Efeito do treinamento resistido sobre o índice de massa corporal e a circunferência da cintura em pessoas vivendo com HIV/AIDS Efecto del entrenamiento resistido sobre el índice de masa corporal y la circunferencia de cintura en personas con HIV/SIDA |
|||
Curso de Educação Física UNIP, Sorocaba, SP (Brasil) |
Renata Bartilotti Pinto de Oliveira Carlos Aparecido Zamai |
|
|
Resumo O objetivo do presente estudo foi analisar o efeito do treinamento resistido (TR) no índice de massa corporal (IMC) e na circunferência da cintura (CC) em soropositivos fisicamente ativos, pelo período de 12 semanas, com a frequência de treinamento entre 2 a 3 vezes semanais. Além disso, foi avaliado, por meio de um questionário qualitativo, o impacto que a vivência na academia teve em suas vidas. Participaram 9 sujeitos, sendo 6 homens e 3 mulheres, com idade entre 34 e 54 anos. Todos já faziam uso da terapia antirretroviral de alto impacto e treinavam há cerca de 1 ano. Foi aferido o IMC e a CC pré e pós as 12 semanas de TR. Os dados foram submetidos ao teste t de Student pareado, sendo consideradas estatisticamente significantes as análises com valor p < 0,05. Para a aplicação dos cálculos foi utilizado o programa Microsoft Excel 2010. Os resultados mostraram que não houve diferença significativa no IMC e na CC. Quanto ao questionário, em todos os quesitos houve mais da metade das respostas indicando melhoras, desde o ingresso desses sujeitos na academia. As perguntas variaram de aspectos físicos a psicológicos, sendo importante destacar que a maioria acreditou que obteve efeito positivo em termos de saúde física. Apesar de não ter ocorrido alterações no IMC e no CC desses indivíduos, parece que a saúde dos mesmos, além de não ter piorado, muito provavelmente melhorou. Unitermos: Treinamento resistido. Índice de massa corporal. Circunferência de cintura. HIV/AIDS.
|
|||
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 190, Marzo de 2014. http://www.efdeportes.com/ |
1 / 1
Introdução
Em 1981, a síndrome da imunodeficiência adquirida (acquired immunodeficiency syndrome – AIDS) foi identificada nos Estados Unidos por meio de dois estudos realizados por Gottlieb et al. (citado em Steger, 1995). A partir de pesquisas realizadas desde então, sabe-se que o número de infectados só tem aumentado (independentemente das variações na escala de crescimento).
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2011 cerca de 34 milhões de pessoas no mundo estavam vivendo com o vírus da imunodeficiência humana (human immunodeficiency virus infection – HIV), sendo que só no Brasil o número já permeava 490 mil (WHO, 2013).
Além da transmissão do vírus continuar, os portadores do HIV estão mais longevos graças à terapia antirretroviral de alta potência (highly antiretroviral therapy – HAART), a ponto de serem considerados hoje, segundo Ciccolo, Jowers e Bartholomew (2004) e O’Brien et al. (2004), doentes crônicos. Somando esses dois fatores é prudente prever que a quantidade de pessoas vivendo com HIV/AIDS só continue crescendo e que a sobrevida das mesmas se prolongue ainda mais com o passar dos anos.
Considerando o contexto supracitado, é importante ter em vista a qualidade de vida dos soropositivos, sendo que o profissional de educação física pode e deve atuar para influir positivamente nesse quadro.
A princípio é importante entender a doença. Marques e Masur (1999) explicam que a característica principal da infecção pelo HIV é a depleção seletiva dos linfócitos CD4 positivos (CD4+), que são células fundamentais do sistema imunológico. Se o número de CD4+ baixar demais o indivíduo torna-se suscetível a infecções oportunistas.
De acordo com esses autores, primeiramente, ocorre a transmissão viral, em seguida, inicia-se a fase da infecção aguda, que dura normalmente entre 2 a 4 semanas, sendo caracterizada por uma série de sintomas que variam desde febre, cefaleia, mialgia, linfadenopatia, faringite, até ulcerações mucocutâneas, diarreia, náusea, vômito e outros. Depois, vem um período de latência clínica ou assintomático, de duração amplamente variável sendo computada em anos. Por fim, com a deterioração progressiva do sistema imune chega-se à AIDS, uma situação de manifestação sintomática em que o portador da doença fica sujeito a infecções oportunistas, como pneumonia, tuberculose, herpes-zóster, candidíase oral, leucoplasia pilosa oral, toxoplasmose, esofagite, citomegalovírus etc.
Pessoas que vivem com HIV/AIDS possuem grande risco de adquirir síndrome metabólica (SM), síndrome lipodistrófica associada ao HIV (SLHIV) e doenças cardiovasculares, principalmente se fizerem, ou já tiverem feito, uso do HAART (Castelo Filho e Abrão, 2007; Diehl et al., 2008).
A SM é um conjunto de anormalidades metabólicas que aumentam o risco de desenvolvimento da doença arterial coronária e do diabetes tipo 2. Os fatores mais evidentes que fazem parte desta síndrome são: a dislipidemia (LDL-colesterol alto, triglicérides alto e HDL-colesterol baixo), a hipertensão arterial sistêmica e a glicemia elevada (Grundy et al., 2005).
Em 1998, um estudo realizado por Carr et al. descreveu uma síndrome associada a pacientes soropositivos que recebiam HAART, hoje, ela é amplamente divulgada na literatura como a SLHIV. De acordo com Lichtenstein (2005) e Valente e Valente (2007), a SLHIV é caracterizada por uma redistribuição anormal da gordura corporal (lipodistrofia) na qual ocorre a lipoatrofia periférica (perda de gordura subcutânea em lugares como braços, pernas, face e nádegas) e/ou lipo-hipertrofia central (acúmulo de gordura localizados geralmente no abdômen, mamas e/ou região dorsocervical). Outros aspectos da SLHIV que esses autores descreveram foram: dislipidemia, resistência à insulina e alterações no metabolismo glicêmico.
A SM e a SLHIV possuem muitas características em comum que, por sua vez, algumas delas são consideradas fatores de risco cardiovascular, como a dislipidemia e a obesidade central (Castelo Filho e Abrão, 2007; Diehl et al., 2008). O tratamento indicado para os soropositivos que possuem esses distúrbios metabólicos, segundo Montenegro Júnior et al. (2009), além da intervenção farmacológica, inclui também as chamadas mudanças no estilo de vida, como iniciar a prática de uma atividade física. Um exemplo que poderia trazer muitas melhoras a esses sujeitos seria o treinamento resistido (TR).
O TR, também conhecido como treinamento de força, consiste na contração voluntária de músculos esqueléticos específicos contra alguma resistência externa, podendo esta força contrária ao movimento ser proporcionada pelo próprio peso corporal, pesos livres ou algum tipo de equipamento (Fleck e Kraemer, 2006). Esse tipo de exercício poderia ser muito interessante para os soropositivos prevenirem, retardarem, ou talvez até mesmo, reverterem os malefícios da SLHIV e SM, tendo em vista que o TR aumenta o ganho de massa muscular e ajuda a reduzir gordura corporal em pessoas saudáveis.
Apesar desse reconhecimento, existe uma carência de estudos relacionados aos exercícios físicos praticados por portadores de HIV. Alguns motivos que dificultam as revisões de literatura ou meta-análises, como as de Ciccolo, Jowers e Bartholomew (2004) e de O’Brien et al. (2004), são, além da escassez de pesquisas desenvolvidas sobre o tema, a extrema diversidade metodológica entre elas. O assunto varia muito, por exemplo, há de se considerar que o perfil do soropositivo mudou bastante com o passar dos anos, pois o rápido desenvolvimento das pesquisas de tecnologia farmacológica faz com que os medicamentos estejam em vertiginosa evolução. Ademais, existe uma grande variedade de possíveis benefícios que devem ser compreendidos, desde a melhora na força e na composição corporal até nos níveis séricos de carga viral e CD4+, dentre outros. Também, há a questão de a atividade física ser muito ampla, mesmo dentro do TR. Estudos que consideraram somente o TR (independente da forma de treinar) e seus efeitos na composição corporal de pessoas vivendo com HIV/AIDS são raríssimos. Em pesquisa para o presente trabalho foram encontrados apenas seis desses estudos (Bhasin et al., 2000; Brito et al., 2013; Roubenoff et al., 1999; Roubenoff e Wilson, 2001; Souza et al., 2008; Spence et al. 1990). No artigo de Brito et al. (2013) foi demonstrada uma redução no IMC e na CC desses sujeitos, enquanto que nos estudos de Roubenoff et al. (1999) e Souza et al. (2008) o IMC permaneceu inalterado. Ou seja, hoje em dia não há nada conclusivo a esse respeito.
O efeito do TR sobre a composição corporal pode ser avaliado de diversas formas. A obesidade, e, principalmente, o acúmulo de gordura visceral estão intimamente associados à SM e à SLHIV, síndromes que prejudicam a qualidade de vida dos soropositivos e que poderiam sofrer alterações positivas diante da prática do TR. Existem maneiras baratas e práticas para avaliar a obesidade e a obesidade central, que são amplamente utilizadas na área da saúde, como o índice de massa corporal (IMC) e a circunferência da cintura (CC), mencionados por Klein e Romijn (2008), Mancini (2009) e Villares e Mancini (2007).
Mancini (2009) relata que na prática clínica, o cálculo do IMC, também conhecido por índice de Quetelet, que é o peso (em quilogramas) dividido pelo quadrado da altura (em metros), é ainda o método mais utilizado para classificar o grau de obesidade. Ele afirma que além de o cálculo ser simples e rápido, apresenta uma boa correlação com a adiposidade corporal.
No caso da CC, ao contrário do que se poderia esperar, pesquisas como a de Pouliot et al. (1994) e a de Willis et al. (2007) mostraram maior correlação da CC, e não da circunferência abdominal (CA), com a gordura visceral. Segundo Lima et al. (2011), deve ser mais importante a presença de gordura entre as vísceras que a da camada externa. Um outro fator interessante em avaliar a CC, ao invés da CA, é o fato de ser possível fazer uma combinação do IMC com a CC por meio de uma tabela criada em 1998, pelo National Heart, Lung, and Blood Institute (NHLBI), que averigua o potencial do risco de se desenvolver doença cardiovascular, diabetes mellitus e hipertensão arterial (tabela 1).
O Grupo de Educação à Prevenção contra AIDS em Sorocaba (GEPASO), localizado no interior do Estado de São Paulo, fundou em 2011 a primeira academia para tratamento gratuito de soropositivos no Brasil, a “Academia Superar de Bem com a Vida”. O presente estudo tem como objetivo analisar o efeito do TR no índice de massa corporal e na circunferência da cintura, além de utilizar a tabela do NHLBI (tabela 1), nos frequentadores dessa academia, pelo período de 12 semanas, com a frequência de treinamento entre 2 a 3 vezes semanais. Em complemento, foi elaborado um questionário qualitativo a fim de avaliar o impacto que a vivência nessa academia teve em suas vidas.
Método
Participantes
Participaram desta pesquisa 9 indivíduos com idade entre 34 e 54 anos (M=45,67 dp=6,89), sendo 6 do sexo masculino e 3 do sexo feminino. Todos eles eram soropositivos, faziam uso da HAART e já frequentavam academia há cerca de um ano antes da primeira avaliação deste estudo, ou seja, eram fisicamente ativos. Foram avaliados somente aqueles que concluíram o período de treinamento com, pelo menos, uma frequência de 2 a 3 vezes semanais. A advogada dra. Maria Lucila Magno, presidente do GEPASO, assinou um formulário de consentimento em nome de todos os participantes antes da realização da pesquisa.
Instrumentos e procedimentos
Os sujeitos foram submetidos a medidas de peso, altura e CC. Foi utilizada a balança mecânica da marca Micheletti 150 kg para as avaliações de pesagem e estatura. Para mensurar o diâmetro das cinturas foi usada uma fita métrica flexível escalonada em 0,1 cm.
Foi calculado o IMC fazendo a divisão da massa corporal pela estatura ao quadrado. A CC foi aferida com o indivíduo em pé, a fita paralela ao chão passando pelo ponto médio entre o topo da crista ilíaca e a última costela palpável. Ainda, foi realizada uma combinação do IMC com a CC por meio da tabela 1 do NHLBI. Todos os protocolos de medida, os pontos de corte, e inclusive a classificação feita pelo NHLBI, são os recomendados pela OMS (WHO, 2008).
As avaliações do IMC e da CC foram feitas pré e pós as 12 semanas de TR em todos os participantes da pesquisa. Durante esse período eles tiveram comparecimento na academia de uma média entre 2 a 3 vezes semanais de sessões não consecutivas. O treinamento de uma hora consistia de no máximo 5 minutos de alongamento para todo o corpo, e, no resto da sessão, eram desenvolvidos exercícios de força específicos para cada sujeito, com o auxílio de máquinas e halteres, envolvendo um trabalho semanal dos membros inferiores, membros superiores, peitoral, dorsal e abdômen.
Após concluídas as 12 semanas, todos os indivíduos foram orientados individualmente no preenchimento de um questionário geral de análise do impacto que a vivência na “Academia Superar de Bem com a Vida” possa ter causado em suas vidas. Em conversa com os respectivos professores dos praticantes, em algumas questões que eles puderam comentar com base técnica e observacional, houve uma total corroboração por parte dos mestres em relação às respostas dadas pelos sujeitos da pesquisa.
Essa foi uma avaliação complementar, cujo objetivo foi o de compreender melhor a percepção dos participantes em paralelo aos resultados de IMC e CC, para assim, otimizar a análise da pesquisa.
A pergunta do questionário aplicado foi a seguinte: “Em sua opinião, o que aconteceu referente aos fatores abaixo citados desde que você começou a frequentar a ‘Academia Superar de Bem com a Vida’ até os dias de hoje?”
Os aspectos mencionados foram: peso corporal, massa muscular, força física, resistência aeróbia, coordenação motora, equilíbrio, flexibilidade, agilidade, auto-estima, emocional, relação sócio-afetiva e saúde. As opções de resposta eram: melhorou, manteve ou piorou.
Análise estatística
Os dados foram submetidos ao cálculo da tendência central e dispersão expressos em média ± desvio padrão, respectivamente. Em seguida, as médias obtidas no início e final do estudo foram submetidas ao teste t de Student pareado, sendo consideradas estatisticamente significantes as análises com valor de p < 0,05. Para a aplicação de todos os cálculos foi utilizado o programa Microsoft Excel 2010.
Resultados
De acordo com o IMC, todos os sujeitos da pesquisa possuíam e mantiveram um peso considerado saudável, ou seja, entre 18,50 e 24,99, com a exceção de um homem que estava e permaneceu levemente sobrepesado, alcançando a marca de 26,31 ao final do estudo. Não houve diferença significativa da média do IMC dos participantes pré e pós 12 semanas de TR (21,79m2/kg ± 2,11 versus 22,17 m2/kg ± 2,49, p > 0,05), como demonstra o gráfico 1.
Gráfico 1. Média do IMC pré e pós 12 semanas de TR de todos os sujeitos da pesquisa
Em relação à CC também não houve diferença significativa entre antes e depois do treinamento, independente de considerar os resultados de todos os participantes num mesmo cálculo, como mostra o gráfico 2 (80,44cm ± 8,56 versus 81,61cm ± 9,20, p > 0,05), ou se realizados os cálculos separados por sexo. Foram 6 homens (84,33cm ± 5,78 versus 85,42cm ± 8,51, p > 0,05) e 3 mulheres (72,67cm ± 8,58 versus 74cm ± 5,20, p > 0,05), respectivamente, demonstrados nos gráficos 3 e 4.
Segundo a OMS (2008), os pontos de corte para CC das mulheres são de > 80cm para risco aumentado de complicações metabólicas, e > 88cm para risco bastante aumentado; para os homens são, respectivamente, > 94cm e > 102cm. Dentre as mulheres, nenhuma ultrapassou o ponto de corte > 80cm em nenhuma das avaliações. No caso dos homens, apenas um deles ultrapassou a marca de 94cm, tendo aumentado de 92cm para 95cm de CC após as 12 semanas.
Gráfico 2. Média da CC pré e pós 12 semanas de TR de todos os sujeitos da pesquisa
Gráfico 3. Média da CC pré e pós 12 semanas de TR dos participantes do sexo masculino
Gráfico 4. Média da CC pré e pós 12 semanas de TR das participantes do sexo feminino
Dentre os 9 participantes, apenas um homem possuía, e manteve, um risco aumentado para adquirir diabetes do tipo 2, hipertensão arterial e doença cardiovascular, de acordo com a tabela 1 (NHLBI, 1998). Sua CC foi <102cm, mas seu IMC foi > 25.
Tabela 1. Recomendações da combinação dos pontos de corte do IMC e da CC para sobrepeso ou obesidade, em associação com risco de doença.
*Risco de doença para diabetes do tipo 2, hipertensão arterial e doença cardiovascular
Com relação ao questionário subjetivo que foi respondido pelos participantes, em algumas questões, como da força física e da massa muscular, as respostas foram corroboradas pelos professores que os acompanharam desde o ingresso na academia.
Surpreendentemente, em todos os quesitos (emocional, massa muscular, saúde, força física, resistência aeróbia, peso corporal, relação sócio-afetiva, auto-estima, coordenação motora, equilíbrio, flexibilidade e agilidade) houve melhoras em mais da metade dos indivíduos e o que não mellhorou foi mantido em 11 dos 12 fatores, conforme exposto no gráfico 5. Apenas uma resposta de um dos participantes foi marcada a opção de piora, ocorrendo no emocional deste indivíduo, por conta de uma situação muito particular e íntima do mesmo. Ainda no gráfico 5, é possível visualizar que com relação à massa muscular, 100% dos entrevistados responderam que houve ganho.
Um outro ponto que é importante salientar é quanto a questão da saúde, se de alguma forma o TR poderia prejudicar os soropositivos. Nesse caso, 7 responderam que houve melhora, e 2 que não houve alteração. Assim, é possível concluir que nenhum dos sujeitos desta pesquisa sofreu algum malefício proveniente do TR, muito pelo contrário, a maioria passou a se sentir melhor, o que corresponde a 78% dos participantes, como demonstrado no gráfico 5.
Gráfico 5. Percentual referente às respostas do questionário, aplicado a todos os sujeitos da pesquisa, sobre o efeito da vivência na academia em suas vidas
Discussão
O treinamento de força realizado pelos sujeitos do presente estudo não surtiu qualquer efeito no IMC e na CC durante as 12 semanas em que eles foram avaliados. A pesquisa de Brito et al. (2013) feita igualmente com indivíduos portadores de HIV, mas pelo dobro do período (24 semanas), mostrou bem o contrário, entretanto, houveram diferenças metodológicas grandes. Por exemplo, a amostra desses autores foi composta de sujeitos sedentários e não fisicamente ativos, além disso, o resultado foi baseado na comparação com um grupo controle (n=22) e não dentro do mesmo grupo TR (n=23). Pelos dados de Brito et al. (2013) houve redução de IMC, CC e percentual de gordura corporal no grupo que realizou TR em relação ao grupo controle. Por outro lado, não foi esclarecido se esses valores também seriam significativos se comparados pré e pós intervenção dentro do próprio grupo TR. Deve-se levar em conta que o grupo controle obteve um aumento nesses três aspectos que foram mensurados, portanto, não é possível saber se realmente foi significativa a mudança entre aqueles que só treinaram.
Já no trabalho realizado por Bhasin et al. (2000), onze homens treinaram por 16 semanas e tiveram um aumento de massa magra, mantiveram o percentual de gordura no corpo e ganharam peso. Nesse caso, todavia, a amostra foi composta por soropositivos que tiveram perda involuntária de massa corpórea de no mínimo 5% anteriormente à intervenção, o que provavelmente ajudou a exacerbar os resultados.
Dois artigos corroboraram com os resultados do presente estudo. Em 1999, Roubenoff et al. estudaram um grupo de 24 adultos sedentários portadores de HIV que treinaram por 8 semanas. Por meio do exame DXA (dual-energy x-ray absorptiometry), considerado padrão-ouro para avaliação de composição corporal, chegou-se à conclusão de um aumento de massa magra e de redução de gordura corpórea. Apesar dessas mudanças, não houve alteração significativa na média de peso corporal, portanto o IMC se manteve. Mais recentemente, em 2008, Souza et al. experimentaram o TR em 11 idosos sedentários vivendo com HIV/AIDS, pela duração de um ano. Além do IMC não se alterar, o DXA mostrou que não houve mudanças na composição corporal. Apenas as medidas de dobras cutâneas no tríceps e na coxa apresentaram uma redução significativa. O mais interessante desse trabalho, por outro lado, foram os resultados do nível sérico de CD4+, que diminuíram significativamente, enquanto que a carga viral foi mantida.
Sendo assim, é possível que o TR contribua na melhora do sistema imune. Em todos os artigos que foram revisados o que ficou evidente foi que em nenhum deles houve qualquer depressão do sistema imunológico dos sujeitos pesquisados. Nesse sentido, o questionário aplicado na presente pesquisa demonstra, inclusive, uma tendência à melhora na saúde dos entrevistados com a prática do TR.
É válido concluir que a vivência na academia teve um impacto extremamente positivo na qualidade de vida dos sujeitos da pesquisa. As respostas em todos os aspectos abordados no questionário foram positivas, sendo que mais da metade afirmou ter havido melhoras. Desde a questão física até o psicológico dessas pessoas sofreram mudanças muito importantes e perceptíveis para elas.
Em síntese, apesar de não ter ocorrido alterações no IMC e no CC desses indivíduos, parece que a saúde dos mesmos além de não ter piorado, muito provavelmente melhorou, como no caso do estudo de Souza et al. (2008). A literatura ainda é carente de trabalhos com TR em pessoas vivendo com HIV/AIDS, mas o que os artigos têm mostrado é que não há malefícios provenientes dessa prática. O importante é que os soropositivos parecem melhorar a qualidade de suas vidas por meio dessa atividade física. Portanto, um número maior de pesquisas sobre o assunto se faz necessário, já que essa pode ser uma opção terapêutica sem efeitos colaterais a ser trabalhada paralelamente à ação farmacológica.
Referências
Bhasin, S., Storer, T.W., Javanbakht, M., Berman, N., Yarasheski, K.E., Phillips, J., Dike, M., Sinha-Hikim, I., Shen, R., Hays, R.D., Beall, G. (2000). Testosterone replacement and resistance exercise in HIV-infected men with weight loss and low testosterone levels. Journal of the American Medical Association, 283(6), 763-70.
Brito, C.J., Mendes, E.L., Ferreira, A.P., De Paula, S.O., Nóbrega, O.T., Córdova, C. (2013). Impacto do treinamento resistido na força e hipertrofia muscular em HIV-soropositivos. Motriz, 19(2), 313-24.
Carr, A., Samaras, K., Burton, S., Law, M., Freund, J., Chisholm, D.J., Cooper, D.A. (1998). A syndrome of peripheral lipodystrophy, hyperlipidaemia and insulin resistance in patients receiving HIV protease inhibitors. AIDS, 12(7), 51-8.
Castelo Filho, A., Abrão, P. (2007). Alterações metabólicas do paciente infectado por HIV. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia, 51(1), 5-7.
Ciccolo, J.T., Jowers, E.M., Bartholomew, J.B. (2004). The benefits of exercise training for quality of life in HIV/AIDS in the post-HAART era. Sports Medicine, 34(8), 487-99.
Diehl, L.A., Dias, J.R., Paes, A.C.S., Thomazini, M.C., Garcia, L.R., Cinagawa, E., Wiechmann, S.L., Carrilho, A.J.F. (2008). Prevalência da lipodistrofia associada ao HIV em pacientes ambulatoriais: relação com síndrome metabólica e fatores de risco cardiovascular. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia, 52(4), 658-67.
Fleck, S.J., Kraemer, W.J. (2006). Fundamentos do treinamento de força muscular. Porto Alegre, Artmed, p.19-20.
Grundy, S.M., Cleeman, J.I., Daniels, S.R., Donato, K.A., Eckel, R.H., Franklin, B.A., Gordon, D.J., Krauss, R.M., Savage, P.J., Smith, S.C., Spertus, J.A., Costa, F. (2005). Diagnosis and management of the metabolic syndrome: an American Heart Association/National Heart, Lung, and Blood Institute Scientific Statement. Circulation, 112(17), 2735-52.
Klein, S., Romijn, J.A. (2008). Obesity. In: H.M. Kronenberg, S. Melmed, K.S. Polonsky, P.R. Larsen. Williams textbook of endocrinology. Philadelphia, Saunders/Elsevier, p.1563-1587.
Lima, C.G., Basile, L.G., Silveira, J.Q., Vieira, P.M., Oliveira, M.R.M. (2011). Circunferência da cintura ou abdominal? Uma revisão crítica dos referenciais metodológicos. Revista Simbio-Logias, 4(6), 108-31.
Mancini, M.C. (2009). Obesidade: da etiologia ao diagnóstico. In: R. Lyra, N. Cavalcanti. Diabetes Mellitus. Rio de Janeiro, AC Farmacêutica, p.151-157.
Marques, A.R., Masur, H. (1999). Manifestações clínicas. In: R. Veronesi, R. Focaccia, A.V. Lomar. Retroviroses humanas HIV/AIDS: etiologia, patogenia, patologia clínica, tratamento e prevenção. São Paulo, Atheneu, p.123-128.
Montenegro Júnior, R.M., Ponte, C.M.M., Fernandes, V.O., Montenegro, R.M. (2012) Distúrbios metabólicos na infecção por HIV e na AIDS. In: R. Lyra, N. Cavalcanti, Diabetes Mellitus. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, p.769-788.
National Heart, Lung, and Blood Institute (NHLBI) Obesity Education Initiative. (1998). Clinical guidelines on the identification, evaluation and treatment of overweight and obesity in adults: the evidence report. National Institutes of Health (NIH) publication number 98-4083.
O’Brien, K., Nixon, S., Tynan, A., Glazier, R.H. (2004). Effectiveness of aerobic exercise in adults living with HIV/AIDS: systematic review. Medicine and Science in Sports and Exercise, 36(10), 1659-66.
Pouliot, M.C., Després, J.P., Lemieux, S., Moorjani, S., Bouchard, C., Tremblay, A., Nadeau, A., Lupien, P.J. (1994). Waist circumference and abdominal sagittal diameter: best simple anthropometric indexes of abdominal visceral adipose tissue accumulation and related cardiovascular risk in men and women. American Journal of Cardiology, 73(7), 460-8.
Roubenoff, R., McDermott, A., Weiss, L., Suri, J., Wood, M., Bloch, R., Gorbach, S. (1999). Short-term progressive resistance training increases strength and lean body mass in adults infected with human immunodeficiency virus. AIDS, 13(2), 231-9.
Roubennoff, R., Wilson, I.B. (2001). Effect of resistance training on self-reported physical functioning in HIV infection. Medicine and Science in Sports and Exercise, 33(11), 1811-7.
Souza, P.M.L., Jacob-Filho, W., Santarém, J.M., Silva, A.R., Li, H.Y., Burattini, M.N. (2008). Progressive resistance training in elderly HIV-positive patients: Does it work? Revista do Hospital das Clínicas, 63(5), 619-24.
Spence, D.W., Galantino, M.L.A., Mossberg, K.A., Zimmerman, S.O. (1990). Progressive resistance exercise: effect on muscle function and anthropometry of a select AIDS population. Archives of Physical Medicine and Rehabilitation, 71(9), 644-8.
Steger, K.A. (1995). Epidemiologia, história natural e classificação quanto ao estágio da doença. In: H. Libman, R.A. Witzburg. Infecção pelo HIV: um manual clínico. Rio de Janeito, Medsi, p.3-23.
Villares, S.M., Mancini, M.C. (2007). Obesidade. In: M.J.A. Saad, R.M.B. Maciel, B.B. Mendonça. Endocrinologia. São Paulo, Atheneu, p.1001-1021.
Willis, L.H., Slentz, C.A., Houmard, J.A., Johnson, J.L., Duscha, B.D., Aiken, L.B., Krauss, W.E. (2007). Minimal versus umbilical waist circumference measures as indicators of cardiovascular disease risk. Obesity, 15(3), 753-9.
World Health Organization. (2008). Waist circumference and waist–hip ratio: report of a WHO expert consultation. Geneva.
World Health Organization. (2013). World health statistics anual - 2013. Geneva.
Outros artigos em Portugués
Búsqueda personalizada
|
|
EFDeportes.com, Revista
Digital · Año 18 · N° 190 | Buenos Aires,
Marzo de 2014 |