Estudo dos efeitos da sobrecarga
entre as etapas de um programa
de reabilitação cardíaca

Jônatas de França Barros*
Paulo Tadeu Romagna Cavalheiro**
Candido Simões Pires Neto***
Aluisio Otavio Vargas Avila****
(Brasil)
paty91@persocom.com.br

* Professor da Faculdade de Educação Física e do Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu em Ciências da Saúde/UnB/DF
** Médico-cardiologista e Professor Adj.no Curso de Medicina da UFSM/RS
*** Professor do Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu em Educação Física do Centro de Educação Física e Desporto/UFSM/RS
**** Professor do Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu em Educação Física e Reabilitação da UDESC/SC

     Resumo
     O objetivo deste estudo foi comparar e analisar os possíveis efeitos da aplicação da sobrecarga nas variáveis cardio-respiratórias, neuro-motoras e somáticas entre as etapas de um programa de reabilitação cardíaca. A amostra constituiu de 11(onze) sujeitos coronarianos e sintomáticos, com a idade variando entre 41 a 69 anos, todos do sexo masculino, residentes na cidade de Santa Maria-RS. O programa compreendeu de um período de 4 (quatro) meses ou 48 sessões, com 3(três) sessões semanais e com duração variando de 20 a 50 minutos. A prescrição da atividade física baseou-se no protocolo de BRUCE, em que utilizou-se o VO2 Máximo, como parâmetro da frequência cardíaca de treinamento em cada mesociclo. Após esta abordagem da capacidade funcional efetuada na esteira ergométrica, foram realizadas as medidas antropométricas de peso, estatura e de dobras cutâneas na região tricipital, subescapular, supra-ilíaca e bicipital. Para a gordura corporal relativa, utilizou-se a densidade corporal através da equação de DURNIN & WOMERSLEY(1974) d = c - m x log 10 (somatório das 4 dobras cutâneas) e para o percentual de gordura, utilizou-se SIRI (1961) em que a fórmula %G = (4,95/D - 4,5) x 100. Na avaliação do grau de flexibilidade foi utilizado o método videográfico, em que os pontos foram digitalizados pelo Vídeo Position Analyser VPA 1000, em que no presente estudo utilizamos (pré-teste e pós-teste). A análise dos resultados foi apresentada através de vários ítens, que são discorridos de acordo com suas necessidades, em que foi discutida da seguinte maneira: a) Resultados e análise da avaliação cardio-respiratórias; b) Resultados e análise neuro-motoras (grau de flexibilidade); c) Resultados e análise antropométricos e d) Resultados e análise da gordura corporal relativa. Em função dos resultados obtidos conclui-se que houve diferenças significativas para as amostras dependentes entre o pré e pós-testes p < 0.05 , nas variáveis cardio-respiratórias, neuro-motoras e somáticas. Conclui-se que, o programa de atividade física através da aplicação da sobrecarga, propicia uma progressão da condição física de cada paciente, respeitando-se na avaliação funcional os critérios referentes aos fatores de intensidade, duração, frequência e ritmo de progressão em função das cargas aplicadas. Com isto, buscou-se uma proposta racional e metodológica para uma melhoria da qualidade de vida.
     Palabras clave: Sobrecarga e Reabilitação cardíaca.

Abstract
    The objective of this study was to compare and analyse possible effects of the application and overload in the varible cardiac-respiratory, neuro-motor and somatic between stages of a cardiac rehabilitation program. The sample constituted of 11 coronary patients and symptomatic, with age varying from 41 to 69 years old, all of them of the male sex that live in Santa Maria city. The program comprehended a period of (4) four months or (48) forty-eight sessions, with 3 weekly sessions, and with the duration varying from 20 to 50 minutes. The prescription of the physical activity based on BRUCE and protocol in which in was used VO2 maximum as parameter of the cadiac frequency of training in each mesocicle. After this boarding of the functional capacity accomplished in ergometric mat, was realized the antropometric measure of weight, stature, and cutaneous fold in tricipital, subescapular, supra-iliac and bicipital region. For the equation of DURNIN AND WOMERSLEY(1974) d = c - m x log 10 (sum of the 4 cutaneous fold). And for the fat percentage it was used SIRI(1961), in formula %G = (4,95/D - 4,5)x 100. In the evaluation of the flexibility degree it was used videographic method, in that the points were digitized through the video position analyzer VPA 1000, in which on the present sutdy we used (pre-test and post-test). The analysis of the results was showed through several items, that are treat according to their necessities which was discussed on the following way: a) Results and anlysis of the cardiac-respiratory; b) Results and anlysis of the neuro-motor(flexibility degree); c) Results and antropometric analysis and d) Results and analysis of the relative corporal fat. In function of the results obtained, we can conclude that there was significant differences to dependent sample between the pre-test and the post-tests p < 0.05, in the variable somatical cardiac-respiratory, neuro-moving. It concludes that, the program of the physical activity through the application of the overload, it propritiates a progression of the physical condition of each patient, respecting a functional evaluation the referent criterions of the factors of intensity, duration, frequency rhythm of progression in function of the applied loads. Whith this, it searched a rational and methodologic proposal in order to get a better quality of life.
     Key words: Overload. Cardiac Rehabilitation.

Lecturas: Educación Física y Deportes | http://www.efdeportes.com/
revista digital | Buenos Aires | Año 5 - N° 19 - Marzo 2000

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Introdução
     Para ocorrer adesão a um programa de reabilitação por parte dos indivíduos coronariopatas especialmente os sedentários, hipertensos, obesos e diabéticos através de uma atividade física orientada para uma melhora na condição física é importante, no que diz respeito, aos benefícios nas funções cardio-respiratórias, e somáticas voltadas à saúde desses pacientes.

     A reabilitação cardiovascular representa o somatório das intervenções necessárias para assegurar ao paciente coronariano o que de melhor for possível, físicamente e mentalmente, a sua posição na comunidade, com a vida normal e produtiva (Who, 1964 apud ARAÚJO, 1986).

     Por isto, há necessidade de estabelece-se uma metodologia adequada e racional, elaborando critérios para a aplicação de esforço na atividade física., onde ASTRAND & RODAHL (1980), comentam que a aplicação da sobrecarga, do ponto de vista prático, implica em expor o organismo a uma carga de treinamento ou força de trabalho de intensidade , duração e freqüência suficiente para produzir um efeito de treinamento observável ou mensurável, isto é, um aprimoramento das funções para as quais se está treinando. A carga de treinamento é, portanto, relativa ao nível de aptidão do indivíduo.

     Na aplicação dos efeitos da sobrecarga como uma forma de estudo, o paciente necessita submeter-se a cargas progressivas no seu programa de reabilitação para obter as condições físicas ideais, na qual demonstra uma motivação que o leve a querer mudar e acreditar que é hora de iniciar uma atividade física e, ao mesmo tempo, acrescentar algum benefício ao seu estilo de vida que deve ser normal, ativo e produtivo em sociedade. Assim, o presente estudo é comparar e analisar os possíveis efeitos da aplicação da sobrecarga nas variáveis cardio-respiratórias, neuro-motoras e somáticas entre as etapas do programa de reabilitação cardíaca.


Material e Método
     A amostra deste estudo constou-se de 11 coronarianos com idade variando entre 41 a 69 anos. Os pacientes foram submetidos a um programa de 48 sessões, divididas em 4 mesociclos de 12 sessões, sendo 3 sessões semanais de reabilitação. Após o alongamento inicial, passou-se para etapa 1, que constava de 15 min de ginástica, seguidos da etapa 2 (caminhada ou corrida), de 20, 30, 40 e 50 min, respectivamente, para os mesociclos 1, 2, 3 e 4 na intensidade de 50, 60, 70 e 80% do VO2 máximo para cada capacidade acima de 7 Mets e 10% menos em cada mesociclo até 7 Mets. A etapa 3, de relaxamento, para a redução da freqüência cardíaca durou, no mínimo, 5 min. A prescrição da atividade física foi fundamentada no protocolo de BRUCE, em que se utilizou o VO2 Máximo como parâmetro da freqüência cardíaca de treinamento em cada mesociclo. Após esta abordagem da capacidade funcional efetuada na esteira ergométrica, foram avaliadas as medidas antropométicas de peso, estatura e de dobras cutâneas na região tricipital, subescapular, supra-ilíaca e bicipital. Calculou-se a densidade corporal através da equação de DURNIN & WOMERSLEY (1974), especifíca para os grupos etários de estudo para o percentual de gordura, utilizou-se a equação de SIRI(1961), %G = (4,95/D - 4,5) x 100.


Resultados e Análise da Avaliação Cardio-respiratória
     Este estudo teve o objetivo de comparar e analisar os possíveis efeitos da sobrecarga nas variáveis cardio-respiratórias, neuro-motoras e somáticas entre as etapas de um programa de reabilitação em pacientes coronarianos sintomáticos do sexo masculino da cidade de Santa Maria (RS), com idades variando entre 41 a 69 anos (11 pacientes). No primeiro momento, apresentamos os resultados e análise das variáveis, que caracterizou a amostra no estudo conforme Quadro Único em que foram os indicadores referentes as variáveis cardio-respiratórias (Tempo de esforço,VO2Máx, METs e Apitdão física), em que são apresentadas as mudanças de valores cardio-respiratórias ocorridas no pré e pós-teste durante o programa de reabilitação através de testes ergométricos.

Quadro Único - Parâmetros em função do desempenho físico em coronarianos (n=11)
Pacientes
Tempo
Protocolo
VO2Máx.
METs
Aptidão Física
Pré
Pós
Pré
Pós
Pré
Pós
Pré
Pós
H.C.B.
9
12
Bruce
34,1
44,2
9,7
12,6
B
O
W.B.
10
12
Bruce
37,5
44,2
10,7
12,6
B
B
C.H.V.
6
10
Bruce
24,1
37,5
6,8
10,7
F
B
E.P.A .
11
14
Bruce
40,8
50,9
11,7
14,5
B
O
O .D.
5
10
Bruce
20,7
37,5
5,9
10,7
F
B
I.M.K.
8
9
Bruce
30,7
34,1
8,8
9,7
B
B
J.A .N.
8
11
Bruce
30,7
40,8
8,8
11,6
B
B
J.B.M.
10
12
Bruce
37,7
44,2
10,7
12,6
B
B
A .L.B.
13
14
Bruce
47,6
50,9
13,6
14,5
O
O
D.J.M.
7
8
Bruce
27,7
30,7
7,8
8,8
R
R
O . L.
6
7
Bruce
24,4
27,4
7,8
7,8
R
R
Tempo: min de duração do teste, VO2Máx: ml/kg/min. , O = otima, B = boa, R = regular e F = fraca

     Conforme as variáveis envolvidas Tabela 1, as médias e desvio padrão observadas, obteve-se valores próximos tanto no pré-teste como no pós-teste, com nível de significância p < 0,05.

Tabela 1 - Resultados médios dos valores das avaliações cardiorrespiratórios em coronarianos (n=11)
Variáveis
Pré-testes
Pós-testes
 
 
 
x
s
x
s
T
p
Diferença %
Tempo
8,5
2,4
10,8
2,2
-5.76
.000
21,30
PASR
130
18,4
141,4
20,5
-2.73
.021
8,25
PADR
79,5
10,5
85,9
14,6
-2.35
.040
7,45
PASE
181,7
14,1
189,1
23
-1.50
.189
3,91
PADE
83,6
16,9
85
15,6
-.48
.645
1,64
FCR
73,4
13,3
72,4
12,2
.36
.729
1,38
FCE
143,5
26,4
151,7
24,4
-1.99
.074
5,40
VO2Máx
32,3
8,1
40,2
7,6
-5.76
.000
19,40
METs
9,2
2,3
11,5
2,3
-5.76
.000
20,00

     Observou-se que o desvio padrão da PASE (pressão arterial sistólica de esforço) houve uma pequena diferença em função significativo do pós-testes em relação a sua média dos pacientes. Com relação ao teste t de student houve diferença estatisticamente significativa entre o pré e pós-teste nas variáveis: tempo na esteira, (PASR) pressão arterial sistólica repouso, (PADR) pressão arterial diastólica de repouso, (VO2 máx.) volume máximo de oxigênio e mets. Não houve diferença significativa nas variáveis: (PASE) pressão arterial sistólica de esforço, (PADE) pressão arterial diastólica de esforço, (FCR) freqüência cardíaca de repouso e (FCE) freqüëcia cardíaca de repouso e esforço. Com isto, a prescrição da atividade física, através da freqüência cardíaca de treinamento, baseou-se no VO2 Máximo com o teste ergométrico na esteira e no protocolo de BRUCE (1971). O protocolo foi valido para os pacientes portadores de coronariopatias e sedentários em potencial, que realizaram o teste ergométricos com valores acima de 7 mets.

     Na Tabela 1 mostra que os parâmetros ergométricos do pré e pós-teste,, possibilitaram uma melhoria da condição física dos pacientes, ou seja, a aplicação da sobrecarga através dos fatores de intensidade, duração e freqüência. Houve uma melhoria na condição física do seguinte modo: Tempo na esteira em torno de 21,30%, PASR em torno de 8,25%; PADR em torno de 7,45%; PASE em torno de 3,91%; PADE em torno de 1,64%; FCR em torno de 1,38%; FCE em torno de 5,40% e VO2 Máx em torno de 19,40% e Mets em torno de 20%.

     Não havendo variação significativa na PASE (pressão arterial sistólica de esforço) e FCE (freqüência cardíaca de esforço), o fato de ter havido melhora na tolerância ao exercício, isto é, aumento do tempo no ergômetro, leva-nos a concluir que um mesmo gasto energético cardíaco, foi dispendido para realizar um exercício maior.

     Ekblom, B. et al.,. (1972).; Wilmore, J. H. et al., (1977).; Rousseau et al., (1974) apud DUARTE(1986) comentam que a redução da freqüência cardíaca é um dos efeitos mais facilmente detectados como conseqüência do treinamento físico.

     Conforme DENTRY e col. (1971), comentam que os programas de condicionamento reduzem também a freqüência cardíaca de pacientes coronarianos e portadores de doenças arterosclerótica coronarianas, sendo menos evidentes as respostas ao condicionamento talvez em função da menor intensidade e duração dos exercícios envolvidos nos planos de reabilitacão destes pacientes. Um plano de condicionamento (Jogging) para sendentários, durante 20 minutos, 3 vezes por semana, exercitando a 75% do VO2 Máximo, demonstrou a redução da freqüência cardíaca de repouso em 1/bpm para cada semana de participação do programa. Os autores observaram, ainda, que a redução de 12 bpm na freqüência cardíaca dos pacientes coronarianos submetidos a um programa de treinamento de 3 meses, fez com que a freqüência cardíaca média de repouso permanecesse elevada (em torno de 80 bpm).

     Considere-se por exemplo, de acordo com os dados fornecidos por Shephard (1973) apud BOONE (1986), cujo o treinamento executado em 57% dos valores de pré-teste, o VO2 Máximo produzirá cerca de 13% em ganho no pós-teste do VO2 Máximo. Enquanto que, no treinamento de 78% do pré-teste do VO2 Máximo produzirá cerca de 16% de ganho no pós-teste do VO2 Máximo. Há apenas uma diferença de 3% entre o treinamento executado com 75 e 85% do limite sintomático da freqüência cardíaca, no qual parece evidente que esta diferença de 3% não vale o aumento potencial de risco de complicações cardio-vasculares e/ou ortopédicas.

     Em relação entre as modificações aeróbicas sejam elas centrais ou periféricas, e ambas, a intensidade de trabalho foram bem compreendidas por pollock et al., apud BOONE (1986), onde que 8 homens com doenças nas coronárias, na idade significativa de 52 anos, treinarm 3 vezes por semana em 50% a 70% de VO2 Máximo, nos primeiros 3 meses. Depois, a intensidade do exercício foi aumentada para 70% a 80% do VO2 Máximo, 4 a 5 dias/semana por 9 meses com 2 a 3 intervalo de 2 a 5 minutos de treinamento em 80 a 95% de VO2 Máximo intercalado durante a sessão de treinamento. Esheni et al apud BOONE (1986) o treinamento de 2 a 5 minutos em 80% a 95% de VO2 Máximo é uma aproximação muito perto de 97% a 98% do máximo de freqüência cardíaca.


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