A autoestima em escolares com sobrepeso e obesidade La autoestima en escolares con sobrepeso y obesidad |
|||
*Graduadas em Educação Física pela Faculdade Adventista de Hortolândia – FAH – Hortolândia, SP **Professora na Faculdade Adventista de Hortolândia – FAH – Hortolândia, SP (Brasil) |
Mariana Ribeiro dos Santos* Natalie Fernandez* Thaís Caroline Gallego* Helena Brandão Viana** |
|
|
Resumo Objetivo: Avaliar a autoestima em adolescentes em idade escolar com sobrepeso/obesidade e verificar se existe na autoestima de alunos com peso ideal, sobrepeso e obesidade. Métodos: Amostra teve participação de 250 alunos, entre 14 á 16 anos de idade, de ambos os sexos. Primeiramente foi calculado o IMC de cada aluno, onde se identificava o aluno em peso normal, sobrepeso e obesidade, em seguida foram aplicados 3 questionários, a Escala de Piers, adaptada por Carvalho, Cataneo e Malfará (2005) , que questiona a relação social do aluno com os colegas; a Escala de Autoestima para Adolescentes, de Quiles e Espada (2009), que trata do autoconceito do aluno; e a Escala de Roosemberg adaptada por Sbicigo (2010) et al. que indaga sobre o relacionamento do aluno com a família. Resultados: Na comparação final dos questionários, verificou-se que não existe grande diferença na autoestima dos que possuem um IMC normal, em relação aos que possuem um IMC alto. Conclusões: A autoestima em adolescentes em idade escolar com sobrepeso/obesidade, não teve grande relação aos de peso normal, porém a pequena porcentagem de alunos, tanto obeso quanto os de peso normal, que relatou baixa autoestima, responderam em unanimidade ter dificuldade na relação com os colegas de classe, e aceitação da aparência física. Unitermos: Baixo autoestima. Adolescentes. Excesso de peso.
|
|||
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 190, Marzo de 2014. http://www.efdeportes.com/ |
1 / 1
Introdução
A autoestima já virou moda, produto. Ao digitar autoestima no site de busca Google é possível encontrar propagandas de livros de autoajuda, terapias especializadas, dicas, frases, e mil coisas relacionadas à mesma (MOYSÉS, 2007). Cada vez se torna mais difícil agradar o desejo da sociedade de chegar ao padrão de corpo ideal que é exposto na mídia. Dessa forma adolescentes e jovens estão sempre em uma busca constante pelo corpo ideal, o corpo “esbelto” e magro e isso pode provocar uma frustação por jovens obesos, que se tornam escravos da beleza, e procuram uma formula rápida e eficaz para emagrecer, levando a situações prejudiciais a saúde.
Mas o que realmente é autoestima? E como ela é influenciada? A autoestima pode ser definida como a condição que o indivíduo se enxerga, sendo benéfico ou maléfico, podendo ser eventualmente alterado pelo ambiente (TERRA; MARZIELE; ROBAZZI, 2013).
No começo da puberdade é normal que haja aumento no desejo de obter um corpo que a mídia, ou a sociedade julguem ideal. Porém há evidências de que já no período pré-puberdade as crianças também se preocupem com seus corpos e, dessa forma, buscam perder peso. Um estudo realizado com adolescentes australianos, do sexo feminino mostrou a preocupação com o peso e a relação que os adolescentes estabelecem da magreza com a felicidade e a inteligência. De acordo com estudos dessa natureza, visualiza-se que o tipo físico está sujeito tanto à associação com traços de personalidade, quando é avaliado por outra pessoa e com satisfação e a felicidade, quando é avaliado pelo próprio sujeito (HATTIE, 1992 apud PEIXOTO, 2003). Um dos fatores que leva o indivíduo a procurar essa ajuda é o próprio incômodo com sua imagem corporal. Esse incômodo pode chegar a interferir com seu senso de autoestima, principalmente porque nos dias atuais, a mídia e a moda valorizam o corpo magro e esbelto. Assim, esse incômodo pode parecer maior e vivenciado com sentimentos de raiva, angustia e culpa por esses indivíduos. Em crianças obesas podem ser identificado por alterações comportamentais, sinais de sofrimento psíquico e baixo autoconceito (CARVALHO; CATANEO; MALFARÁ, 2005).
Hoje, o índice de adolescentes obesas aumenta principalmente pela falta de atividade física no dia-a-dia, e pelos avanços tecnológicos, exemplos como: videogames, televisão, computadores, notebooks, entre outros. Isso acaba prendendo a atenção deles e muitas vezes estes substituem a atividade física que poderia ser praticada em horários vagos, por atividades sedentárias. Dessa forma, a criança/adolescente torna-se menos ativo e em consequência é levado leva ao ganho de peso excessivo.
“A obesidade é considerada atualmente como um problema de saúde pública tanto na população jovem como na adulta” (GIUGLIANO; CARNEIRO, 2004, p. 17). De acordo com Guimarães e colaboradores (2012), o aumento de sobrepeso e obeso em idade escolar foi de 240% no Brasil nesses últimos anos, um número assustador para uma faixa etária tão jovem, levando a vários problemas de saúde, contando com o lado psicológico que também é fortemente afetado. A obesidade pode ser caracterizada como uma doença na qual existe um desequilíbrio entre a ingestão de caloria e o gasto da mesma, o que provoca um acumulo excessivo de gordura corporal no tecido adiposo, trazendo prejuízos a saúde (MCARDLE et al., 2002 apud CELESTRINO; COSTA, 2006). Há outros fatores que levam a obesidade, como o desmame precoce e a alimentação inadequada que não provém da própria criança e sim da educação que ela recebe no âmbito familiar, principalmente nos períodos de aceleração do crescimento (GIUGLIANO; CARNEIRO, 2004).
Pinheiro e Giugliani (2006) apud Matias et al. (2010) afirmam que a insatisfação com o peso corporal, tem incidência maior entre os jovens e adolescentes. Mostraram que 82% dos jovens brasileiros estavam insatisfeitos com seu peso. Levando em conta a aceitação social, o sentimento de insatisfação pré- dispõe problemas comportamentais (BOGT et al., 2006 apud MATIAS et al., 2010). Estudos comprovam a relação da insatisfação corporal com a baixa autoestima (TOJO, 1996; RAICH, 1999 apud SILVA et al., 2009).
Este presente estudo foi feito justamente para uma avaliação da autoestima em escolares com sobrepeso/obesidade, para constatação de diferença em relação aqueles com peso normal.
Métodos e materiais
Este estudo tratou-se de uma pesquisa qualitativa de caráter descritivo, composta por dois momentos: fundamentação teórica, realizada através de pesquisas em publicações científicas que abordavam o tema em estudo; e levantamento de dados, realizado a partir de uma pesquisa de campo. A amostra contou com a participação de 250 adolescentes que cursam ensino médio, sendo 123 em escolas particulares e 127 em escolas públicas, 140 eram meninas e 110 meninos, com idade entre 14 a 16 anos.
Após o consentimento dos pais ou responsáveis, foram aplicados os instrumentos de pesquisa nas próprias escolas.
Foram utilizados como instrumentos de pesquisa três questionários, e o índice de massa corpórea para classificação dos participantes em três grupos: peso ideal, sobrepeso e obesidade.
O primeiro questionário é de Carvalho, Cataneo e Malfará (2005), e avalia a relação social com os colegas de turma. O segundo, de Quiles e Espada (2009), avalia o autoconceito e o terceiro foi adquirido através do artigo é a Escala de Autoestima de Rosenberg (EAR) validada por Sbicigo, Bandeira, Dell’Aglio (2010), avaliava a relação com a família. Esses questionários foram escolhidos porque juntos avaliavam o ambiente que poderia influenciar na autoestima dos participantes da pesquisa.
Para a coleta de dados foi distribuído o conjunto de questionários para cada aluno. Ao término do questionário, todos os participantes foram medidos e pesados. Apenas participaram da amostra os alunos que foram autorizados pelos responsáveis através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Resultados
No primeiro questionário, notou-se que os alunos em geral são afetados diretamente pelo âmbito escolar, pois responderam negativamente as perguntas que envolviam a preocupação, os pais e as provas. Todas essas questões podem ser relacionadas com o âmbito escolar, pois a preocupação pode ser com as próprias provas, ou com seus amigos, e os pais exigindo demais deles na escola, sendo em comportamento ou em notas. Já os alunos que apresentaram IMC alto e baixo também apontaram respostas negativas para questões que se relacionavam com o comportamento próprio. Uma delas indicava o nervosismo e a outra timidez. Concluímos neste primeiro questionário que os alunos em geral são afetados pelo âmbito escolar e os alunos com IMC alto e baixo, além do âmbito escolar, são afetados pelo próprio comportamento, pela forma que se sentem, a forma como sentem que os outros a tratam, sendo pais ou colegas.
Quadro 1. Questões mais escolhidas pelo grupo em geral – primeiro questionário
n. questão |
Questão |
9 |
Sou um líder nas brincadeiras e nos esportes |
10 |
Fico preocupado (a) quando tenho testes ou provas na escola |
25 |
Na escola estou distraído (a) a pensar noutras coisas |
29 |
Preocupo-me muito |
30 |
Os meus pais esperam demasiado de mim |
34 |
Na escola, ofereço- me várias vezes como voluntário (a) |
Quadro 2. Questões mais respondidas nos grupos: IMC alto e IMC baixo
n. questão |
Questão |
6 |
Sou uma pessoa tímida |
23 |
Sou nervoso (a) |
32 |
Sinto-me colocado de lado às vezes |
46 |
Sou popular entre os rapazes |
No segundo questionário, foi observado que os alunos em geral apontaram auto conceito negativo, pois responderam negativamente as questões que se relacionavam com a segurança, incerteza e confiança própria, incerteza do futuro e confiança dos colegas neles. Os alunos com IMC alto e baixo, além de apontarem esses resultados, também se mostraram insatisfeitos com seu exterior, respondendo negativamente a pergunta: “Gosto de mim como sou”.
Quadro 3. Questões mais respondidas pelo grupo em geral – segundo questionário
n. questão |
Questão |
2 |
Os meus companheiros e amigos confiam em mim |
10 |
Sinto-me feliz a maior parte do tempo |
11 |
Costumo ter boas ideias |
12 |
Creio que sou boa pessoa |
13 |
Penso que terei êxito na vida |
Quadro 4. Questões mais respondidas pelos grupos: IMC alto e IMC baixo – segundo questionário
n. questão |
Questão |
2 |
Os meus companheiros e amigos confiam em mim |
10 |
Sinto-me feliz a maior parte do tempo |
11 |
Costumo ter boas ideias |
12 |
Creio que sou boa pessoa |
13 |
Penso que terei êxito na vida |
22 |
Gosto de mim como sou |
No terceiro questionário, não tivemos respostas negativas consideráveis, porém o que diferiu o grupo do IMC baixo, foi a questão que apontava a capacidade de realizarem as tarefas como as outras pessoas. A questão avaliada foi: “Sou capaz de fazer tudo tão bem como as outras pessoas”.
Pelos questionários respondidos, notamos que não há grande relação entre a autoestima e o IMC dos alunos que foram avaliados, porém os que apresentaram resultado negativo na pesquisa mostraram que a sua autoestima estava diretamente ligada a sua aparência física. Esse transtorno e preocupação com a aparência, geralmente é desenvolvido na puberdade, por consequência da mídia que impõe que o corpo ideal é o corpo magro
Discussão
Freitas e colaboradores (2012) realizaram uma pesquisa com obesos de idade entre 12 e 19 anos, na qual foi analisada a insatisfação corporal antes e depois de uma intervenção multidisciplinar. Verificou-se uma forte relação entre excesso de peso, insatisfação corporal e baixa autoestima. Em controvérsia, Vilela (2004) apud Freitas (2012) afirma que devido à fase da adolescência e suas transformações corporais naturais, não apenas os obesos, mas os jovens em geral apresentam insatisfação corporal. Em um estudo com escolares de 8 a 10 anos, encontrou-se uma prevalência de insatisfação corporal de 69,9% sendo que somente 16,9% apresentavam sobrepeso.
Petroski, Pelegrini e Glaner (2009) constataram em sua pesquisa que os adolescentes com excesso de peso na classificação do IMC possuem 8,45 vezes mais probabilidades de insatisfação corporal. Embora exista uma forte relação entre excesso de peso e insatisfação corporal pra ambos os sexos, as influencias socioculturais afetam a imagem corporal de forma mais intensa, quando comparada aos fatores biológicos, como o IMC (MCCABE, RICCIARDELLI, 2003 apud PETROSKI; PELEGRINI; GLANER, 2009).
Segundo Monteiro et al., (2012) os adolescentes que têm baixa autoestima, acabam tendo dificuldades na integração grupal. Pelos questionários aplicados, não tivemos grandes resultados nas amostras de baixa autoestima, porém os poucos casos apresentaram dificuldade de relacionamento com os colegas e com a própria aparência física.
Durante a amostragem foi observado que para o diagnostico de peso corporal, houve certo constrangimento da parte feminina. Os meninos pareceram não se importar em responder os questionários, porem houve breves trocas de informações a respeito das questões, o que pode ter alterado o resultado.
Conclusões
Diante das observações e dados coletados, pode-se concluir que a insatisfação corporal pode desencadear a autoestima baixa, porém não podemos afirmar que o excesso de peso seja um fator determinante da autoestima negativa, pois tanto a insatisfação quanto a satisfação corporal esteve presente nos três grupos: peso ideal, sobrepeso e obesidade.
Foi observado que, os alunos que apresentaram a autoestima comprometida também mostraram ter problemas de relacionamento. Nós, como profissionais de educação física que trabalhamos com o corpo, precisamos estar sempre alerta às relações que ocorrem entre os alunos em nossas aulas e nas atividades desenvolvidas, a fim de detectar e evitar situações que causem constrangimento ou que contribuíam para a formação de uma autoestima negativa.
Referências bibliográficas
ADAMI, F; T. C. FERNANDEZ; D. E. S. FRAINER; F. R. OLIVEIRA. Aspectos da construção e desenvolvimento da imagem corporal e implicações na Educação Física. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, n.10 v.83, 2005. http://www.efdeportes.com/efd83/imagem.htm
CARVALHO, A. M. P; CATANEO, C; MALFARÁ, C.T. Autoconceito e imagem corporal em crianças obesas. Universidade de São Paulo, Revista Pandéia, v. 15, p. 131-139, 2005.
CELESTRINO, J.O, COSTA, A.S. A Prática de Atividade Física Entre Escolares com Sobrepeso e Obesidade. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, São Paulo, v.5, n. especial, p.47-54, 2006.
FREITAS, C. R. M; PRADO, M. C. L; GOMES, P. P; ALMEIDA, N. C. N; FERREIRA, M. N. L; PRADO, W. L. Efeito da intervenção multidisciplinar sobre a insatisfação da imagem corporal em adolescentes obesos. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde, v. 17, n.5 p. 449-456, 2012.
GIUGLIANO, R; CARNEIRO, E. C. Fatores associados à obesidade em escolares. Jornal de Pediatria, v. 80, n.1, 2004.
MATIAS, T. S., ROLIM M. K. S. B., KRETZER, F. L., SCHOMOELZ, C. P., ANDRADE, A. Satisfação corporal associado a pratica de atividade física na adolescência. Rio Claro - Centro de ciências da saúde e esporte da Revista Motriz Universidade do estado de Santa Catarina/ UDESC, Universidade do Sul de Santa Catarina Unisul, v. 16, n. 2, p. 370-378, 2010.
MONTEIRO, R. F., AZEVEDO, L. F., SOBREIRO, R. T., CONSTANTINO, P. Autoestima e resiliência dos adolescentes da margem da linha: redes de apoio social como fator de proteção. Revista de Biologia e saúde, v. 4, p. 41-55, 2012.
MOYSÉS, L. Autoestima se constrói passa a passo. Ed. 2007 Campinas, Papirus Editora, 2001.
PEIXOTO, J. B. Autoestima, autoconceito e dinâmicas relacionadas em contexto escolar. Dissertação de Doutorado em Psicologia. Universidade do Minho. Braga. 2003.
PETROSKI, E. L; PELEGRINI, A; GLANER, M. F. Insatisfação corporal em adolescentes rurais e urbanos. Revista Motricidade, v. 5, n. 4, Vila Real, 2009.
PINHEIRO, A.P.; GIUGLIANI, E.R. Body dissatisfaction in Brazilian schoolchildren: Prevalence and associated factors. Revista de Saúde Pública, v. 40, n. 3, p. 489-496, 2006.
QUILES,M. J., ESPADA, J. P. Educar para a autoestima. Colecção Educação: Keditora, Lda. 2009.
SBICIGO, J. B; BANDEIRA, D. R; DELL’AGLIO, D. D. Escala de Autoestima de Rosenberg (EAR): validade fatorial e consistência interna. Revista Psico - USF, v.15, n.3, p. 395-403, 2010.
SILVA, D; REGO, C. M; VALENTE, A; FARIA, M; DIAS, C; AZEVEDO, L. F; MARTINS, C; GUERRA, A. Insatisfação corporal e da auto- estima em crianças e adolescentes com diagnósticos de obesidade vs uma comunidade escolar. Revista Portuguesa de endocrinologia, diabetes e metabolismo, v. 01, p. 23-31, 2009.
TERRA, F.S; MARZIELE, M. H. P; ROBAZZI, M. L. C. C. Avaliação da autoestima em docentes de enfermagem de universidades pública e privada. Dissertação de Doutorado em Enfermagem. Universidade de São Paulo. São Paulo, 2013.
Outros artigos em Portugués
Búsqueda personalizada
|
|
EFDeportes.com, Revista
Digital · Año 18 · N° 190 | Buenos Aires,
Marzo de 2014 |