percepção de crianças internadas na pediatria de um hospital montesclarense

Comprendiendo el proceso de hospitalización infanto-juvenil: percepción
de los niños internados en la sala de pediatría de un hospital monteclarense

 

*Enfermeiro. Especialista em Saúde da Família. Universidade

Estadual de Montes Claros/Unimontes. Montes Claros, MG

**Enfermeiro. Especialista em Urgência e Emergência. Faculdades Integradas

Pitágoras de Montes Claros/FIP-Moc. Montes Claros, MG

***Enfermeira. Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros/FIP-Moc

Montes Claros, MG

(Brasil)

Patrick Leonardo Nogueira da Silva*

Anderson Geraldo dos Santos**

Daiany Soares Braz***

Daniela Soares Braz***

Eliane Santos Soares***

patrick_mocesp70@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Objetivo: Este estudo objetiva entender o processo de hospitalização infanto-juvenil na percepção de crianças internadas na pediatria de um hospital montesclarense. Metodologia: Trata-se de uma pesquisa de campo, descritiva, observacional, com abordagem qualitativa. Este estudo teve como amostra oito crianças internadas em uma instituição hospitalar do norte de Minas Gerais/MG/sudeste do Brasil. Resultados: A hospitalização infantil e de jovens interfere no perfil psicológico e emocional do paciente. As crianças, enquanto internas de um hospital, aprendem a entender o porquê de sua internação, porém muitas não aceitam. Algumas destas relatam gostar do ambiente, pois os profissionais presentes ajudam em sua melhora. Algumas associam a hospitalização como sendo uma experiência ruim devido à quantidade de procedimentos invasivos. Outras crianças manifestam a privação do ambiente hospitalar através da falta de entretenimentos na qual teria estando em casa, tal como brinquedos, sua cama, roupa, colchão, dos integrantes familiares, de comidas caseiras, dentre outros. Conclusão: Portanto, o processo de hospitalização na vida de uma criança é encarado pelas mesmas como uma experiência traumática na qual a criança perde toda a autonomia e liberdade sobre ela mesma para viver sob outras regras apesar de entender os benefícios do processo.

          Unitermos: Criança hospitalizada. Emoções. Atenção Terciária à Saúde. Cuidados de enfermagem.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 190, Marzo de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Atualmente, a infância constitui tema de debate em muitas discussões na sociedade brasileira, contudo, nem sempre foi deste modo. No Brasil, foi somente a partir do século XX que a infância passou a ser reconhecida como um período de necessidades específicas, diferentes das necessidades que se possuem como ser humano adulto(1).

    Nos primeiros anos de vida, a criança depende de cuidados com o corpo, com a alimentação e com a aprendizagem e de ligações familiares para crescer. Mas nada disso é possível se ela não encontrar um ambiente de acolhimento e afeto. A ligação afetiva entre a criança e sua família, e mais objetivamente com a mãe, é imprescindível para assegurar que as bases de formação psicológica do futuro adulto sejam mantidas intactas. Neste contexto, a criança pode encontrar-se em situação de privação do convívio familiar por diferentes motivos, sendo um deles a hospitalização(2).

    A pessoa ao ser hospitalizada apresenta temores, esperanças e desejos, pois esta hospitalização gera sentimentos de dependência, inferioridade e insegurança, aliado ao medo do desconhecido e de algum acidente decorrente da terapêutica; a incerteza sobre a competência dos profissionais, o medo do ambiente hospitalar e do equipamento; o medo de sentir dor, de ser manuseado, cortado e perder o autocontrole; o medo da dependência, da morte e de dar trabalho a outros(3).

    A primeira percepção da criança quando é hospitalizada, é a sensação de estranhamento ao ambiente, aos procedimentos, aos medicamentos, equipamentos e aos profissionais. Há um desconhecimento como um todo, surge intervenções invasivas, com pouca ou nenhuma comunicação da equipe de saúde, dificultando que a criança perceba como parte de sua cura, associando mais às intenções punitivas e castigo, especialmente as que envolvem utilização de agulhas(4).

    Para a criança o ambiente hospitalar é um local de proibições. Lá não se pode correr pelos corredores, jogar bola, falar alto e dependendo das regras do hospital também não se pode brincar. Este lugar é em geral assustador, pois não há nada nele que possa identificar com suas experiências anteriores, e somado a isso, o fato de sua debilitação física e emocional estar presente na situação, torna a experiência ainda mais agravante(5).

    A permanência dos pais em período integral no ambiente hospitalar, sua participação no cuidado e a relação entre crianças, pais e profissionais, têm desencadeado novas formas de organização da assistência à criança hospitalizada. Nessa perspectiva, o foco é ampliado para a família como objeto do cuidado num processo de produção de relações e intervenções, para além do atendimento clínico(6).

    Diante da doença e hospitalização do ser infantil, a família se depara com duas tarefas que são cuidar da pessoa que se encontra doente e, lidar com as emoções que emergem e que passam a transformar as relações entre os seus membros. As reações da família a esses eventos dependerão principalmente de seu estado emocional frente à situação, do meio em que está ocorrendo o acontecimento, de suas vivências e ligação afetiva com a criança doente, determinando assim, a participação ou fuga na situação emergente(5).

    O ambiente hospitalar é para a criança um local de sofrimento físico e emocional. Lá, seu corpo é manipulado de forma invasiva e dolorosa, havendo pouca ou nenhuma explicação em relação à necessidade do procedimento. É para ela um local hostil, desconhecido e assustador, onde pessoas não-familiares impõem o cumprimento de regras e bom comportamento. Como conseqüência de seu sofrimento pode manifestar irritabilidade, medo, raiva, desespero, ansiedade, estresse, culpa, depressão, dentre outros(4-5). Em estudos sobre os aspectos da criança hospitalizada, foram verificados sentimentos como: medo, culpa, fuga e desconfiança na equipe(7).

    A dor faz parte da história de toda criança desde seu nascimento. É uma experiência pessoal e subjetiva que só conhecemos a partir da comunicação daquele que sofre. A sensação dolorosa é influenciada por fatores etários, sensoriais, componentes afetivos, cognitivos, comportamentais e fisiológicos, que se expressam diante à estimulação ou disfunção do sistema nociceptivo. O choro, o grito, as verbalizações de medo, a tensão muscular e os movimentos corporais amplos são reações de estresse que surgem usualmente em decorrência dos procedimentos invasivos. A criança refere-se aos procedimentos dolorosos como uma experiência aversiva e uma das mais difíceis de sua doença(8,5).

    Sendo assim, este estudo objetiva entender o processo de hospitalização infanto-juvenil na percepção de crianças internadas na pediatria de um hospital montesclarense.

Material e método

    Trata-se de uma pesquisa de campo, de natureza descritiva, de caráter observacional, com abordagem qualitativa. A amostra desta pesquisa compreendeu oito crianças internadas na pediatria do Hospital Aroldo Tourinho (HAT), situado na cidade de Montes Claros/MG, no período de 30/03/2009 a 17/04/2009.

    Para participação nesta pesquisa, adotaram-se os seguintes critérios de inclusão: crianças e adolescentes hospitalizados presentes na data, hora e local da coleta de dados; a aceitação dos mesmos para participar da entrevista; crianças e adolescentes hospitalizados que estejam conscientes e possam verbalizar.

    A coleta de dados ocorreu na pediatria do HAT, entre o período de 04/05/2009 a 15/05/2009, e, em horários previamente estabelecidos, foram escolhidas estas datas e horários por serem mais viáveis para a instituição. O instrumento de coleta de dados baseou-se em um roteiro de entrevistas na qual foi utilizado um gravador para que fossem transcritas na íntegra todas as falas dos entrevistados. Após a coleta de dados, as falas foram transcritas, codificadas/categorizadas, analisadas e, posteriormente, discutidas quanto à literatura.

    Com a intenção de preservar os sujeitos da pesquisa, foram ainda, utilizados nomes fictícios para caracterizá-los. É digno de nota que, em nenhum momento, desconsiderou-se a definição da resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde – CNS/2003, a qual garante o anonimato e a privacidade na participação dos estudos a todos os seres humanos envolvidos.

Resultados e discussão

    A percepção das crianças acerca do espaço hospitalar está relacionada também às suas posturas diante das enfermidades(9). Apesar da idade, as crianças de fato têm entendimento que lhes são próprios sobre as enfermidades, às causas e o modo como devem ser tratadas. Tanto a criança assume um papel ativo na situação de adoecimento que, da mesma forma que os adultos, especula sobre o porquê de estar naquela situação e se inteira dos cuidados que estão sendo realizados com ela. Diante do fato de as crianças não serem meros espectadores de suas doenças, vale ressaltar que, de modo apropriado, é importante dar explicações a elas que faça sentido, de acordo com seu único ponto de referência(10).

    As reações das crianças são influenciadas pela idade de desenvolvimento, experiência prévia com a doença, separação ou hospitalização, habilidades de enfrentamento inatas e adquiridas, a gravidade do diagnóstico e o sistema de suporte disponível. O motivo para o preparo das crianças para a experiência hospitalar e para os procedimentos correlatos baseia-se no princípio de que o medo do desconhecido excede o temor do conhecido. Logo, diminuir elementos de desconhecimento resulta em menor medo. Quando as crianças não sentem o medo paralisante de enfrentamento, elas são capazes de direcionar suas energias no sentido de lidar com outros estresses inevitáveis da hospitalização e de se beneficiarem do potencial de crescimento inerente à experiência(11).

    Muitas são as situações em que se fazem necessárias às internações hospitalares das crianças, levando-as a apresentarem novas necessidades sociológicas, físicas e afetivas. Por mais simples que seja o motivo, a hospitalização tende a levar a uma experiência negativa. O desconforto físico, moral, espiritual e o medo da morte podem gerar sofrimentos(12).

O processo de hospitalização sob o olhar da criança

    A criança não-hospitalizada em seu dia a dia, principalmente durante os anos escolares, tem toda uma programação de atividades a ser cumprida em tempo e data certos com períodos para comer, vestir-se, ir para a escola, brincar e dormir. No entanto, quando ocorre a hospitalização na vida desses pequeninos, esses são privados da sua rotina, rompendo assim com seu mundo mágico e lúdico.

    Ao questionar as crianças sobre gostarem ou não do hospital, obteve-se distintas respostas, e estas expressavam sentimentos de: contentamento por estarem diante da possibilidade de cura, por se sentirem bem cuidadas pelos profissionais, subentendendo-se assim, gratidão por esses que se dedica a cuidar de suas moléstias com carinho e empenho; conotavam compreensão e entendimento diante das intervenções necessárias para a sua melhora; negação total em relação ao ambiente hospitalar, por algum motivo aversivo como medo dos procedimentos invasivos e de agulhas. Diante disso, surgiram duas categorias: “Gostando do hospital” e “Sendo uma experiência ruim”.

Gostando do hospital

    À medida que a criança amadurece sua percepção da doença vai se tornando mais ampla e de acordo com a realidade. Esse fato explica o porquê de algumas das crianças entrevistadas gostarem da internação, demonstrando assim algum entendimento sobre a necessidade do processo de hospitalização, que lhe proporcionará a recuperação de sua saúde.

    Dentro da categoria “Gostando do hospital”, observaram-se as falas de:

    PETER PAN:

        “... gosto... é quando eles não me deixam chorar quando eu machuco”.

    Diante desta resposta percebe-se que a criança espera, neste ambiente tão novo e incômodo que pode fazê-la chorar, proteção e amparo por parte de seus cuidadores. Contudo, nota-se que ela tem encontrado esse apoio ao proferir o advérbio de tempo “quando” inferindo-se que esse amparo é encontrado caso necessário. É pertinente o estabelecimento de um liame de confiança entre a enfermagem e a criança a fim de obter o sucesso da sua recuperação e estimular a sua maturação a respeito da hospitalização. Compete também aos cuidadores, oferecer a estes pequeninos, um trajeto afável durante o seu intercurso pelo hospital. Espera-se que estes profissionais estejam aptos a atendê-los de forma “globalizada” captando suas necessidades, dispensando paciência e perícia na assistência.

    Esta ajuda poderá ser proporcionada dentro de um relacionamento seguro e construtivo, dadas às características de dependência que a criança apresenta com relação ao outro(13). Durante a hospitalização, “o outro” são os profissionais que a rodeiam, que poderá ajudá-la a reconquistar as capacidades próprias da sua fase de desenvolvimento e a vivenciar experiências que estimulem o seu crescimento.

PINÓQUIO:

    “... eu gosto de tudo... quando aqui está cuidando de mim... ah! tem que furar, senão como é que eu vou sarar?”.

FLORZINHA:

    “Gosto, porque aqui não paga nada... quase todos os dias eles vêm me dar agulhada né? Mas, no outro dia eles são assim, tipo boazinhas...”.

KIKO:

    “Gosto... que ajuda a gente se tratar, em casa a gente não tem condições..., aí eles tratam a gente aqui... eles dão comida pra gente... ajudam a gente, faz o medicamento, cuida, limpa, faz tudo”.

    Estas respostas emitem, por parte das crianças, uma idéia de compreensão e aceitação de sua atual situação, o que facilita muito o trabalho dos profissionais que as atende, contudo, é pertinente atentar para as falas: “em casa a gente não tem condições”, “eles dão comida pra gente”, essas falas nos remetem à idéia de que os limites e soluções, para o desfecho de uma recuperação satisfatória, não se findam entre as paredes do hospital, e que, algumas crianças exteriorizam consciência tanto da necessidade de se recuperar, como da disposição econômica que a permeia em casa, demonstrando assim, mesmo diante deste ambiente tão hostil, preferência e necessidade em habitá-lo pela escassez de seus recursos domiciliares.

SININHO:

    “... eu gosto de brincar”.

    A brincadeira é essencial para o bem estar mental, emocional e social das crianças, e, da mesma forma que suas necessidades de desenvolvimento, a necessidade de brincar não pára quando as crianças estão doentes ou no hospital(11). É motivo de gozo saber que a crianças (Sininho, e outras) têm a oportunidade e gostam de brincar, mesmo estando no ambiente hospitalar, como é o que se observa na fala supracitada, pois o brincar envolve a espontaneidade e a criatividade, elementos característicos de um viver criativo, também é auto-curativo, terapêutico e configura-se como sinal de saúde. Em suma, o brincar no hospital é uma forma da criança lidar criativamente com a sua realidade(14).

Sendo uma experiência ruim

    Os pacientes hospitalizados expressam o medo de algum acidente decorrente da terapêutica; a dúvida sobre a competência dos profissionais, o temor do ambiente hospitalar e do equipamento; o medo de sentir dor, de ser manuseado, cortado e perder o autocontrole; o medo da dependência, da morte e de dar trabalho a outros(3). A criança hospitalizada vivencia experiências dolorosas e desagradáveis, em ambiente estranho e muitas vezes agressivo, o que geralmente repercute no seu desenvolvimento psicossocial e intelectual, caracterizando uma situação de crise(13).

    A convivência com este corpo enfermo não é uma convivência tranqüila, sua preocupação não se refere à doença propriamente dita ou à sua gravidade, mas às conseqüências do estar doente e hospitalizada, ou seja, às modificações ocorridas em seu corpo; à dor, ao mal estar e ao desconforto; e, às restrições impostas(15).

    Diante de tais injunções causadas pelo processo de hospitalização, é patente que, na maioria das vezes, este processo seja traduzido e interpretado de maneira negativa. Diante disso criou-se a categoria “Sendo uma experiência ruim”, para enquadrar as falas de:

JAIMINHO:

    “... eu não gosto porque eles me pegam e me furam... eu nunca gostei de hospital... eu não gosto de jeito nenhum”.

CINDERELA:

    “... aqui é ruim... dá agulhada em mim”.

CHAVES:

    “... eu não gosto de ficar no hospital não, porque eu acho ruim”.

    A criança e sua família possuem um conceito sobre hospital carregado de significados particulares. Assim, além da própria doença a criança leva consigo suas ansiedades, fantasias e desejos e, a forma com que o adulto se relaciona com a criança pode ajudá-la no enfrentamento do estar doente e do estar hospitalizada(14).

    Nas falas acima se percebe o sentimento de total negação ao processo de hospitalização. Em uma das falas (“... eu nunca gostei de hospital...”) nota-se um conceito preestabelecido, que precisa ser trabalhado de forma a reduzir esse pensamento. Esses sentimentos advindos da hospitalização podem ser minimizados por uma equipe compreensiva, paciente e apta a desempenhar suas tarefas de forma pertinente.

    A enfermidade traz sofrimentos que abalam tanto o paciente como seus familiares, sendo também, dever da enfermagem procurar desterrar estes sentimentos. Outro grande potencializador no sucesso do tratamento e da recuperação da criança hospitalizada é o consentimento da permanência de um familiar durante o seu tratamento, direito esse garantido por lei. Um ente próximo tem maior facilidade de entender e comunicar com a criança hospitalizada para aclarar os percalços da hospitalização e de suas intervenções. Cabe aos profissionais envolvidos com esta criança procurarem compreender a vivência da família nos diversos contextos e proporem intervenções que a auxiliem a lidar com as necessidades advindas da hospitalização infantil(16).

Manifestando as privações do ambiente hospitalar

    O brincar durante a hospitalização funciona como uma possibilidade de humanização, sendo essencialmente benéfico para que a criança conquiste e conserve sua auto-estima, para que seu desenvolvimento não seja prejudicado e para que ela compreenda melhor essa situação(17).

    Para a pergunta: “O que você gostaria que tivesse aqui?”, obtiveram-se as seguintes respostas de:

CINDERELA:

    “Brinquedo”.

JAIMINHO:

    “... minha camona”.

KIKO:

    “É deixa eu ver... Brincadeiras, roupa, colchão... Dominó, baralho, quer dizer baralho não, dama...”.

    Mesmo falando que algumas crianças brincam e que é garantido por lei a instalação de ambientes recreativos nas pediatrias dos hospitais, é notório que existe ainda, uma carência de brinquedos para preencher o tempo ocioso destas que se encontram hospitalizadas. Merece destaque a menção de uma criança por sua “camona” o que remete ao conforto domiciliar, devido ao afastamento de sua casa. As necessidades de conforto emergidas estão associadas ao desconforto experimentado e ao nível de conforto almejado, o qual pode e deve ser proporcionado por meio de ações de cuidar(18).

    Para a pergunta: “Quem você gostaria que estivesse aqui te acompanhando?”, algumas crianças responderam da seguinte forma:

CHAVES:

    “Minha mãe... Ela fica comigo aqui só de noite e de manhã... À tarde ela trabalha”.

CINDERELA:

    “Papai! É saudade! É que eu gosto dele.”.

KIKO:

    “Meu pai... Minha mãe e meus irmãos... eu sinto muita saudade deles, já faz muito tempo que eu estou aqui na cidade...”.

FLORZINHA:

    “Docinho...”. (OBS: Docinho é o nome fictício da irmã de Florzinha)

    Diante das falas acima é percebida a essencialidade da família no apoio da criança hospitalizada e como estes são lembrados caso não estejam presentes. Com um familiar por perto a criança sente-se querida, amparada e segura para enfrentar o percurso da hospitalização, essa presença permite que os mesmos elaborem de um melhor modo seus sentimentos e emoções, sua ansiedade, medos, temores e fantasias, organizando melhor o seu mundo interior. Além de fonte de afeto e segurança, a família se comporta como mediadora e colaboradora da adaptação da criança ao hospital, e, a falta destes pode provocar sentimentos de tristeza, angústia e medo, uma vez que, se sentem abandonadas diante do desconhecido e, um rosto familiar traz a sensação de não estar só.

    Com a presença da família, a criança poderá ser mais capaz de suportar os sofrimentos e ansiedades surgidas durante a doença e a hospitalização(2). E durante o período evolutivo normal, a criança apóia-se na mãe para se desenvolver e, quando este apoio é bruscamente retirado, costuma ocorrer ansiedade de separação e depressão(19).

    Interagindo tão intensa e intimamente com sua mãe, a criança forma com ela um único cliente, um cliente diferente, muito maior, que ultrapassa as fronteiras determinadas pelas imposições da hospitalização, fazendo, portanto, com que a criança cresça perante as experiências e a equipe hospitalar. Além da proteção que recebe da mãe, ocorrem, eventualmente, algumas interações que se constituem como facilitadoras da experiência da criança em relação à hospitalização: respondendo ao bem estar do corpo, brincando sozinha ou com outra criança, recebendo apoio de outros e recebendo visitas(15).

    As falas dos autores acima dão aporte para entender que, a presença da mãe na internação de seu filho, é, sem qualquer hesitação, um grande movente de um enfrentamento satisfatório da hospitalização e é também um otimizador da recuperação da criança frente à doença. Portanto, é muito valioso e apetecível destacar a importância desta presença que é prevista por lei. Contudo, não pode deixar de ser comentado que ainda existe casos em que a criança passa por privação, pois, algumas genitoras “desaparecem” do hospital, passando dias sem ir ao encontro do filho(20).

    É oportuno destacar ainda, em todo este contexto de importância familiar, o valor dos profissionais que cuidam da criança hospitalizada, que têm a tarefa de atender tanto a solicitação do enfermo bem como de seus acompanhantes, sendo outra missão maior ainda, que compete a estes, na falta de compromisso presencial dos acompanhantes, conferirem apoio, carinho e conforto aos hospitalizados, pois quando os pais estão ausentes ou por algum motivo não podem atender a criança, é imprescindível que a equipe de saúde possa fazê-lo(7).

Considerações finais

    Conclui-se, portanto, que o processo de hospitalização na vida de uma criança é encarado pelas mesmas como uma experiência traumática na qual a criança perde toda a autonomia e liberdade sobre ela mesma para viver sob outras regras. Sentimentos negativos, tal como a raiva, a angústia, o medo, a solidão, a carência (familiar, fraterna e ambiental) prevalecem dentro de si mesma, pois no primeiro momento as crianças não se adaptam a um ambiente cujo qual é totalmente desconhecido e inóspito para elas e sentem saudades daquilo que lhes faz falta: sua casa.

Referências

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  4. Chiattone HBC, Meleti MR. A psicologia no hospital. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003.

  5. Ferro FO, Amorim VCO. As emoções emergentes na hospitalização infantil. Rev Eletr Psicol. 2007;1(1):124-36.

  6. Collet N, Rocha SMM. Criança hospitalizada: mãe e enfermagem compartilhando o cuidado. Rev Latino-am Enferm. 2004;12(2):191-7.

  7. Crepaldi MA, Hackbarth ID. Aspectos psicológicos de crianças hospitalizadas em situação pré-cirúrgica. Rev Temas Psicol SBP. 2002;10(2):99-112.

  8. Angelotti G. Dor Crônica: aspectos biológicos, psicológicos e sociais. In: Camon VAA. Psicossomática e a Psicologia da Dor. São Paulo: Pioneira, 2001.

  9. Moreira MCN, Macedo AD. A construção da subjetividade infantil a partir da vivência com o adoecimento: a questão do estigma. Arq Bras Psicol. 2003;55(1):31-41.

  10. Helman CG. Cultura, saúde e doença. Porto Alegre: Artmed, 2007.

  11. Wong DL. Enfermagem pediátrica: elementos essenciais à intervenção efetiva. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 1999.

  12. Gomes GC, Erdmann AL. O cuidado compartilhado entre a família e a enfermagem à criança no hospital: uma perspectiva para sua humanização. Rev Gaúcha Enferm. 2005;26(1):20-30.

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  14. Oliveira NC, Mattioli OC. Hospitalização infantil: o brincar como o espaço de ser e fazer. XIX Encontro de Psicologia de Assis. Universidade Estadual Paulista, 2006.

  15. Ribeiro CA, Ângelo M. O significado da hospitalização para a criança pré-escolar: um modelo teórico. Rev Esc Enferm USP. 2005;39(4):391-400.

  16. Pinto JP, Ribeiro CA, Silva CV. Procurando manter o equilíbrio para atender suas demandas e cuidar da criança hospitalizada: a experiência da família. Rev Latino-am Enferm. 2005;13(6):974-81.

  17. Parcianello AT, Felin RB. E agora doutor, onde vou brincar considerações sobre a hospitalização infantil. Rev Barbarói. 2008;(28):147-66.

  18. Koerich CL, Arruda EN. Conforto e desconforto na perspectiva de acompanhantes de crianças e adolescentes internados em um hospital infantil. Texto Contexto Enferm. 1998;7(2):219-43.

  19. Baldini SM, Krebs VLJ. A criança hospitalizada. Pediatr (São Paulo). 1999;21(3):182-90.

  20. Lima MGS. Atendimento Psicológico a Criança no Ambiente Hospitalar. In: Benedittti C, Bruscato WL, Lopes SRA. A Prática da Psicologia Hospitalar na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo: novas páginas em uma antiga história. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.

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