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O papel do exercício físico na melhora da 

qualidade de vida no diabetes mellitus tipo 2

El papel del ejercicio físico en la mejora de la calidad de vida en diabetes mellitus tipo 2

 

Graduando em Educação Física

pela Universidade Federal do Ceará

(Brasil)

Abraham Lincoln de Paula Rodrigues

lincoln7777@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O diabetes mellitus tipo 2 (DM2) é uma doença crônico-degenerativa, cuja prevalência vem aumentando de maneira rápida e continuamente nas últimas décadas em todo o mundo, adquirindo características epidêmicas em vários países, como por exemplo, o Brasil. Segundo a Organização Pan-americana da Saúde (OPAS), uma epidemia dessa doença está em curso, em 1985, eram 30 milhões de pacientes em todo mundo; em 2000 foram notificados 177 milhões de casos, devendo esse número aumentar para 370 milhões até 2030. Neste estudo foram discutidos alguns mecanismos que são ativados e/ou estimulados em virtude da prática sistemática de um programa de exercício físico para o paciente com DM2, e que repercutem diretamente na sua qualidade de vida, estando ligados a um aumento na expectativa de vida do diabético na medida em que retardam os efeitos de deterioração ocasionados pela doença e atuam no controle de alguns fatores de risco associados ao diabetes. Este estudo de revisão teve como objetivo atualizar acerca do papel do exercício físico na melhora da qualidade de vida no DM2. Percebeu-se a relação direta entre o exercício físico e a prevenção e controle do DM2. A adoção de um programa de exercício físico traz inúmeros benefícios aos pacientes diabéticos, sendo importante tanto na prevenção da doença, quanto no tratamento dos indivíduos diabéticos do tipo 2. O estudo mostrou também a importância no controle de outras variáveis como a obesidade, o stress e o sedentarismo visando prevenir o aparecimento do DM2, assim como melhorar a qualidade de vida dos pacientes com DM2.

          Unitermos: Diabetes Mellitus 2. Exercício físico. Qualidade de vida.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 190, Marzo de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O diabetes mellitus tipo 2 (DM2) é uma doença crônico-degenerativa, cuja prevalência vem aumentando de maneira rápida e continuamente nas últimas décadas em todo o mundo, adquirindo características epidêmicas em vários países, como por exemplo, o Brasil. Segundo a Organização Pan-americana da Saúde (OPAS), uma epidemia desta doença está em curso, em 1985, eram 30 milhões de pacientes em todo mundo; em 2000 foram notificados 177 milhões de casos, devendo esse número aumentar para 370 milhões até 2030 (WILD et al.,. 2004).

    Caracteriza-se por hiperglicemia, causando alterações no funcionamento endócrino que atingem principalmente o metabolismo dos carboidratos (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2003). Conforme dados do Ministério da Saúde, durante o ano de 1997, a taxa de mortalidade por DM2 no Brasil foi de 17,24%, representando 27.515 indivíduos falecidos especificamente por DM2. Com isso, acredita-se que medidas de prevenção das complicações do DM2, dentre elas o exercício físico, podem reduzir os custos no seu tratamento e melhorar a qualidade de vida de seus portadores (MELLO et al., 2003).

    O tratamento do DM2 pode ser realizado através de dieta, hipoglicemiantes orais e/ou insulina e a prática regular de exercícios físicos. Dentre os exercícios recomendados, os exercícios aeróbios são os mais indicados, talvez devido ao fato de haver mais estudos (NUNES, 1996; MARTINS e DUARTE, 1998; ALVES, 2000; SILVA e LIMA, 2002; PASSOS et al., 2002). Entretanto, sabe-se que a procura pelos exercícios de força vem aumentando significativamente, podendo ter muitas aplicações, as quais variam de acordo com os objetivos, dentre elas: preparação de atletas; estética; reabilitação e desenvolvimento de aptidão física relacionada à saúde (SANTARÉM, 1997).

    Segundo Maiorana et al. (2002), tanto os exercícios aeróbios como exercícios resistidos com pesos, podem ter efeito benéfico no tratamento do DM2, entretanto, os processos ocorrem através de mecanismos diferentes. A prática regular de exercício físico traz vários benefícios para o paciente diabético, como uma melhora na musculatura esquelética, que aumenta a eficiência no uso da energia. aumenta a concentração de enzimas mitocondriais nos miócitos, assim como gera o desenvolvimento de capilares musculares (HENRIKSSON, 1992). Além disso, o exercício físico age no processo de translocação dos transportadores de glicose (GLUT-4), esta ação parece justificar, ao menos em parte, os benefícios observados na sensibilidade insulínica no miócito (MCAULEY et al., 2002).

    Portanto, percebe-se uma relevância na incorporação do exercício físico na vida nos pacientes diabéticos tipo 2, pois, hoje sabemos que o estilo de vida é dos fatores que contribui para o desenvolvimento da doença. Neste estudo foram discutidos alguns mecanismos que são ativados e/ou estimulados em virtude da prática sistemática de um programa de exercício físico orientado para o paciente com diabetes tipo 2, e que repercutem diretamente na sua qualidade de vida, estando ligados a um aumento na expectativa de vida do diabético na medida em que retardam os efeitos de deterioração ocasionados pela doença e atuam no controle de alguns fatores de risco associados ao diabetes. O objetivo do estudo foi atualizar acerca da importância da prática do exercício físico no DM2, para tanto, foi necessário caracterizar os indivíduos de risco e os acometidos pela doença, levando-se em conta, principalmente, os seus hábitos, os seus costumes e os fatores de risco associados ao seu estilo de vida.

Metodologia

    O estudo caracteriza-se como uma revisão de literatura. A pesquisa foi realizada em bases de dados eletrônicas e periódicos, através de busca específica do tema. Foram incluídos cerca de dezenove artigos de várias áreas de conhecimento da saúde (Fisioterapia, Medicina, e Educação Física), das seguintes bases de dados eletrônicas: Scielo, Google Acadêmico e PubMed. Os artigos selecionados deveriam apresentar os seguintes critérios de inclusão: data de publicação a partir do ano de 2005; artigos experimentais e/ou artigos de revisão de literatura publicados em periódicos cuja qualificação mínima no qualis fosse B2. Foram utilizados os seguintes termos para busca dos artigos: diabetes; dieta e diabetes e atividade física e diabetes; fatores de risco no diabetes. Em seguida foi realizada uma análise crítica e sistemática dos conteúdos presentes em cada estudo. Desta forma foi possível a escolha e a ordenação dos aspectos mais importantes de cada artigo científico.

Relação entre stress e o diabetes mellitus tipo 2

    O stress é composto por um conjunto de reações psicológicas e físicas geradas pelo ser humano em resposta a evento que ameace seu equilíbrio corporal (LIPP, 2004). A existência de relação entre o stress e mediadores químicos como cortisol, catecolaminas, glucagon, renina e hormônio do crescimento no desenvolvimento de patologias esta descrita na literatura (BLACK, 2003), em que o estresse e apontado como possível causador de obesidade visceral, síndrome metabólica e intolerância a glicose, devido à elevação de produção dos hormônios envolvidos na resposta ao stress.

    Torna-se importante lembrar que as mudanças nos hábitos alimentares, bem como a necessidade do uso de medicação e da pratica de exercício físico representam um fator critico na vida de pessoas com DM2, sendo muitas vezes reconhecido como fato muito difícil de ser realizado (PERES, FRANCO e SANTOS, 2008). Assim, as debilidades de adaptação às demandas são freqüentemente motivadas pela dificuldade de conviver com as necessidades do tratamento, sendo que estas sensações podem ser fontes de desconforto emocional e sofrimento, dificultado a realização adequada dos cuidados propostos, o que por sua vez, acrescenta conflitos e tensões ao viver cotidiano (SILVA, 2001).

    Segundo Samuel Hodge et al. (2000) o controle glicêmico pode ser influenciado pelo aumento da produção de cortisol bem como por alterações no autocuidado. Estas pessoas podem vivenciar sentimentos de incapacidade ou de desmotivação para o tratamento e controle da doença, passando a fumar mais, diminuir as atividades físicas, não realizar a dieta adequadamente, não fazer uso adequado de medicação ou ainda, não efetuar o controle de glicemia como o recomendado (LLOYD, SMITH e WIEGNGER, 2005).

    Fica evidenciado que o stress ao qual o organismo é submetido ao longe da vida, contribui para o surgimento de algumas doenças, dentre elas o DM2. Esse fator pode estar associado à elevação na concentração de hormônios produzidos em resposta ao estresse, seja ele físico social ou emocional. Além disso, as mudanças necessárias no estilo de vida do paciente diabético sejam elas, alimentares, medicamentosas e o incremente de exercício físico na sua rotina de vida, podem ser fatores estressantes ao indivíduo, pois geralmente são medidas que vão de encontro aos seus hábitos e costumes anteriores a doença, dificultando assim o controle glicêmico no paciente diabético.

Associação entre obesidade e o diabetes

    A obesidade, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS, 1998) é considerada um problema de saúde pública que leva a sérias conseqüências sociais, psicológicas e físicas, sendo associada ao maior risco morbimortalidade por enfermidades crônicas não transmissíveis, tais como o diabetes. A ocorrência de três ou mais morbidades é conceituada como síndrome metabólica, que é caracterizada pelo grupamento de fatores de risco cardiovascular, como hipertensão arterial, resistência insulínica, hiperinsulinemia, intolerância à glicose ou DM2, obesidade central e dislipidemia (CIOLAC e GUIMARÃES, 2004).

    O grupamento da obesidade tóraco-lombar, tolerância à glicose diminuída, hipertrigliceridemia e hipertensão tem sido denominado por certos autores de “quarteto mortal”, que condiciona a síndrome plurimetabólica a elevado risco cardiovascular (GURRUCHAGA, 1997). A síndrome metabólica tem sido descrita como síndrome de resistência à insulina e está evidente que se trata do componente-chave da síndrome metabólica (JURCA et al., 2004).

    A obesidade gera resistência insulínica em nível pós-receptor. Isto provoca hiperinsulinemia compensadora, com sobreestímulo nas células beta do pâncreas, podendo provocar até mesmo falência destas e também insensibilidade dos receptores periféricos. Isto resulta, primeiramente, em tolerância à glicose diminuída, podendo progredir para o diabetes mellitus. A indisponibilidade das células em utilizar a glicose faz com que aumente a liberação de ácidos graxos do tecido adiposo, o que estimula a gliconeogênese hepática, dificultando ainda mais a homeostase da glicose sangüínea. A hiperinsulinemia resultante também reduz a excreção de sódio pelo organismo, o que provoca expansão do volume extracelular, aumentando o trabalho do coração e do sistema cardiovascular periférico. A insulina aumenta a atividade do sistema nervoso simpático, acarretando vasoconstrição, o que aumenta o risco cardiovascular (GURRUCHAGA, 1997).

    Medidas não farmacológicas, como o exercício físico, vêm sendo aplicadas aos pacientes com síndrome metabólica, visto que o sedentarismo e o baixo nível de atividade física têm sido considerados fatores de risco para a mortalidade prematura tão expressivos quanto o fumo e a hipertensão arterial (GURRUCHAGA, 1997). Portanto, os estudos comprovam cada vez mais a importância da incorporação de uma rotina de exercícios físicos no combate as doenças crônico-degenerativas, na busca por sair de uma condição de sedentarismo visando uma melhor qualidade de vida.

Treinamento de força e diabetes mellitus 2

    De acordo com o American College of Sports Medicine (ACSM, 2001) a dieta é o ponto central no controle de peso e no DM2. Contudo, muitas vezes a diminuição do peso pela dieta se deve à diminuição da massa magra, o que pode conseqüentemente reduzir a taxa de metabolismo basal (ALBRIGHT et al., 2001). Uma estratégia relativamente nova para o combate da resistência insulínica é o Treinamento de Força Progressivo (TFP), que é definido como um aumento progressivo da força exercida contra uma resistência, preferido quando o paciente diabético sofre de ulcerações nos pés (ALBRIGHT et al., 2001). Fraqueza muscular, diminuição da massa magra, diminuição da atividade da enzima glicogênio sintetase e mudanças no tipo de fibra do tipo 2 para tipo 1 são relatadas preceder a resistência insulínica, intolerância a glicose e DM2 segundo a American Diabetes Association (ADA, 2001).

    O TF pode agir sobre essas variáveis, amenizando os sintomas negativos provocados pela DM2. Segundo o ACSM (2001), recomenda-se o TFP duas vezes por semana, 8-10 exercícios envolvendo grupamentos musculares grandes, de no mínimo uma série de 10-15 repetições perto da fadiga. A ADA (2001) recomenda que sejam utilizadas cargas leves e alto número de repetições para o aumento da força em todos os pacientes com DM2. O TF com intensidade entre 60 e 100% de 1 RM solicita mudanças estruturais funcionais e metabólicas nos músculos, e maiores intensidades provocam maiores adaptações (BOULE et al., 2001). TFP tem mostrado melhorar a taxa de eliminação de glicose, aumentar a capacidade de estoque de glicogênio, aumentar receptores GLUT 4 no músculo, aumentar a sensibilidade à insulina e normalizar a tolerância à glicose (MILLER et al., 1994).

    De acordo com os fatos apresentados, o TF pode ser vantajoso para pacientes com DM2, entretanto é preciso que haja cuidado na prescrição dos exercícios para esse grupo de risco, pois ainda há casos em que outros aspectos deverão ser observados e respeitados, cada paciente implica cuidados particulares. Deve-se procurar evitar contrações isométricas e a manobra de Valsalva, porém a partir de estudos pode-se afirmar que o treino de força pode ser um componente importante no controle do tratamento e na prevenção do DM2.

Sedentarismo

    Estudos evidenciam que o aumento da atividade física reduz o risco de desenvolvimento de diabetes (BURCHFIELD et al., 1995). Estudo prospectivo acompanhou 5.990 indivíduos do sexo masculino por 10 anos e avaliou o desenvolvimento de diabetes. Observou-se que o risco relativo para o aparecimento de diabetes foi significativamente menor naqueles que realizavam atividade física regular, mesmo quando ajustado para hipertensão e história familiar (HELMRICH et al., 1991). Atividade física de moderada intensidade também reduziu a incidência de novos casos de DM2 em 900 finlandeses de meia idade durante seguimento de aproximadamente 4,2 anos: observou-se um risco relativo de 0,44 nos praticantes quando comparados aos sedentários (LYNCH et al., 1996).

    Portanto, os estudos realizados até o momento, evidenciam a importância na incorporação de um programa de exercícios físicos na prevenção da instalação do DM 2. Assim, recomenda-se combater o sedentarismo nos pacientes diabéticos, buscando uma mudança no estilo de vida, pois, sabe-se que a maioria deles, não tinha como hábito, praticar atividades físicas regularmente. A adoção de exercícios físicos de forma sistemática traz benefícios aos diabéticos, melhorando sua qualidade de vida na medida em que combate alguns das complicações ocasionadas em virtude do diabetes. Essas complicações podem levar a uma redução pronunciada na expectativa de vida desta população, estima-se que portadores de diabetes podem ter uma redução de aproximadamente 15 anos de vida em decorrência das complicações do diabetes, em sua maioria, cardiovasculares.

Considerações finais

    Através da realização desde estudo, percebeu-se a relação direta entre o exercício físico e a prevenção do DM2. A adoção de um programa de exercício físico traz benefícios aos pacientes diabéticos do tipo 2, sendo importante no controle e no tratamento dos portadores da doença. Em relação ao programa de exercício a ser adotado, o treinamento de força pode ser vantajoso para pacientes com DM2, porém, é preciso que haja cuidado na prescrição dos exercícios, cada indivíduo implica cuidados particulares. Deve-se procurar evitar contrações isométricas e a manobra de Valsalva.

    A obesidade é hoje, um problema de saúde pública que vem gerando sérias conseqüências, associada a um aumento no número de indivíduos sedentários. Faz-se importante o combate ao sedentarismo, através de incentivos a prática de exercícios físicos regulares, visando prevenir o surgimento do DM2. O exercício físico pode atuar no controle e no combate do stress, apontado como possível causador de obesidade visceral, síndrome metabólica e intolerância a glicose, devido à elevação de produção dos hormônios envolvidos na resposta ao stress.

    A prática de exercícios físicos traz benefícios para a saúde, melhorando o condicionamento cardiorrespiratório, estimulando a circulação sanguínea, diminui os níveis séricos de colesterol e açúcar, e com isso, pode prevenir doenças que podem ser adquiridas em decorrência de uma vida sedentária, como a hipertensão e o DM2. Recomenda-se a prática de atividades físicas, devendo sua incorporação ser estimulada no cotidiano da população em geral, visto que, ter uma vida ativa é uma das formas de prevenir doenças como o DM2. O exercício físico pode ser utilizado, associado ou não, a outros fatores, no tratamento dos pacientes diabéticos, trazendo inclusive, uma melhora nas respostas medicamentosas.

Referências

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 18 · N° 190 | Buenos Aires, Marzo de 2014
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