A influência do treinamento resistido na melhoria de capacidades físicas em idosas de 60 a 70 anos La influencia del entrenamiento resistido en la mejora de las capacidades físicas en mujeres mayores de 60 a 70 años |
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*Bacharel em Educação Física. CEULJI-ULBRA **Professora Me. Adjunta do Curso de Educação Física. CEULJI-ULBRA (Brasil) |
Mário José Galvão Almeida Junior* Poliana Piovezana** |
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Resumo A prática regular do exercício físico é de suma importância para a saúde, influenciando diretamente no melhoramento de suas capacidades como a força, equilíbrio, resistência, dentre outros. Com a chegada da idade o corpo humano vem a sofrer alterações negativas tanto físicas quanto psicológicas, que podem ser amenizadas, e em diversas situações evitadas com prática do exercício físico. O objetivo do estudo foi de constatar a importância do treinamento resistido em relação ao condicionamento físico comparando idosas praticantes com não praticantes deste treinamento. A amostra foi constituída de 16 idosas com idades entre 60 e 70 anos, do qual 08 são praticantes do treinamento resistido e 08 não realizam nenhum tipo de exercício físico. As capacidades físicas avaliadas foram: resistência muscular localizada (RML), força e equilíbrio. Para comparação dos resultados foi utilizada a análise de variância Teste “T” simples (one sample t test) com p<0,05. Portanto, através do estudo realizado, pôde-se concluir que a prática do treinamento resistido é de extrema importância para a população idosa, pois, as idosas praticantes deste treino obtiveram resultados melhores e com diferença significativa em todas as capacidades físicas avaliadas comparadas as idosas não praticantes. Unitermos: Idoso. Capacidades físicas. Treinamento resistido.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 189, Febrero de 2014. http://www.efdeportes.com/ |
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1. Introdução
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 1984), considera o idoso, sob o ponto de vista cronológico, como aquele indivíduo que possui 65 anos ou mais de idade em países desenvolvidos, enquanto que, em países em desenvolvimento, prevalece a idade de 60 anos ou mais. O Brasil já não é mais considerado um país de jovens, com as estatísticas comprovando que a cada dia aumenta o número de pessoas idosas9. Devido a esta estatística de crescimento populacional da “terceira idade” torna-se fundamental a discussão do tema proposto.
O envelhecimento, processo inexorável aos seres vivos, conduz a uma perda progressiva das aptidões funcionais do organismo, aumentando o risco do sedentarismo. Essas alterações, nos domínios biopsicossociais, põem em risco a qualidade de vida do idoso, por limitar a sua capacidade para realizar, com vigor, as suas atividades do cotidiano e colocar em maior vulnerabilidade a sua saúde². Uma das grandes tragédias de nossa sociedade é que estamos aumentando a longevidade do homem e da mulher sem ensiná-los a reter a habilidade para operar independentemente. A média das pessoas passa aproximadamente uma década com alguma forma de incapacidade antes de morrer e, para a maior parte, deteriorações da capacidade física podem ser prevenidas, ou ao menos minimizadas, com um programa regular de treinamento de força4. Infelizmente no Brasil, 30% dos idosos caem pelo menos uma vez por ano e quanto maior a idade maior a chance de queda, sendo que 32% estão entre os 65 e os 74 anos, 35% entre os 75 e os 84 anos e 51% acima dos 85 anos. Estas quedas ocorrem mais nas mulheres do que nos homens da mesma faixa etária8.
Levando em consideração essas estatísticas, devemos nós profissionais da área não nos preocuparmos apenas com a duração de uma longa vida aos idosos e sim de proporcioná-los a qualidade em sua existência, mostrando e possibilitando aos indivíduos da terceira idade o quanto o exercício físico pode ser benéfico para a construção de uma vida independente e saudável.
Segundo as diretrizes da ACSM1 a aptidão física é definida como um conjunto de atributos que as pessoas possuem ou adquirem que se relaciona à capacidade de realizar uma atividade física. Já GUEDES6, define que a aptidão física pode ser dividida em dois componentes. O primeiro corresponde à aptidão física relacionada à saúde e envolve basicamente as seguintes capacidades físicas: resistência cardiorrespiratória, força, resistência muscular e flexibilidade. O segundo componente diz respeito à aptidão física relacionada ao desempenho motor e abrange as seguintes habilidades: potência (ou força explosiva), velocidade, agilidade, coordenação e equilíbrio.
Dentre as diversas capacidades físicas existentes, o equilíbrio, a força e a resistência são considerados fatores importantes para que o idoso obtenha um bom condicionamento funcional, do qual possa vir a desfrutar de uma vida ativa e consequentemente realizar com êxito suas atividades diárias.
Condicionamento funcional é o nível de condicionamento necessário para uma pessoa cuidar sozinha das necessidades domésticas, sociais e da vida diária, bem como manter-se independente em casa. A melhoria dos componentes do condicionamento funcional (força muscular, potência, resistência, flexibilidade e amplitude do movimento), separadamente ou em combinação, é de extrema importância para manter o desempenho de atividades como subir escadas ou levantar de uma cadeira4.
Uma alternativa que pode ser utilizada por idosos para a melhoria do condicionamento funcional, seria a prática de exercício regularmente.
O treinamento de força aumenta o desempenho das atividades cotidianas, assim, como o treino resistido ajuda a preservar e a aprimorar esta qualidade física nos indivíduos mais velhos. Isso pode contrabalançar a fraqueza e fragilidade muscular e melhorar a mobilidade10. Podendo assim o exercício físico, especificamente o treinamento resistido combinado com uma boa alimentação e a qualidade do sono, ser um dos métodos mais eficazes para a conquista de uma velhice saudável.
Há centenas de publicações sobre os benefícios do treinamento resistido para pessoas acima dos sessenta anos de idade, e vários destes estudos demonstraram que, inclusive pessoas acima de noventa anos, podem obter ganho de força muscular com melhoria da saúde e da capacidade funcional, tornando-se mais entusiasmadas e independentes4.
O treinamento resistido consiste em uma atividade voltada para o desenvolvimento das funções musculares através da aplicação de sobrecargas, podendo está ser imposta através de pesos livres, máquinas específicas, elásticos ou a própria massa corporal5. Este treinamento resulta em inúmeros benefícios para os idosos, como aumento da capacidade funcional, melhoria da postura geral, diminuição de lesões causadas por quedas decorrentes à perda do equilíbrio e força, diminuição dos níveis de dor, melhoria dos fatores neurais, aumento da densidade óssea, além de várias doenças crônicas que podem ser controladas e até mesmo evitadas, como diabetes, hipertensão, diversos tipos de câncer, dentre outras.
O treino resistido combinado com um bom profissional criativo e flexível vem a proporcionar inúmeras alternativas na montagem de cada treinamento, fazendo com que nos dias de hoje seja possível a prática do exercício para qualquer pessoa inclusive para o idoso. Sabe-se que não existe exercício errado e sim determinadas pessoas para cada tipo de exercício, fato que deve ser observado e adaptado pelo professor na montagem do treinamento. Para SIMÃO9, não há uma série ou programa de musculação que seja o “padrão” para essas pessoas e sim o que deve prevalecer para o profissional é o bom senso e respeito aos três principais fatores do treinamento: intensidade/ volume /frequência.
Hoje com a ampla rede de aparelhos e os chamados pesos livres (halteres, tornozeleiras, barras, anilhas, dentre outros), é possível a elaboração de qualquer treinamento que seja eficaz para o condicionamento funcional do idoso. Ambos possuem seus lados positivos e negativos. Se tratando das máquinas, pode-se definir como benefícios o fato de possuírem movimentos guiados, fazendo com que haja menor risco de lesões, sendo assim indicados para idosos iniciantes. Por outro lado, os aparelhos possuem menor possibilidade de variações. Os pesos livres podem ocasionar maior risco de lesões pelo fato de exigir maior coordenação, fato que felizmente pode ser modificado e melhorado com a prática. Como pontos positivos os pesos livres possuem maior variedade de movimentos, amplitudes nos exercícios, utilizam outras porções musculares como os estabilizadores e melhoria da coordenação motora e o equilíbrio.
2. Objetivo
O objetivo do estudo foi constatar a importância que o treinamento resistido tem para o melhoramento do condicionamento físico dos idosos, através da confrontação dos resultados obtidos nos testes físicos com idosas praticantes e não praticantes deste treinamento.
3. Metodologia
3.1. Tipo de pesquisa
Esta pesquisa segundo Thomas e Nelson7 é caracterizada como descritiva comparativa, pois procura estabelecer normas para amostras de idade, com relação às habilidades, desempenhos ou convicções.
3.2. Participantes da pesquisa
Participaram da pesquisa 16 idosas, com a faixa etária entre 60 e 70 anos, sendo 08 praticantes do treinamento resistido e 08 que não realizam nenhum tipo de exercício físico. Das 08 praticantes, 03 foram da academia Sport Fitness de Ji-paraná-RO e 05 da academia Hidromania de Rolim de Moura-RO. Todas as idosas não praticantes residem no município de Santa Luzia D’Oeste, RO.
3.3. Instrumentos de coleta
Para a avaliação das capacidades físicas foram utilizados os testes de Resistência Muscular Localizada (RML) adotando os métodos de números de abdominais por minuto como teste dinâmico e para o isométrico o exercício “prancha”; Para o teste de equilíbrio foi elaborado o protocolo de Romberg em apoio Unipodal; Como medida de força foram utilizados os instrumentos Dinamômetro Dorsal T.K.K. 5002 e Dinamômetro Palmar T.K.K 5001 ambos da marca TAKEI PHYSICAL FITNESS TEST; além de alguns instrumentos de apoio como 02 canetas, 01 prancheta, 01 colchonete e 01 cronômetro da marca CLASSE modelo CLA-1063.
3.4. Procedimentos de coleta
Primeiramente foi encaminhado para as academias Sport Fitness do município de Ji-Paraná-RO e Hidromania do município de Rolim de Moura-RO uma solicitação de autorização para os proprietários ou responsáveis das empresas, para que os mesmos permitissem a realização dos testes com seus clientes idosos praticantes do treinamento resistido. Já para os testes com idosos que não participam de nenhum programa de exercício físico foram todos realizados com residentes do município de Santa Luzia D’Oeste-RO. Foram adotados critérios como:
Os idosos praticantes e não praticantes do treinamento resistido participaram de forma espontânea;
Os critérios de exclusão foram primeiramente o de recusa do idoso em participar da pesquisa e problemas físicos alegados pelos mesmos, do qual impediram a realização dos testes;
Para a realização dos testes, o idoso deveria ter a idade entre 60 a 70 anos, o critério da escolha desta faixa etária foi para que não houvesse uma diferença muito significativa em relação à idade entre os praticantes e não praticantes;
As idosas praticantes do treinamento resistido deveriam ter no mínimo 6 meses de treino.
Inicialmente foi realizado o teste dinâmico de RML abdominal. Cada idosa teve 1 (um) minuto para executar o maior número de abdominais possíveis, sendo estes realizados apenas com mínima flexão de tronco, sendo também necessário que as idosas retirassem ao menos toda a parte cervical do solo. Para o segundo teste também de RML, mas em isometria foi adotado o exercício “Prancha”, o mesmo é direcionado para a musculatura profunda do tronco (abdominal e lombar). Durante sua a execução as idosas permaneceram em decúbito ventral com o rosto voltado para o solo, o tronco, quadril e as pernas fora do chão, pontas dos pés e o antebraço em contato com o solo para o apoio, mantendo o alinhamento da coluna neutro e respirando durante todo o exercício. O teste foi realizado e cronometrado apenas uma vez.
Para o teste da capacidade física equilíbrio foi elaborado o protocolo de Romberg em apoio Unipodal. A idosa manteve-se em pé, com os braços abertos em 90°, após o comando executou um flexão de joelho (90°). Durante o teste e cronometragem foram permitidas oscilações no equilíbrio, o final do mesmo foi determinado apenas quando se utilizou algum apoio ou extensão do joelho. O protocolo foi elaborado 03 vezes, sendo que foi adotada a utilização do melhor tempo entre as tentativas. Como última capacidade física avaliada, a análise de força foi através de 02 testes, dinamometria dorsal e dinamometria palmar, sendo que no teste de força palmar a idosa realizou com sua mão dominante.
4. Resultados e discussão
Tabela 1. Idade das idosas
Após o cálculo da média das idades, obteve-se o resultado de que os grupos estudados possuem a mesma faixa etária, estatisticamente iguais.
Tabela 2. Teste RML Abdominal (1 minuto)
A RML que foi estimada através do teste abdominal em um minuto, que esteve associada com praticantes e não praticantes do treinamento resistido nos forneceram resultados bem variados. As idosas praticantes do treinamento executaram um maior número de abdominais do que as idosas não praticantes, conforme podemos notar quando confrontamos a idosa número 05 (grupo praticante) com a idosa número 13 (grupo não praticante) que foram as que se destacaram em suas repetições, obteve-se um diferença de 34 execuções. Corroborando com a hipótese inicial do estudo.
Tabela 3. Teste RML “Prancha”
O exercício “Prancha” foi elaborado no intuito de testar a RML em isometria. Os resultados obtidos reforçam a tese de que o exercício físico trás grandes benefícios, como o ganho de força muscular com melhoria da saúde e da capacidade funcional. Podemos notar que o maior tempo entre as idosas não praticantes foi da idosa número 13, (de 18,20), que nem ao menos superou o menor tempo entre as idosas praticantes de 18,23 (idosa número 01), o que confirma a importância da prática do treinamento resistido.
Tabela 4. Teste Equilíbrio Estático – Romberg Unipodal
Partindo das informações que no Brasil, 30% dos idosos caem pelo menos uma vez e que estas quedas ocorrem mais nas mulheres do que nos homens da mesma faixa etária, executou-se o teste de Romberg em apoio Unipodal que teve como objetivo avaliar a capacidade de equilíbrio das idosas. Foi o teste que nos apresentou maior diferença quando confrontado a média das 08 praticantes com as não praticantes, sendo que esta média ultrapassou a diferença de 300% , o que reforça o quanto o treinamento resistido contribui para melhoria da coordenação motora e equilíbrio mesmo em idade avançada.
Tabela 5 e 6. Teste de força – Dinamômetro Dorsal e Dinamômetro Palmar
A Força pode ser classificada como uma das capacidades físicas de grande importância para uma vida independente e ativa na terceira idade, o que possibilita ao idoso a realização desde as pequenas até as grandes tarefas diárias. Podemos analisar que no teste de dinamometria dorsal onde também é requerida a força dos membros inferiores em sua execução, as praticantes novamente se sobressaíram em relação as não praticantes, o que não foi diferente quando comparadas também no teste de dinamometria palmar. Revelou-se que em ambos os testes de força, o treinamento resistido foi fator determinante para a diferença dos resultados das praticantes e não praticantes do exercício em questão, onde mais uma vez os números reforçaram a tese.
4.1. Gráficos comparativos entre os idosos praticantes e não praticantes
5. Conclusão
Nós profissionais não podemos evitar o processo do envelhecimento, mas devemos carregar as ferramentas necessárias, como o conhecimento teórico e prático, criatividade, e acima de tudo o respeito com nossos alunos. O treino resistido é uma eficaz alternativa entre tantas existentes nesta busca de um envelhecimento com qualidade, sendo assim uma opção de obter uma vida digna, saudável e independente.
Portanto podemos dizer ao final do estudo que o treinamento resistido foi fator determinante para a diferença dos resultados obtidos entre praticantes e não praticantes, onde existiu em todas as avaliações das capacidades físicas (RML, equilíbrio e força) uma diferença significativa em prol das idosas praticantes de treinamento. Sendo assim os números reforçaram e apoiaram o estudo em questão.
Referências
ACSM's Guidelines for exercise testing and prescription, Six Edition, American College of Sports Medicine-USA, Guanabara, 2003.
ALVES, Roseane Victor et al. Aptidão física relacionada à saúde de idosos: influência da hidroginástica. Rev Bras Med Esporte, 2004
BALDONI, A. O. O impacto do envelhecimento populacional brasileiro para o sistema de saúde sob a óptica da farmacoepidemiologia: uma visão narrativa. Rev Ciênc Farm Básica Apl, 2011.
CAMPOS, Maurício de Arruda. Musculação: diabéticos, osteoporóticos, idosos, crianças, obesos. 4° ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2008.
FLECK, S.T.; KRAEMER, W.J. Fundamentos do treinamento de força muscular. 3° ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2006.
GUEDES et al. Atividade física habitual e aptidão física relacionada à saúde em adolescentes. Rev. Bras. Ciên. e Movimento, 2002.
JERRY R. THOMAS, Jack K. NELSON. Métodos de pesquisa em atividade física. 3ª ed.-Porto Alegre: Artmed, 2002.
SILVA, Andressa da. et al. Equilíbrio, Coordenação e Agilidade de Idosos Submetidos à Prática de Exercícios Físicos Resistidos. Rev Bras Med Esporte, 2008.
SIMÃO, Roberto. Treinamento de Força Para Idosos. Cooperativa do Fitness.
VALE, Rodrigo Gomes de Souza. et al. Efeitos do treinamento resistido na força máxima, na flexibilidade e na autonomia funcional de mulheres idosas. Rev. Bras. Cineantropom. Desempenho Hum, 2006.
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