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A formação do professor de Educação Física e 

sua relação com o lazer: reflexões e desafios atuais

La formación del profesor de Educación Física y su relación con la recreación: reflexiones y desafíos actuales

 

*Graduado em Educação Física – UEPA; Especialista

em Lazer – UEPA; Mestre em Educação – UFPA, Docente do Curso de Educação Física

da Universidade Federal do Amapá – UNIFAP – Membro do Núcleo

de Estudos e Pesquisas em Educação Física, Esporte e Lazer – NEPEFEL/UNIFAP

**Discente do Curso de Educação Física da Universidade

Federal do Amapá – UNIFAP. Bolsista PIBIC/CNPq

Prof. Msc. Gustavo Maneschy Montenegro

Regiane da Silva Ataíde

gustavo_maneschy@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Este artigo apresenta os resultados preliminares do projeto de pesquisa “A inserção do lazer no currículo do Curso de Educação Física da Universidade Federal do Amapá-UNIFAP”, o qual está sendo desenvolvido junto ao Núcleo de Estudo e Pesquisa em Educação Física, Esporte e Lazer – NEPEFEL, vinculado ao Curso de Educação Física da UNIFAP. O presente artigo objetiva propor alguns pilares básicos que podem auxiliar a fundamentar ações para a formação profissional no campo do lazer, ações essas que visam ampliar a discussão desse tema nos cursos de Educação Física. Metodologicamente, esse texto assume as características de um ensaio teórico, em que se procurou expor, com base na revisão bibliográfica, algumas sugestões para implementação do lazer nos Currículos de Educação Física. Como resultado, aponta-se que essa formação possa ser fundamentada a partir de quatro eixos centrais: dimensão conceitual em lazer, políticas públicas de lazer, trabalho pedagógico em lazer e trabalho científico em lazer.

          Unitermos: Lazer. Educação Física. Formação de professores.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 190, Marzo de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Atualmente, vem sendo cada vez mais reconhecida a relevância do lazer como uma esfera essencial da vida do ser humano, momento esse que possibilita o desenvolvimento da pessoa no plano social, educacional e cultural.

    Nesse passo, ao recorrer aos estudos de Marcellino (2008, p. 10), é possível observar que se faz necessário compreender o lazer não apenas como uma vivência voltada para a diversão e para o entretenimento consumista, mas sim, é indispensável remetê-lo ao processo de políticas públicas, o qual, portanto, configura-se como um direito social, assim como a educação, saúde, trabalho e a moradia.

    Com isso, destaca-se o surgimento do campo denominado de “Estudos do Lazer”, que se configura como uma área multidisciplinar (ISAYAMA, 2010), que pode favorecer práticas interdisciplinares entre os profissionais das diferentes áreas que se dedicam a sua análise e reflexão (MONTENEGRO, 2012).

    Peixoto (2007) e Mascarenhas (2004) revelam que o lazer tem sido estudado por diversas áreas de conhecimento. A primeira identificou dezesseis campos do saber que tem produzido academicamente sobre o lazer, são eles a Sociologia, Direito, Filosofia, Etimologia, História, Geografia, Administração, Economia, Arquitetura e Urbanismo, Matemática, Enfermagem, Turismo e Hotelaria, Educação Física, Antropologia, Pedagogia e a Psicologia.

    Por sua vez, Mascarenhas (2004) afirma que o lazer é abordado como uma área de produção científica por diversos campos de conhecimento e por vários grupos de pesquisa no Brasil, o que explicita o seu crescimento e a sua importância na vida social.

    Nesse contexto, emerge e difunde-se a discussão sobre o lazer, que deixa de ser compreendido apenas como um privilégio de algumas pessoas, passando a ganhar novos olhares e horizontes. Assim, destaca-se que o mesmo vem sendo pensado como ponto de partida para se analisar a própria sociedade e seus valores, já que não pode ser desvinculado de outros planos da vida social (ISAYAMA, 2010). Em decorrência disso, a formação de profissionais para atuar nesse campo de estudos e intervenções surge como preocupação central de estudantes, profissionais e pesquisadores.

    Em sua relação com a Educação Física, evidencia-se, atualmente, que o lazer se apresenta como um significativo campo de atuação profissional, seja em Clubes, Escolas, Políticas Públicas de Esporte e Lazer, Colônia de Férias, na Gestão de Eventos e na Pesquisa, o que se faz necessário, portanto, conhecer o processo de formação docente voltado para a atuação nesses espaços.

    Essa aproximação pode ser identificada também a partir da constante presença de disciplinas específicas sobre lazer nos cursos de formação em Educação Física (MONTENEGRO, 2012), pelo aumento de cursos de Pós-Graduação, Lato e Stricto Senso, e também pela ampliação do espaço destinado ao estudo do lazer em encontros acadêmicos de Educação Física, como, por exemplo, no Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte (ISAYAMA, 2010).

    Embora isso possa ser visto nos dias atuais, Marcellino (2010) afirma que tradicionalmente, a Educação Física presta serviços na área de Recreação e Lazer desde as décadas iniciais do século XX, embora somente na década de 1960 a recreação tenha sido incluída formalmente na formação do profissional.

    Para o autor, “a grande vinculação entre educação física e recreação/lazer é vista no Brasil, no caminho histórico da ação profissional desde os anos de 1930” (MARCELLINO, 2010, p. 61). Isso mostra o longo percurso de associação entre essas áreas em nosso país.

    Mesmo com essa aproximação, as primeiras pesquisas sobre o lazer, no âmbito da Educação Física, ganharam força somente a partir da década de 1980 (MARCELLINO, 2010). Portanto, ao encontrar amparo teórico no pensamento do autor, é possível constatar que “existe uma diferença de muitos anos entre prática profissional, ensino e pesquisa, que se reflete ainda hoje na área” (MARCELLINO, 2010, p. 62).

    Isayama (2010), Campos e Silva (2010), Valente (1992), Werneck (2000) e Montenegro (2012) vem apontando algumas fragilidades na formação profissional voltada ao lazer nos cursos de Educação Física, questões essas que nos mostram a necessidade de repensar o processo de formação desenvolvido.

    Nos estudos realizados pelos autores, é possível evidenciar que a formação segue um viés que compreende o lazer a partir de abordagens essencialmente didático-metodológicas, fundamentadas na dimensão “prática”, ou seja, no treinamento do professor para aplicação de jogos.

    Apontam também, que as disciplinas fundamentam-se, basicamente, em livros que apresentam uma “receita pronta” de atividades recreativas, sem a devida contextualização da aplicação dessas dinâmicas. Além disso, os autores indicaram que as disciplinas se encontram isoladas, não interagindo com os demais componentes curriculares.

    É de se destacar também a existência de falta de clareza quanto ao enfoque utilizado nas disciplinas que abordam o tema do lazer: muitas oferecem a ideia da recreação com ênfase na reprodução de atividades por meio do ensino de jogos e brincadeiras, não superando a dicotomia teoria-prática enraizado historicamente na área, em que o lazer é atribuído com algo não sério, “válvula de escape”. Essas reflexões mostram o imperativo de redimensionar o processo de formação em lazer nos Currículos de Educação Física.

    Assim, esse texto objetiva propor alguns pilares básicos que podem auxiliar a fundamentar ações para a formação profissional no campo do lazer, ações essas que visam ampliar a discussão do lazer nos cursos de Educação Física.

    O texto estrutura-se da seguinte forma: primeiramente será apresentada a metodologia adotada no estudo; seguida da fundamentações teórica escolhida para sustentar a análise desenvolvida sobre a temática em questão – formação profissional em lazer. Por fim, serão apresentados alguns pilares que podem contribuir para orientar essa formação, em especial nos Currículos de Educação Física do Brasil.

Metodologia

    Trata-se de um ensaio teórico, o qual, de acordo com Severino (2007 p. 206), é caracterizado como um “estudo bem desenvolvido, formal, discursivo e concludente, consistindo em exposição lógica e reflexiva e em alta argumentação rigorosa com alto nível de interpretação e julgamento pessoal”.

    Severino ensina que o ensaio teórico proporciona maior liberdade por parte do autor, para que o mesmo possa defender a sua posição sem que tenha de se apoiar no rigoroso aparato de documentação empírica. É uma exposição metodológica dos assuntos realizados e das conclusões originais a que se chegou após apurado exame de um assunto. O ensaio é problematizador, antidogmático e nele deve se sobressair o espírito crítico do autor e a originalidade (SEVERINO, 2007).

Fundamentação teórica

    Quando se analisa a temática do lazer em sua relação com a educação, é fundamental compreendê-lo em uma estreita ligação com a formação de profissionais críticos e, consequentemente, na formação de pessoas autônomas, livres e que reconheçam o lazer com um direito social de fato.

    No que concerne aos estudos sobre lazer, toma-se como suporte teórico, dentre outros os estudos de Marcellino (2008) e Werneck (2000), por serem marco histórico do lazer no Brasil, e adentrarem-se pelo processo da formação do professor de Educação Física no lazer – espaços públicos e privados nos mostrando o perfil sociopolítico do mesmo, e a segunda descreve uma abordagem de épocas das transformações sociais ocorridas desde Platão até os dias atuais.

    Suas contribuições para os estudos nos possibilitam entender que vivemos em uma sociedade de cunho neoliberal, marcada pela exclusão social, pelo desemprego e pela privatização de direitos sociais, a qual vem gerando a precariedade de diversos bens sociais, como a educação pública de qualidade, condições satisfatórias de saúde e garantias de vivência críticas no lazer.

    Compreende-se o lazer a partir de uma perspectiva crítico-criativa, que o concebe como sendo “gerado historicamente, e dele podendo emergir, de modo dialético, valores questionadores da sociedade como um todo, e sobre ele também sendo exercidas influenciais da estrutura social vigente” (MARCELLINO, 2008, p. 12), que por outro lado significa dizer mudanças de atitudes políticas, socais e educacionais.

    Compartilha-se com o pensamento do autor supracitado quando visualiza que não significa negar a importância do saber técnico do professor que atuará no lazer, haja vista que, em sua ação pedagógica, seja em clubes, escolas ou políticas públicas de lazer, demandará dele certo conhecimento de repertório de atividades lúdicas.

    No entanto, ao atuar, os profissionais do lazer precisam de conhecimentos sobre diferentes faixas etárias (crianças, idosos, adultos) e de planejamentos de atividades, o que exigirá deste saberes científicos, pedagógicos, históricos, culturais, políticos e biológicos.

    Em sua acepção, Werneck (2000) defende que a formação no lazer deve ser alicerçada na busca de sujeitos comprometidos com o processo de construção do saber, sujeitos que questionem a realidade, que perguntem pelo sentido de seu exercício profissional, que assumam uma atitude reflexiva face aos processos sociais e às contradições do nosso meio.

    É necessário discutir essas concepções, haja vista que as mesmas trazem um debate acadêmico que visa um entendimento do lazer em articulação para o despertar do seu significado, que se atrela ao desenvolvimento político sob a luz das políticas públicas de possibilidades acerca da melhoria no plano social, tendo o lazer como um direito social de fato.

    É necessário situar nessa discussão o pensamento de Isayama (2010), pois o autor tem envidado esforços para melhor compreender o lazer e a sua relação com a Educação Física. Isayama afirma que a formação do profissional em lazer não deve negar a construção de um conhecimento técnico, entretanto, o autor ressalta a necessidade de se estabelecer um processo formativo não de mera reprodução de jogos e brincadeiras, fundamentados em verdadeiros “manuais” de recreação.

    Nesse sentido, o pesquisador argumenta que os cursos de Educação Física devem criar espaços para a construção de um repertório de atividades vivenciadas e refletidas socialmente a partir da ação/reflexão/ação de professores e alunos envolvidos no processo de formação (ISAYAMA, 2010).

    Corrobora-se com essas análises quando indica que a formação “[...] deve possibilitar o domínio de conteúdos que tem de ser socializados, por meio do entendimento de seus significados em diferentes contextos e articulações interdisciplinares” (ISAYAMA, 2010, p. 13). Sendo assim, compartilha-se com o pensamento do autor ao afirmar que a formação pode promover o conhecimento de processos de investigação que auxiliem no aperfeiçoamento da ação dos profissionais no desenvolvimento de práticas educativas lúdicas, críticas e criativas.

    Com base no pensamento do autor, compreende-se que apesar do crescimento de produções científicas no campo de conhecimento Educação Física/Lazer, poucos estudos tem se dedicado a refletir sobre a questão da formação dos professores, o que faz urgir a necessidade de investir em pesquisas que visam discutir o tema e revelar como o lazer é abordado no interior desses currículos.

    O pesquisador salienta que muitos cursos de Educação Física contribuem de forma significativa para a ampliação das ações no âmbito da formação profissional em nosso país, principalmente no que se refere ao desenvolvimento de cursos centrados no “fazer por fazer”, em receitas de atividades ditas “recreativas”.

    Destarte, ao se tomar como respaldo as problemáticas apresentadas até o momento, procurou-se sugerir alguns eixos que podem contribuir para a formação profissional em lazer, em especial nos Cursos de Educação Física.

O lazer e a sua relação nos currículos de Educação Física

    Como afirma Isayama (2010, p. 9), “[...] o processo de globalização da sociedade tem acarretado em mudanças significativas ao mundo do trabalho”. Assim sendo, a atividade produtiva passa a depender de conhecimentos cada vez mais complexos e ampliados, na qual o trabalhador precisa ser um sujeito criativo, crítico e que possa dialogar com as rápidas mudanças que caracterizam o novo contexto social.

    Não diferente ocorre com o profissional que atua no campo do lazer. Historicamente, este era visto como um mero “recreador”, que apenas reproduzia “pacotes” de atividades ditas “lúdicas” com o intuito de divertir os participantes. Nesse cenário, o lazer é compreendido apenas como um mercado e a formação torna-se centrada, muitas das vezes, na reprodução descontextualizada de jogos e brincadeiras.

    Todavia, o trabalho deste profissional se modifica, exigindo que os Cursos de Educação Física possam (re)pensar a direção que o lazer vem assumindo em seus currículos. Para tanto, compreende-se que esse (re)pensar a formação pode ocorrer a partir dos seguintes eixos:

1.     Dimensão conceitual em lazer

    Essa dimensão diz respeito à necessidade de reflexões dos conhecimentos de cunho filosófico, político, sociológico e cultural ligados ao lazer, superando assim, o mero tecnicismo.

    Nessa dimensão, trata-se de abordar com o acadêmico do curso de graduação sobre os principais conceitos que demarcam o campo do lazer, tais como as reflexões que envolvam a relação entre Lazer, Sociedade e Trabalho, estudo do lazer como fenômeno social pós-revolução industrial, tempo livre, a ocorrência histórico-social do lazer e as diferentes concepções de lazer.

    Nessa etapa da formação, é fundamental que o aluno domine os diferentes conteúdos socioculturais do lazer (conteúdos físico-esportivos, culturais, sociais, turísticos, intelectuais, artísticos), bem como os diferentes espaços para atuação profissional no campo do lazer que o profissional de Educação Física encontra nos dias atuais.

    Compreende-se também que esse espaço nos cursos de graduação podem problematizar as relações histórico-sociais entre Lazer, Recreação e Educação Física no Brasil e na América Latina, a associação entre lazer e Educação, lazer e jogo, lazer e brincadeiras populares e a prática do lazer em brinquedotecas.

    Ressalta-se que esses temas devem ser vistos como propostas de conteúdos que podem ser abordados nos currículos, pois os Cursos de Educação Física, ao formularem os seus conteúdos, precisam levar em consideração a especificidade e as peculiaridades de cada Estado e Região.

2.     Políticas Públicas de lazer

    O lazer é consagrado pela Constituição do Brasil como um direito social, o qual deve ser acessível a todas as pessoas em suas diferentes idades e condições socioeconômicas, direito social que vem sendo negligenciado para a maioria da população brasileira, em especial, a população pobre.

    Portanto, é de suma importância que os Cursos de Educação Física no Brasil desenvolvam espaços formativos que sejam permeados por uma profunda discussão e debate sobre o lazer enquanto política pública.

    Alguns temas em que se avalia ser relevante abordar nesse eixo são: Estudo da organização e gestão em projetos de políticas públicas na área; lazer, Estado e neoliberalismo; O papel do Estado na democratização do lazer; Lazer, cidadania e educação; Lazer e ação comunitária; O Lazer e o Estatuto da Criança e do adolescente; O lazer e o Estatuto do idoso; O lazer e a Política Nacional para a integração das Pessoas com Deficiência; A relação do lazer com as políticas públicas de Educação e Saúde.

3.     Trabalho Pedagógico em lazer

    Esse tópico trata-se da necessidade da articulação teoria e prática. Para Montenegro (2012), essa associação se coloca com um pertinente desafio para os currículos de Educação Física, uma vez que o autor observou em sua pesquisa, que de um lado, alguns cursos ainda compreendem o lazer como um mero “fazer”, e de outro, edifica-se consistente base teórica nessa formação, porém, com ausência de espaços formativos que possam aproximar o futuro profissional desse campo de atuação.

    É nesse sentido que se compreende a fundamental relevância de possibilitar ao formando em Educação Física a vivência e a experiência de uma atuação supervisionada nos espaços de atuação referentes ao campo do lazer. Para tanto, salienta-se que o acadêmico possa estagiar em clubes, atuando com animação cultural, em projetos de extensão e ação comunitária articulados com o lazer, acompanhar atividades de atuação e gestão de políticas públicas e privadas na área, bem como a atuação em brinquedotecas.

    A proposta de inclusão desse tópico ocorre em virtude de se compreender que:

    Não significa negar a parte “prática” que envolve o trabalho do professor no campo do lazer, mas é necessário que os cursos de Educação Física não se limitem a repassar “receitas” de dinâmicas, mas que possibilitem a construção de um repertório de atividades vivenciadas e refletidas criticamente, as quais devem ser frutos de existencializar o corpo lúdico no lazer (MONTENEGRO, 2012, p. 97).

    Essas atividades podem auxiliar com que o estudante de Educação Física possa ter uma concepção mais ampliada dos espaços de atuação deste campo, possibilitando a consolidação da práxis.

4.     Trabalho Científico em lazer

    Os estudos de Melo e Alves Júnior (2003) auxiliam a compreender essa questão. Os pesquisadores realizaram um levantamento a respeito dos grupos cadastrados no Diretório de Grupos de Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) que se dedicam a reflexão sobre o lazer.

    Em sua investigação, os autores identificaram 56 grupos de pesquisa cadastrados, envolvendo 305 pesquisadores entre acadêmicos e doutores, sendo que 42 estavam situados em instituições públicas e as 14 restantes estavam vinculadas em universidades particulares.

    Quanto às áreas de conhecimento, os pesquisadores afirmaram que:

    Metade, ou seja, 28 grupos estão abrigados em faculdades ou departamentos de educação física. (...) outra parte está organizada em faculdades de pedagogia e em departamentos de antropologia. Em cada uma dessas áreas, foram identificados cinco grupos de pesquisa. Já nas áreas de Terapia Ocupacional, Fisioterapia, Administração, Economia e Turismo, encontram-se três grupos, nas áreas de Urbanismo e Arquitetura foram encontrados dois grupos, e nas áreas de Psicologia e Medicina, um grupo (MELO; ALVES JÚNIOR, 2003, p. 93).

    Em pesquisa mais recente, Isayama e Souza (2006) identificaram que o lazer como campo de estudos tem recebido crescente atenção nas últimas décadas, o que revela a ampliação de áreas que tem buscado produzir cientificamente sobre o tema.

    Os pesquisadores destacam o caráter interdisciplinar que o lazer possui, pois em suas análises, diferentes reflexões teóricas “estimulam a construção de novas ideias e abordagens, estimulando o interesse e o engajamento nos estudos do tema. Olhares múltiplos devem ser considerados, pois podem fomentar a reflexão e a crítica” (SOUZA; ISAYAMA, 2006, p. 3).

    É expresso total apoio ao pensamento de Marcellino (2010) quando afirma que, abordar o lazer, apenas enquanto disciplina dentro de currículos, não condiz com as necessidades atuais da especialidade. Assim, o pesquisador expõe a compreensão mais ampla das questões relativas ao lazer e seu significado para o ser humano contemporâneo, pelas próprias características abrangentes desse objeto de estudo, não pode ficar na dependência de uma disciplina exclusiva, exigindo as contribuições das várias ciências sociais e de profissionais com diferentes formações.

    As ponderações dos autores evidenciam que o lazer se caracteriza com um campo de atuação interdisciplinar. Nesse sentido, advoga-se que os cursos de Educação Física possibilitem espaços em que os alunos possam vivenciar o trabalho científico nesse campo, ao elaborar e desenvolver projetos de pesquisa articulados com os grupos de pesquisa que se dedicam a investigar o lazer.

    Possíveis temas que podem ser abordados seriam: análise do lazer como campo de produção de conhecimento; enfoques teóricos, filosóficos e metodológicos na pesquisa em lazer; Incentivo as atividades de pesquisa; A produção de pesquisas em lazer na América Latina; contribuições das grandes áreas de conhecimento - sociologia, história, filosofia, psicologia.

    Para efeitos de operacionalização do trabalho científico em lazer nos currículos, é feita a sugestão de que, em um determinado momento do curso, os acadêmicos possam ser acompanhados pelos docentes que integram os grupos de pesquisa ou disciplinas sobre lazer, para que os mesmos possam auxiliar os discentes nessa tarefa científica.

    É importante que possamos compreender que não se trata apenas de pensar esses elementos na forma de disciplinas, mas sim enquanto conhecimentos que podem estar postos transdisciplinarmente no currículo de cada instituição.

    A proposição desses eixos não deve ser vista como imposições ou receitas, mas como sugestões de implementação nos Cursos de Educação Física, pois os conteúdos trabalhados na formação profissional, como dito anteriormente, devem ser pensados também a partir das características de cada Região, Estado e/ou Cidade em que se situam as instituições formativas.

Considerações finais

    No Brasil, é cada vez mais crescente o interesse de pesquisadores e profissionais de diversas áreas pela discussão do lazer, em virtude das diferentes possibilidades de estudo e atuação profissional que o campo vem abrindo (ISAYAMA, 2010). Portanto, analisar a questão da formação, e aqui em especial na organização dos Currículos de Educação Física, coloca-se como um tema atual e relevante.

    Para finalizar esse diálogo, recorro aos ensinamentos de Werneck (2000) quando afirma que formar significa fecundar um conjunto de ideias e reflexões, criar possibilidades que nos retirem de posições acomodadas, mobilizando-nos e transformando-nos. É uma maneira de nos colocarmos avessos às certezas cristalizadas, com curiosidade e desejo de saber para construirmos juntos o conhecimento.

    Como afirma Isayama (2010), a formação no campo do lazer deve, portanto, ser pautada na competência técnica, científica, política, filosófica, pedagógica e no conhecimento crítico da realidade. Portanto, não basta ao profissional do lazer conhecer muitas brincadeiras, é preciso que ele tenha o conhecimento sobre diferentes faixas etárias (crianças, idosos, adolescentes) e de diferentes grupos sociais (deficientes físicos, homossexuais, negros, índios) para fundamentar a sua atuação profissional. Assim, a prática pedagógica adquire outra direção, fundamentação e intervenção, a qual precisa superar o fazer repetitivo e mecânico, para caminhar em um viés crítico-reflexivo.

    Portanto, coloca-se como desafio para a formação profissional em Educação Física, voltada ao lazer, ampliar os espaços de formação no interior de seus currículos, possibilitar aos alunos, futuros profissionais, uma sólida base teórica, uma consistente compreensão do lazer enquanto política pública, uma significativa vivência nos espaços de atuação profissional e a prática da pesquisa na área do lazer. Com isso, espera-se ter suscitado novos olhares em relação à formação na área do lazer.

Referências

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  • ______. Formação Profissional no âmbito do lazer: desafios e perspectivas. In: ISAYAMA, Helder (Org.). Lazer em Estudo: currículo e formação profissional. Campinas,SP: Papirus, 2010. p. 9-25

  • MARCELINO, Nelson Carvalho. Lazer e Sociedade: algumas aproximações. In: MARCELLINO. Nelson. Carvalho. (Org.). Lazer e Sociedade: Múltiplas relações. Campinas: Alínea, 2008, p. 11-26.

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  • MONTENEGRO, Gustavo Maneschy. Conhecimento sobre o lazer na formação de professores de Educação Física: um olhar sobre os cursos superiores das universidades públicas em Belém/PA. 2012. 190f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Instituto de Ciências da Educação, Universidade Federal do Pará, Belém, 2012.

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  • SCHWARZ, L. A disciplina lazer e recreação na formação de professores de Educação física: estudo sobre alguns tratos curriculares em Universidades Estaduais do Paraná. 2007. 129 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física)- Centro de Desportos, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2007.

  • SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez, 2007.

  • VALENTE, Márcia C. A disciplina Recreação e Lazer no currículo de formação de profissionais de Educação Física: o que dizem e o que fazem os professores do Nordeste do Brasil. 1993. 160 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física)- Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1993.

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