Qualidade de vida no trabalho e
citricultura: relação Calidad de la vida laboral y citricultura: la relación y la importancia de la investigación de estas temáticas Quality of work life and citriculture: relationship and importance of researching such matters |
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* Graduado em Educação Física e Quiropraxia, Especialista em Atividade Física e SaúdeMestre em Inclusão Social e Acessibilidade. Aluno especial do Programa de Pós-Graduação em Diversidade e Inclusão da Universidade Feevale, Rio Grande do Sul **Graduado em Educação Física, Especialista em Medicina Esportiva e Ciência do Esporte. Mestre e Doutor em Ciências do Movimento Humano pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS ***Graduada em Fisioterapia, Especialista em Saúde e Trabalho. Mestre e Doutora em Engenharia de Produção com ênfase em Ergonomia. Professora do Programa de Pós-Graduação em Diversidade e Inclusão da Universidade Feevale, Rio Grande do Sul ****Graduada em Psicologia, Especialista em Diagnóstico e Tratamento dos Transtornos do Desenvolvimento (Centro Lydia Coriat). Mestre e Doutora em Psicologia do Desenvolvimento (UFRGS). Professora do Programa de Pós-Graduação em Diversidade e Inclusão da Universidade Feevale, Rio Grande do Sul |
Marcos Vinícius Zirbes* Guilherme Garcia Holderbaum** Jacinta Sidegum Renner*** Lisiane Machado de Oliveira Menegotto**** (Brasil) |
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Resumo A qualidade de vida no trabalho (QVT) está se tornando um tema cada vez mais valorizado dentro do ambiente laborativo, porém, acredita-se que ainda sejam reduzidos os números de publicações sobre a relação entre a QVT e a Citricultura, sendo que a Citricultura vem se destacando cada vez mais pela melhora da alimentação humana e por sua importância socioeconômica, gerando anualmente milhares de empregos. Esta pesquisa objetivou, por meio de revisão integrativa em 3 diferentes bases de dados, verificar o número de estudos que abranjam de uma forma relacionada os temas Qualidade de vida no trabalho (QVT) e a Citricultura, buscando com isso não só o engrandecimento das bases de dados científicas, mas também, um maior aprofundamento sobre tais assuntos distintos, possibilitando futuramente o desenvolvimento de pesquisas e estratégias que visam à promoção da QVT relacionada com a Citricultura. Os resultados desta pesquisa mostraram que os estudos que abrangem de uma forma relacionada os temas QVT e a Citricultura tem um número bastante reduzido de publicações, quando comparados com os estudos que envolvem cada um dos temas individualmente, o que reforça e instiga ainda mais a importância de se pesquisar estes assuntos de uma forma relacionada. Unitermos: Qualidade de vida no trabalho. Citricultura.
Abstract The quality of work life (QWL) is becoming a subject highly valued in the workplace, however, it is believed that they are still reduced the numbers of publications on the relationship between QWL and Citriculture, and the Citriculture has been increasingly highlighting the improvement of human nutrition and its socio-economic importance, generating thousands of jobs annually. This study aimed, through integrative review on 3 different databases, check the number of studies covering the relationship of the themes Quality of work life (QWL) and Citriculture, seeking with it not only the enhancement of scientific databases but also a deeper understanding of such matters, enabling future research and the development of strategies aimed at promoting QWL related to Citriculture. The results of this research showed that research involving QWL and Citriculture has a very limited number of publications, compared with research involving each topic individually, which strengthens and encourages further the importance of researching these issues in a related manner. Keywords: Quality of work life. Citriculture.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 189, Febrero de 2014. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Após a sociedade ter se sensibilizado pelo tema qualidade de vida (QV), surgiram vários conceitos para compor sua definição, caracterizando tal tema como sendo algo subjetivo e propiciando o interesse por termos como “motivação” e “padrão de vida”, muitas vezes utilizados por políticos, filósofos e pesquisadores da área da saúde e das áreas sociais (REIS JÚNIOR; PILATTI, 2008). Estudos sobre a QV estão cada vez mais presentes nos dias de hoje, sendo que eles não visam apenas analisar a QV, mas também perceber relações existentes com outros assuntos pertencentes à vida diária, sendo que, estas relações possibilitaram o surgimento de outros indicadores, tais como a qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS) e a qualidade de vida no trabalho (QVT) (CHEREMETA et al., 2011).
A QVT pode ser compreendida como algo que visa facilitar e satisfazer às necessidades do trabalhador ao desempenhar suas atividades laborativas, bem como, desenvolvê-las, sendo que, é notório que as pessoas produzem mais e melhor quando estão mais satisfeitas e envolvidas com seu trabalho. Para Feigenbaum (1994), a QVT diretamente relacionada com o princípio de que o comprometimento com a qualidade ocorre de forma mais natural nos ambientes em que os funcionários se encontram inseridos e engajados nas decisões que envolvem o seu trabalho.
Para algumas empresas e locais de trabalho, a valorização do funcionário, a qualidade do ambiente de trabalho e a satisfação pessoal de cada indivíduo estão diretamente relacionadas com o desenvolvimento de uma maior qualidade de serviços e produtos finais. Isso resulta, posteriormente, no desenvolvimento de fatores que estão relacionados, de uma forma direta, com a saúde dos funcionários, tais como, a satisfação de cada indivíduo, os hábitos cotidianos, o lazer, o estilo de vida, a QV e a QVT (TIMOSSI et al., 2010).
Segundo a definição de Davis e Golberg (1957), citada por Severo e Pedroso (2008), o agronegócio consiste em atividades relacionadas com insumos agropecuários, envolvendo a produção, o armazenamento, o processamento e a distribuição de tais produtos e seus derivados até a venda ao consumidor final. A falta de conhecimento e a má utilização de agrotóxicos podem acarretar em sérios problemas em diversos tipos de cultivos, o que também, potencializa as chances de ocorrerem acometimentos para a saúde de quem os utiliza erroneamente (SILVA; OLIVEIRA, 2006).
O objetivo principal deste artigo, por meio de revisão integrativa, é comparar a diferença dos números de publicações científicas entre a Qualidade de vida no trabalho e a Citricultura, bem como, verificar o número de estudos que abranjam ambos os temas. Em conseqüência da realização deste artigo, buscar-se-á também, desenvolver e qualificar as bases de dados científicas sobre o tema qualidade de vida no trabalho relacionada à citricultura, e também, evidenciar a importância de se pesquisar cada vez mais sobre estes assuntos.
Revisão da literatura
Qualidade de vida
A definição do termo qualidade de vida (QV) foi estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como “a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações” (FLECK, et al.,1999, p. 199).
Conceituar a QV é algo bastante difícil e subjetivo até a atualidade, pois aspectos e vivências que possam proporcionar a QV para algumas pessoas podem não ser tão positivas para outras. Desta forma, estabelecer um conceito único e fechado sobre a QV é bastante difícil, devido a sua subjetividade e multidisciplinariedade (REIS JÚNIOR; PILATTI, 2008). Para Minayo et al. (2000), QV é uma noção pessoal de cada ser humano, que é resultado de uma junção do grau de satisfação encontrado na vida social, ambiental, amorosa e familiar, sendo que, a síntese destes fatores estão diretamente relacionados com o conforto e bem-estar. Relatos de França (2004) mostram que o significado para o termo QV não se limita em apenas um conceito único e fechado, sendo que este tema é composto por vários fatores que acabam resultando um conceito muito pessoal de QV. Complementando, Minayo et al. (2000) relatam que o termo QV é algo que tem muita abranjência, pois engloba diferentes experiências e conhecimentos vividos pelo indivíduo em diferentes estágios e momentos de sua vida, resultando em uma construção social marcada pela relatividade cultural e ambiental.
Segundo Minayo et al. (2000) existem três variantes que influenciam o conceito da QV, sendo estas pertencentes ao contexto sociocultural, que se referem aos valores pessoais; o período histórico no qual o indivíduo se encontra, referente ao momento econômico, social e tecnológico; e, a estratificação das classes sociais, referentes aos diferentes conceitos e vivências baseados no nível social que o indivíduo se insere. No entanto, a autora acrescenta que tais aspectos subjetivos não impedem que um conceito global e hegemônico de QV venha a ser desenvolvido futuramente, porém, este pode vir a sofre influências por intermédio dos costumes ocidentais, mais urbanizados, associados a certos valores como: viagens, automóveis, tecnologias, conforto, prazer, entre outras.
Mesmo tendo semelhanças e uma significativa interrelação, os conceitos de QV e QVT apresentam grandes diferenças dentro da sua abranjência (PEDROSO; PILATTI, 2010). É possível a existência de uma sobreposição entre a QV e o trabalho, uma vez que a QV envolve muitos fatores subjetivos, evidenciando com isso que as vivências dentro do ambiente de trabalho podem influenciar diretamente a QV do trabalhador (TOLFO; PICCININI, 2001).
Qualidade de vida no trabalho
Com a ocorrência de uma sequência de manifestações trabalhistas no século XX, estudiosos de diferentes áreas sentiram-se instigados a pesquisar sobre a qualidade de vida dentro do ambiente de trabalho. Ela é um derivado da sua variável de origem, a QV, dando origem a um novo conceito: a qualidade de vida no trabalho (QVT) (PEDROSO; PILATTI, 2010).
Embora o tema QVT e suas pesquisas possam parecer recentes, tal preocupação existe há bastante tempo, como, por exemplo, na lei das alavancas criada por Arquimedes em 287 a.C., visando reduzir o esforço físico durante a realização de atividades de trabalho que envolviam força (FRANÇA JÚNIOR; PILATTI, 2004). A partir de 1970 a QVT passa a ser pesquisada em vários países, porém, segundo Ayres e Silva (2004), apenas em 1980 é que esta passou a ser fortemente pesquisada no Brasil.
O surgimento e o crescimento do capitalismo mundial resultaram no aparecimento de crises e crescimentos de produção, alterando o modo de organização do trabalho, de seu funcionamento, nas formas de controle sobre os funcionários, a qualificação e titulação destes e as inovações tecnológicas. A junção deste conjunto caracterizou-se pelo nome de Revolução Industrial (MERLO; LAPIS, 2007). A revolução industrial deteriorou as condições de trabalho a ponto de estas serem consideradas como algo desumano, sendo agravado de uma forma veloz com o crescimento do número de trabalhadores em um curto espaço de tempo, o que levou a um colapso das cidades por não conseguirem comportar tamanha demanda, resultando muitas vezes assim em aumento da pobreza, mínimas condições de moradia e higiene (PILATTI, 2007).
Após o término da revolução industrial, o trabalho passou a ter uma visão mais humanizada, sendo que, anteriormente, condições subumanas de trabalho levaram os trabalhadores a lutar por salários justos, menores jornadas de trabalho e melhores condições pra trabalhar (PEDROSO; PILATTI, 2010). Nos dias de hoje, a preocupação com a saúde e o bem-estar dos trabalhadores vem ganhando cada vez mais valorização e espaço, sendo que a insatisfação financeira e o estresse tendem a resultar em uma redução na produtividade. Pensando nesta perspectiva de que a empresa deve proporcionar atividades que incentivem seus funcionários, é interessante também, algo que gera um tipo de compensação, de certo modo, para seus esforços destinados a produção empresarial (KETS DE VRIES, 2001; AYRES; SILVA, 2004; PEDROSO; PILATTI, 2010).
A QVT é algo muito mais abrangente do que apenas questões pertencentes ao trabalho, esta engloba também a valorização e a preocupação com o bem-estar do indivíduo e a eficácia do ambiente laborativo, bem como, envolve as decisões e participações dos trabalhadores para resolução dos problemas e dificuldades existentes dentro do ambiente de trabalho (TEIXEIRA et al., 2009).
Citricultura
Segundo Severo e Pedroso (2008), o agronegócio de citrus vem se tornando cada vez mais algo de grande importância para a economia mundial, pois além deste gerar uma grande movimentação financeira, também evidencia sua importância na melhora da alimentação humana, sendo que, a citricultura vem se destacando por sua importância socioeconômica, gerando anualmente milhares de empregos e aumentando as exportações brasileiras, principalmente no que diz respeito ao suco de laranja. Conforme o estudo de Neves et al. (2001), o suco concentrado de laranja tem grande importância para o comércio e para a economia brasileira (principalmente a do estado de São Paulo), sendo que este gera anualmente, rendimentos superiores à quantia de 1 bilhão de dólares. De acordo com a pesquisa de Severo e Pedroso (2008), a fruticultura gera um rendimento de 1,5 bilhões de dólares, sendo que, o estado do Rio Grande do Sul é o responsável pela produção de 7% de laranjas e 11% de bergamotas de todo o país.
Os tipos de culturas alternativas, como a agroecologia, biológica, natural e orgânica, têm como filosofia a não utilização de defensivos ou fertilizantes químicos, bem como, o uso racional do solo e demais recursos naturais. Estas práticas obtiveram um grande crescimento nos últimos anos, o que resultou também, em uma maior conscientização dos consumidores, estes que estão cada vez mais, preocupados com a segurança dos alimentos que consomem diariamente (SEVERO, PEDROSO, 2008). Complementando, Severo e Pedroso (2008) descrevem que a agroquímica ou agricultura convencional tem como característica a exploração intensiva da terra, e o uso muitas vezes desmedido, de fertilizantes, herbicidas, pesticidas e agrotóxicos, sendo que este tipo de agricultura pode estar relacionada com a ocorrência de possíveis comprometimentos ambientais, tais como, a contaminação de rios, a diminuição da biodiversidade local e o surgimento de possíveis problemas de saúde.
Método
Para realização deste artigo, foi empregado o método de revisão integrativa, que, segundo Souza, Silva e Carvalho (2010), consiste em uma forma de pesquisa que busca sintetizar o conhecimento e a incorporação da aplicabilidade de resultados na prática. Esta pesquisa teve como objetivo principal, verificar o número de estudos que abranjam de uma forma relacionada os temas Qualidade de vida no trabalho (QVT) e a Citricultura, buscando com isso não só o engrandecimento das bases de dados científicas, mas também, um maior aprofundamento sobre tais assuntos distintos, possibilitando futuramente o desenvolvimento de pesquisas e estratégias que visam à promoção da QVT junto a Citricultura.
Foram utilizadas três diferentes bases de dados científicas definidas por conveniência para a realização das buscas dos artigos científicos, sendo estas, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), SciELO e ScienceDirect. Foram realizadas buscas avançadas de artigos científicos com a utilização das seguintes palavras-chave: “Qualidade de vida no trabalho” e “Citricultura”, utilizando também, suas variantes na Língua Inglesa. Para os artigos científicos serem incluídos nesta revisão integrativa, os mesmos deveriam conter algumas das palavras-chave acima citadas em seu título e resumo.
Cabe ressaltar que o presente trabalho foi desenvolvido na disciplina Processo, Saúde e Doença, pertencente ao Programa de Pós-Graduação em Diversidade e Inclusão da Universidade Feevale.
Resultados
Verificou-se que na base de dados Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), o resultado das buscas sobre os termos “Qualidade de vida no trabalho” e “Citricultura” foi de 16061 artigos e 19 artigos respectivamente, sendo que, nenhum artigo possuindo ambos os temas de forma relacionada em seu conteúdo foram encontrados. Na base de dados SciELO, o resultado das buscas sobre “Qualidade de vida no trabalho” encontrou 29 artigos, e o termo “Citricultura” obteve 243 artigos, sendo que também nesta base de dados, nenhum dos artigos encontrados possuía ambos os temas relacionados em seu conteúdo. Na base de dados ScienceDirect, o resultado das buscas sobre os termos “Qualidade de vida no trabalho” e “Citricultura” foi de 629037 artigos e 672 artigos respectivamente, sendo que deste montante 83 artigos possuíam ambos os temas relacionados em seu conteúdo, cabendo ressaltar que todos os 83 artigos foram obtidos com a busca na língua inglesa.
Tabela 1. Qualidade de vida no trabalho (QVT) X Citricultura.
Conforme os dados descritos na Tabela 1, fica evidente que os artigos que abrangem ambos os assuntos relacionados (“Qualidade de vida no trabalho” e “Citricultura”) compõem apenas 0,012% do total do número de artigos obtidos, o que demonstra a importância de se pesquisar e publicar cada vez mais sobre a relação entre estes dois assuntos.
Discussão
Segundo a FAO (1998), o Brasil é considerado um grande produtor mundial de frutas cítricas, com uma produção anual que ultrapassa a marca de 23 milhões de toneladas, sendo que, a maior parte desta destina-se ao cultivo e produção de laranjas (RAMOS; PASQUAL, 1992; FAO, 1998; SCHÄFER; DORNELLES, 2000), o que gera ao país o título de primeiro colocado na produção e exportação de suco de laranja concentrado e congelado. Conforme Moraes et al. (1998) citado por Schäfer, Bastianel e Dornelles (2001) estima-se que no Brasil sejam destinados e investidos mais de 2,2 milhões de hectares para a citricultura, resultando em mais de 400 mil empregos diretos, envolvendo estes, 20 mil citricultores e 17 indústrias de suco. Tais dados anteriormente citados demonstram a importância da citricultura para a economia brasileira, e também evidenciam o quão importante à citricultura se faz na vida de seus trabalhadores.
Mesmo apresentando algumas dificuldades, a citricultura brasileira vem apresentando melhorias no que diz respeito a sua produção e área plantada, o que resulta em promissoras perspectivas para o futuro, principalmente, pela diversidade de produtos que esta resulta aos mercados consumidores. O Brasil é um país que possui favoráveis condições climáticas para a citricultura, porém, o aumento da produção dos últimos anos ocorreu apenas por causa do aumento da área plantada, o que reforça as descrições de que a produtividade do país se encontra baixa quando comparada a outros paises (RAMOS et al., 1997).
O estado do Rio Grande do Sul possui condições climáticas que possibilitam um grande potencial para a citricultura, condições estas que favorecem o desenvolvimento das frutas de uma forma bastante adequada para o consumo in natura (frutas frescas), o que em termos econômicos, resulta em importantes números para as regiões de cultivo, sendo que, grande parte desta produção estadual encontra-se às margens dos rios Caí e Taquari, cuja localidade é composta, em grande parte, por pequenas propriedades rurais (DORNELLES, 1991). Mesmo a citricultura do Rio Grande do Sul tendo um lugar de destaque no mercado de frutas frescas, cabe ressaltar que a sua produção ainda não se faz suficiente para o abastecimento do mercado interno brasileiro, o que torna necessária a importação de citros produzidos em outros estados e paises, estimando que isto ocorra em uma proporção de 50% (JOÃO, 1998).
É bastante visível na atualidade o crescimento pela procura de alimentos mais naturais e saudáveis, aumentando cada vez mais a venda de produtos orgânicos, sendo que, legumes, verduras e frutas cultivadas sem o uso de agrotóxicos já podem ser adquiridos em diversos supermercados, feiras e mercados alternativos das grandes capitais (SEVERO; PEDROZO, 2008). Com as crescentes exigências do consumidor por elevadas qualidades e variedades de produtos, contrapondo com as incertezas climáticas que englobam a citricultura, gera um dúvida cada vez maior no gerenciamento e na produção de citrus, o que em decorrências das variações climáticas, pode vir a prejudicar o agronegócio (MELLO; PAULILLO, 2009).
A necessidade de se produzir cada vez mais e obter-se ao mesmo tempo realização foi analizada por Pilatti (2007), afirmando que, a valorização humana tem se mostrado em muitos momentos algo incompatível, pois na atualidade, é preciso se produzir cada vez mais em um menor espaço de tempo, minimizando custos e alcançando os padrões de qualidade impostos, o que exige cada vez mais, uma elevada qualificação dos trabalhadores.
Com a jornada de trabalho excessiva, demandas elevadas de esforços físicos e falta de higiene e inadequação fabril foram fatores potenciais de contribuição para tornar o ambiente de trabalho cada vez mais impróprio, resultando em números elevados de acidentes de trabalho e no surgimento de diferentes doenças (PILATTI, 2007). O ambiente de trabalho pode se mostrar como algo contratitório, podendo existir em uma mesma cidade ambientes que proporcionam melhorias na qualidade de vida (QV), versus, proliferações de doenças e condições desumanas dentro da mesma cidade. Os acontecimentos da atualidade propicionaram uma maior preocupação com a QV das pessoas, tornando-se tal, um assunto bastante pesquisado nos últimos anos. Tendo a visão de que o ser humano cada vez mais tende a buscar a conquista do seu espaço, fortalece a idéida de que o seu desempenho esteja diretamente relacionado com a sua QV (PEDROSO; PILATTI, 2010).
Na atualidade, o maior diferencial dentro das empresas provém de recursos humanos e não somente dos diferenciais tecnológicos, sendo que estes são fundamentais, mas o que diferencia uma empresa líder no mercado das demais empresas é o seus capital intelectual (FRANÇA JÚNIOR; PILATTI, 2004; PILATTI; BEJARANO, 2005). A implantação tecnológica empresarial pode igualar as empresas do mercado de trabalho, porém, o que realmente faz a diferença são as pessoas nelas empregadas (PEDROSO; PILATTI, 2010). Conforme as informações anteriormente descritas, acredita-se que o mercado de trabalho do futuro tende a valorizar o funcionário inserido dentro da empresa, proporcionando-lhe cada vez mais as melhores condições possíveis de trabalho para que este renda seu melhor desempenho e desempenhe o máximo possível de suas potencialidades como um todo (REGO et al., 2003; PEDROSO; PILATTI, 2010).
Em alguns países da Europa utiliza-se uma terminologia específica para inúmeras empresas voltadas para o desenvolvimento da QVT. Estas são intituladas de "empresas autentizóticas" (REIS JÚNIOR, 2008). A terminologia "autentizótico" teve o início de sua utilização no final da década de 90, sendo esta terminalogia derivada do grego: authenteekos e zoteekos. O primeiro termo significa tratar-se de um local com autenticidade, ou seja, de extrema confiança, e o segundo termo significa que a organização é considerada algo muito importante para os seus trabalhadores. Pode-se dizer então, que o termo "autentizótico" evidencia as empresas ou organizações que proporcionam aos seus funcionários a obtenção de um correto equilíbrio entre a sua vida pessoal e o seu trabalho (REGO et al., 2003).
Conforme Kets de Vries (2001), as empresas que são consideradas como sendo "as melhores empresas para trabalhar" possuem cada vez mais respeito, confiança, trabalho em equipe, aprendizagem constante e estão mais abertas para receber novas inovações, portanto, baseado nas informações descritas por Rego et al. (2003) e as características descritas por Kets de Vries (2001) evidenciam que "as melhores empresas para trabalhar" são organizações autentizóticas.
Considerações finais
Este artigo, no intuito de verificar o número de estudos que abranjam de uma forma relacionada os temas Qualidade de vida no trabalho e a Citricultura, obteve as seguintes conclusões.
Os dados obtidos em três bases de dados científicas mostraram que os estudos que abrangem de uma forma relacionada os temas Qualidade de vida no trabalho e a Citricultura tem um número bastante reduzido de publicações, quando comparados com os estudos que envolvem cada um dos temas individualmente, o que evidencia que as pesquisas sobre a Qualidade de vida no trabalho relacionada com a Citricultura encontram-se numericamente escassas na atualidade, especialmente, na Língua Portuguesa, impulsionando e convidando cada vez mais a pesquisa sobre a relação destas duas temáticas.
Conclui-se, portanto, que esta revisão integrativa sobre a Qualidade de vida no trabalho relacionada com a Citricultura mostrou-se efetiva no que se diz respeito à obtenção de conhecimentos, aprendizado e qualidade de informações sobre a temática. Fica a sugestão para futuras pesquisas da mesma metodologia e temática que, utilizem-se maiores números de bases de dados científicas, enriquecendo com isso, cada vez mais, o conhecimento e as discussões sobre o assunto.
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