Abuso sexual infantil: repercussões sociais, emocionais e cognitivas Abuso sexual infantil: repercusiones sociales, emocionales y cognitivas |
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*Acadêmicos de Enfermagem. Faculdade de Saúde Ibituruna (FASI) **Professor do Curso de Graduação em Enfermagem da FASI. Especialista em Educação Profissional na Área da Saúde (Fundação Osvaldo Cruz/Escola Nacional de Saúde Pública). Professor de Saúde da Criança na Rede Soebras Plataforma Norte (campus FUNORTE). Analista Universitário de Saúde: Enfermeiro assistencial em UTI neonatal e Pediátrica (Brasil) |
Adriana Barbosa Ayres Soares* Camila Lôpoalkmim* Débora Fagundes Brito* Isabela Mary Alves Miranda* Rodrigo Marques Batista da Rocha* Vanessa Maia da Silva* Tadeu Nunes Ferreira** |
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Resumo O abuso sexual infantil é entendido como qualquer ato sexual ou tentativa de obter um ato sexual, por meio do uso de força ou de coerção, ameaça de danos por qualquer pessoa, independente do grau de relação com a vítima e do ambiente no qual a violência ocorre. Essa revisão integrativa busca conhecer os fatores e as conseqüências relacionados ao abuso sexual infantil, bem como, identificar os principais atores e compreender o comportamento de crianças vitimadas na vida adulta. Os sujeitos da pesquisa foram os artigos publicados nos últimos seis anos, (2007 e 2012), composto por texto completo, disponibilizado em língua portuguesa e artigos que abordavam abuso sexual infantil. Diante da análise, verificamos que o abuso sexual infantil traz várias conseqüências emocionais para a vítima, como sentimentos de medo, ansiedade, distúrbio do sono, transtorno de estresse pós-traumático, que repercutem na vida adulta. Acomete mais o sexo feminino, sendo os principais atores os pais, com ênfase na figura paterna. A criança por medo, na maioria dos casos, não revela que sofre abuso a ninguém, e quando a mãe tem conhecimento sobre o abuso algumas se mantém vulneráveis e outras não dão crédito ao depoimento da filha. Unitermos: Abuso sexual. Infantil.
Abstract Child sexual abuse is understood as any sexual act or attempt to obtain a sexual act, through the use of force or coercion, threat of harm by anyone, regardless of the degree of relationship to the victim and the environment in which violence occurs. This integrative review seeks to understand the factors and consequences related to child sexual abuse, as well as identify key actors and understand the behavior of children victimized in adulthood. The research subjects were articles published in the last six years (2007 and 2012), composed of full text, available in Portuguese and articles that addressed child sexual abuse. Based on the analysis, we found that child sexual abuse brings several emotional consequences for the victim, such as feelings of fear, anxiety, sleep disorder, disorder, post-traumatic stress, which affect in adulthood. Affects more females, and the main actors parents, with emphasis on the father figure. The child of fear, in most cases, does not reveal to anyone suffering abuse, and when the mother has some knowledge about the abuse remains vulnerable and others not give credence to the testimony of the daughter. Keywords: Sexual abuse. Children.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 190, Marzo de 2014. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A violência sexual é considerada, pela Organização Mundial de Saúde, um problema global tanto no senso geográfico, por estar presente em todos os países do mundo e níveis da sociedade, como por atingir pessoas de ambos os sexos e de todas as idades. Quanto à conceituação, a OMS aponta que a terminologia utilizada pode variar de acordo com a abordagem médica, social, país e regiões de um mesmo país. É definida como qualquer ato sexual ou tentativa de obter um ato sexual, por meio do uso de força ou de coerção, ameaça de danos por qualquer pessoa, independente do grau de relação com a vítima e do ambiente no qual a violência ocorre (BONAFÉ, SEI, ARRUDA, 2009).
Estudos apontam que em famílias abusivas é freqüente a presença de conflitos sexuais no casal. As mães, de certa forma, afastam-se da função materna e delegam à filha o papel de mulher da casa. Pesquisas sugerem que o próprio despreparo e desconhecimento dessas mães, no que se refere à educação sexual, propiciam uma tolerância exagerada a atos considerados bizarros e/ou violentos. A relação conjugal dessas mulheres é cercada de cuidados, tanto oferecendo atenção ao companheiro como prevenindo agressões. Além disso, essas mulheres apresentam medo, dependência afetiva e financeira de seus companheiros, e são submissas às ordens da família de origem, demonstrando obediência aos pais e reproduzindo esse comportamento na relação conjugal, ao evitar confrontos (SANTOS, DELL’AGLIO, 2008)
Desse modo, por mais esforços que a vítima venha empreender para revelar o abuso, em famílias incestuosas a criança é intimada a manter o ato abusivo como um segredo de família, constituindo-se na Síndrome Conectora de Segredo e Adição. Assim, se, por um lado, a manutenção do silêncio beneficia a perpetuação das relações familiares incestuosas e incrementa a sua adição, por outro, a possibilidade de se intervir para abrir um espaço para a denúncia pode auxiliar a criança e sua família. Vale ainda dizer que os efeitos do silêncio favorecem o isolamento da vítima, além de aumentar a introjeção da culpa que a faz se sentir responsável pelo infortúnio, agravando-se, assim, o impacto traumático e suas conseqüências (SCORTEGAGNA, VILLEMOR-AMARAL, 2012).
Tanto o abuso físico como o sexual são fatores de risco para o desenvolvimento de respostas desadaptativas, não somente na infância e/ou na adolescência, mas também na fase adulta. Entre as conseqüências que o abuso sexual pode acarretar às crianças e adolescentes vitimadas estão o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), Transtorno Dissociativo, Transtorno Depressivo Maior, Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e Transtornos Alimentares. Além disso, crianças e adolescentes expostos à violência sexual podem apresentar ainda comportamentos como sentimentos de culpa e de diferença em relação aos pares, baixa autoestima, timidez, agressividade, medo, embotamento afetivo, isolamento, dificuldade em confiar-nos outros, alterações no sono, dores abdominais, fugas de casa, mentiras, sexualidade exacerbada e desesperança em relação ao futuro (SANTOS, DELL’AGLIO, 2008).
Não obstante, a forma como cada criança vivencia o abuso é diversa. Há aquelas que se fascinam com o abuso e se tornam, elas próprias, abusadoras; outras temem o abusador mais do que o abuso em si; outras sentem uma profunda afeição pelo abusador, outras ultrapassam os receios e sofrimentos advindos da situação de abuso; por fim, há crianças que experimentam todas estas dificuldades. Diante deste panorama, “tanto a vítima, quanto a família necessitam de acompanhamento psicológico”, com recomendações de que uma abordagem familiar seja adotada nas intervenções terapêuticas no âmbito do abuso sexual (BONAFÉ SEI, ARRUDA, 2009).
A denúncia e a intervenção judicial são, em grande número dos casos, o único recurso de que dispõem as famílias e vítimas diretas para se protegerem e se livrarem de um contexto abusivo, tendo em vista que a violência é perpetrada, em sua maioria, por uma pessoa da família e é caracterizada pela imposição do silêncio, das ameaças implícitas e/ou explícitas, trazendo o perigo para dentro da própria casa (SANTOS, DELL’AGLIO, 2009).
Metodologia
O método utilizado foi a Revisão Integrativa de Literatura e a busca de artigos procedeu-se no mês de junho de 2013, em fontes secundárias de bancos de dados eletrônicos, a partir das bases de dados BDENF, Scielo, Lilacs orientados pelos seguintes descritores: abuso sexual e infantil. Com relação ao abuso sexual infantil, foram encontrados 702 artigos. Após filtro, restaram 152 e desses foram selecionados 14 artigos para compor a amostra.
Resultados e discussão
Após a seleção do material, procedeu-se a análise sistemática das referências, com o objetivo de compreender os fatores principais relacionados ao tema, a partir das seguintes categorias: Os atores principais e os vínculos envolvidos na gênese do abuso, O abuso sexual infantil e as conseqüências no desenvolvimento cognitivo, social, físico e emocional da vítima, A intervenção jurídica na violência sexual infantil e A percepção dos abusadores frente à criança.
Tabela 1. categorização da amostra de artigos
Categorias |
Questões relacionadas |
Fontes |
Os atores principais e os fatores envolvidos na gênese do abuso |
A identificação do agressor; O ambiente que ocorre a violência; O vínculo do agressor com a criança. |
Santos, Costa, Granjeiro, 2009 Penso et al, 2009 Costa, et al, 2007 Scortegagna, Villemor-Amaral, 2012 |
A posição materna frente ao abuso |
Os sentimentos maternos diante do abuso.
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Santos, Dell'Aglio, 2009 Santos, Dell'Aglio,2008 |
O abuso sexual infantil e as conseqüências no desenvolvimento cognitivo, social, físico e emocional da vítima |
Os sentimentos experimentados pela criança que sofreu violência sexual; As conseqüências do abuso para a vítima |
Boarati, Sei, Arruda, 2009 Scortegagna, Villemor-Amaral, 2012 Borges, Dell'Aglio, 2008 Santos, Dell'Aglio,2008 |
A intervenção jurídica na violência sexual infantil |
As ações e a contribuição da justiça diante do relato ou suspeita de abuso. |
Pelisoli, Gava, Dell'aglio, 2011 Santos, Costa, Granjeiro, 2009 Santos, Dell'aglio, 2010 |
A percepção dos abusadores frente à criança |
A percepção que os abusadores possuem sobre a criança no momento do ato. |
Mendes, Franca, 2012 Moura, Koller, 2008 Penso et al, 2009 |
Os atores principais e os fatores envolvidos na gênese do abuso
Segundo Santos, Costa, Granjeiro (2009), a violência sexual incestuosa não ocorre de repente, ao acaso. Não é linear e espontânea ou imprevisível. Ao contrário, utiliza-se de enredos e de cenários gerados nos próprios processos de sua construção.
Conforme Penso et al (2009), o maior índice de ocorrência de abuso sexual intrafamiliar, ocorre na modalidade do pai biológico abusando da filha menina. A grande dificuldade no incesto é que a criança não tem poder para impor limite ao pai ou padrasto. A sociedade impõe ao homem, que nesse contexto temos na figura paterna, o poder, a autoridade sobre a família constituída (esposa, filhos). A criança é indefesa, encontra-se na situação de dependência dos pais, assim cabe a mesma o papel de submissão, respeito, de forma que não tem liberdade de escolha perante o abuso, sendo imposta ao ato.
Por esse abusador ser alguém próximo da criança, ele aproveita da ingenuidade e da fragilidade da mesma, para que o ocorrido seja mantido em sigilo. Assim, Costa et al (2007), diz que a maior parte das vítimas de violência sexual não registra a queixa, por constrangimento e receio de humilhação, somados ao medo da falta de compreensão ou interpretação equivocada de familiares, amigos, vizinhos e autoridades.
Assim muito além das eventuais dores decorrentes do abuso, é a dor de perceber que seus primeiros objetos de amor, ao invés de oferecer proteção e afeto, agem em prol de seu aniquilamento.
A posição materna frente ao abuso
O abuso sexual infantil costuma acontecer no ambiente familiar, sendo o ator principal uma pessoa próxima da criança. Comumente o pai é o principal responsável pelo ato. Quando ocorrido, há um abalo em toda estrutura familiar, a mãe por ser formalizada como aquela que zela pela família, se encontra em uma situação difícil, pois tem que enfrentar a realidade do próprio cônjuge ser o agressor, a dor fraterna e o adultério.
Santos, Dell'Aglio (2008) concluem que em famílias abusivas é freqüente a presença de conflitos sexuais no casal.As mães, de certa forma, afastam-se da função materna e delegam à filha o papel de mulher da casa. Assim as manifestações de apoio, principalmente por parte da mãe, como acreditar no relato da criança ou adolescente, podem funcionar como mediadoras do impacto negativo do abuso sexual.
O abuso sexual infantil e as conseqüências no desenvolvimento cognitivo, social, físico e emocional da vítima
De acordo Boarati, Sei, Arruda (2009) a criança necessita de um ambiente suficientemente bom para um desenvolvimento emocional saudável. O abuso sexual, independentemente de ocorrer no âmbito da família ou externo à mesma, configura-se como uma situação de intrusão, que influencia negativamente no processo de desenvolvimento da criança. A conseqüência esta diretamente relacionada com o grau de parentesco, o vínculo, e a importância afetiva que o agressor tem para a criança.
Scortegagna, Villemor-Amaral (2012) dizem que as crianças que sofrem abuso sexual são comumente descritas como reservadas e defensivas, com menor disponibilidade para falar sobre suas dores internas e sobrevivem em ambientes familiares disfuncionais e negligentes. Sintomas de ansiedade, distúrbios do sono, transtorno de stress pós-traumático e comportamento sexual inapropriado se tornam habituais. Por exemplo, em crianças em idade escolar os sintomas predominantes incluem comportamento regressivo e agressivo, hiperatividade, distúrbios do sono e problemas escolares.
Boarati, Sei, Arruda (2009) afirma que a forma como cada criança vivencia o abuso é diversa. Há aquelas que se fascinam com o abuso e se tornam, elas próprias, abusadoras; outras temem o abusador mais do que o abuso em si; outras sentem uma profunda afeição pelo abusador, outras ultrapassam os receios e sofrimentos advindos da situação de abuso; por fim, há crianças que experimentam todas estas dificuldades.
Segundo Borges, Dell'Aglio (2008) as seqüelas do abuso sexual infantil podem ser diversas e severas. Incluem conseqüências físicas, como trauma físico, doenças sexualmente transmissíveis, abortos e gravidez indesejada na adolescência. Conseqüências emocionais, como medo, depressão, ansiedade, sentimento de culpa e TEPT (transtorno de estresse pós-traumático) têm sido comumente citados na literatura. Ainda existem conseqüências sexuais, alterações comportamentais, como isolamento, dificuldade de confiar no outro e estabelecer relações.
Santos, Dell'Aglio (2008) dizem que as seqüelas do abuso sexual podem persistir ao longo da vida adulta e estar relacionadas a um padrão de adaptação e ajustamento caracterizados por problemas emocionais, de comportamento e nas relações interpessoais. Além disso, pode afetar diferentemente para alguns indivíduos o conjunto de valores e crenças sobre ser pai ou mãe na vida adulta.
Considerações finais
O presente estudo nos mostra que a violência sexual infantil não ocorre ao acaso e de forma isolada ou imprevisível, e sim envolve diversos fatores que contribui para a ação do agressor e reação das vítimas que em sua maior parte não registra a queixa por receios e constrangimentos somados ao medo, opressão, vínculo pelo agressor e, possível interpretação e compreensão dos envolvidos no contexto social e familiar.
Ressalta-se ainda que, as ocorrências do abuso sexual infantil em sua maioria acontecem no ambiente familiar, sendo o ator principal uma pessoa próxima da criança, uma vez que, os estudos revisados apontam que a figura paterna ocupa os maiores números de agressores, seguidos dos padrastos, outros familiares e avôs.
Contudo, constata-se que os autores pesquisados são unânimes em afirmar a presença de uma fragilidade extrema nessas crianças e, grande dificuldade em lidar com as frustrações e culpas, o que influencia negativamente nos processos de desenvolvimentos físicos, psicológicos, emocionais e sexuais, trazendo-lhes dificuldades em estabelecer relações interpessoais e afetivas, mediante a confiança abalada pelo abuso, gerando sentimentos de insegurança, solidão e desamparo, podendo refletir em sua vida adulta em um Ser introvertido, hipoativo, agressivo e até mimetizador do agressor.
Portanto, ao analisarmos a solução que parece estar de fato distante para um problema tão complexo como este, é possível ressaltar que, intervenções dos profissionais de saúde podem contribuir significativamente para minimizar os efeitos negativos do abuso sexual infantil e suas conseqüências.
Referências
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