Influências dos megaeventos esportivos na Educação Física La influencia de los megaeventos deportivos en la Educación Física |
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Graduada em Educação Física pela Universidade Estadual do Centro-Oeste/UNICENTRO Mestranda em Educação/UNICENTRO |
Crislaine Bruna Traple (Brasil) |
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Resumo O presente artigo busca discutir quais as implicações que o esporte de alto rendimento e a realização de megaeventos esportivos traz para a Educação Física, seja no âmbito escolar ou fora dele. Observando-se que os meios de comunicação a partir da transmissão do esporte de alto rendimento, influência diretamente na prática do esporte tanto no âmbito escolar, como fora dele. Unitermos: Megaeventos. Esporte. Educação Física.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 190, Marzo de 2014. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O Esporte é uma manifestação sociocultural, que se encontra presente na vida dos indivíduos, sendo este praticante do mesmo, ou telespectador. Para Marchi citado por Marques et al (2007):
[...] o esporte pode ser caracterizado como um fenômeno heterogêneo em processo de constituição, que apresenta, numa perspectiva histórica, continuidades e transformações que o afirmam como um objeto passível de interpretações à luz de diferentes olhares.
Podemos afirma que o fenômeno esporte está em constante transformação de acordo com as exigências da sociedade e do sistema capitalista. Na atualidade constam-se dois tipos de esporte: o de alto rendimento e o de lazer. Este último está fortemente influenciado pelo primeiro, estando ambos ligados ao mercado esportivo, no qual o esporte se encontra ligado ao desenvolvimento econômico.
Na contemporaneidade observamos que o esporte se encontra fortemente ligado ao sistema capitalista. O esporte de alto rendimento ou esporte espetáculo se apresenta como um gerador de capital, se tornando o esporte uma das opções de manutenção e ampliação da produção capitalista. Segundo Penna (2013, p. 211).
[...] o mercado esportivo também vem servindo às necessidades de circulação de grandes massas de capital que passam a operar pelo processo de combinação e/ou de migração para novos espaços e fronteiras nacionais, além de distintos setores do mercado mundial. Haja vista a ampliação do setor de serviços, especificamente ligado à produção mundial dos megaeventos.
Além disso, o esporte se apresenta nos discursos políticos, como um meio para se instaurar a “paz no mundo”, segundo Penna (2013) o esporte se transformariam em uma poderosa ferramenta para prevenção de conflitos, sendo estes no nível global, como em diferentes países e comunidades. Portanto o esporte teria a sua imagem associada à idéia da tolerância entre as diversidades como gênero, etnia, raça, etc.; buscando assim o consenso e a paz mundial. Utilizando-se do esporte como uma forma de mascarar os problemas sociais.
A partir do exposto acima, em relação ao esporte ligado ao sistema capitalista e os discursos políticos como forma de resolver os problemas sociais, somos levados a nós questionar quais as implicações que o esporte de alto rendimento e a realização de megaeventos esportivos traz para a Educação Física, seja no âmbito escolar ou fora dele.
Discussão
Abriremos nossa discussão, a partir da definição do termo megaeventos esportivos, cujo qual para Souza e Marchi (2010, p, 246) entende-se por megaevento esportivo:
[...] a conjuntura material e simbólica, o que inclui a mobilização de muitos agentes e estruturas dos mais distintos campos sociais (esportivo, econômico, político, midiático etc.), constituída em torno do esporte fazendo do mesmo tanto um meio quanto um fim para reunir adeptos e consumidores em escala global e de modo a romper com as fronteiras culturais e econômicas que se impõe em termos de nação, região e grupos, ou no mínimo, imprimir novos sentidos e dinamismos as mesmas.
Desta forma, fica claro que por trás das realizações de megaeventos esportivos existem inúmeros interesses, sejam estes relacionadas à economia do país, a política, a mídia, etc.; gerando assim capital para as mesmas. Em relação ao Brasil, este está preste a realizar dois megaeventos, o primeiro a Copa do Mundo em 2014, e os Jogos Olímpicos em 2016, os quais são alvo de inúmeras críticas devido o alto investimento de recursos públicos nestes eventos. Segundo Tavares (2011) é comum nos depararmos todos os dias nos meios de comunicação, nos discursos políticos e de empresários com o termo megaeventos, mas também se tornou comum entre os indivíduos o uso de termologia. O que observa-se é um misto de admiração, e um espanto em relação às críticas dos gastos de recursos públicos investidos nesses eventos.
Isto porque a evolução do marketing esportivo transformou os Jogos num megaevento empresarial, um empreendimento efêmero, mas enormemente lucrativo e totalmente inserido na economia política global, algo bem distante da competição limpa de interesses políticos e comerciais, voltada ao engrandecimento da cultura atlética e educação do caráter, como preconizava a tradição do ideal olímpico (MASCARENHAS, 2012. p. 47).
Contudo nota-se nos discursos das autoridades governamentais, a argumentação e previsões relacionadas à geração de empregos e renda, projeção internacional do país, aumento da indústria do turismo e a melhoria da qualidade de vida da população (TAVARES, 2011). O que se questiona é que um país com tantas “deficiências” principalmente no sistema de saúde e educação está investindo bilhões vindos dos recursos públicos na construção de estruturas para a realização desses dois megaeventos esportivos. Para Mascarenhas (2012, p. 51) “[...] o que se organizará sob a aparência do espetáculo esportivo é um verdadeiro balcão de negócios”. Contudo observa-se que o esporte está ligado diretamente ao lucro, seja este dos meios de comunicação ou das empresas patrocinadoras. Para Penna (2013, p.210)
[...] o fenômeno esportivo contemporâneo integrado à manutenção de relações sociais cada vez mais alienadas e hedonistas, sob as quais se forjam as contradições e a irracionalidade humana que tanto têm contribuído com o processo de produção e reprodução capitalista.
Outro ponto de análise é a implicação que a realização desses megaeventos esportivos vem trazendo para a Educação Física. Segundo Mascarenhas (2012, p. 54) “Em tempos de Jogos, são recorrentes os discursos em defesa da valorização da Educação Física”. Devido esta estar ligada diretamente com o esporte. Observa-se atualmente uma valorização não somente do Professor de Educação Física, aquele que se encontra no ambiente Escolar, mas também do Profissional de Educação Física, o qual se encontra fora do ambiente Escolar. Apresentando-se a Educação Física como a responsável pelo desenvolvimento do esporte, desde sua base até o alto rendimento. Para Bracht e Almeida (2003, p. 94).
[...] a retórica presente no programa governamental reedita um discurso há muito presente na EF brasileira, qual seja, a retomada da idéia da pirâmide esportiva, subordinando, mais uma vez, o desporto escolar aquilo que é de interesse do esporte de alto rendimento, tornando-se perceptível o corte, já denunciado, da perda do projeto político-pedagógico da EF para o esporte de rendimento. Em outras palavras, a subordinação da EF à política esportiva.
Contudo pode-se observar que os programas governamentais vêem a Educação Física Escolar como o lugar para formação de atletas. Para Mascarenhas (2012, p. 55) “O que está no escopo da ambição olímpica do governo brasileiro, na verdade, é a massificação da prática esportiva a partir do ambiente escolar, e não propriamente a qualificação da disciplina pedagógica Educação Física”. Ocorrendo assim um desprezo em relação aos demais conteúdos da cultural corporal de movimento, presente nas Diretrizes Curriculares da Educação. As aulas de Educação Física Escolar, não é lugar de forma atletas, mas sim alunos críticos em relação à cultura corporal de movimento. Pensando o esporte no âmbito escolar, o mesmo se apresenta como uma manifestação cultural do movimento e por meio da sua prática os alunos estarão aprendendo a se relacionar com o seu corpo, não estando o mesmo apenas ligado à performance ou seja a busca pela técnica. Desta forma busca-se com o esporte na escola o desenvolvimento de indivíduos que possuam um olhar crítico em relação ao seu corpo e as manifestações da cultura, compreendendo assim os sentidos e significados do mesmo na sociedade. Diante disto, devemos compreender as técnicas como movimentos construídos historicamente, sendo assim importante a transmissão aos alunos, sendo a mesma um meio para a aprendizagem do esporte, não sendo este apenas pautado na técnica visando o alto rendimento.
Deste modo, os objetivos da Educação Física devem estar ligados aos objetivos da Escola e não de políticas e interesses transitórios e externos, como os megaeventos esportivos. Não podendo ser confundido a Educação Física com o Esporte, sendo compreendido que este é apenas um de seus elementos, junto com a ginástica, o jogo, a dança, a luta, dentre outras práticas corporais produzidas pela humanidade (MASCARENHAS, 2012).
Vemos na realização dos megaeventos esportivos no Brasil um meio para discussões dentro das aulas de Educação Física sobre o esporte e as manifestações culturais, não sendo assim apenas telespectadores passivos, que apenas absorve as informações passadas pelos meios de comunicação, mas sim indivíduos críticos que recebem informações e buscam compreender os sentidos e significados do que se tem sido transmitido pela mídia.
Considerações finais
Em suma as realizações de megaeventos esportivos trazem inúmeras implicações a Educação Física, principalmente na área Escolar, pois observa-se no programa governamental a retomada ao discurso da pirâmide esportiva. Alimentando-se a idéia da formação de atletas a partir das aulas de Educação Física Escolar, sendo deixado de lado os demais conteúdos da disciplina e as discussões socioculturais em relação às mesmas. De fato existe uma maior valorização dos profissionais e professores da Educação Física em períodos de megaeventos esportivos, mas se faz necessária uma posição crítica em relação aos interesses governamentais, compreendendo assim os discursos políticos em relação à área.
Conclui-se ainda que os meios de comunicação a partir da transmissão do esporte de alto rendimento, influência diretamente na prática do esporte tanto no âmbito escolar, como fora dele. O esporte se tornou uma mercadoria, que se encontra fortemente ligada ao capitalismo, além de estar associado como uma forma de resolver os problemas sociais de um país.
Referências
BRACHT, V.; ALMEIDA, F. Q. A política de esporte escolar no Brasil: a pseudovalorização da Educação Física. Rev. Bras. Cienc. Esporte. Campinas. v. 24, n. 3, maio, 2003.
MARCHI JR., W. Bourdieu e a teoria do campo esportivo. In: PRONI, M. W.; LUCENA,R. F. (Orgs.). Esporte: história e sociedade. Campinas: Autores Associados, 2002. p. 77-111.
MASCARENHAS, F. Megaeventos esportivos e Educação Física: alerta de tsunami. Movimento. Porto Alegre. v. 18, n. 01, jan/mar, 2012.
PENNA, A. Megaeventos esportivos no Brasil: raias abertas para a corrida do capital. O Social em Questão. Ano XVI, n 29, 2013.
SOUZA, J. ; MARCHI, W. J. Os “legados” dos megaeventos esportivos no Brasil: algumas notas e reflexões. Motrivivência. Ano XXII, n. 34, jun. 2010.
TAVARES, O. Megaeventos Esportivos. Movimento. Porto Alegre. v. 17, n. 3, jul/set. , 2011.
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