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Educação Física no ensino médio noturno: o que compreendem os alunos?

La Educación Física en la escuela media nocturna. ¿Qué entienden los estudiantes?

 

*Acadêmica do curso de Licenciatura em Educação Física

da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC

**Licenciado em Educação Física e Mestre em Educação

pela Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC

Professor da Universidade do Extremo Sul Catarinense

Criciúma, Santa Catarina

Bruna da Rosa Semeler*

brunasemeler@hotmail.com

Carlos Augusto Euzébio**

cae@unesc.net

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Na busca de uma melhor compreensão sobre a importância das aulas de Educação Física no ensino Médio Noturno na rede pública o presente artigo buscou conhecer a compreensão dos alunos sobre a educação física. A partir do exposto surge a problemática da pesquisa: Qual a compreensão dos alunos sobre Educação Física no Ensino Médio Noturno? O estudo foi uma pesquisa descritiva de campo com abordagem qualitativa. Para realização da coleta de informações foi aplicado um questionário com perguntas abertas e fechadas para os alunos do ensino médio noturno. Para sua aplicação, os participantes da pesquisa eram alunos de três escolas da rede pública de criciúma, sendo 15 alunos de cada escola. Compreendemos que para os alunos do ensino médio as aulas de educação física se resumem na prática do esporte para uma melhor qualidade de vida. Os alunos têm como experiência o esporte sem nenhuma reflexão pedagógica, simplesmente o “jogar por jogar”.

          Unitermos: Educação Física. Ensino Médio noturno. Alunos.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 190, Marzo de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    As aulas de Educação Física no Ensino Médio Noturno solicitam vários questionamentos graças a amparos legais que levam a refletir sobre planejamentos e metodologias de ensino. Dentre esses amparos está à facultatividade da prática da Educação Física para alunos com jornada de trabalho superior a seis horas diárias, maior de trinta anos, em serviço militar e a aluna que tenha prole.

    Darido (1999) aponta que apesar da obrigatoriedade da Educação Física em todos os níveis de ensino, ao longo da sua história foram abertas algumas exceções que acabaram por influenciar enormemente a prática da Educação Física na escola.

    Estes amparos legais reportam a Educação Física como prática esportiva ou atividade física que causará desgaste aos alunos, ausentando-os das aulas, comprometendo desta forma toda sua finalidade.

    Conforme Darido (1999, p.143),

    [...] Seus pressupostos são questionáveis porque vinculam a área a um suposto gasto energético que os alunos, já exaustos pelo trabalho, não teriam condições de suportar. Tal conclusão reflete uma concepção ultrapassada de educação física, baseada em parâmetros energéticos e fisiológicos, e desconhece a possibilidade da adequação de conteúdos e estratégias às características e necessidades dos alunos dos cursos noturnos [...].

    Remete-nos a ressaltar que as aulas de educação física devem integrar-se a cultura corporal e seus conteúdos para que assim as aulas diante de uma concepção crítica incluam uma relação teórico-prático para o método de ensino, além de buscar uma melhor discussão sobre o contexto social e valores pedagógicos para as aulas.

    Na busca de uma melhor compreensão sobre a importância das aulas de Educação Física no ensino Médio Noturno na rede pública a pesquisa buscou conhecer a compreensão dos alunos sobre a educação física.

    Temos como Objetivo Geral verificar a compreensão dos alunos sobre a Educação Física no ensino Médio noturno. E apresentamos os seguintes Objetivos Específicos:

  • Analisar a participação dos alunos nas aulas de Educação Física;

  • Verificar o conhecimento dos alunos sobre Educação Física;

  • Verificar quais as concepções que a escola define Educação Física;

    A pesquisa foi descritiva de campo com abordagem qualitativa. “Os estudos descritivos exigem do pesquisador uma série de informações sobre o que se deseja pesquisar.” (TRIVIÑOS 1987, p.110)

    Para realização da coleta de informações foi aplicado um questionário com perguntas abertas e fechadas para os alunos do ensino médio noturno. O questionário tem como objetivo obter informações referentes à participação dos alunos nas aulas e a importância da educação física para esses, verificar os conteúdos trabalhados, metodologia e avaliação utilizada pelo professor a fim de constatar os motivos que levam a participação ou não das aulas de educação física no ensino médio noturno.

    Para sua aplicação os participantes da pesquisa foram alunos de três escolas da rede pública de Criciúma, sendo 15 alunos de cada escola de mais fácil acesso para o pesquisador. Isso ocorreu pela dificuldade de acesso a informações em órgãos responsáveis. Dentre essas, os participantes foram cinco alunos do primeiro ano, cinco do segundo ano e cinco do terceiro ano em cada escola. Por fim optamos pela realização de sorteio para escolha dos alunos. Em várias situações alunos se negavam a participar do questionário sendo assim se sorteava outro aluno.

A Educação Física no ensino médio e suas questões legais

    Segundo a Lei de Diretrizes e Bases – LDB (1996) o ensino médio prevê a finalidade de consolidar e aprofundar os conhecimentos adquiridos no ensino fundamental. Além disso, esta finalidade busca o preparo para o trabalho e a cidadania, o desenvolvimento de habilidade como continuar a apreender a capacidade de adaptar com flexibilidade as novas condições de ocupação e aperfeiçoamento.

    A Educação Física no ensino médio noturno vem passando por algumas mudanças em destaque a LDB que trouxe para a educação física no ensino médio a não obrigatoriedade da mesma. Conforme a LDB 9394/1996:

    O ensino da Educação Física para o ensino noturno passa a ser facultativo para os alunos cursarem, as escolas oferecem, e caso elas ofereçam a disciplina, as horas aulas não são contabilizadas na carga horária da escola. Os alunos podem ser dispensados das aulas quando trabalham seis horas diárias, quando maior de trinta anos, aluno na qual está em serviço militar, aluna que tenha prole, entre outros.

    Carvalho (1998) destaca em relação ao Ensino Médio Noturno que este atende a uma clientela, em sua maioria de origem operária e inserida, durante o período diurno, no mercado de trabalho, estes cursos se caracterizavam, desde sua implantação, como uma oportunidade educacional especialmente para os que necessitam aliar o estudo e trabalho.

    A Educação Física poderia pensar em atividades variadas capazes de eliminar as tensões físicas e psíquicas e também capazes de recuperar o equilíbrio afetado por atividades e posturas monótonas produzidas pelas especialidades profissionais surgidas em função do desenvolvimento cientifico e tecnológico. (DARIDO,1999, p.50)

    Para Caporalini (apud ISOPPO, 2009): “Os cursos apresentam uma maior proporção de alunos de origem operária e também que apesar de Estado manter cursos noturnos para os alunos que precisam trabalhar durante o dia, o tipo de ensino oferecido não atende aos interesses desse estudante, isto é, não coincide com suas intenções”.

Proposta curricular de Santa Catarina 2005 – Ensino Noturno

    A proposta curricular tem como objetivo garantir o acesso ao conhecimento produzido historicamente, com uma concepção de humanidade e de sociedade, orientada pelo materialismo histórico (base filosófica),com uma concepção de aprendizagem numa perspectiva histórico-cultural (base psicológica) e numa metodologia dialética.

    O Grupo Temático do Ensino Noturno refletindo, discutindo e produzindo sobre as questões de currículo, compreendeu que, ao se propor determinada organização curricular, estamos realizando uma seleção histórica que reflete a distribuição de poder em seu interior. Todo currículo é um processo de seleção, de escolha e de decisões acerca do que será e do que não será legitimado pela Escola. (SANTA CATARINA, 2005)

    Conforme a Proposta Curricular de Santa Catarina de 2005:

    O ensino noturno é uma conquista da classe trabalhadora, e um direito de todos, não pode mais ser tratado como apêndice do diurno, nem como um problema, mas como um turno de ensino que possui identidade própria, já que tem sido uma das soluções encontradas para conciliar duas atividades produtivas: trabalho e estudo.

Tendências liberais da Educação Física

    Darido (2003) enfatiza a tendência esportivizada numa visão de autoritarismo, tendo como objetivo o domínio das técnicas e táticas, formando o aluno atleta. Foi na década de 70 que os militares apoiaram a Educação Física, na realidade o interesse maior era formar um exército composto por uma juventude forte e saudável.

    No que se refere à saúde renovada que é assim denominada, por reunir princípios e cuidados consagrados em outras abordagens com enfoque mais sociocultural. Nahas (1996), por exemplo, sugere que o objetivo da Educação Física na escola de ensino médio é ensinar os conceitos básicos da relação entre atividade física, aptidão física e saúde. O autor observa que essa perspectiva procura atender a todos os alunos, principalmente os que mais necessitam, sedentários, os de baixa aptidão física, obesos e portadores de deficiências.

Tendências progressistas da Educação Física

    O Coletivo de Autores (1992), nos trás a pedagogia como a teoria e método que constrói os discursos, as explicações sobre a prática social e sobre a ação dos homens na sociedade, em que se dá a sua educação.

    Na reflexão da proposta Crítico Superadora busca-se o foco na cultura corporal na qual a dinâmica curricular na educação física desenvolve uma reflexão pedagógica sobre as formas de representação do mundo que o homem produz no decorrer da história apresentada pela expressão corporal: jogos, danças, lutas, ginásticas, esporte e entre outros.

    É fundamental o desenvolvimento da historicidade da cultura corporal, ou seja, compreender que o homem não nasceu pulando ou saltando, por exemplo, mas que construiu em épocas históricas as respostas para suas necessidades. (COLETIVO DE AUTORES, 1992 p.39)

    Sendo assim, a cultura corporal é dita como uma expressão corporal, uma linguagem, um conhecimento universal, patrimônio da humanidade que precisa ser transmitido e assimilado pelos alunos. A sua ausência impede que o homem e a realidade sejam entendidos em uma visão de totalidade. Assim a educação física surge das necessidades sociais concretas, na qual trata com temas ou formas de atividades particularmente corporais, como ditas anteriormente, visando aprender a expressão corporal como linguagem.

    Refletindo ainda em uma abordagem crítica para as aulas de educação física o autor Kunz (2006), nos trás a Pedagogia Crítico emancipatória que em sua prática necessita de estar acompanhada de uma didática comunicativa e uma racionalidade no sentindo de esclarecimento. A educação se desenvolve em “ações comunicativas”.

    O aluno sendo sujeito do processo de ensino deve ser capacitado para participação na vida social, cultural e esportiva, ou seja, ter capacidade de conhecer, reconhecer e problematizar sentidos e significados através de reflexões críticas.

    Para a Educação Física Escolar ao invés de simplesmente ensinar o esporte para desenvolver suas habilidades técnicas, devem-se levar em conta os conteúdos de caráter prático-teórico, com o intuito de que os alunos vêem a realidade do esporte e organizem de acordo com sua própria realidade e necessidade.

Concepções pedagógicas para o ensino médio

    É possível encontrar práticas pedagógicas que não representam o debate mais contemporâneo nas aulas de Educação Física. Referente ao ensino médio é muito comum que as práticas utilizadas sejam mais voltadas para o esporte ou aptidão física, fator que pode influenciar na valorização da disciplina e principalmente na efetiva participação dos alunos.

    Daólio (apud DARIDO,1999): “Propõe que as aulas de Educação Física para o aluno/trabalhador permitam ao adolescente um relaxamento, uma prática prazerosa, que permitam aos alunos convivência e relacionamento em grupo”.

    Melo (apud DARIDO,1999): “Também indica a importância de um trabalho em que seja oferecida uma ampla gama de atividades aos alunos, para além dos esportes tradicionais. O autor assim implantou um programa de jogos nas aulas de Educação Física para o Ensino Médio, trabalhando: diferentes tipos de queimadas, hand sabonete, pic bandeira, quatro cantos, e outros”.

    O autor Nahas (apud DARIDO,1999): “Propõe as aulas do Ensino Médio para um estilo de vida mais ativo. Com o objetivo de ensinar os conceitos básicos da relação atividade física, aptidão física e saúde, além de proporcionar vivências diversificadas levando os alunos a escolherem um estilo de vida mais ativo”.

    Adverso a essa concepção, Tadechi (apud DARIDO,1999): “Relatou uma experiência de uma escola particular de São Paulo baseada em uma proposta crítica sendo a Crítico-Superadora (Coletivo de autores, 1992). Na qual anteriormente a escola privilegiava apenas a prática dos esportes, não considerando os demais conteúdos da Educação Física”.

    “A Educação Física como parte integrante da escola, tem sua colaboração na construção do ser humano em desenvolvimento. Os alunos que frequentam o ensino médio necessitam de uma Educação Física que possa por meio de seus conteúdos, colaborar na formação de sua personalidade e de sua participação ativa na sociedade. A Educação Física no ensino médio precisa fazer o adolescente entender e conhecer o seu corpo como um todo, não só como um conjunto de ossos e músculos a serem treinados, mas como a totalidade do indivíduo que se expressa por meio do movimento, sentimentos e atuações no mundo”. (MATTOS; NEIRA 2000, apud BARNI e SCHNEIDER s/d).

    Tudo o que foi produzido é historicamente acumulado pela humanidade, necessitam serem retraçados e transmitidos aos alunos na escola. E por isso é importante para perspectiva da prática pedagógica da Educação Física o desenvolvimento da noção de historicidade corporal.

Resultados e discussão

Dados pessoais

    O questionário aplicado obteve em sua maioria participação de mulheres.

    Com idade predominante entre 15 e 18 anos, sendo estudantes apenas do período Noturno.

Objetivos das aulas de Educação Física

    Quando questionados sobre sua opinião para que servem as aulas de educação física a grande maioria anotou a opção “prática esportiva”. Se acrescentarmos a opção treinar – que implica em treinar uma prática esportiva!- o número se torna ainda mais significativo. As justificativas convergiram para a importância do esporte para a saúde, para o corpo, etc.

“Porque esporte é bom para o corpo, para a saúde, etc.” (Aluno 1);

“Me ajudaria no desenvolvimento do corpo é muito importante na minha saúde” (Aluno 2);

    Ainda que alguns tenham assinalado a questão discussão do contexto social, foi notória a falta de conhecimento do que realmente significa essa questão.

    Pois durante o questionário ficava clara a importância do esporte como treinamento para esses alunos nas aulas quando questionados a importância dos conteúdos aprendidos.

“A exercitar, ser uma boa jogadora e interagir.” (Aluno 27)

    Portanto predomina, a despeito das produções críticas oriundas do período dos anos oitenta, uma percepção de educação física ligada às questões da atividade física e qualidade de vida como expressa a proposta de Nahas.

    Conforme Nahas (1997) apud Darido (1999)

    Destaca os objetivos das aulas de educação física como forma de ensinar os conceitos básicos da relação atividade física, aptidão física e saúde, além das vivências diversificadas, levando o aluno ao estilo de vida ativo. Ainda observa-se que esta proposta procura atender os que mais precisam; sedentários, baixa aptidão física, obesos e portadores de deficiência [...].

Conteúdos, aprendizagem e sua importância para as aulas Educação Física

    Em sua maioria o conteúdo mais presente nas suas aulas foi o esporte, sendo que 39 alunos tiveram este conteúdo em algum momento do ensino médio.

    Ainda que pouco, mas presente em algumas aulas outros conteúdos.

    O trato com o conhecimento reflete a sua direção epistemológica e informa os requisitos para selecionar, organizar e sistematizar os conteúdos de ensino. Pode-se dizer que os conteúdos de ensino emergem de conteúdos culturais universais, constituindo-se em domínio de conhecimento relativamente autônomos, incorporados pela humanidade e reavaliados, permanentemente, em face da realidade social. (LIBÂNEO, 1985, p. 39 apud COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 31)

    Ao mesmo tempo em que os alunos compreendem a Educação Física na perspectiva da Saúde Renovada as opções de conteúdo estão extrema e estreitamente vinculadas a uma perspectiva esportivizada. Isto não implica afirmar que os elementos constitutivos da tendência esportivizada1 estejam todos presentes, mas nos apontam que há um distanciamento entre as expectativas dos alunos e as escolhas do professor.

    “Aprendi que ajuda a aumentar a musculatura e saúde também”. (Aluno 3)

    “Corrigindo apenas tive um conteúdo, aprendi as regras do futsal e também a discutir bastante, bastante mesmo, porque o professor custava aparecer na quadra depois de jogar a bola”. (Aluno 16)

    “Que a prática de esportes é muito importante para manter o condicionamento físico, aumentar a disposição etc.”. (Aluno 29)

    Quando apontado o conteúdo mais importante, retomamos a discussão da esportivização e da saúde renovada, pelo fato de que em sua maioria a experiência dos alunos foi à prática do esporte, sendo vista como saúde quando praticado. Porém alguns alunos ainda ressaltam a importância de outros conteúdos.

    “Não tem o conteúdo mais importante, creio que todos são necessários”. (Aluno 14);

    “A prática do esporte, pois ajuda na saúde do adolescente”. (Aluno 29);

Participação nas aulas de Educação Física

    Esta questão convida –ou mesmo necessita – uma articulação com a questão seis que se refere à participação da turma nas aulas. Nesta articulação é possível encontrar afirmações de que o aluno (participante da pesquisa) participa, mas a turma não. Na mesma turma também se encontram algumas incongruências com alguns alunos elogiando a participação da turma e outros afirmando exatamente o oposto.

“Sim, pois eu gosto de praticar os esportes, eu jogo e aprendo muito com as aulas, todos os alunos são bem participativos”. (Aluno 34).

“Participo porque acho legal, mas na turma nem todos participam porque chegam cansados daí não fazem nada. (Aluno 15).

    Novamente a reafirmação da concepção de saúde renovada surge com freqüência suficiente para ser apontada como uma das principais correntes no entendimento dos alunos.

“Sim, com bastante vontade e porque é importante para a saúde”. (Aluno 6)

“A participação é ruim, poucos alunos jovens estão a praticar poucos exercícios físicos e ficam sedentários”. (Aluno 10).

Facultatividade nas aulas de Educação Física

    Quando buscamos compreender se existe alguma influência da lei que ampara a facultatividade nas aulas com a na participação dos alunos ficou claro que em sua maioria 42 alunos desconhecem a lei e apenas conhecem esta.

    Dentre os conhecem sugerem:

“Acho que esta lei é correta, pois muitos estão cansados ou não tem vontade de fazer” (aluno 6).

“Muito bom porque as aulas de educação física têm muito desgaste” (Aluno 7).

    Conforme (CEE/97) apud Darido (1999, p.143),

    [...] Seus pressupostos são questionáveis porque vinculam a área a um suposto gasto energético que os alunos, já exaustos pelo trabalho, não teriam condições de suportar. Tal conclusão reflete uma concepção ultrapassada de educação física, baseada em parâmetros energéticos e fisiológicos, e desconhece a possibilidade da adequação de conteúdos e estratégias às características e necessidades dos alunos dos cursos noturnos [...].

Avaliação nas aulas de Educação Física

    Em sua grande maioria os professores utilizam do critério participação das aulas práticas, comportamento e desempenho para avaliar seus alunos.

“Pela participação, respeito, comportamento, prática de esportes”. (Aluno 26);

“Pela participação, o desempenho. Uma aula aprendemos e na outra praticamos”.(Aluno17);

    Avaliação do processo ensino-aprendizagem é muito mais que do que simplesmente aplicar testes levantar medidas, selecionar e classificar alunos. (COLETIVO DE AUTORES 1992, p 98)

Sugestões para as aulas de Educação Física

    Diante de uma diversidade tão grande de conteúdos que temos na Educação Física infelizmente em sua maioria o esporte toma conta das aulas não possibilitando outra proposta de aula para o aluno. Com isso muitos alunos estão insatisfeitos com as aulas, outros que preferem o esporte preferem assim, pois estão fazendo o que gostam ainda “apenas por fazer”.

“Mais aulas diversificadas” (Aluno 17);

“Aulas livres, para praticarmos o que quisermos” (Aluno 4);

“Outros conteúdos, porque é só esporte e não gosto.” (Aluno 42)

Conclusão

    O presente artigo verificou a compreensão dos alunos sobre a Educação Física no Ensino Médio noturno, sendo primordial destacar que esta compreensão para os alunos se resume no esporte vinculado a saúde, ou seja prática do esporte para uma melhor qualidade de vida. Isso acontece devido à tradição adotada no cotidiano pedagógico da Educação Física. Os alunos têm como experiência o esporte sem nenhuma reflexão pedagógica, simplesmente o “jogar por jogar”. Sendo assim, não faz sentindo que outros conteúdos possam ser trabalhados nas aulas Educação Física ou a articulação destes numa perspectiva de reflexão. Não obstante também cabe a nós professores proporcionar novos conteúdos e também motivá-los para uma maior participação para que assim a educação física não fique apenas vinculada a um único conteúdo.

    Na rede estadual encontra-se no PPP como objetivo Geral: “Proporcionar por meios e instrumentos que permitam ao educando compreender o contexto em que está inserido para que possa agir de forma crítica e transformadora. À medida que adquire a capacidade de elaborar os conhecimentos de forma sistemática melhorando assim sua qualidade de vida”. Este mesmo Projeto Político Pedagógico define a concepção histórico-cultural ou social como sua linha filosófica. Logo percebemos que esta linha não é seguida, pois acabam se manifestando tendências mais tradicionais nas aulas.

    Evidenciamos ainda que apesar dos entrevistados cursarem o ensino médio noturno isso não interfere nas aulas, pois a grande maioria está sempre disposta a fazer a aula - independente se trabalham e mesmo do que farão nas aulas. Ainda assim não são todos os alunos considerados trabalhadores e poucos conhecem a lei da facultatividade nas aulas de educação física no ensino médio noturno. A educação física deve-se integrar À cultura corporal e não apenas desenvolver a saúde e a busca da esportivização, que acaba por não refletir o que é essencial diante da sociedade capitalista que estamos inseridos.

    O que fica claro é o interesse de aulas diferentes, a prática de outros conteúdos. Ainda afirmam que aprendem com as aulas de esportes. Evidenciamos de acordo com o questionário aplicado aos alunos que a maioria deles participa das aulas, contudo estas aulas se organizam exclusivamente pela prática. Como hipótese podemos refletir que os que ficam sem participar o fazem exatamente pela falta de diversidade.

Nota

  1. Não obstante não ser o escopo desta pesquisa a compreensão mínima das tendências, concepções, propostas didático-metodológicas na EF são necessárias para a reflexão sobre as respostas dos alunos.

Referenciais

  • BARNI, M. J.; SCHNEIDER, E. J. Educação Física no ensino médio: relevante ou irrelevante? Leonardo Pós, Blumenau, v. 1, 2003. v. 1, p. 15-20.

  • CAPORALINI, Maria Bernadete Santa Cecília. A transmissão do Conhecimento e o Ensino Noturno. São Paulo: Papirus,1991.

  • CELANTE, A. R. Educação física e cultura corporal: uma experiência de intervenção pedagógica no Ensino Médio. 2000. 174 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física)–Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 2000.

  • CHICATI, K. C.. Motivação nas aulas de educação física no ensino médio. Revista da Educação Física. Maringá, v. 11, n°1, p. 95-105. 1/2000.

  • COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de educação física. São Paulo: Cortez. Coleção magistério. Série formação do professor, 1992.

  • DARIDO, S. C et al. Educação física no ensino médio: reflexões e ações. Revista Motriz, v. 5, n° 2, p. 138-145. 2/1999.

  • DARIDO, Suraya Cristina. Educação física na escola: questões e reflexões. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. 91 p.

  • DESTRO, Alfredo A. Pereira. Educação Física no Ensino Médio: As possibilidades pedagógicas apresentadas na área. 2010.42p. Monografia (Especialização em Educação Física Escolar) – Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC, Criciúma 2010.

  • FRANCO, M.L.P.B. Ensino médio: desafios e reflexões. Campinas, Papirus,1994.

  • ISOPPO, Indiara da Silva. A Educação Física no Ensino Médio. Criciúma: Unesc, 2009.

  • KUNZ, Elenor. Transformação didático-pedagógico do esporte. 7ª Ed. Ijuí, RS: Unijuí, 2006. 160 p.

  • LDB. Lei de Diretrizes e Bases para educação brasileira. Ministério da Educação (MEC). Brasília, 1996.

  • MATTOS, G. M. et al. Teoria e prática da pesquisa em Educação Física: Construindo seu trabalho acadêmico, monografia, artigo científico e projeto de ação. São Paulo. Phorte Editora, 2001.

  • MOLINA NETO, V., TRIVIÑOS, A. N. S. (orgs.). A pesquisa qualitativa na educação física: alternativas metodológicas. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS/Sulina, 2004. p.61-93.

  • NEGRINE, A.. Instrumentos de coleta de informações na pesquisa qualitativa. In: TRIVINOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à pesquisa em ciências sociais a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Ed. Atlas, 1987. 175 p. 

  • Santa Catarina, Secretaria de Estado da Educação,Ciência e Tecnologia. Proposta Curricular de Santa Catarina: Estudos Temáticos. Florianópolis: IOESC, 2005. 192 p. Disponível em: www.sed.sc.gov.br/.../136-proposta-curricular-de-santa-catarina-2005‎.pdf em 18/11/2013

  • SANTIN, Silvino. Educação Física: Uma abordagem filosófica da corporeidade. Ijuí: Unijuí, 1987.

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