Fatores de risco para distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho em membros superiores: uma revisão integrativa Los factores de riesgo para los
trastornos musculoesqueléticos relacionados |
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*Acadêmico do Curso de Fisioterapia do Instituto de Teologia Aplicada – INTA **Fisioterapeuta e mestre em meio ambiente e Sustentabilidade. Coordenador e pesquisador do curso de fisioterapia das faculdades INTA (Brasil) |
Vilton Mudesto Arruda Júnior* Leandro Gomes Barbieri** |
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Resumo
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 190, Marzo de 2014. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Em virtude do atual cenário de reestruturação da produção laboral decorrente das inovações tecnológicas, refletem em constantes transformações sócio-econômicas (SALIM, 2003). O processo de trabalho evoluiu para maior produtividade num esquema de automatização e especialização, obrigando o trabalhador a intensos e inadequados movimentos dos membros superiores, levando freqüentemente a desordens neuro-músculo-tendinosas. As mudanças na organização do trabalho foram prenunciadoras dos Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT) que, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é a doença ocupacional em maior evidência no mundo e considera a situação epidêmica, constituindo um grave problema de saúde pública de difícil abordagem, prevenção e reabilitação biopsicosocial e profissional (MUROFUSE & MARZIALE, 2001).
Nesse sentido, o termo ambiente não denomina-se apenas o meio de trabalho propriamente dito, mas também os instrumentos, os métodos e a organização deste trabalho. Acrescenta-se a isso a natureza do próprio homem, o que inclui suas habilidades e capacidades psicofisiológicas, antropométricas e biomecânicas (ALEXANDRE, 1998).
Com enfoque anatomo-fisiológico, os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho correspondem a um conjunto de doenças que atingem tendões, sinóvias, músculos, nervos, fáscias e ligamentos, de forma isolada ou associadamente, com ou sem degeneração dos tecidos, atingindo principalmente os membros superiores (dedos, mãos, punhos, antebraços e braços) e, eventualmente, membros inferiores e coluna vertebral (pescoço, coluna torácica e lombar). Embora a causa dos DORT seja uma questão não completamente esclarecida, prevalece um consenso quanto à natureza multifatorial, em que diversos fatores em interação contribuem para o desenvolvimento do distúrbio, que são de natureza ergonômica, organizacional e psicossocial (CODO & ALMEIDA, 1997; SIM, 2006).
Cumpri-se frisar que a influência dos fatores pessoais, biomecânicos, organizacionais e psicossociais relacionados ao trabalho, a avaliação desses fatores é necessária para o estabelecimento da associação entre estes e a possibilidade de desencadear e/ou agravar sinais e sintomas no trabalhador (BALDAN, et.al. 2001). Identificando os fatores de risco, facilita as tomadas de medidas e intervenções ergonômicas e preventivas para a preservação da saúde desses indivíduos, compreendendo a melhor forma de adaptar o trabalho ao homem (IIDA, 2005).
Os DORT em particular as lesões à nível do membro superior são doenças muito frequentes em meio laboral, particularmente quando existem solicitações ou exigências organizacionais que determinam que os trabalhadores se exponham a fatores de risco (BALOGH, 2001).
Segundo dados do anuário estatístico de 2005, do Ministério da Previdência Social, as partes do corpo em que houve maior incidência de doenças do trabalho foram o ombro e o dorso; o número de acidentes de trabalho liquidados atingiu 528 mil trabalhadores. Esses dados justificam esforços para identificar os fatores que colaboram com o aparecimento dessas doenças.
A pesquisa que teve o objetivo realizar uma revisão na literatura identificando os fatores de risco dos Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho em membros superiores.
Metodologia
A presente pesquisa trata-se de uma revisão bibliográfica baseada na consulta às seguintes bases de dados: MEDLINE (Sistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica (Medical Literature Analysis and Retrieval System Online), LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e SciELO (Scientific Electronic Library Online), abrangendo todas as publicações disponíveis.
Os descritores utilizados (em língua portuguesa) foram: Riscos ocupacionais, Saúde do trabalhador, Transtornos Traumáticos Cumulativos, Ergonomia. Além desses descritores empregaram-se na pesquisa as seguintes palavras: LER/DORT, doenças ocupacionais, condições de ambiente laboral.
Os títulos e os resumos dos trabalhos foram analisados, e os estudos que preenchessem os critérios de inclusão foram obtidos na íntegra. Desta forma os critérios de Inclusão definidos para a seleção dos artigos foram: artigos deveriam estar relacionados Distúrbios Osteomusculares relacionados ao trabalho, fatores de risco, incidência, prevalência, consequências das lesões e suas patologias aqueles de títulos mais relevantes; em língua portuguesa; artigos na íntegra que retratassem a temática referente à revisão integrativa dos artigos publicados e indexados nos referidos bancos de dados publicados entre os anos de 2001 e 2013. Foram excluídos os artigos que se repetiam nas diferentes bases de dados, os em forma de editorial e teses. Quando o titulo e o resumo não eram esclarecedores, o artigo era lido na integra para que estudos relevantes não fossem excluídos da revisão.
A busca foi conduzida em agosto de 2013 de forma independente, seguindo os critérios de inclusão e exclusão. Foi realizada uma análise descritiva de dados extraídos dos estudos selecionados que foram: título, autor, periódico, fatores de risco para DORT em membros superiores, síntese das conclusões/principais resultados observados.
A busca realizada aos artigos, segundo a estratégia definida, resultou em 1380 artigos, e, de acordo com os objetivos do estudo e os critérios de inclusão estabelecidos, 39 artigos foram selecionados como amostra desta pesquisa.
Resultados
Na presente revisão integrativa, foram analisados 39 estudos, perfazendo um total de 17 artigos que atenderam aos critérios de inclusão e que serão apresentados a seguir. Podemos destacar nos estudos analisados, houve a prevalência de 6 artigos referentes a trabalhadores com atividades em indústrias, 2 artigos relacionado a cada uma das profissões de Cirurgiões Dentistas e Enfermeiros hospitalares, 1 artigo para cada atividade de Bancário, Construção Civil (pedreiro), Comerciante, Serralheiro, Posto de trabalho informatizado de Analista de Sistemas e Técnico de trânsito.
Quadro 1. Síntese dos estudos sobre DORT em membros superiores |
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Título |
Autor |
Periódico (Vol, Nº, pp, Ano) |
Fatores de risco para DORT MMSS |
Síntese das conclusões/ recomendações |
Avaliação da existência de DORT de membros superiores através de testes musculares específicos e relatos de dor em pedreiros na tarefa do assentamento de tijolos |
XAVIER, P.; MICHALOSK. I, A. O.; SAAD, V.L. |
Universidade Tecnológica Federal do Paraná-UTFPR / v. 05, n. 04: p. 115-129, 2009 |
Manuseio de cargas, os movimentos repetitivos e postos de trabalho Extremamente antiergonômicos |
É possível avaliar a existência de DORT reais ou de lesões potenciais de MMSS
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LER/DORT: multifatorialidade etiológica e modelos explicativos |
CHIAVEGATO FILHO, L. G.; PEREIRA JR. |
Interface - Comunic., Saúde, Educ., v.8, n.14, p.149-62, set.2003-fev.2004 |
Há fatores psicológicos, biológicos, sociológicos e naturais envolvidos na gênese desse s distúrbios |
Concepção de uma abordagem transdisciplinar da dinâmica do processo saúde/doença
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Fatores de risco para distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho em funcionários de centro comercial |
FORMIGONI, P. G. P.; VALENTE, F. M.; BARBOZA, M. A. I. |
Ver. Inst. Ciênc. Saúde 2008; 26(2):207-9 |
Uso das mãos associada à força; horas extras |
Concluiu-se com este trabalho que existem fatores de risco que podem desencadear DORT |
LER/DORT: um grave problema de saúde pública que acomete os cirurgiões-dentistas |
ARAÚJO, M.A.; QUEIROZ, M.V.; |
Revista APS, v.6, n.2, p.87-93, jul./dez. 2003 |
Má posturas, falhas na ergonomia, os fatores psicológicos influenciam os acometimentos de dor e desconforto; repetição, força excessiva, postura inadequada, pressão direta, vibração, postura restritiva por longo tempo. |
Conscientizar na prevenção das LER/DORT. Adotar um estilo de vida saudável com práticas de atividades físicas, alongamentos, alimentação saudável, controle do estresse, além de organizar-se no trabalho seguindo as normas ergonômicas |
Análise da carga de trabalho de analistas de sistemas e dos Distúrbios osteomusculares |
GUIMARÃES, B. M.; MARTINS, L. B.; AZEVEDO, L. S.; ANDRADE, M. A. |
Fisioter. Mov., Curitiba, v. 24, n. 1, p. 115-124, jan./mar. 2011 |
Alta exigência mental da tarefa, grande responsabilidade assumidas, conflitos com a chefia, insatisfação com o trabalho e os fatores organizacionais, mobiliário inadequado às características dos usuários, prazos curtos, a freqüente realização de horas extras à noite e nos fins de semana |
A alta prevalência de dor musculoesquelética pode ser causada pela presença de mobiliário inadequado, pela adoção de posturas incorretas e pela alta exigência mental das atividades desenvolvidas. |
A vida do trabalhador antes e após a Lesão por Esforço Repetitivo (LER) e Doença Osteomuscular Relacionada ao Trabalho (DORT) |
BARBOSA, M. S. A.; SANTOS, R. M.; TREZZA, M. C. S. F. |
Ver Brás Enferm, Brasília 2007 set-out; 60(5): 491-6. |
Mobiliário antiergonômico, layout inadequado, inadequação postural frente aos equipamentos do posto de trabalho, exigência física demasiada. ausências de pausas, ritmo muito intenso de trabalho, gratificação atrelada ao trabalho, cobrança excessiva na produção, problemas nas relações e interações pessoais, ambientes de trabalho estressante, privação das necessidades fisiológicas. Medo de perder a gratificação e prejudicar a coordenação motora, falta de reconhecimento social da doença no ambiente de trabalho, ausência de solidariedade humana. |
As causas de LER/DORT são múltiplas e complexas originadas de fatores isolados e conjuntos, mas que exercem seus efeitos de forma simultânea e interligada. |
Avaliação da função do ombro em técnicos de trânsito pelo protocolo de Constant-Murley |
SANTOS, M. C.; LANCMAN, S. |
Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.15, n.3, p.259-65, jul./set. 2008 |
Repetitividade e o esforço físico de levantamento de pesos realizado no trabalho. |
A queixa de dor nos ombros está relacionada ao movimento repetitivo e ao esforço físico presentes na tarefa de trabalho |
Riscos biomecânicos posturais em trabalhadores de uma serraria |
OLIVEIRA, S. A. G., et al. |
Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.16, n.1, p.28-33, jan./mar. 2009 |
Flexão anterior de tronco apresentou nível de risco muito alto e as posturas de agachamento profundo, flexão ântero-lateral do tronco e movimento do corpo em extensão, nível de risco alto. |
requerem-se intervenções ergonômicas preventivas no posto de trabalho para adoção de posturas que melhor propiciem a execução das atividades com menor risco à saúde do trabalhador. |
Associação entre características pessoais, organização do trabalho e presença de dor em funcionários de uma indústria moveleira |
TSUCHIYA H. Z. C.; LAVORATO, M; GOBBO C. |
Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.16, n.4, p.294-8, out./dez. 2009 |
Jornada dupla da mulher, maior repressão gerando medo, tensão e estresse, além de as trabalhadoras geralmente serem responsáveis por trabalhos mais minuciosos |
Os resultados sugerem a necessidade de intervenção fisioterapêutica preventiva. |
Nas mãos das charuteiras, histórias de vida e de LER/DORT |
CUNHA, T.; FREITAS, M. |
Revista Baiana de Saúde Pública v.35, n.1, p.159-174 jan./mar. 2011 |
As trabalhadoras executam movimentos suaves e repetitivos que atingem os membros superiores e a sua coluna vertebral. |
Propor ações de educação, vigilância e intervenção nesses setores considerados artesanais de trabalho, mostrando a morbidade dessa atividade para as trabalhadoras e para a sociedade. |
Contribuições para a investigação de lesões por esforços repetitivos –DORT em membros superiores |
GONZALEZ, L.R., et al. |
Rev Soc Bra Clin Med 2008; 6(2): 72-78 |
Vícios posturais na vida diária, distúrbios emocionais, antecedentes pessoais e familiares
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Investigar detalhadamente a anamnese ocupacional, a semiologia, o gesto ocupacional da atividade com sua relação de força, repetitividade e posições estáticas para o estabelecimento do nexo causal. |
Atividade ocupacional e prevalência de dor osteomuscular em cirurgiões-dentistas de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil:contribuição ao debate sobre os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho |
SANTOS FILHO, S. B. & BARRETO, S. M. |
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 17(1):181-193, jan-fev, 2001 |
mobiliário e método de trabalho, o barulho/ruído dos compressores |
incentivando e orientando o debate sobre os DORT na categoria e a discussão de possíveis medidas de prevenção. |
Doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho (DORT) e sua associação com a enfermagem ocupacional. |
BARBOZA, M. C. N., et.al. |
Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008 dez;29(4):633-8. |
Avaliar suas capacidades, tanto físicas, emocionais como mentais, e esses esforços excessivos podem desenvolver DORT |
Atuar na prevenção de problemas de DORT |
Sintomatologia Músculo-Esquelética Relacionada ao Trabalho e sua Relação com Qualidade de Vida em Bancários do Meio Oeste Catarinense |
MERGENE,R., et.al. |
Saúde Soc. São Paulo, v.17, n.4, p.171-181, 2008 |
Não há pausas no trabalho e trabalhavam em uma única posição apresentaram uma maior prevalência de sintomas musculares |
Prevalência de sintomas músculo-esqueléticos entre os bancários da região foi alta, correlacionando-se negativamente à sua qualidade de vida. |
Aspectos da organização do trabalho e Distúrbios osteomusculares: o caso dos Trabalhadores das indústrias cerâmicas |
MELZER, A. C. S. |
RBPS 2008; 21 (3) : 161-166 |
Sem variação na postura; o ritmo de trabalho é elevado; as atividades executadas são de curta duração e realizadas em uma freqüência alta, combinando posturas estáticas e dinâmicas, com ênfase para movimentos rápidos e repetitivos de membros superiores. |
Ritmo elevado, exigências de produção, prolongamento da jornada e aspectos relacionados ao ambiente social de trabalho, não permitem a adoção de estratégias de enfrentamento dos riscos, possibilitando o desenvolvimento dos distúrbios osteomusculares. |
Exercícios físicos e seus efeitos nas queixas osteomusculares e na satisfação do trabalho |
MARTINS, L. V.; BAÚ, L. M. S.; MARZIALE, M. H. P.; FRANCO, B. A. S. |
Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2011 out/dez; 19(4):587-91 |
Tarefas contínuas, sem período de pausas; por permanência na postura sentada e estática e mobiliário inadequado.
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O programa de exercícios físicos de alongamento e orientações durante cinco semanas reduziu o número de queixas osteomusculares. |
Fatores de risco físicos e organizacionais associados a distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho na indústria têxtil |
MELZER, A.C.S. |
FISIOTERAPIA E PESQUISA 2008; 15(1): 19-25 |
Pouca iluminação, ambiente de trabalho quente, ritmo de trabalho elevado, atividades de curta duração e alta repetitividade, posturas de elevação do braço acima da altura da cabeça movimentos repetidos de punho. |
Investimentos em tecnologia que não acompanham mudanças na organização e nas condições de trabalho resultam na manutenção ou no agravamento das situações de risco reconhecidamente associadas aos DORT. |
Fatores de risco dos distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho de enfermagem |
MOREIRA, A. M. R.; MENDES, R. |
R Enferm UERJ 2005; 13:19-26. |
Atividades realizadas no trabalho que demandavam esforço físico; mobilização de materiais que demandava esforço físico; características do posto de trabalho. |
Expostos a vários fatores de risco dos DORT, principalmente os de natureza organizacional e ergonômica. |
Riscos de lesão musculoesquelética em diferentes setores de uma empresa calçadista |
LOURINHO, M. G., et. al. |
Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.18, n.3, p. 252-7, jul/set. 2011 |
Movimentos de abdução de ombro e desvio de punho, associados à contração estática; movimentos de flexão e rotação de tronco em todos os ciclos; As posturas da mão e do punho desviaram da postura neutra |
Há riscos posturais, sendo que o setor de montagem apresentou maior risco para DORT devido à alta repetitividade das tarefas |
Prevalência e fatores associados à sintomatologia dolorosa entre profissionais da indústria têxtil |
MACIEL, A.C.C., et. al. |
Ver Brás Epidemiol 2006; 9(1): 94-102 |
Horas extras, manutenção prolongada da postura de trabalho em pé |
Concluir que houve uma alta prevalência de dor, com associação significativa com vários aspectos relacionados ao trabalho, e alguns fatores sociodemográficos e de saúde, sendo portanto necessária uma atuação interdisciplinar, multiprofissional e intersetorial. |
Dentre os autores citados, destacam-se alguns fatores que favorecem o surgimento dos DORT’s, como: fatores de natureza ergonômica, alta repetitividade de um mesmo padrão de movimento; esforço excessivo muscular; compressão de estruturas dos membros superiores; ambiente frio e com vibração; mobiliário inadequado que obriga a adoção de posturas incorretas dos membros superiores; posturas estáticas. Os fatores de natureza organizacional: execução de tarefas monótonas e muito fragmentadas, exigindo gestos repetitivos; jornadas prolongadas de trabalho, com freqüente realização de horas extraordinárias; dobras de turno; ritmo acelerado de trabalho; ausência das pausas; e número inadequado de funcionários, levando a uma sobrecarga de trabalho. Os fatores de natureza psicossocial: pressão excessiva para os resultados (cobrança de superiores, acúmulo de tarefas); ambiente excessivamente tenso; problemas de relacionamento interpessoal; e trabalho rigidamente hierárquico, sob pressão permanente das chefias.
Nos processos de produção associados às posturas inadequadas ocorre o manuseio e levantamento de carga, que pode contribuir para o surgimento de desconforto e risco biomecânico, principalmente à nível de membros superiores, devido ao estresse biomecânico produzido (PADULA, 2003).
Discussão
Os fatores de risco no desencadeamento das DORT interagem entre si e devem ser analisados e investigados de forma integrada. Envolvem aspectos biomecânicos, cognitivos, sensoriais, afetivos e de organização do trabalho. Um posto de trabalho com dimensões errôneas podem forçar o trabalhador a adotar posturas antálgicas, a se comportar de forma a causar ou agravar as afecções musculoesqueléticas.
Os fatores organizacionais e psicossociais ligados ao trabalho: são as percepções subjetivas que o trabalhador tem dos fatores de organização do trabalho. A “percepção“ psicológica que o indivíduo tem das exigências do trabalho é o resultado das características físicas da carga, da personalidade do indivíduo, das experiências anteriores e da situação social do trabalho (KUORINKA, 1995). A execução de uma atividade com exigência prolongada e excessiva acaba conduzindo também ao surgimento de lesões (MENDONÇA & ASSUNÇÃO, 2005).
Os fatores associados à queixa de dor foram consistentes com aqueles encontrados em outros estudos, incluindo fatores importantes em saúde ocupacional, como o ruído, aspectosda organização do trabalho como a produtividade, características individuais e psicossociais (BUCKLE, 1997). Os estudos epidemiológicos confirmam a relação dos movimentos de esforço, repetição e sobrecarga estática na origem de muitos problemas músculo-esqueléticos (BERNARD, 1997). Entre os mecanismos fisiopatológicos referidos na gênese desses problemas, englobam-se contrações contínuas e aumento de pressão intramuscular, interrupção do aporte sangüíneo e compressões de feixes nervosos, levando a sofrimento muscular crônico (BUCKLE, 1997). Essas condições parecem explicar tanto a associação com a exposição no trabalho, como outras atividades que envolvam esforço semelhante.
Quanto mais precoce feito o diagnóstico da patologia mais cedo o trabalhador pode ser tratado evitando o processo evolutivo da doença. Devido a grande quantidade de estímulos, os tecidos nervosos dos membros superiores tornam-se sensíveis ao grau de amplitude músculo-esquelético, ao limiar de excitabilidade mais baixo, fazendo com que seja enviado sinais mesmo na ausência de estímulos (COLE, 2005).
Os distúrbios de ombro podem propiciar a saída precoce do trabalho devido a seu quadro clínico disfuncional, tendo alto impacto na utilização dos serviços de atenção a saúde (SVENDSEN et al. 2004)
Considerações finais
Diante da revisão bibliográfica realizada neste estudo, conclui-se que para qualquer distúrbio que detenha relação com o trabalho é indispensável o diagnóstico multidisciplinar, fundamentado na anamnese ocupacional e história de vida do indivíduo, correlacionando o quadro clínico com a atividade ocupacional desempenhada pelo trabalhador.
A prevenção sem dúvidas vem se tornando a melhor e mais barata alternativa do setor empresarial para minimizar ou até mesmo evitar a doença no ambiente laboral através de medidas de segurança, ergonômicas e principalmente melhorando a qualidade de vida no trabalho. Quando falamos de prevenção não devemos apenas pensar em incluir um programa de atividades físicas para os funcionários, mas sim tentar evitar a doença de todas as formas, e que para isso seria imprescindível que fosse realizada uma análise ergonômica dos postos de trabalho, seguida da adequação destes locais de trabalho em função de cada pessoa.
Referências
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BALDAN C.; RODRIGUES J.S.; NAKANO K.; WALSH I.A.P.; ALEMMER, COURY H.J.C.G. Avaliação dos aspectos pessoais ocupacionais e psico-sociais e sua relação no surgimento e/ou agravamento de lesões musculoesqueléticas em um setor de trabalho. Rev Fisioter Mov. 14(2):37-42. 2001/2002.
BALOGH, I. Questionnaire-based mechanical exposure indices for large population studies: reliability, internal consistency and predictive validity. Scandinavian Journal of Work and EnvironmentalHealth, Helsinki, v. 27, n. 1, p. 41-48, 2001.
BAMMER, G. Work-related neck and upperlimb disorders: Social, organisational, biomechanical and medical aspects. In: I Seminário Internacional Fiemg de Saúde Ocupacional/Lesões por Esforços Repetitivos/LER, Belo Horizonte. 1996.
BERNARD, B. P. Musculoskeletal Disorders (MSDs) and Workplace Factors: A Critical Review of Epidemiologic Evidence for Work-Related Musculoskeletal Disorders of the Neck, Upper Extremity and Low Back. 24 October. 2000.
BRASIL. MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL. Anuário estatístico da Previdência Social 2005: Seção IV - acidentes do trabalho. Brasília, 2006 [citado 28 jun 2007].
CODO, W.; ALMEIDA, M. C. C. G. LER: diagnóstico, tratamento e prevenção: uma abordagem interdisciplinar. 3ª ed. Petrópolis (RJ): Vozes; 1997.
COLE, D. C.; ROBSON, L.S.; LEMIEUX-CHARLES, L.; MCGUIRE, W.; SICOTTE, C. & CHAMPAGNE, F. Quality of working life indicators in Canadian health care organizations: a tool for healthy, health care workplaces? Occupational Medicine, [S.l.], 55, p.54–59, 2005.
COURY, H. J. C. G.; WALSH, I. A. P.; PEREIRA, E. C. L.; MANFRIM, G. M.; PEREZ, L. Indivíduos portadores de L.E.R. acometidos há 5 anos ou mais: um estudo de evolução da lesão. Ver Brás Fisioter. 3(2):79-86. 1999.
IIDA I. Ergonomia: projeto e produção. São Paulo: Edgard Blucher. 2005.
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SVENDSEN, S.W.; BONDE, J.P.; MATHIASSEN, S.E.; STENGAARD & PEDERSEN, K.; FRICH, L.H. Work related shoulder disorders: quantitative exposure response relations with reference to arm posture. Occup Environ Med. 61: 844-53. 2004.
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