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O corpo cartesiano e o corpo da complexidade:

tensões e diálogos sobre a educação escolar

El cuerpo cartesiano y el cuerpo de la complejidad: tensiones y diálogos en la educación escolar

 

*Licenciada em Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe, UFS

Membro do Grupo de pesquisa “Corpo e Governabilidade”

**Professor do Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Sergipe, UFS

Doutor em Educação pela Universidade Federal da Bahia, UFBA

Membro do Grupo de pesquisa “Corpo e Governabilidade”

***Professor do Departamento de Educação Física da Universidade de Brusque, Unifebe

Mestre em Ciência do Movimento Humano pela Universidade

do Estado de Santa Catarina – UDESC

Monara Santos Silva*

nara.codap@gmail.com

Fabio Zoboli**

zobolito@gmail.com

Adonis Marcos Lisboa***

adonislisboa1969@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Pautada numa epistemologia cartesiana desenvolvido a partir do século XVII a escola dá ênfase à mente (cérebro) e valoriza o trabalho intelectual em detrimento do trabalho manual e das atividades físicas – é desse modo que, por exemplo, a educação física é relegada ao status de “disciplina menor”, quando em confronto com áreas do conhecimento. O homem que o cartesianismo apresentou ao mundo não é o homem concreto/real, mas tão somente um viés epistêmico que por sua vez é composto por outros esquemas construídos pelas técnicas de cada ciência. Dar centralidade ao corpo pautado num viés mais holístico no processo educativo – pautado no paradigma da complexidade – é uma tarefa fundamental da escola a fim de recuperar a corporeidade como elemento essencial na formação humana.

          Unitermos: Educação Escolar. Corpo e mente. Prática pedagógica.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 190, Marzo de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A dualidade corpo-mente e o paradigma da complexidade norteiam as investigações do seguinte trabalho com foco na educação do corpo no ambiente escolar. A cisão corpo-mente governa e serve como fundamento lógico para o tratamento do ser humano como se ele fosse formado de peças separadas a serem exploradas por diferentes grupos de interesse. Com esta fragmentação perde-se a visão da inteireza, do conjunto e de suas interconexões. A partir disso, o texto visa apresentar a riqueza da complexidade humana e como a mesma é tratada principalmente no ambiente escolar (local onde crianças e jovens passam grande parte de suas vidas).

    Com isso pretendemos contribuir para uma reflexão sobre a prática pedagógica, tentando abrir caminhos que possam impulsionar rumo a uma educação voltada à complexidade humana. Ser, este, que possui mútuas inter-relações determinantes de sua estrutura dentro de uma rede – todas elas interligadas.

    O texto desenvolve-se em três segmentos: o cartesianismo-newtoneano e suas influências na escola; o ser humano: um ser complexo e o ser complexo e a Educação Escolar.

    Na primeira parte do escrito destacamos principalmente como o método cartesiano passou a influenciar os conhecimentos difundidos que traçavam a cisão entre corpo e mente, tornando o corpo um objeto manipulável e alvo de poder. Todavia, é importante salientar que mesmo com essa “disciplinação” que o cartesianismo impôs ao ser humano, este também trouxe grandes avanços à ciência e a tecnologia, instituindo um mundo de possibilidades de aperfeiçoamento quase ilimitadas, no que se refere às habilidades corporais, à conservação da saúde e ao prolongamento da vida. A escola como parte integrante da sociedade também recebeu influências cartesianas em diversos aspectos, transformando-a em um espaço onde a ênfase à mente passou a ser a única responsável pela aprendizagem.

    O segundo segmento do texto apresenta o ser humano como um ser complexo destacando-o não apenas na sua constituição como uma unidade física, mas subordinado a uma síntese dialética: “mente-corpo-espírito-natureza-sociedade” (SÉRGIO, 1999) e que diferentemente do dualismo cartesiano, corpo e mente, não estão separados, mas, antes disso formam uma unicidade – um “completo” indissolúvel. A complexidade precisa ser empregada como um pressuposto epistemológico com o intuito de superar o dualismo cartesiano que não só separa razão e emoção, mas também estigmatiza a relação de superioridade de um (mente) em detrimento do outro (corpo).

    A terceira e última parte do texto vem abordar algumas tensões e diálogos na perspectiva de se tentar romper com o paradigma cartesiano no contexto escolar. Para tal se propõe uma epistemologia pautada na complexidade humana onde o corpo é visto a partir de sua multiplicidade na unidade.

O cartesianismo-newtoneano

    O método cartesiano desenvolvido a partir de século XVII influenciou todo desenvolvimento científico. O racionalismo cartesiano fica explicitado no célebre aforisma de Descartes: “Penso logo existo”. Nesta perspectiva de pensamento, o corpo torna-se objeto de estudo e sua mente cartesiana toma distância e o analisa decompondo-o em partes, dissecando-o e esquematizando-o. Abstraiu-se o corpo de seu contexto e o configurou-se como partes de um todo. Sendo assim, todos os corpos eram iguais e o que caracterizava a individualidade de cada um era a mente pensante. Descartes introduziu o enfoque mecanicista na ciência, sendo que a sua metáfora que comparava o ser humano a uma máquina também é projetada para o universo por Isaac Newton (este por sua vez sistematizou e unificou o materialismo de Galileu, o empirismo e o racionalismo de Descartes).

    Com a visão mecanicista do ser humano apareceu o corpo analisado, generalizado, permitindo que fossem criadas as condições para o surgimento do corpo manipulado, modelado, treinado, enfim um corpo que obedece e se torna hábil. Descobriu-se o corpo como objeto e alvo do poder.

    O controle sobre o corpo vai exercer-se por meio da disciplinação, sendo que essa forma de disciplinar passa a ser o sentido da existência de muitas instituições sociais, tais como: Igreja, fábricas, prisões, hospitais, exército, “escolas”, dentre outras. Tais tecnologias tem com o objetivo de submeter e exercer um controle sobre o corpo, atuando de forma coercitiva sobre o espaço, o tempo e a articulação dos movimentos corporais. Por meio de tais práticas, deveria-se tirar o máximo de economia, eficácia e organização interna a fim de tornar os seus membros dóceis ao sistema.

    Assim, constata-se que ao longo do processo histórico da civilização ocidental, a crescente ação de um poder que atua sobre o corpo e a mente, alienando e domesticando ambos, diminui as potencialidades de um ser humano ao determinar formas específicas de comportamento. Enquanto, por outro lado é importante lembrar que esta fragmentação que o cartesianismo fez com o ser humano também trouxe grandes avanços à ciência/tecnologia, criando um mundo de possibilidades de aperfeiçoamento quase ilimitadas no que se refere às habilidades corporais, à conservação da saúde e ao prolongamento da vida.

    Esta concepção mecanicista do mundo ainda continua a exercer uma enorme influência em nossa sociedade. A educação escolar como parte dela também recebeu influências em muitos de seus aspectos. Um exemplo é a fragmentação das disciplinas acadêmicas que impedem freqüentemente operar o vínculo entre as partes e o todo. Em relação a isto Morin (2000) alerta-nos dizendo que, de fato, a especialização (disciplinas) impede tanto a percepção do global – que ela fragmenta em parcelas – quanto do essencial que ela dissolve. Impede até mesmo tratar corretamente os problemas particulares, que só podem ser compostos e pensados em seu contexto. Os problemas essenciais nunca são parcelados e os problemas globais são cada vez mais essenciais, por isso se faz necessário o exercício do conhecimento pertinente no próprio seio de nossos sistemas de ensino.

    A escola também dá ênfase à mente (cérebro) como a única responsável pela aprendizagem. Neste sentido também valoriza o trabalho intelectual em detrimento do trabalho manual e das atividades físicas. É desse modo que a Educação Física é relegada ao status de “disciplina” menor, quando comparada às outras “disciplinas”, pois a escola (na sua maior parte) parece ainda acreditar ser possível desconsiderar o “corpo” no processo de aprendizagem.

    Parece que a causa básica do problema acima é devido ao enfoque tanto pedagógico quanto prático da educação escolar de fundamentar-se, quase que exclusivamente, num contexto cartesiano-newtoneano. Afastando-se, assim, cada vez mais da natureza ecológica, cósmica e espiritual do homem.

    Porém, já se percebe que há uma crescente consciência de que se encontram no atual sistema educacional, aspectos bastante limitados. Com efeito, embora ele nunca tenha sido completo, parecia que o “mapa da aprendizagem” (também fruto do cartesianismo) tinha seus pontos já identificados. Todavia neste início de século XXI já visualizamos que essa situação, ao que parece vem se modificando – mesmo de modo lento e prec. Os que haviam sido considerados os principais pontos e marcos para compreensão do mundo mostraram ser apenas descrições detalhadas de partes de um conjunto ainda muito maior.

    Para Willer apud Brito (1996), grande parte destas mudanças se deram por motivo da revolução quântica. Esta provocou uma transformação brusca e de grande amplitude que abalou não somente o seu próprio fundamento – o dualismo sujeito/objeto – mas também acabou por provocar uma revolução social. Isto ocorreu na medida em que, ao descartar a divisão ilusória sujeito/objeto, onda/partícula, mente/corpo, mental/material, ao mesmo tempo abandonando o dualismo espaço/tempo, energia/matéria e até espaço/objetos, se diminui a solidez dos alicerces em que se sustentavam as ciências ocidentais e a própria filosofia ocidental que é em larga medida a filosofia dos dualismos. Por conta desta filosofia, o homem de hoje, desde a pré-maternidade até seu último momento, tem sua complexidade como indivíduo entregue aos técnicos, especialistas em fragmentos, e em conseqüência disso perde-se o encantamento vindo da inteireza.

O ser humano: um ser complexo

    O homem que o cartesianismo apresentou ao mundo não é o homem concreto, o homem real, mas tão somente um esquema, que por sua vez é composto por outros esquemas construídos pelas técnicas de cada ciência. O homem é, ao mesmo tempo, o cadáver dissecado pelos anatomistas; a consciência que observam os psicólogos e os grandes mestres da vida espiritual; as substâncias químicas que compõem os tecidos e os humores do corpo; o complexo conjunto de células e de líquidos nutritivos cujas leis e associações estudam os fisiologistas. É esse conjunto de órgãos, sentimentos e consciência que se alongam no tempo que nós educadores precisamos procurar levar ao seu melhor desenvolvimento.

    O corpo neste trabalho é pautado no conceito de Freire (1991, p. 30) que o apresenta da seguinte forma:

    Sensível é o nome com que vimos batizando o corpo aqui. Inteligível é o nome do intelecto, sendo que, neste estudo, é também o nome do corpo. Ou seja, sensível é o segundo nome do inteligível, assim como inteligível é o segundo nome do sensível. O corpo é o sensível e o inteligível. Na nossa tradição intelectual, o corpo não é tratado como inteligível e o espírito não é tratado como sensível. Temos passado tanto tempo pensando assim que se tornou difícil reconhecer mesmo o sensível do corpo ou o inteligível do espírito (p. 30)

    O corpo nos permite sentir, pensar e agir. O sentir, o pensar e o agir, caracterizam a existência e a vida humana, essa tríade, no entanto, não se dá de modo fragmentado e linear, mas sim, através de uma rede complexa de interações que se dão na dimensão corporal humana. Pelo corpo eu percebo, pelo corpo eu analiso e por meio dele eu coexisto no mundo.

    O homem – enquanto ser que pensa, sente e age – se relaciona com o meio externo, ao mesmo tempo em que esta exterioridade internaliza-se pautada num movimento dialético. A apropriação do externo se confunde com a intencionalidade subjetiva que o ser deposita no ato de externar. Assim a tríade: sentir, pensar e agir, só pode ser compreendida como uma rede em constante movimento e inter-relação.

    Nosso ser e estar no mundo enquanto corpo é permeado por uma infinita teia de signos e linguagens. Ao mesmo tempo em que nos apropriamos desta teia, nós também a construímos. Esse jogo tensivo de apropriação e construção é mediado pela ação da cultura, logo podemos afirmar que é através do corpo que o humano se apropria da cultura.

    A estrutura biológica do homem possibilita-lhe sentir, pensar e agir, mas o seu estar e interagir com o mundo (cultura) dá os sentidos e significados de seus sentimentos, pensamentos e ações, (re)criando e (re)construindo novos universos e novas anatomias.

    Dentro desta complexidade, ao contrário do dualismo cartesiano, corpo e mente não estão separados, mas, antes disso formam uma unicidade, um todo indissolúvel. Existem entre eles vínculos íntimos. As expressões de nosso corpo tanto nas suas atitudes e movimentos, como na sua respiração e voz, dependem diretamente da psique, ao mesmo tempo em que as manifesta. Prova disso é que toda perturbação modifica não apenas o estado corporal, mas também o comportamento e o estado de consciência da pessoa.

    Seguindo esta linha de pensamento, Freitas (1999) nos coloca que o homem é seu corpo e, quando age no mundo, age como unidade. Nessa ação não se separam o movimento do braço do piscar dos olhos, dos batimentos cardíacos, dos pensamentos, dos desejos, das angústias. Igualmente, nele não se vê apenas a atuação determinante e massificadora das ideologias - da mesma forma como o homem não pode ser reduzido às suas pulsões inconscientes, tampouco seu comportamento pode ser reduzido às determinações ideológicas.

    Na ação humana está a marca de um ser que interage segundo os seus desejos. Charlot (2000) chega a afirmar que o desejo é uma condição básica do sujeito. Esse não é apenas um integrante de uma classe social, inserido nas relações histórico-culturais de seu meio: ele é um individuo, um ser único e o único capaz de testemunhar sua própria existência, mergulhando na complexa rede de inter-relação a partir da qual constrói sua vivência singular.

    Ao concentrar-se em partes do corpo, o cartesianismo-newtoneano reduz a corporeidade a um funcionamento mecânico do ser humano, não podendo mais ocupar-se com o bem-estar, a sensibilidade, a afetividade e a emoção do mesmo. Este processo foi tornando o homem independente da comunicação empática do corpo com o mundo, reduzindo sua capacidade de percepção sensorial e ensinando-lhe, simultaneamente, a controlar os afetos, transformando a livre manifestação dos sentimentos em gestos e expressões formalizadas. Porém já falamos anteriormente de sua importância, principalmente para o campo cientifico.

    Keim (2001), discorrendo sobre a complexidade nos mostra que no cosmo todos os fenômenos se interpenetram e de certa forma interagem, formando uma ampla rede na qual cada ato interfere nos demais. Tudo se apresenta como uma rede muito ampla que se auto- organiza continuamente e de forma ininterrupta. Conhecer essa complexidade dentro da essencialidade do outro é fator importante a qualquer prática social.

    A complexidade rompe com o modelo cartesiano, pois não há mais distinção entre a essência, entre a razão e o sentimento. O cérebro não é o órgão da inteligência, mas o corpo todo é inteligente: nem o coração, a sede dos sentimentos, pois o corpo inteiro é sensível. Para a complexidade o homem deixa de ter um corpo e passa a ser um corpo. É por meio do corpo que ele pode aprender, agir e transformar seu mundo; pode construir e recrear; pode planejar e sonhar. É como corpo que o homem surge, e é também como o corpo que ele morre.

O ser complexo e a educação escolar

    Assmann (1994) que menciona que por uma série de razões ligadas à crise conceitual e paradigmática da educação, deveríamos chegar ao acordo de que a corporalidade é a referência básica para poder falar seriamente de qualquer assunto na ética, na política, na economia e evidentemente na educação. O autor cita ainda que a corporeidade constitui a instância básica para qualquer discurso pertinente sobre sujeito e a consciência histórica.

    A atividade escolar é uma prática social que ocupa uma parte importante na vida do ser humano. È ponto fundamental deste processo educativo, a formação da consciência e a moralidade do aluno. A escola é o lugar onde se oportuniza – através das relações que aí ocorrem - a aprendizagem e a (re) construção de conhecimentos. É através do conhecimento que o indivíduo fundamenta seu comportamento e se relaciona com o mundo (natureza), com o outro e consigo mesmo.

    Percebe-se hoje nas escolas uma porcentagem muito alta de alunos que apresentam dificuldades no aprendizado, crianças com desinteresse total em relação aos estudos, pequenos seres que vêem neste ambiente um lugar desagradável. Isto tudo é em grande parte fruto desta metodologia cartesiana que se desenvolveu na escola. É só refletirmos sobre alguns aspectos da escola e seu contexto que já nos surgem vários questionamentos: qual é o lugar que o corpo ocupa na escola? E o ser humano complexo? Será que o aluno é só uma mente que precisa ser “domesticada” para viver numa sociedade cheia de regras?

    Frente a esta realidade Morin (2000, p. 15) nos aponta que:

    O ser humano é a um só tempo físico, biológico, psíquico, cultural, social, histórico. Esta unidade complexa da natureza humana é totalmente desintegrada na educação por meio das disciplinas, tendo se tornado impossível aprender o que significa ser humano. É preciso restaurá-la, de modo que cada um, onde quer que se encontre, tome conhecimento e consciência, ao mesmo tempo, de sua identidade complexa e de sua identidade comum a todos os outros humanos.

    É preciso ensinar os métodos que permitam estabelecer as relações mútuas e as influências recíprocas entre as partes e o todo em um mundo complexo. Edgar Morin (2000) nos alerta da necessidade de promover o conhecimento capaz de apreender problemas globais e fundamentais para nele inserir os conhecimentos parciais e locais. O conhecimento das informações, ou dos dados isolados é insuficiente, por isso se faz necessário situar as informações e os dados em seu contexto para que adquiram sentido.

    Charlot (2000) também nos orienta mencionando que várias disciplinas podem contribuir para uma teoria da relação com o saber. Cada uma deverá escolher sua abordagem, mas todas devem ter presente a totalidade dos dados do problema. Elas devem levar em conta o sujeito e a sua relação com os outros bem como seus próprios desejos. Deve ser construída imbricada em uma história articulada com a de uma família que vive numa sociedade que inscreve suas próprias relações.

    As escolas precisam se constituir em espaços onde possam se desenvolver técnicas que trabalhem mais a complexidade humana. Para uma educação voltada à complexidade será preciso construir uma estrutura de conjunto a fim de integrar de forma lógica todos seus elementos e suas inter-relações. Nossos alunos carecem de práticas que trabalhem e desenvolvam sua complexidade humana a fim de ajudá-los a serem capazes de descobrir, desenvolver e extrair o potencial que há em si para usá-lo a serviço de sua vida e de sua sociedade. Trabalhar o aluno neste sentido é fazer com que ele atinja o ser total, o ser que pensa, age e se comunica; um ser que aprende e vive de forma mais consciente e por conseqüência menos alienada. Ensinar o aluno numa perspectiva da complexidade é considerar nesta pedagogia a indissociabilidade entre o intelectual e o corporal, isto é, que a educação verdadeira só pode ser de corpo inteiro.

    Faz-se necessário na escola, trabalhar o aluno dentro de uma metodologia que atinja sua complexidade humana para que sua educação seja realmente um suporte sólido para a vida fora desta instituição, bem como na tentativa de aumentar os subsídios que o despertem para o desejo de aprender e principalmente de se auto-conhecer como indivíduo, como fruto de uma sociedade (e suas ideologias) e como membro pertencente a uma natureza.

    Frente a esta realidade, Arroyo (2002) afirma que dar ao corpo centralidade no processo educativo é uma tarefa fundamental da escola e desafia os profissionais da educação básica a buscar estratégias para recuperar a corporeidade como elemento da formação humana.

    Afinal, será objetivo dos profissionais da educação, desempenhar uma função humanizadora que vise atingir os valores humanistas transcedentais da auto-expressão e auto-realização?

Considerações finais

    A ênfase dada à razão pela filosofia cartesiana pode ajudar a explicar muitos dos acontecimentos de nossa sociedade. Neste sentido o texto procurou relacionar o cartesianismo-newtoneano com a escola. Percebe-se que em tal entidade reina o tratamento a um ser humano fragmentado – corpo/mente. Fica evidente que na escola o aluno recebe diariamente estímulos que privilegiam a mente em detrimento a toda uma complexidade humana, como se esta mente não fizesse parte de um corpo.

    O texto ao apresentar um ser complexo, objetivou elucidar alguns pontos buscando uma reflexão da prática pedagógica hoje vigente nos nossos sistemas escolares. Procurou dar subsídios para mostrar a importância de se trabalhar a complexidade do humano dentro do ambiente escolar a fim de melhorar a “construção” que o mesmo objetiva ao freqüentar tal entidade.

    Por que dar ênfase a uma educação voltada ao ser humano complexo? O ser humano é um conjunto, por que trabalhá-lo em partes? Por que enfatizar na escola a fragmentação, desconsiderando a riqueza das relações e interconexões?

    Para nós fica claro que o homem é um ser historicamente construído, ou seja, possui uma cultura. Como indivíduos e como sociedade somos capazes de (re)construir a realidade da qual vivemos. Através de nossa prática podemos transformar ou manter esta realidade. No que tange à educação voltada à complexidade humana o texto nos quer lançar este desafio de mudança.

Referências

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