Prevalência de sobrepeso e obesidade em escolares de Santa Cruz do Sul: um comparativo entre zona urbana e rural Predominio de sobrepeso y obesidad de escolares de Santa Cruz do Sul: comparación entre la zona urbana y la rural |
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*Licenciada/o em Educação Física e acadêmica/o do curso de Educação Física - Bacharelado pela Universidade de Santa Cruz do Sul, RS (UNISC) **Docente do Departamento de Educação Física e Saúde e do Programa de Pós-graduação Mestrado em Promoção da Saúde da Universidade de Santa Cruz do Sul, RS (UNISC) (Brasil) |
Felipe Garibaldi* Debora Tornquist** Luciana Tornquist*** luciana.tornquist@yahoo.com.br Miria Suzana Burgos**** |
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Resumo Este estudo tem por objetivo verificar possíveis diferenças entre os índices de obesidade em escolares do meio urbano e meio rural entre crianças e adolescentes de Santa Cruz do Sul - RS. Foram sujeitos do presente estudo, 174 crianças e adolescentes, sendo 88 do sexo masculino e 86 do sexo feminino. Foram aferidos peso e estatura dos escolares e calculado o índice de massa corporal. A prevalência de sobrepeso foi maior, em ambos os sexos, na zona urbana (19,5% M e 16,7% F). Já a prevalência de obesidade entre o sexo masculino foi maior na zona rural (15,6%), enquanto no feminino, esta foi maior na zona urbana (19,0%). A média de IMC foi maior entre a urbana (20,26), porém sem diferença estatisticamente significativa. Entre os sexos, observa-se maior média pelo sexo feminino, com diferença estatisticamente significativa. Em geral, verificou-se uma grande prevalência de excesso de peso entre os escolares, com uma maior média de IMC entre a zona urbana, sem diferença estatisticamente significativa. No sexo masculino a prevalência de obesidade foi maio na zona rural, já o sobrepeso, na zona urbana. No feminino tanto o sobrepeso e obesidade foram maiores na zona urbana. Unitermos: Obesidade. Fatores de risco. Crianças.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 189, Febrero de 2014. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A obesidade pode ser definida como um distúrbio no estado nutricional, traduzido pelo desequilíbrio prolongado e permanente entre ingestão e gasto calórico, gerando o acúmulo excessivo de gordura no organismo (COSTA; LEÃO; WERUTSKY, 2002). É considerada uma doença crônica, ocasionada por fatores genéticos, ambientais e comportamentais (LOPEZ; CAMPOS JÚNIOR, 2008).
A obesidade vem se tornando um problema de saúde de abrangência mundial. Em muitos países, especialmente os mais industrializados, o excesso de gordura corporal é considerado um dos maiores problemas de saúde pública. Este quadro vem crescendo na ultima década, também passando a preocupar países em desenvolvimento, como o Brasil. Dados do IBGE mostram que, em nosso país, um em cada 10 adultos é considerado obeso e a tendência é deste quadro progredir (SALVE, 2006; NAHAS, 2003).
De mesmo modo, os índices de obesidade infantil também têm aumentado. Dados da Sociedade Brasileira de Obesidade demonstram que a obesidade infantil atinge hoje cerca de cinco milhões de crianças e adolescentes, equivalente a 15% da população nesta faixa etária (FREITAS JÚNIOR, 2007).
Dados apontam que, no Brasil, a obesidade é mais presente no meio urbano, sendo que em todas as regiões brasileiras a distribuição de excesso de peso é mais elevada na área urbana do que na área rural (MONTEIRO et al., 2000). Entretanto, a partir da década de 70 vem sendo observadas mudanças no perfil do estilo de vida das populações rurais, devido à modernização e desenvolvimento do campo, assim tendo uma grande repercussão nas grandes transformações sociais, culturais e econômicas. O homem tem cada vez menos utilizado suas potencialidades corporais, sendo este um fator decisivo para uma má qualidade de vida e aquisição de doenças crônicas (MARTINS, 2001). Pesquisa do IBGE (2005) observou que a prevalência de excesso de peso nas áreas rurais já representa 21% na população da região nordeste, 40% na região sul e entre 28 e 34% nas demais regiões.
Nesta perspectiva, este estudo tem por objetivo verificar possíveis diferenças entre os índices de obesidade da zona urbana e da zona rural do município de Santa Cruz do Sul - RS.
Método
São sujeitos deste estudo transversal 174 crianças e adolescentes, sendo 86 do sexo masculino e 88 do feminino, com idades entre sete e 17 anos, estudantes de duas escolas do município de Santa Cruz do Sul – RS, sendo uma do meio urbano e outra do meio rural.
Foram realizadas medidas de peso e estatura dos escolares para o cálculo do índice de Massa Corporal (IMC), através da fórmula: IMC = peso(kg)/altura(m)². Após, o IMC foi classificado de acordo com as curvas de percentis do CDC/NCHS (2000), de acordo com gênero e idade, considerando baixo peso (<p5), normal (≥p5 e <p85), sobrepeso (p≥85 e <p95) e obesidade (≥p95).
Este estudo é um recorte de uma pesquisa maior, a qual teve o projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da UNISC, sob o protocolo número 2525-10, ofício 111/10. Os pais ou responsáveis assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, autorizando a participação de seus filhos.
Os dados foram analisados no programa estatístico SPSS for Windows 20.0, através de estatística descritiva (freqüência e percentual; média e desvio padrão) e a análise de associação das variáveis estudadas foi realizado através do teste-t (p≤0,05).
Resultados
Na tabela 1 pode-se observar que o maior percentual de escolares é do sexo feminino (50,6%) e da zona rural (52,3%). Com relação ao IMC, observa-se que a prevalência de excesso de peso foi de 29,3%: 13,8% de sobrepeso e 15,5% de obesidade.
Tabela 1. Descrição da amostra
Analisando a tabela 2, que estabelece um comparativo entre a zona urbana e a rural, encontramos uma prevalência de sobrepeso maior, para ambos os sexos, na zona urbana. Já a prevalência de obesidade, entre o sexo masculino, foi maior na zona rural, enquanto no feminino, esta foi maior na zona urbana. A prevalência de excesso de peso foi ainda semelhante entre os sexos, onde 29,1% do sexo masculino e 29,5% do feminino apresentaram sobrepeso ou obesidade.
Tabela 2. Relação entre IMC e zona de moradia, de acordo com o sexo
Na tabela 3 são observadas as médias e o desvio padrão do IMC conforme a zona de moradia e o sexo. Com relação à zona de moradia, observa-se que a média mais elevada foi a da zona urbana, porém sem diferença estatisticamente significativa. Já, entre os sexos, observa-se maior média de IMC para o sexo feminino, com diferença estatisticamente significativa.
Tabela 3. Média e Desvio Padrão do IMC por zona e sexo
Discussão
As prevalências de excesso de peso encontradas na literatura existente divergem muito, entretanto a prevalência encontrada no presente estudo - 29,3% (13,8% de sobrepeso e 15,5% de obesidade) - se apresenta semelhante e, em alguns casos, superior, a encontrada nos estudos pelo país. Em Chapada (RS), a prevalência de excesso de peso entre os escolares foi de 30% (POLLA; SCHERER, 2011). No Distrito Federal, esta foi de 21,1% entre os meninos e 22,9% entre as meninas (GIUGLIANO; CARNEIRO, 2004). Na Paraíba, 23,5% apresentavam excesso de peso (MEDEIROS et al., 2011) e em Pernambuco, 11,5% apresentavam sobrepeso e 2,4%, obesidade (TASSITANO et al., 2009). Na Parnaíba (PI), 26,79% dos escolares apresentavam sobrepeso e 11,14% obesidade (FIGUEIRAS et al., 2012). Já, na cidade de Picos, também no Piauí, a prevalência foi de 11,3% de sobrepeso e 1,4% de obesidade (MOURA et al., 2012). Fagundes et al. (2008), em estudo na cidade de Palheiros (SP), encontraram uma prevalência de 16,5% de sobrepeso e 14,7% de obesidade. Nas cidades de Morro Reuter e Dois Irmãos (RS), 16,9% dos escolares apresentaram sobrepeso e 7,5%, obesidade (TRICHES; GIUGLIANI, 2005). Já, em Feira de Santana (BA), a prevalência de sobrepeso foi de 9,3% e de obesidade, 4,4% (OLIVEIRA; CERQUEIRA; OLIVEIRA, 2003).
Com relação às médias de IMC o presente estudo não encontrou diferenças entre as zonas de moradia urbana e rural. A prevalência de sobrepeso foi maior, em ambos os sexos, para a área urbana. Entretanto, obesidade foi mais prevalente na zona rural para o sexo masculino. Semelhantemente em estudo realizado na cidade de Estrela (RS), em que se observou que, no ano 2000, a prevalência de sobrepeso e obesidade foi maior na zona rural para o sexo masculino e na zona urbana para o feminino. Entretanto, no ano de 2004, a prevalência foi maior para ambos os sexos na zona urbana (POSSAMAI, 2007). Em outro estudo no município de Estrela (RS), Delwing, Rampel e Bosco (2010) observaram que a média de IMC foi maior na zona urbana para o sexo masculino e na zona rural para o feminino, não havendo diferença estatisticamente significativa. Igualmente, estudo na cidade de Ivaí (PR), não encontrou diferenças significativas de sobrepeso e obesidade entre escolares da zona urbana e zona rural (SIMÕES; RAIFUR, 2011).
Já na cidade de Teresina (PI) e Ferros (MG) a maior prevalência de obesidade foi encontrada na zona urbana (BRITO et al., 2012; FELISBINO-MENDES; CAMPOS; LANA, 2010). De mesmo modo, na cidade de Porto Velho (RO), a prevalência de excesso de peso entre os escolares da zona rural foi de 12% enquanto na zona urbana foi de 28% (PEDROSA et al., 2010). O oposto foi encontrado por Polla e Scherer (2011), na cidade de Chapada (RS), onde o excesso de peso foi maior entre os escolares da zona rural (9,35% para sexo masculino e 9,81% para o feminino), do que entre os escolares da zona urbana (5,14% para o sexo masculino e 6,07% para o feminino). Em Bom Jardim (RJ), observou-se maior média de IMC entre os escolares da zona rural (CASTRO et al., 2012). Triches e Giugliani (2005) observaram que, entre os escolares das cidades de Morro Reuter e Dois Irmãos (RS), os residentes da zona urbana apresentaram duas vezes mais chances de apresentar obesidade do que os alunos da zona rural, embora não significativo. No estado do Pernambuco, encontrou-se maior proporção de escolares com sobrepeso e obesidade na zona urbana (TASSITANO et al., 2009).
O presente estudo verificou ainda que a média do IMC feminino é significativamente maior do que a do sexo masculino, embora a prevalência de sobrepeso e obesidade encontrada para ambos tenha sido muito semelhante. Vindo de encontro ao observado nas cidades de Morro Reuter e Dois Irmãos (RS), em que também a prevalência de sobrepeso e obesidade entre os sexos foi muito similar, sendo no sexo feminino de 16,6% e 7,6% respectivamente, e no sexo masculino, de 17,3% e 7,4% (TRICHES; GIUGLIANI, 2005). Em Chapada (RS), também foi semelhante à prevalência entre meninas (14,5%) e meninos (15,9%) (POLLA; SCHERER, 2011). Na cidade de Feira de Santana (BA) e também no estado do Pernambuco não foram observadas diferenças significativas entre os sexos (OLIVEIRA; CERQUEIRA; OLIVEIRA, 2003; TASSITANO et al., 2009). Já estudo em Brasília (DF), encontrou maior prevalência de excesso de peso entre o sexo feminino (21,2%) do que entre o masculino (18,8%). (GIUGLIANO; MELO, 2004). No município de Ingá (PB), as meninas apresentaram maior prevalência de excesso de peso (28,4% sobrepeso e 4,9% obesidade) do que o sexo masculino (13,6% sobrepeso e 3,4% obesidade) (NASCIMENTO, 2012). De modo contrário, em Niterói (RJ), a prevalência tanto de sobrepeso (12,1% M e 7,2% F), quanto de obesidade (23,9% M e 7,2% F) foi maior entre o sexo masculino (FONSECA; SICHIERI; VEIGA, 1998).
Conclusão
Verificou-se no presente estudo uma alta prevalência de excesso de peso entre os escolares avaliados. Com relação à zona de moradia, observou-se maior média entre a zona urbana, no entanto, sem diferença estatisticamente significativa. Entretanto, no sexo masculino, a prevalência de sobrepeso foi maior na zona urbana, já a prevalência de obesidade foi maior na zona rural e no feminino, tanto sobrepeso, quanto obesidade foram maiores na zona urbana. Entre os sexos, observou-se maior média de IMC entre o sexo feminino, com diferença estatisticamente significativa, porém as prevalências de sobrepeso e obesidade de ambos são semelhantes.
Referências
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