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O descaso dos alunos do ensino médio com as aulas de Educação Física

El desinterés de los alumnos de escuela media en las clases de Educación Física

 

*Discentes do curso de Educação Física

da Universidade Salgado de Oliveira

**Docente-Orientador do curso de Educação Física

da Universidade Salgado de Oliveira

(Brasil)

Dannyella Crysthina Batista Guimarães*

Geraldo Ramos da Silva*

Kleber Mirallia**

dcrysthina@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Atualmente existe muita discussão sobre as dificuldades com as quais os professores e alunos se deparam nas aulas de Educação Física na escola. Por esse motivo, foram levantados alguns dos problemas mais comuns relacionados à prática dessa disciplina no Ensino Fundamental e Médio. O desenvolvimento desse tema incorre em uma reflexão sobre a visão dos alunos em relação à disciplina Educação Física e seus professores, sempre com a preocupação de entender quais os principais obstáculos existentes nas aulas. Esse trabalho levanta uma nova discussão sobre tema, pois, mesmo com a diversificação de material existente sobre o assunto, as publicações atuais ainda demonstram preocupação com as mudanças almejadas pelos estudiosos há aproximadamente duas décadas, mas que ainda não foram totalmente concretizadas.

          Unitermos: Educação Física escolar. Desmotivação. Esporte.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 189, Febrero de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Numa primeira impressão, as observação feitas sobre o Ensino Médio demonstraram bastante preocupação no tocante à motivação dos alunos. Segundo esses resultados, um dos fatores que alimenta o desinteresse dos alunos são os conteúdos abordados, pois quase sempre são uma repetição mecânica dos programas de Educação Física do Ensino Fundamental, que em sua maioria compõem-se somente do esporte tradicional. Essa prática acaba fazendo com que os alunos –na maior parte meninas que não gostam das modalidades oferecidas– se sintam desmotivados a participar das aulas.

    Buscando uma reflexão mais esclarecida sobre as principais dificuldades presentes nas aulas de Educação Física na escola e de como os professores podem superá-las, esse trabalho teve como objetivo analisar dados de pesquisas, relatos de situações e argumentos que pudessem colaborar para um processo de reflexão-ação em seus leitores, no sentido de contribuir com o crescimento dessa disciplina. Sendo assim, foram selecionados alguns trabalhos publicados recentemente sobre as questões levantadas e livros clássicos que abordam a Educação Física na escola. Reconhecer os fatores que estão associados à participação dos alunos nas aulas de educação física. Compreender os aspectos que interferem na participação dos alunos nas aulas de educação física. Analisar a organização do currículo escolar. Verificar como se concretiza a pratica pedagógica nas aulas de educação física.

    A escola em questão é particular e atende alunos de classe média, sendo assim a Educação Física torna-se secundária no contexto escolar por não mais atender à necessidade da sociedade, visto que há uma valorização das disciplinas que tratam de um conhecimento científico universal e a Educação Física é tida como “vazia” de conhecimento, por ter como objeto de estudo o desenvolvimento da aptidão física, não mais necessária no novo contexto do trabalho.

    Além disso, o descompromisso dos docentes, mesmo que advindos de uma formação atual torna-se, sobretudo, um obstáculo para a legitimação desse componente curricular na escola. É importante contextualizar esse descompromisso. Não se trata de algo que pode ser apenas relacionado a questões morais desses sujeitos. Um dos objetivos da Educação Física como componente curricular é despertar, através da experimentação do conteúdo, o desejo nos alunos em praticar alguma atividade corporal fora do âmbito escolar (após o fim da vida escolar), com autonomia.

    Há a necessidade do professor de Educação Física conhecer o estado motivacional do aluno e quais os conteúdos que lhe chama a atenção, pois cada aluno possui afinidade a um determinado conhecimento, podendo ser estimulante pra uns e desestimulante para outros, em face do nível de capacidade que cada um se encontra.

    Existem dois fatores básicos que podem desencadear a motivação, sendo eles o fator intrínseco e o fator extrínseco. O primeiro relaciona-se com o envolvimento do aluno por seu próprio desejo, gerando, desse modo, satisfação, prazer e interesse em se manter envolvido na atividade. A motivação extrínseca pode ser caracterizada pela vontade do aluno em realizar uma determinada atividade, objetivando a recompensa. Para Caetano (2009), a motivação intrínseca é a mais desejada para aprendizagem por proporcionar o desenvolvimento da autonomia e da personalidade do aluno, permitindo a participação efetiva nas aulas de Educação Física.

Metodologia

    Durante o processo de análise, observou-se diversos problemas ligados à Educação Física na escola, levantando muitos questionamentos sobre a prática pedagógica dos professores e seus métodos de ensino. Numa primeira impressão, as observação feitas sobre o Ensino Médio demonstraram bastante preocupação no tocante à motivação dos alunos. Segundo esses resultados, um dos fatores que alimenta o desinteresse dos alunos são os conteúdos abordados, pois quase sempre são uma repetição mecânica dos programas de Educação Física do Ensino Fundamental, que em sua maioria compõem-se somente do esporte tradicional. Essa prática acaba fazendo com que os alunos -na maior parte meninas que não gostam das modalidades oferecidas- se sintam desmotivados a participar das aulas.

    Darido (2005) considerou que os conteúdos da Educação Física Escolar incluem somente algumas modalidades esportivas, tais como o futebol, basquetebol e voleibol. Complementando, Seabra (2004 apud Marzinek e Neto, 2007) apontou que parte dos professores de Educação Física na escola ainda tem como um dos seus principais objetivos desenvolver habilidades esportivas seguindo modelos de preparação física dos esportes de alto rendimento, assemelhando-se à realidade da Educação Física na década de 1970.

    Betti e Zuliani (2002 apud Martinelli et al, 2006) argumentam que, ao chegarem aos anos finais do Ensino Fundamental, os alunos começam a desenvolver uma visão mais crítica do mundo e da sociedade, passando a desconsiderar a importância dessa disciplina e a ter outros interesses.

Referencial teórico

    No Ensino Médio, a busca por uma definição profissional é uma característica de constante presença, pois com a sociedade cada vez mais exigente, os adolescentes acabam se preocupando muito com o vestibular e deixando a Educação Física de lado, especialmente se as aulas não ocorrem no mesmo período das demais disciplinas (DARIDO, 1999).

    Uma das grandes dificuldades relacionadas à prática da Educação Física na escola é a auto-exclusão de alunas do Ensino Médio. Andrade & Devide (2006) realizaram um estudo com alunas do Ensino Médio que frequentavam as aulas de Educação Física. Os autores ressaltaram que muitos motivos podem contribuir para a auto-exclusão de alunas nas aulas de Educação Física, como:

  1. Ambiente físico inadequado (quadras pequenas e sem vestiários);

  2. Aulas frequentemente repetitivas e desorganizadas;

  3. Falta de habilidades e desprazer com os esportes oferecidos;

  4. Brutalidade masculina;

  5. Professor de Educação Física que não participa das aulas;

  6. Desigualdade de habilidades e gênero;

  7. Exclusão dos menos hábeis;

  8. Preferência da bola sempre para os meninos.

    Os autores, então, pediram que as alunas apresentassem sugestões para a melhoria das aulas, destinadas à participação dos alunos nas atividades de forma mais ativa, expressando suas idéias e desconstruindo os estereótipos de gênero presentes até então. Algumas das idéias foram:

  • Atividades mais diversificadas: aquecimento, ginástica, alongamento, dança, atletismo, aulas teóricas, natação, jogos de mesa, corridas e abdominal;

  • Melhorias na estrutura física geral da escola: material e bebedouro;

  • Aulas mais organizadas, animadas e interessantes;

  • Melhorias na participação e interesse dos professores para ensinar, prática didático-pedagógica, planejamento e conteúdo.

    Os resultados da pesquisa indicam a importância e a necessidade de transformação da realidade apresentada, cabendo ao professor proporcionar mudanças que conduzam à construção social das igualdades de gênero, resgatando e aproximando os grupos auto-excluídos.

    Em muitas escolas, a disciplina Educação Física do ensino fundamental e médio toma basicamente o esporte como conteúdo. Marzinek (2004) identificou que os esportes mais trabalhados nas aulas são: futebol, voleibol, basquetebol e handebol, sendo eles geralmente os mais populares entre os alunos de Ensino Fundamental e Médio. Além disso, Facco (1999 apud MARZINEK, 2004) observou, assim como Betti (2003), que essas modalidades esportivas, além de serem os conteúdos mais desenvolvidos nas escolas, são também os preferidos dos alunos, desde a 5ª série do ensino fundamental até a 1ª série do ensino médio.

    O esporte é um fenômeno de relevância da cultura corporal, sendo inviável o tolhimento deste conteúdo aos alunos. Então, a preocupação deve ser com a maneira ele é trabalhado nas aulas. Portanto, nesse cenário, falta repensar cuidadosamente os procedimentos didáticos.

    Alves (2007) expõe diversos fatores que desmotivam os alunos à prática de Educação Física, como a metodologia de ensino inadequada, conteúdos que não favorecem a aprendizagem, relacionamento professor-aluno, postura desinteressada do educador, falta de coordenação de área, orientação, supervisão ou direção da escola e a ausência de significado sobre o real papel da Educação Física no contexto escolar que identifique o professor.

    Outro fator novamente apontado foi em relação aos conteúdos, que se repetem nos diferentes níveis de ensino e acabam sendo sempre os esportes coletivos. Ocorre que os alunos mais habilidosos na atividade chegam motivados e com as equipes já escolhidas, ocasionando a fuga dos menos habilidosos, que acabam utilizando diversos subterfúgios para não participarem da aula.

    De acordo com Martinelli et al. (2006), a Educação Física Escolar proporciona ao educando a experimentação dos movimentos, de modo que o mesmo tenha a capacidade de desenvolver um conhecimento corporal e compreender os motivos pelos quais os praticam. Quando isso não ocorre, parte dos alunos acaba perdendo o interesse pelas aulas de Educação Física.

    Em sua pesquisa, a autora citada levantou os motivos que levam as alunas do Ensino Médio a não gostarem de participar das aulas de Educação Física, compreendendo:

  • Não gostar das atividades propostas como conteúdo programático – vôlei, basquete, handebol e futebol;

  • Não gostar dos conteúdos serem apresentados apenas sob a forma de jogo;

  • Não saber jogar;

  • Inibição em participar das aulas;

  • Aulas desmotivantes;

  • Não haver aquecimento no início dos jogos;

  • Falta de exercícios dos fundamentos que serviriam de base para o jogo em si.

Resultados e discussão

    De acordo com as aulas pode-se constatar que dentre os conteúdos que mais geram motivação durante as aulas estão os esportes. Portanto, defende-se aqui que é papel do professor aplicar conteúdos diversificados e motivantes a fim de aproximar os alunos do universo da cultura corporal, ou seja, dos jogos, das danças, das lutas, das ginásticas, dos esportes de forma mais significativa, visando à socialização, inclusão e formação humana.

    Entretanto, não se está pontuando aqui que a motivação dependa exclusivamente da diversificação dos conteúdos, mas, certamente este é um aspecto importante a ser considerado neste processo. Os alunos precisam saber que a educação física não está restrita a repetição de movimentos, ou mesmo o fazer por fazer. O movimento humano não pode ser reduzido a descolamentos físicos padronizados, a gesticulações produtivas, pois uma visão mecanicista é capaz de reduzi-lo a meras atividades desprovidas de sentido e significado.

    E o movimento pelo movimento não é motivante para os alunos. Seria fundamental que atrelado a vivência, estivessem presentes também as atividades de pesquisa, de criação, de aprofundamento sobre as diferentes manifestações da cultura corporal. Quando se trata de conteúdos da educação física no Ensino Médio, há uma variedade de temas que podem ser abordados, se aplicados de maneira coerente, com significado e relevância sociocultural.

    Com base em Darido e Rangel (2005), para facilitar a adesão dos alunos às práticas corporais, e, consequentemente favorecer a motivação, seria fundamental diversificar as vivências experimentadas nas aulas, para além dos esportes tradicionais (futebol, voleibol ou basquetebol), buscando ampliar as chances de uma possível identificação.

    Contudo, aponta-se uma contradição, pois os participantes também afirmam que se sentem mais motivados quando os professores diversificam as aulas, trazendo outros conteúdos. Pode-se inferir que tal quadro esteja associado aos resquícios da tendência esportivista ainda presente na área, ao predomínio da abordagem dos esportes coletivos nas aulas, além do espaço ampliado na mídia. Por isso, este resultado não nos causa estranhamento, mas, em contrapartida, gera inquietação e a certeza da necessidade de mudanças no que concerne a monocultura esportiva nas aulas de educação física escolar.

    Outros fatores citados como aspectos desmotivadores foram as aulas repetitivas, as más condições do espaço físico e dos materiais, além da não participação de muitos colegas durante as aulas, que muitos deles não participam devido o aparelho celular.

    E esse é outro fator que vem aumentando cada vez mais nas aulas, atrapalhando assim não só as aulas de educação física, mais atrapalhando todas as demais também. Devido esse fator alarmante nas escolas já foi estabelecida uma lei que proíbe aparelho celular nas escolas porém apenas escolas estaduais, é o que determina a lei número 16.999, de 10 de maio de 2010, sancionada pelo governador Alcides Rodrigues. “O uso do celular no ambiente escolar compromete o desenvolvimento e a concentração dos alunos, e são preocupantes os relatos de professores e estudantes de como é comum o uso do celular dentro das salas de aula”, diz o autor da proposta, deputado estadual Marlúcio Pereira, na justificativa de seu projeto.

    Segundo ele, o objetivo da lei é “assegurar a essência do ambiente escolar, onde a atenção do aluno deve estar 100 % direcionada aos estudos, sem que nada possa competir ou desviá-lo” do aprendizado em sala. O deputado argumenta que, além do “exibicionismo” – portar um aparelho móvel do último modelo e com novas tecnologias seria sinal de status entre os estudantes –, o celular é utilizado, nas escolas públicas estaduais, para o recebimento e envio de torpedos, por diversão (games e música), e até para colar em provas, por meio de mensagens de texto. Portanto nas escolas particulares o que deve ser feito é a diretora da escola estabelecer regras que não permite aos alunos o uso do aparelho durante as aulas e que caso o aluno for pego utilizando o aparelho será advertido e só poderá entrar na escola quando os pais comparecerem a mesma.

Considerações finais

    Após as incursões realizadas no decorrer dessa análise, conclui-se que, nas pesquisas apresentadas, a maioria dos autores encontrou dificuldades semelhantes no cenário da Educação Física Escolar brasileira. De certo modo, essas questões problemáticas então interligadas e formam um aglomerado que se sustenta pela falta de renovação a apatia de uma parte dos professores.

    Através das sugestões apresentadas nesse trabalho, espera-se que seja possível incentivar os professores rumo a uma mudança de postura, transformando a Educação Física Escolar em uma prática cada vez mais importante, atrativa e democrática entre os docentes.

    Complementando, a intenção também foi instrumentalizar os professores para que se sintam seguros em trabalhar novos conteúdos e abrir espaço para diálogo com os alunos, mas para uma efetiva mudança de atitude é importante que os educadores estejam sempre abertos ao novo e motivados para renovar.

Referencial bibliográfico

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  • DARIDO, S. C. et al. Educação Física No Ensino Médio: Reflexões e Ações. Revista Motriz, Rio Claro, v.5. n. 2, p. 138-145, 1999.

  • DARIDO, S. C.; RANGEL, I. C. A. Educação Física na Escola: implicações para a Prática Pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.

  • MARTINELLI, C. R. et. al. Educação Física no Ensino Médio: motivos que levam as alunas a não gostarem de participar das aulas. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, São Paulo, v. 5, n. 2, p. 13-19, 2006.

  • MARZINEK, A.; NETO, A. F. A motivação de adolescentes nas aulas de Educação Física. In: II Congresso Internacional de Pedagogia do Esporte, 2005, Maringá. Anais do II Congresso Internacional de Pedagogia do Esporte, Maringá, 2005.

  • TEIXEIRA, Fabiano Augusto. Educação Física: reflexões sobre as aulas de exclusão. Motrivivência, ano XXI, n. 32/33, jun-dez, 2009.

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