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Análise das oportunidades para o desenvolvimento motor 

de crianças de 3 a 18 meses em uma creche pública em 

um município da fronteira oeste do Rio Grande do Sul

Análisis de las oportunidades para el desarrollo motor de niños de 3 a 18 meses en 

un jardín maternal público en un municipio de la frontera oeste de Río Grande do Sul

 

*Acadêmica de Fisioterapia 9º semestre da Universidade Federal do Pampa

**Professor do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Pampa

(Brasil)

Débora Fiorenza Lavarda*

dehlavarda@hotmail.com

Denielle de Freitas Machado*

deniellemachado@yahoo.com.br

Eloá Maria dos Santos Chiquetti**

eloachiquetti@unipampa.edu.br

Christian Caldeira Santos**

christiancaldeirasantos@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Objetivo: Avaliar as oportunidades de estimulação motora de crianças até 18 meses em uma Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) em um município da fronteira oeste do Rio Grande do Sul (RS). Materiais e métodos: a pesquisa teve caráter transversal e foram avaliadas as oportunidades das crianças de 3 salas de aula de fase I e II da escola a partir do questionário AHEMD (Affordances in the Home Environment for Motor Development). Resultados: Foram avaliadas 39 crianças e nas três fases a pontuação caracterizou alta oportunidade. A etapa IA obteve 101 pontos; a etapa IIA 90 pontos e a etapa IIB 87 pontos. Conclusão: o estudo demonstrou que a creche oferece alta oportunidade de estímulos para o desenvolvimento motor da criança na estrutura ambiental, nas tarefas diárias da criança e na questão dos brinquedos fazendo-se necessários novos estudos em outras instituições públicas e privadas a cargo de comparação dessas variáveis.

          Unitermos: AHEMD. Affordances. Desenvolvimento motor. Crianças.

 

Abstract

          Objective: To evaluate the opportunities for motor stimulation of children up to 18 months in a Municipal School of Early Childhood Education (EMEI) in a city in western frontier of Rio Grande do Sul (RS). Materials and methods: The study was cross-sectional and were evaluated opportunities for children 3 classrooms phase I and II school from the questionnaire AHEMD (Affordances in the Home Environment for Motor Development). Results: We evaluated 39 children and three phases characterized high chance to score. Step IA obtained 101 points, 90 points to step IIA and IIB step 87 points. Conclusion: The study showed that the nursery offers high chance of stimuli for the child's motor development in environmental structure in the daily tasks of the child and the issue of toys making up new studies in other private and public institutions in charge of these comparison variables.

          Unitermos: AHEMD. Affordances. Motor development. Children.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 190, Marzo de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Caracterizado como seqüencial e contínuo o desenvolvimento motor está relacionado com a idade cronológica, e a partir dele o ser humano adquire suas habilidades motoras, as quais evoluem de movimentos simples e descoordenados para a execução de tarefas motoras altamente organizadas e complexas (HAYWOOD e GETCHELL 2004). Sabe-se que o desenvolvimento motor acontece com maior intensidade na infância, pois nesse período a capacidade de reorganização do sistema nervoso central (plasticidade) é maior, possibilitando aumento nos ganhos motores e nos sistemas que integram o movimento (ALMEIDA, 2004; RECH, 2005; SCHOBERT, 2008)

    A teoria maturacional, afirma que os movimentos ordenados feitos pela criança no primeiro ano de vida são determinados pela maturidade das áreas motoras, entretanto o desenvolvimento não é só resultante de um código genético que indica o tempo exato em que as crianças devem realizar as trocas de postura até o andar. Outras teorias, mais contemporâneas, como é o caso da teoria dos sistemas dinâmicos, reconhecem a importância de uma gama de fatores, além da hereditariedade, que interferem no desenvolvimento do individuo, que com certeza não se dá através de um único fator (CLARK, 1994 citado por GONÇALVES et al, 1995).

    Segundo Almeida et al (2005),o desenvolvimento motor é influenciado pela interação entre a criança e o ambiente que a mesma está inserida. Os estímulos são essenciais para a garantia do desenvolvimento e crescimento adequados, pois cada estímulo exige uma resposta motora promovendo o ganho de habilidades conforme as necessidades de resposta ao meio (SACCANI et al., 2007). Rodrigues et al (2005), afirmam que o meio em que o bebê vive atua complexamente sobre seu aprendizado motor e o ambiente de casa é o principal responsável pela aprendizagem e desenvolvimento.

    Para Schobert (2008) a atual e crescente atuação da mulher no mercado de trabalho, para garantir melhores condições socioeconômicas à família, eleva o número de crianças que passam a maior parte do tempo em creches e escolas e tendo conhecimento sobre a relação entre os fatores influentes do meio e os resultados expressos no desenvolvimento motor durante a primeira infância é extremamente importante que sejam elucidados possíveis efeitos associados ao longo período em creches (BALTIERI, et al, 2010).

    Entretanto, a educação infantil caracteriza-se como um direito da criança e é reconhecida pelo Ministério da Educação (2006) como uma forma de cuidado extradomiciliar que tem o dever de garantir o desenvolvimento pleno e integral da criança acrescentando a ação familiar. A instituição educacional deve contemplar os aspectos físico, psicológico, intelectual e social da criança, pois o desenvolvimento é resultado da integração de todas estas dimensões e as mesmas não se caracterizam distintamente.

    Segundo Cordazzo e Vieira (2007) o desenvolvimento infantil é estimulado, quase que completamente, pelo ato de brincar, não interessando o tipo ou dos aspectos do brinquedo. A criança em suas primeiras brincadeiras primeiramente observa para depois manipular os objetos, isso proporciona o conhecimento do meio a partir da interação dos sentidos. Para Smith (1982) citado por Cordazzo e Vieira (2007) o brincar não é apenas uma diversão, pois por meio da ação a criança acaba estimulando vários aspectos que contribuem para o desenvolvimento integral. A princípio desenvolve os aspectos físicos e sensoriais e esses são auxiliares para a criança desenvolver a percepção, as habilidades motoras, a força e resistência.

    Assim, o ambiente no qual a criança se desenvolve é pouco investigado em pesquisas, apesar de ser um importante fator de estímulo/prejuízo no desenvolvimento neuropsciomotor da mesma, especialmente na aquisição de aprendizagem motora e um ambiente adverso pode apresentar riscos e influenciar negativamente o aprendizado do bebê (RODRIGUES et al, 2007).

    Com base no citado acima o objetivo do trabalho foi avaliar as oportunidades de estimulação de crianças de 0-18 meses em uma escola pública de educação infantil em um município da fronteira oeste do Rio Grande do Sul (RS).

Materiais e métodos

    A coleta foi realizada em uma Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI), a pesquisa teve caráter transversal e foram avaliadas as oportunidades das crianças de 3 salas de aula de fase I e II, nas quais a idade das crianças não ultrapassava 18 meses.

    Para a avaliação foi utilizado o questionário AHEMD (Affordances in the Home Environment for Motor Development) o qual permite uma avaliação simples, rápida e eficaz das oportunidades da criança, o qual desenvolvido para ser aplicado especialmente nos lares onde as crianças vivem, mas considerando que nas fases avaliadas as crianças permanecem em turno integral, é na creche onde as mesmas passam a maior parte do dia e é a instituição que proporciona às mesmas a base para o desenvolvimento global.

    Segundo Schobert (2008) o questionário é um instrumento que avalia o quanto o ambiente promove ou influencia o desenvolvimento motor infantil. Foi desenvolvida por faixas etárias em meses englobando idades entre três e quarenta e dois meses de idade. Neste estudo foi aplicado o questionário de três a dezoito meses, muito utilizado, embora ainda esteja em processo de validação no país.

    O instrumento é baseado em informações da criança, da família, do ambiente externo e interno, das atividades diárias e sobre os brinquedos presentes no ambiente. Como o estudo foi realizado na creche, onde as professoras ficaram responsáveis por responder sobre as oportunidades que seus alunos têm na escola, em cada uma das fases I e II, foram priorizadas as informações do ambiente externo e interno atividades diárias e sobre os brinquedos.

    Após a aplicação dos questionários os dados foram calculados e analisados. As pontuações dos itens ambientais são respostas dicotômicas às quais foram atribuídas valores de “1” para resposta sim e “0” para a resposta não em cada uma das questões. As questões de variedade de estimulação da criança constituem 14 itens que tem suas respostas apresentadas de maneira diferente, onde as primeiras sete questões têm respostas dicotômicas, às quais foram atribuídos novamente valores de “1” para resposta sim e “0” para resposta não, e as outras sete são respostas com variáveis polinomiais, com base nisso foi estabelecido o cálculo a partir de Escala de Likert na qual o valor real dos objetos correspondia a valores numéricos na escala sendo que para as atividades diárias as respostas são de freqüência onde “0” representa sempre, e “1” quase sempre, “2” às vezes e “3” nunca. O mesmo foi feito sobre as pontuações dos brinquedos de motricidade fina e ampla que são polinomiais, utilizou-se Escala de Likert na qual o valor real dos objetos correspondia a valores numéricos na escala sendo que “0” corresponde a nenhum brinquedo e “6” corresponde a cinco ou mais brinquedos.

    Dessa maneira a pontuação máxima que pode ser obtida considerando o ambiente físico é de 13 pontos, nas atividades diárias 28 pontos e nos brinquedos e materiais 126 pontos. Somados, totalizam 167 pontos.

    A partir das pontuações, as oportunidades são classificadas em baixa, média e alta. Sendo a baixa oportunidade 31 pontos ou menos, média oportunidade de 32 à 48 pontos e alta oportunidade 49 pontos ou mais.

Resultados

    Foram avaliadas 3 turmas que compreendem as etapas I e II de uma Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) totalizando 39 crianças com idades dentro do limite preestabelecido, sendo que todas as etapas apresentaram resultados que caracterizam alta oportunidade: Etapa IA: 101 pontos; Etapa IIA: 90 pontos; Etapa IIB: 87 pontos; média entre as etapas: 92,66 (Gráfico 1).

    Na análise intra e intergrupos (Gráfico 2) notam-se as pontuações específicas em cada subgrupo da escala, mostrando que na questão ambiental as crianças da etapa IA têm menos oportunidades, enquanto as fases IIA e IIB oferecem as mesmas oportunidades. Nas atividades realizadas diariamente as crianças da fase IIB são mais estimuladas, seguidas das crianças da fase IA e IIA respectivamente. Já na questão dos brinquedos oferecidos às crianças, a fase IA é a que mais contempla as oportunidades para o desenvolvimento motor.

Gráfico 1. Escore total do AHEMD das etapas IA, IIA e IIB com os escores máximo, mínimo e médio

 

Gráfico 2. Escores detalhados nos subgrupos da escala para cada uma das três etapas

Discussão

    Segundo Baltieri et al (2010) atualmente as crianças ingressam nas creches a partir do primeiro trimestre de vida e geralmente permanecem em tempo integral, somente retornando à família no final do dia, com base nisto torna-se de grande importância estudar as possíveis influências do ambiente escolar no desenvolvimento integral da criança. No mesmo estudo, no qual foram avaliadas 40 lactentes de duas creches públicas os resultados obtidos em relação ao desenvolvimento motor global e o cognitivo estavam abaixo da média de referência. O mesmo não acontece no município da fronteira oeste do Rio Grande do Sul onde as crianças foram avaliadas, no qual todas as crianças entre três e dezoito meses têm boas oportunidades de estimulação motora na instituição.

    O estudo de Pilatti et al (2010), também realizado no estado do Rio Grande do Sul, avaliou por meio do AHEMD 21 crianças entre 18 e 42 meses de uma creche municipal, a avaliação foi realizada no ambiente familiar independente de fatores como renda familiar, os estímulos que as crianças recebiam no ambiente externo de casa ficavam muito próximos do “muito fraco”, na parte interna “muito bom”, na variabilidade de estímulos a maioria apresentou fraca variedade de estimulação no ambiente doméstico e nos brinquedos de motricidade fina e ampla, a grande maioria obteve avaliação de “muito fraco”. Sendo que neste estudo, que foi realizado dentro da escola, onde as crianças permanecem por mais tempo os resultados encontrados em todas as etapas e em todos os quesitos do questionário demonstraram alta estimulação, podendo ser um indicativo de que independente de classe social a creche oferece melhores oportunidades para o desenvolvimento infantil.

    Em outro estudo, realizado com crianças entre três a dezoito meses por Defilipo et al (2012) observando as oportunidades dentro de casa os resultados são preocupantes, pois demonstram que as oportunidades de estimulação ambiental para o desenvolvimento motor foram relativamente baixas e demonstraram que as variáveis estado civil materno, escolaridade da mãe e do pai e classificação econômica estão fortemente associadas com as oportunidades oferecidas às crianças, pois quanto mais altas forem estas o desenvolvimento é mais favorável. O mesmo não ocorre com as crianças que freqüentam a escola em turno integral, pois têm a mesma oportunidade independente de classe social e escolaridade dos pais demonstrando ser um fator positivo no desenvolvimento integral infantil.

    Schobert (2008) ao final de seu estudo avaliando o desenvolvimento motor dos bebês em creches mostrou que 50% dos bebês entre seis e dezoito meses avaliados também no estado do Rio Grande do Sul apresentaram desempenho motor suspeito de atraso ou com atraso confirmado, que mesmo não sofrendo influência das condições financeiras da família, variou de acordo com a gestão das creches avaliadas. Assim é importante analisar no município deste estudo as oportunidades de estimulação motora em outras creches públicas e privadas para elucidação desta variável adicional.

Conclusão

    Com base no supracitado, o estudo demonstrou que a Escola de Educação Infantil onde as crianças foram avaliadas, oferece “alta oportunidade” de estímulos para o desenvolvimento motor da criança tanto na estrutura ambiental, tarefas diárias da criança quanto na questão dos brinquedos, nas três etapas avaliadas embora ainda haja a necessidade de novos estudos em outras instituições públicas e privadas a cargo de comparação dessas variáveis.

Referências

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  • SACCANI, R., BRIZOLA, E.,GIORDANI, A.P., SIMONE B., THAÍS L.R., ALMEIDA, C.S. Avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor em crianças de um bairro da periferia de Porto Alegre. Scientia medica, Porto Alegre, v. 17, p. 130-137, 2007.

  • SCHOBERT, L. O desenvolvimento motor de bebês em creches: um olhar sobre diferentes contextos (Dissertação). Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2008. 158 p.

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